domingo, 15 de novembro de 2015

A MATANÇA CONTINUA




Paris, noite de 13 de Novembro de 2015; depois de Paris em Janeiro de 2015, Nova Iorque, Madrid Atocha, Líbano centenas de vezes, enquanto se arrastam as tragédias da Palestina, Afeganistão, Síria, Iraque, Líbia, Iémen, Egipto, Somália, Mali, Nigéria. A matança continua através da mais bárbara das formas de guerra, a que vitima preferencialmente civis, famílias nas suas casas, cidadãos nos seus momentos de lazer, trabalhadores nas suas actividades, camponeses nas suas terras, crianças e professores nas escolas, doentes, médicos e enfermeiros nos hospitais, socorristas nos escombros. Guerra cega, selvática, conduzida por governantes, traficantes, negociantes da morte, impérios económicos e financeiros, militares, paramilitares, mercenários movidos a dinheiro, também marionetas da intoxicação religiosa e ideológica. Uma guerra sem quartel onde conceitos trapaceiros e expansionistas de democracia se combinam com o irredentismo da fé e a ganância fundamentalista dos agiotas, umas vezes em aliança, outras em dissidência, mistificação sanguinária onde os “chocados” de hoje, os “horrorizados” de ontem podem ser os algozes de Gaza, de Alepo, My Lai ou Haditha, Odessa, Sabra e Chatila, Kandahar ou do hospital de Kunduz, Tripoli ou Bahrein.

Em que se distinguem os massacres de sexta-feira em Paris e as matanças recorrentes em Gaza? O terror à solta em Abu Ghraib, Kandahar ou as bombas sobre o hospital de Kunduz e as chacinas de Odessa, Nova Iorque, no Charlie Hebdo ou quotidiana nas águas do Mediterrâneo? Que não se responda em função da dimensão, da cobertura mediática, do tom da pele ou do grau de “civilização” das vítimas. Uma morte é uma vida humana que se perde, a vida de alguém sem qualquer responsabilidade nas acusações invocadas, nos alibis expostos para eternizar a carnificina global, para atordoar a comunidade mundial através do terrorismo, a mais ignóbil das formas de violência.

Escutámos as primeiras reacções ao drama da noite parisiense: como se o fundamental fosse conhecer quem reivindica a autoria dos crimes, a que horas e de que maneira o faz. Reacções onde se exige mais segurança, mais espionagem sobre os cidadãos globalmente espiados, mais investimento em armas e exércitos, mais limitações à vida quotidiana e aos movimentos de quem já sofre as agruras da vida em crise permanente, em suma, mais guerra sobre a guerra. E poucas palavras ou simples alusões de raspão sobre as cada vez mais comprovadas colaborações entre o radicalismo islâmico e o fascismo, patentes no atentado contra o Charlie Hebdo e, na Ucrânia, na coligação armada para “libertação” da Crimeia; ou invocações por alto, quase sempre invertidas no contexto, das situações na Síria, no Iraque, na Líbia.

Bem alto na trágica noite parisiense, o secretário-geral da NATO mandou dizer que o terror não vencerá a democracia. Belas e promissoras palavras, pensarão os incautos ou quem ignora a responsabilidade institucional de quem assim fala nas tragédias em curso na Síria, no Afeganistão, na Líbia, na Ucrânia, na multiplicação de muros e barreiras por esta Europa afora.

Depois chegou a reivindicação: o Estado Islâmico, ou Daesh, ou ISIS, ou Al Qaida, ou Al Nusra, ou isto, aquilo ou aqueloutro, grupos financiados por entidades estatais de países da NATO, treinados em campos criados em países da NATO, como a Turquia, ou aliados da NATO como a Jordânia, armados e sustentados de mil e uma maneiras por íntimos da NATO como a Arábia Saudita, o Qatar, Israel. Aqui avulta o sentido humanitário do chefe do governo israelita, que enquanto planeia os próximos ataques a Gaza cede o território sírio ocupado dos Montes Golã para acoitar os terroristas do Estado Islâmico – os que se dizem autores da selvajaria de Paris - e oferece os hospitais israelitas para tratar os mercenários desse bando que forem vítimas da “ditadura bárbara” de Assad. O mesmo chefe de governo, Netanyahu, que foi dar o braço ao presidente Hollande na manifestação encenada por ocasião do Charlie Hebdo e que agora está, como não podia deixar de estar, entre os mais “chocados” e horrorizados”.

Por falar em François Hollande, um dos principais titulares dos “amigos da Síria” inventados em Washington, atrás dos quais se escondem Estado Islâmico, Al Qaida, Al Nusra e os famosos “moderados” – todos eles brilhando como estrelas reluzentes do terrorismo internacional –, ficámos a saber que por causa da situação teve de cancelar a deslocação à reunião do G20, um desses vários “gês” que nos governam sob as ordens dos mistificadores da democracia. Reunião essa na Turquia, país onde ficou demonstrada a falsificação das recentes eleições gerais para reforço da ditadura islamita e que tem servido de base operacional da NATO e de grupos terroristas – entre os quais o Estado Islâmico – para as guerras impostas à Síria, Líbia e Iraque.

Assim sendo, não tenhamos ilusões: a matança continua e irá continuar porque há quem lucre com ela, parasitas do ser humano, vampiros de sangue humano.

*José Goulão  - Mundo Cão

PENTÁGONO TERÁ GASTO 384 MILHÕES DE DÓLARES A ARMAR ESTADO ISLÂMICO



Numa altura em que o exército sírio, preparando-se para os bombardeamentos da aviação russa sobre grupos terroristas – lançados em 30 de setembro –, persegue com maior eficiência esses grupos em várias partes do país, e particularmente onde eles pareciam intocáveis, como na região de Aleppo, por exemplo, o jornal norte-americano USA Today voltou a abordar o plano de financiamento e de armamento da oposição dita moderada para lutar contra o Daech implementado pelo Pentágono. A notícia é do portal Afrique-Asie.

Referindo-se a dados obtidos junto de funcionários do Pentágono, o jornal diz que os EUA gastaram 384 milhões de solares neste apoio militar a grupos armados «moderados» – isto é, segundo o jornal, dois milhões dólares por pessoa. Mas este dinheiro, em última análise, serviu para o EI. Os EUA tentam encobrir esta parte, evocando sempre o «Exército Sírio Livre», que existe apenas na imaginação dos media ocidentais.

Anne Patterson, secretária de Estado adjunta para o Médio Oriente dos Estados Unidos, acaba de reconhecer, ela mesma, perante o Congresso, que elementos desses grupos ditos moderados, treinados e armados pelo seu país, entraram para a Frente Al-Nosra, filiada na Al Qaeda. Explicou que foram «forçados a aliar-se com a Al-Nosra, porque não tinham para onde ir». Isto foi, sublinhe-se, reconhecido por uma dirigente americana que está totalmente ao corrente da situação no terreno, e que sabe que o Exército Sírio Livre é uma ficção. O Pentágono gastou cerca de 500 milhões de dólares para treinar e equipar, no exterior, «combatentes», a fim de os enviar para a Síria, supostamente para lutar contra o EI – mas estes acabaram por se juntar ao EI. O USA Today lembra que o Pentágono já concedeu, em 2015, um montante de 501 milhões de dólares para financiar os seus esforços para treinar e equipar 3 mil homens dos grupos ditos moderados que estavam a constituir as chamadas «novas forças sírias».

Este programa deveria ser intensificado para treinar 5 mil combatentes a cada ano, destinados a lutar contra o EI. O jornal observa que duas em cada quatro bases de treino estabelecidas pelo Pentágono para este seu programa não receberam um único elemento sírio. Esta operação só pode ser descrita, posta assim, como um fiasco, escreve o Afrique-Asie, a menos que se pense que o objetivo do programa norte-americano era fortalecer o EI.

Seja como for, este programa foi interrompido. Os EUA mudaram, obviamente, a sua abordagem, ao abandonar o programa de treino e tomar a decisão de enviar equipas de resposta rápida para a Síria, para treinar localmente os membros de grupos armados que se dizem moderados.

Um opositor sírio do interior, Hassan Abdel Azim, líder do Comité Nacional de Coordenação, disse à agência russa Sputnik que «alguns grupos armados ditos moderados estão dispostos a estabelecer e a respeitar um cessar-fogo, se a decisão for tomada como parte da resolução do conflito». A mesma fonte indica que «os grupos da oposição estão otimistas quanto às operações aéreas russas na Síria e adaptam mesmo as suas ações aos avanços da força aérea russa contra o EI». Estes factos correspondem a alterações significativas no teatro de operações na Síria, e tornam ainda mais claro o fracasso dos Estados Unidos na sua manipulação do EI.


Portugal. DESESPERO



Ana Alexandra Gonçalves* 

A direita anda de cabeça perdida e quando considerávamos que tudo estava a ir a descarrilar, Passos Coelho,consegue ir ainda mais longe, muito longe, longe demais. Clamar por uma revisão constitucional extraordinária “para que o Parlamento possa ser dissolvido” é simplesmente ridículo, mas utilizar expressões como “ Se não querem governar como golpistas...” e “… se preferirem governar como quem assalta o poder...” ou ainda “fraude eleitoral e um golpe” é absolutamente irresponsável e inaceitável. Passos Coelho não é um comentador, é ainda primeiro-ministro (derrotado) e tem naturalmente responsabilidades acrescidas.

Paralelamente, toda a retórica de Passos Coelho é falsa. Existe não só legitimidade, como tudo isto, num país com alguma cultura democrática, seria considerado normal, ao contrário do que o ainda primeiro-ministro insiste em afirmar.

Coelho e os seus acólitos preferem acicatar os ânimos de uma direita desesperada que alimenta a esperança – a última – que Cavaco Silva não indigite António Costa. De resto, há muito a perder quando o poder lhes foge das mãos.

Esta crise, alimentada por Cavaco Silva, tem tido o condão de nos conceder uma multiplicidade de ensinamentos: a direita consegue arrumar a democracia na gaveta, com uma facilidade extraordinária, embora já tivesse existido no passado sinais inquietantes – afinal de contas, este foi o Executivo que mais governou contra a Constituição da República Portuguesa. Esta crise mostra também que o famigerado interesse nacional, quando necessário, é igualmente arrumado numa gaveta. E, finalmente, esta crise é sintomática de uma gravíssima ausência de cultura democrática, também daqueles que são representantes eleitos do povo.

Tudo isto é triste e tudo isto continuará a ser alimentado por um Presidente da República que envergonha os próprios valores republicanos, desde logo ao não respeitar a vontade dos cidadãos.

*Ana Alexandra Gonçalves – Triunfo da Razão – Imagem em canal #moritz @Ptnet

Portugal. É FUNDAMENTAL HAVER “RÁPIDAMENTE” UM GOVERNO, diz Marcelo



O candidato a Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa considerou hoje, nos Açores, ser "fundamental" ter um executivo para governar, "rapidamente", uma vez que o país se encontra parado na sequência da crise política.

"Eu penso que é fundamental que haja um governo que governe, rapidamente, porque há muita coisa parada. A administração pública fica à espera, os investimentos ficam à espera. A definição de um governo que governe e que possa durar é muito importante, na vida de muitas pessoas, que acabam por depender disso", declarou o candidato aos jornalistas.

Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve hoje na vila piscatória de Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, declarou que os portugueses começam a achar que o mecanismo nacional de formação de um governo "é lento".

Muito embora salvaguarde que essa situação já aconteceu "muitas vezes no passado", em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa fez notar que existem países que funcionam de forma mais rápida, para acentuar ser crucial avançar com um novo executivo.

O candidato presidencial afirma ver o que se passa no atual cenário político nacional, tal como vê o que pode acontecer nos próximos cinco anos, não se podendo "mudar de posição, quando se trata de poderes do Presidente da República, de acordo com a cor de quem está envolvido".

"É muito importante que o país saía da crise e depressa. Isso significa um Governo que governe e que seja estável, que não passe apenas no Parlamento mas que tenha condições para não durar poucos meses, ou um ano ou um ano e meio, mas uma legislatura", declarou Marcelo Rebelo de Sousa.

O candidato afirmou que, se eleito pelos portugueses, se for confrontado com um cenário de crise como o atual, no seu mandato, sabe "exatamente" o que fará, para acrescentar que, estar a entrar no confronto partidário, é "justamente o oposto" do que deve fazer o Presidente da República.

Questionado sobre a proposta de revisão constitucional do líder do PSD, Pedro Passos Coelho, visando a realização de eleições legislativas nacionais, o candidato considera que, no fundo, o que se tem falado, é sobre o poder de dissolução do Presidente da República, figura que entende dever exercer na plenitude os seus poderes, se assim o entender.

"Agora, deve ajuizar se exerce ou não no momento adequado e em função das circunstâncias, ou seja, como é que o Governo atua, as relações com o Parlamento, a sua composição, as saídas possíveis. Deve ser nesse quadro que a questão deve ser encarada", disse o candidato.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu ainda que o papel do Presidente da República é, num quadro democrático de divergência de opiniões, fomentar a unidade, uma vez que o que une os portugueses "é mais importante do que o que os divide".

Muito embora esteja atento ao cenário político nacional, Marcelo Rebelo de Sousa está mais preocupado com o cenário europeu, nomeadamente com os atentados que tiveram lugar em Paris, e sobre como a União Europeia vai reagir, tendo defendido a necessidade de se prevenir, em vez de remediar.

Marcelo Rebelo de Sousa quer que a UE assuma uma posição sobre o conflito na Síria, assim como em relação aos refugiados e ao autodenominado Estado Islâmico, a par da prevenção do terrorismo no quadro europeu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. VOTAR ATÉ GANHAR?



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Quem imaginaria Portugal, neste final de 2015, numa situação política com a Direita acicatando a luta de classes, utilizando o terrorismo verbal, desenvolvendo um fortíssimo ataque ao regime democrático-constitucional e instabilizando a sociedade?

As eleições de 4 de outubro foram, sem dúvida, de enorme importância e alcance. Podemos orgulhar-nos como povo: quando o bloqueio e a subjugação eram apresentados como inevitáveis para o nosso futuro próximo, com enorme serenidade e consciência, os portugueses usaram a arma do voto e abriram portas para novos caminhos. A Direita não lhes perdoa. Para a Direita, o povo, que tinha sido por eles convocado a sofrer por ter cometido o pecado de "viver acima das suas possibilidades", deve agora ser obrigado a votar tantas vezes quantas as necessárias - tenha isso os custos que tiver - para corrigir o "erro" de não lhes ter dado a maioria absoluta.

Os portugueses têm naturais receios de novas doses de austeridade, sabem que os tempos que vivemos exigem rigor e honestidade (valores que os poderosos espezinham todos os dias), mas não abdicam de sonhar e buscar caminhos de futuro. A resistência dos últimos anos não foi em vão e propiciou muitos ensinamentos, felizmente interpretados com grande sentido de responsabilidade e coragem pelos partidos políticos à Esquerda, perante os resultados eleitorais obtidos. Como vai projetar-se no futuro este facto não sabemos, mas o início da caminhada é bom.

Cumprindo as determinações do nosso regime democrático-constitucional, a Assembleia da República mostrou, de forma inequívoca, que a Direita não tem sustentação parlamentar para governar; e gerou condições bem claras para o Partido Socialista (a segunda força mais votada) constituir Governo, aprovar um programa, cumprir todos os compromissos nacionais e internacionais que terá de efetivar em nome do país, e começar a governar com políticas alternativas à austeridade e à subjugação de Portugal.

Há fatores novos na predisposição dos partidos políticos da Esquerda, surgiram formas diferentes para definir e expressar compromissos, houve práticas dominantes que foram abandonadas? Pois houve! Mas são democráticas e constitucionais as que foram adotadas. Não é à Direita, nem a um presidente da República (PR) que se comporta politicamente de forma mesquinha, que compete estabelecer quem pode ou não apoiar um governo, ou determinar como as forças políticas se podem apresentar aos eleitores.

A Direita e o PR não têm preocupações com a hipótese de o novo Governo do PS vir a ser frágil ou não se aguentar muito tempo, antes pelo contrário, esse é o seu mais profundo desejo! O que tentam é impor parâmetros de compromissos não necessários, que inviabilizassem esta solução de governo. O que desejavam era ter mais "espantalhos" para assustar o povo, a União Europeia (UE), os seus santos mercados.

Estamos num tempo de desrespeito da vontade do povo e de "crispação" - que o PR favorece ao retardar a nomeação de António Costa -, em que se indignam os que causaram indignação e ameaçam sublevar-se os que sempre armaram polícias até aos dentes e que manipulam a legalidade para defender a sua ordem e seus interesses egoístas.

Já vimos o povo irlandês ser obrigado a corrigir o "erro" que cometeu quando recusou em referendo um tratado europeu. O povo grego levado às urnas (sem sucesso) até que fosse obtido "democraticamente" o resultado mais conveniente aos mercados e aos mandantes de uma UE à deriva. O povo turco chamado a votar de novo, depois de declarado um estado de guerra a inimigos externos que afinal também eram internos! Mas, por estes caminhos a UE não tem futuro.

Há uma Direita encalhada em conceções velhas e reacionárias, que não olha a meios. Essa Direita mistura-se com outra Direita institucional, razoável e respeitadora de regras. Para que a serenidade volte, e é indispensável que volte, é preciso separar águas. É preciso saber distinguir e tanto quanto possível confinar no seu canto a Direita radical.

O mínimo que se pede a este PR é que, mesmo a contragosto, fique do lado da Direita que é capaz de viver em democracia e nela participar responsavelmente.

PORTUGAL SOFRE COM ALTERAÇÕES DO CLIMA, MAS POLÍTICOS IGNORAM



Um especialista em questões ambientais lamentou hoje que, apesar de Portugal ser um dos países mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, o tema não faça parte das preocupações dos responsáveis políticos.

"Achei algo surpreendente que em toda a campanha eleitoral para as eleições da Assembleia da República este tema das alterações climáticas tivesse praticamente omisso porque Portugal é dos países mais vulneráveis" às suas consequências, argumentou Filipe Duarte Santos.

A justificação, avançou, pode estar relacionada com o facto de muito do que se passa e do financiamento atribuído aos efeitos da mudança do clima ser proveniente da União Europeia e ser tomado como garantido, levando ao afastamento do tema das análises políticas e partidárias.

"O que acontece no nosso país é que muito do se passa e do financiamento que existe para as questões ambientais vem de Bruxelas e, portanto, é uma coisa que é tomada como garantida, não há propriamente uma discussão no sentido de ver qual o caminho mais adequado, o melhor do vista de custo-benefício", salientou à agência Lusa.

O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa falava à Lusa a propósito da realização da conferência das partes das Nações Unidas para as alterações climáticas (COP21), a partir de 30 de novembro, em Paris, que vai juntar vários responsáveis políticos de todo o mundo para obter um acordo visando a redução da emissão dos gases com efeito de estufa.

As emissões são apontadas como as principais responsáveis pelas alterações climáticas, provocando fenómenos extremos mais frequentes, das cheias e inundações, às ondas de calor e tempestades nas orlas costeiras.

Para Filipe Duarte Santos, "em Portugal, como em Espanha, no sul da Europa e no norte de África, os impactos são bastantes gravosos".

Aliás, especificou, no sul do país "tem-se observado desde 1960, ou seja, há mais de meio século, uma redução da precipitação média anual que, por década, é da ordem de 39 milímetros, valor significativo tendo em atenção que a precipitação média anual em certas regiões do Alentejo é da ordem de 500 milímetros".

"Estamos já a assistir a uma mudança climática significativa que tem impactos ao nível dos recursos hídricos, da agricultura, aumenta o risco dos incêndios florestais, devido às ondas de calor e à precipitação mais baixa, e também na zona costeira", além dos efeitos na saúde, especificou o especialista.

Portugal tem efetivamente um percurso a fazer na adaptação à mudança climática no sentido de criar condições para minimizar os seus efeitos adversos, mas também, defendeu, na tentativa de aproveitar algumas oportunidades que esta possa trazer em alguns setores sócio económicos.

"Penso que há bastante a fazer no futuro neste setor no sentido de nos prepararmos para uma mudança climática que já está em curso e que se poderá, muito provavelmente, agravar", alertou Filipe Duarte Santos.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. Catarina Martins diz ser da "geração" que vai derrotar Cavaco Silva

  


A porta-voz do BE, Catarina Martins, disse hoje pertencer à geração que irá "derrotar Cavaco Silva e a sua política mesquinha", a mesma geração a quem o Presidente da República respondeu "com autoritarismo e polícia", enquanto primeiro-ministro

"Somos, sim, a geração que cresceu com Cavaco Silva a responder com autoritarismo, e com polícia, a toda a contestação. Somos a geração que cresceu com Cavaco Silva a acabar com a gratuitidade do acesso à educação e somos, por isso também, parte do número de gerações que hoje se aliam, porque não aceitaram o discurso da direita de pôr geração contra geração", assinalou a líder do Bloco de Esquerda (BE), durante a sessão de solidariedade com as vítimas dos atentados de Paris, que substituiu a prevista apresentação da candidatura de Marisa Matias.

E Catarina Martins acrescentou: "Somos também a geração que sabe que as gerações não se substituem, se acrescentam e que iremos derrotar Cavaco Silva e a sua política mesquinha para este país".

Nas críticas ao Presidente da República, Catarina Martins assinalou que, "quem está em Belém neste momento diz zero à democracia e zero à soberania" de Portugal, lembrando como Cavaco Silva "ousou mesmo referir como compromisso internacional que o país terá de cumprir, mais uma vez sem referir a Constituição, o tratado transatlântico que é um acordo comercial entre a União Europeia e os EUA que está a ser negociado mas ainda nem sequer existe".

"O que está a comandar o país tem sido a completa subserviência, não só à estrutura institucional da União Europeia mas, mais do que isso, aos interesses das grandes corporações económicas, aos acordos que fazem e, portanto, a completa subjugação de um país a interesses internacionais contrários à vida concreta de quem aqui vive", realçou.

Por isso, para a porta-voz bloquista, o que "está em cima da mesa", nas próximas eleições, é saber se os portugueses aceitam "essa subjugação do povo e a subserviência do país ou se faremos umas eleições presidenciais sobre a necessidade absoluta de responder às pessoas e de levar a sério a democracia".

"E quando chegamos às condições da democracia deste país (...) [vemos que] estão a mudar. E nós bem vemos o desespero da direita e toda a chantagem, mas está a mudar e isso não é pouco. E esse é um caminho que já não volta atrás", assegurou.

Para Catarina Martins, "o sonho da direita" que residia em ter uma maioria, um governo e um presidente, foi "o pesadelo do país nestes quatro anos", sonho esse que foi acabado pelo "milhão que votou à esquerda do centrão, no dia 04 de outubro", os "obreiros de uma esperança".

Esperança que, explicou, se "concretizará com a derrota da direita na Presidência da República e, portanto, com a criação de novas condições para que haja uma aragem fresca, forte, um cheiro a democracia no ar que o país bem precisa".

Na sequência dos atentados ocorridos em Paris, Beirute e do incêndio no campo de refugiados em Calais, a sessão de apresentação da candidatura de Marisa Matias, prevista para esta tarde, foi substituída por uma sessão de solidariedade para com as vítimas.

Apresentado como mandatário nacional da candidatura de Marisa Matias a Belém, António Capelo lamentou os últimos "anos terríveis", desde "que esta mosca nos caiu no prato".

Referindo-se a Pedro Passos Coelho e à coligação de direita, o mandatário disse mesmo: "Ele é trauliteiro mesmo. Eles andam assustados [e] querem mudar tudo, até a própria democracia".

No início da sessão, foi a vez de Miguel Guedes, músico dos Blind Zero, lamentar a "vergonha" de quem quer "mudar as regras do jogo, porque não aguenta a ideia" de um governo de esquerda.

Sobre a candidatura de Marisa Matias, que acredita "poderá forçar a segunda volta", assinalou que, "num momento em que há patetas a discutir a conduta das mulheres em partidos, esta é a melhor resposta".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. Eanes crê que "democraciazinha sossegada" não é verdadeira democracia



O ex-Presidente da República Ramalho Eanes afirmou hoje que a sociedade "está um pouco crispada artificialmente", mas salientou que a "democraciazinha muito sossegada" que alguns quererão não é uma verdadeira democracia.

"A sociedade está um pouco crispada artificialmente. É necessário olhar para o que é a democracia. É uma regime de crise permanente, de ideias, interesses e valores. O grande mérito da democracia é que essa crise é dinâmica, cria impulsos de modernização, estímulos e liberdade", disse o antigo chefe de Estado à margem da dupla cerimónia de homenagem de que foi alvo em Castelo Branco e Alcains.

"Por vezes tenho a impressão que alguns portugueses parece que queriam uma democraciazinha muito sossegada. Isso não é democracia", sustentou.
Para o antigo Presidente da República, a democracia é o jogo do confronto, da discussão, da defesa e do ataque.

"É a sociedade em movimento, a expressar aquilo que são as suas forças. O que me custa e que não gosto é que haja uma certa crispação na vida politica portuguesa", concluiu.

Eanes assinalou ainda que há uma certa tendência dos portugueses para se queixarem dos políticos e, "com alguma razão".

Contudo, adiantou que também os portugueses têm que entender que devem ter uma relação diferente com os políticos, para que estes possam ter uma atuação diferente.

"Uma atuação só através do voto de quatro em quatro anos não é suficiente. Isso produz uma democracia eleitoral, mas nós não queremos isso. Queremos uma democracia que seja de participação, de deliberação e de libertação. E, isso só se faz com a participação efetiva de todos na vida politica", concluiu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. SAMPAIO DA NÓVOA DIZ QUE VAI SER O PRESIDENTE DA CONSTITUIÇÃO



O candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa lembrou hoje as últimas semanas da política nacional para sublinhar o papel do Presidente da República e prometeu, caso seja eleito, ser o chefe de Estado da Constituição e da cidadania.

"Agora é que temos mesmo de nos mobilizar em torno de uma candidatura independente, capaz de defender a Constituição e os seus valores. Prometo-vos, a todos aqui presentes, que serei o Presidente da Constituição. É um compromisso, definitivo, que assumo perante os portugueses", vincou.

Sampaio da Nóvoa falava em Lisboa, num jantar-comício tido numa escola nos Olivais.

As presidenciais, assinalou, "são o único ato eleitoral unipessoal" do sistema político português e "num momento decisivo" para futuro de Portugal, "no qual o papel do Presidente da República é determinante, cada candidato deve mostrar, pelo exemplo concreto, o que faria como Presidente", defende.

"Há quem queira agradar a gregos e troianos, tentando equilibrar-se numa corda bamba que nunca se sabe para que lado vai pender. Falou e falou ao longo dos anos, deu notas e conselhos, antecipou cenários, e agora limita-se a dizer: 'É preciso esperar para ver'. Esperar, o quê?! Quando já tanto se sabe, trata-se, não de esperar, mas de decidir com coerência e imparcialidade", disse, sem nunca referir o nome de outros candidatos a Belém, nomeadamente Marcelo Rebelo de Sousa.

António Sampaio da Nóvoa lembrou a sua intervenção em 2012 no dia de Portugal, um momento que muitos recordam como emblemático, e onde o docente e antigo reitor falou por exemplo das fraturas entre gerações, empregados e desempregados ou trabalhadores públicos e privados.

Esta conflitualidade, adverte, "está, agora, também na política, porque se puseram em causa, nos últimos anos, as bases que sustentam as sociedades democráticas, com a destruição da classe média, com a erosão de um centro moderado e equilibrador".

Nesse sentido, prosseguiu, um governo de gestão, "durante longos meses e sem orçamento, é inconstitucional" e pode "arrastar perigos graves de degradação da democracia".

"É preciso dar posse a um Governo de maioria parlamentar", frisou o candidato, que aproveitou também para criticar o que chamou de "manobras de diversão inaceitáveis como a recente proposta de revisão instantânea da Constituição" da parte do líder do PSD, Pedro Passos Coelho.

"Tenho como profissão o ensino, e como obrigação a cidadania. Os portugueses contam comigo, com isenção, com imparcialidade, para agir pelo bem comum, e não por interesses particulares. É esse o meu compromisso, é com esse compromisso que serei um Presidente de todos, com todos, um Presidente da cidadania", realçou Sampaio da Nóvoa.

No jantar-comício desta noite houve também intervenções da dirigente e deputada socialista Ana Catarina Mendes, do antigo secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, e da presidente da Junta de Freguesia dos Olivais, Rute Lima.

Presentes estiveram ainda outras figuras da área socialista, casos de Edite Estrela, Gabriela Canavilhas, Paulo Pedroso ou o histórico Edmundo Pedro, o fundador do Partido Livre (força política que apoia formalmente Sampaio da Nóvoa), Rui Tavares, o capitão de Abril Vasco Lourenço, o constitucionalista Jorge Miranda ou o músico Júlio Pereira.

No começo do jantar foi feito pelos presentes - mais de 700 - um minuto de silêncio em memória das vítimas dos atentados de sexta-feira em Paris.

"Há muitas maneiras de começar um convívio, mas hoje só havia uma: o silêncio. O silêncio que nos junta, solidários, contra a barbárie", assinalou Sampaio da Nóvoa.

Em dias assim, "desgraçados", cada cidadão "deve assumir a sua própria responsabilidade, pela liberdade de todos".

"Em dias assim, temos de nos manter vigilantes contra todos os extremismos. A nossa resposta tem de ser mais democracia, mais direitos fundamentais, mais Estado de Direito", prosseguiu o candidato.

Lusa, em Notícias ao Minuto

“MOÇAMBIQUE ESTÁ EM GUERRA E PRECISA DE MEDIAÇÃO INTERNACIONAL” - diz Muchanga



Sansão Machava - Mozmassoko

O futuro de Moçambique continua incerto, isto devido a crise Política e militar que continua atormentando a nossa pérola do índico.

Nos últimos dias, tem sido registado frequentemente confrontos entre os homens armados da Renamo e as forças governamentais, a maioria dos quais terminam com mortos e feridos graves.

A crise Política no país já agita a imprensa internacional, a título de exemplo, a Euronews entrevistou o porta-voz e deputado da Renamo, António Muchanga para falar sobre a situação que do país.

Confira abaixo a entrevista completa do Porta-voz da Renamo a Euronews.

Michel Santos, Euronews: Boa tarde, Dr. António Muchanga. O que está acontecer em Moçambique? O país não aprendeu com a trágica guerra que fez milhões de mortos e refugiados?

António Muchanga, Renamo: O que está acontecer são desentendimentos políticos. A primeira questão é que o governo tem protelado a integração de elementos da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS). Não está a cumprir o que está plasmado. Há elementos da Renamo que têm armas e que esperam receber o estatuto de polícia desde 1992. Até hoje, o governo nunca se mostrou disponível para integrar estas pessoas. Tivemos problemas em 2013 e 2014, assinou-se um acordo que preconiza que os elementos da Renamo devem integrar as FDS, nomeadamente a polícia e o exército, mas o governo quer integrá-los como quaisquer pessoas. A Renamo, por seu lado, pensa que elementos devem partilhar a direção, a chefia e o comando das FDS, porque também somos moçambicanos. Este é o grande desentendimento. E o governo está a atacar os locais de concentração das pessoas que esperam a sua integração.

Michel Santos, Euronews: Em relação às eleições, vocês continuam a contestar as eleições?

António Muchanga, Renamo: As eleições foram contestadas e nós avançámos com uma proposta que pensamos que também pode ajudar o país, na descentralização do poder, alterando a lei e criando condições para que o partido que ganhar determinados círculos eleitorais governe essa região. Temos esse modelo na África do Sul. Províncias são governadas pelo ANC e há outras dirigidas pelos partidos da oposição. Há relutância por parte do governo em aceitar essa proposta.

Michel Santos, Euronews: E vocês ganharam as eleições nessas regiões?

António Muchanga, Renamo: A premissa é essa. Moçambique está dividido em círculos eleitorais. O nosso partido, o nosso candidato ganhou as eleições em Sofala, Nampula, Zambézia, Tete, Niassa e Manica.

Michel Santos, Euronews: Há cerca de um mês o líder da Renamo foi cercado na sua casa na Beira e mesmo antes terá sido alvo de emboscadas. O que aconteceu de facto?

António Muchanga, Renamo: O presidente foi alvo de uma emboscada no dia 12 de setembro. Houve um ataque à sua comitiva. Graças a deus ninguém foi atingido mas houve danos materiais nas viaturas. No dia 25 de setembro, por volta das onze horas foi novamente atacado. Houve confrontos com a guarda do presidente e os atacantes perderam três armas.

Michel Santos, Euronews: E houve baixas? Mortos ou feridos?

António Muchanga, Renamo: Houve muitos mortos e feridos.

Michel Santos, Euronews: Consegue quantificar o número de baixas?

António Muchanga, Renamo: Não consigo porque não estive no local.

Michel Santos, Euronews: E depois houve o cerco…

António Muchanga, Renamo: Fomos buscar o presidente Dhlakama. Chegámos à Beira às 22h. Por volta das 6h do dia seguinte já estava cercado. Disseram que vinham buscar as armas que perderam no dia 25. Nomeadamente, uma metralhadora MGG, uma AKM e uma bazuca. Depois de serem entregues essas armas, disseram que precisavam de todas as armas, aquelas que os elementos de segurança do presidente estavam a usar. Achamos que foi uma atitude pouco dignificante e só contribuiu para criar ruturas. A situação ficou clara, não se pode confiar nessas pessoas, razão pela qual achamos que para podermos trazer tranquilidade a todos os moçambicanos, mais do que nunca a comunidade internacional tem que se envolver nas mediações. A Igreja Católica, sendo uma instituição que demonstrou ter experiência na ajuda para encontrar a paz em 1992 tem que ser envolvida nas negociações e partirmos para negociações sérias. O outro lado diz que não é preciso envolver a estrangeiros, mas nós pensamos que quando as pessoas morrem deixa de ser um assunto doméstico.

Nyusi deixa Angola com promessa de perdão de mais de 300 milhões de dólares de dívida



O Estado angolano pro­meteu perdoar metade da dívida de 613 mi­lhões de dólares (exactamen­te 306.5 milhões de dólares) a Moçambique, devendo o Estado angolano receber a metade do valor em forma de investimen­tos no nosso país. A garantia foi dada ao Presidente da Repúbli­ca, Filipe Nyusi, pelo seu homó­logo angolano, José Eduardo dos Santos.

“O processo vai ser finalizado ainda. As finanças de Moçambi­que e Angola terão que sentar, para ver como operacionalizam esta decisão tomada. Isto não vai acontecer hoje, nem amanhã, vai levar o seu tempo. A partir daí, podemos definir o mode­lo, no sentido de se perceber se oferecemos serviços para pagar a parte da dívida ou se as empre­sas angolanas investem no nosso país”, explicou Filipe Nyusi a jor­nalistas, tendo acrescentado que “o importante é que a decisão política já foi tomada, agora, fica o TPC para os governos, que têm a responsabilidade de executar”.

Fechado ou não o perdão, a verdade é que, com os 306.5 milhões de dólares, Moçambi­que pode fazer muito na área de infra-estruturas, um valor superior ao que se investiu na ponte Armando Emílio Guebu­za, aproximando-se ao pacote de investimento na ponte Maputo – Ka Tembe, Estrada Circular de Maputo e Ka Tembe - Ponta do Ouro.

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Polícias sul-africanos culpados pela morte de moçambicano condenados a 15 anos de prisão



Os oito agentes da polícia da África do Sul que foram julgados culpados por tortura e homicídio do cidadão moçambicano Emídio (Mido) Macia, que morreu depois de ter sido arrastado, preso na parte traseira de um veículo das autoridades, e posteriormente detido numa esquadra onde foi encontrado sem vida a 26 de Fevereiro de 2013, foram condenados a 15 anos de prisão nesta quarta-feira (11).

O juiz Bert Ban decidiu não condenar a prisão perpétua os agentes Meshack Malele, Thamsamqa Mgema, Percy Jonathan Mnisi, Bongamusa Mdluli, Sipho Sydwell Ngobeni, Lungisa Gwababa, Bongani Kolisi e Linda Sololo, porque estes têm uma excelente folha de serviços na corporação sul-africana.

Emídio Macia, de 27 anos, foi detido por ter estacionado o seu carro no lado errado da estrada. Testemunhas filmaram o moçambicano a ser detido, algemado à traseira de uma carrinha da Polícia e arrastado centenas de metros pelo veículo no subúrbio de Daveyton, a leste da cidade de Joanesburgo.

Duas horas depois, foi encontrado morto na sua cela, numa poça de sangue. A autópsia indica que o taxista, gravemente ferido, foi preso sem assistência.

“A contínua acção dos réus, apesar dos ferimentos infligidos à vítima, foi bárbara e totalmente inexplicável. O que tornou a conduta (dos polícias) mais repreensível foi o cobarde ataque na cela da cadeia quando Mido Macia já estava ferido”, afirmou o juiz Bert Bam, do Alto Tribunal de Pretória, que apesar disso julgou que o crime não foi premeditado.

Um nono acusado foi absolvido.

O advogado de defesa dos oito agentes afirmou que vai recorrer da sentença de homicídio.

A Polícia sul-africana é frequentemente alvo de alegações de brutalidade, mas condenações contra agentes são raras e esta é também um aviso dos Tribunais de que a brutalidade já não será tolerada.

@Verdade

Angola. INDEPENDÊNCIA E A JUVENTUDE



Jornal de Angola, editorial

Os ganhos obtidos por Angola ao longo dos 40 anos de Independência Nacional  são consideráveis e devem ser encarados como parte de um esforço que tem que ser preservado e continuado.

Não são muitos os países com uma natureza de pós-conflito e com as realizações que Angola alcançou ao longo de mais de dez anos de paz e estabilidade. Desde a desminagem, à reabilitação das estradas e pontes, passando pela construção de salas de aulas, hospitais, postos médicos, até à criação de condições mínimas para melhorar o ambiente de oportunidades, podemos dizer que melhorou muito. Não é honesto dizer que “não se fez nada” no país e que de Cabinda ao Cunene está tudo ainda por se fazer. 

Embora sejam ainda visíveis inúmeras sequelas da guerra, que terminou há treze anos, não há dúvidas de que as transformações que Angola conhece proporcionam uma paisagem diferente. Não são apenas os angolanos que têm essa percepção, mas inclusive as instituições internacionais que olham para o país de forma diferente. 

A situação pós-conflito, que ainda caracteriza Angola, começa rapidamente a dar lugar a um ambiente de consolidação das realizações de construção de um país renovado. É verdade que temos ainda muito trabalho pela frente, numerosas arestas por limar e realizações por consolidar. 

Precisamos de melhorar o que está bem e assumir com coragem e determinação a necessidade de fazer bem o que eventualmente esteja mal. Nisto, vale a pena enaltecer os esforço do Executivo no sentido de envolver o maior segmento da população, a juventude. 

É imperioso que os jovens saibam e acompanhem as realizações das instituições do Estado para que as suas aspirações estejam em consonância com a realidade e com as possibilidades do país. Acreditamos que os jovens compreendem e acreditam nos esforços empreendidos pela governação, razão pela qual milhares se encontram inseridos em programas e estratégias ligadas ao auto-emprego, empreendedorismo e outras iniciativas.
  Hoje, a participação dos jovens nos mais variados fóruns permite concluir que as gerações mais novas estão a caminhar bem e que a passagem de testemunho entre os mais velhos e os mais novos é possível sem sobressaltos. Nos negócios, na cultura, na política e noutras áreas deve continuar a ser encorajada a interacção positiva entre estratos da população com idades, experiências e visões de futuro diferentes sobre o país e o mundo. Os mais velhos fazem muito bem quando acolhem e compreendem as expectativas da juventude, razão pela qual este último segmento deve igualmente fazer prova de um aprendizado correcto. 

No discurso do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, por ocasião da comemoração do aniversário da Independência Nacional, os jovens foram mencionados repetidas vezes como ponto de partida e de chegada das políticas do Executivo. “O país deve fazer tudo para oferecer à juventude cada vez mais oportunidades de crescimento pessoal e profissional. Dois terços da nossa população, que é a nossa maior riqueza, têm menos de 25 anos de idade. A Nação deve assumir como sendo seu dever trabalhar para garantir um futuro melhor  à juventude e às gerações vindouras”, disse o Presidente da República. Parte da intervenção dedicada ao maior segmento da população angolana por parte do Chefe de Estado deve servir como uma espécie de ideário por via do qual a juventude deve conceber a Angola de hoje e de amanhã. 

Hoje e olhando para os ganhos proporcionados pela paz e estabilidade, ao longo dos últimos 13 anos, não há dúvidas de que mudou muito o panorama social em termos estudantis, de acesso aos centros de formação técnico-profissional, do primeiro emprego e ocupação económica ou cultural. Os números não mentem e embora tenhamos ainda muito trabalho pela frente, ensina a sabedoria popular que precisamos de valorizar o que temos antes de idealizarmos outras realizações. Precisamos de fazer correcta avaliação das metas onde nos encontramos, partindo do princípio de que nem tudo pode ser feito num só dia, para nos concentrarmos no essencial. A pressa com que a juventude pretende, naturalmente, ver as coisas resolvidas é inteiramente compreensível, mas tal como é possível notar, através da História, trata-se de uma realidade vista em todas as gerações e em todos os tempos.

As palavras do Presidente José Eduardo dos Santos, relativas aos anseios da juventude, são claras quando diz que “sabemos que os jovens querem tudo resolvido de um dia para o outro. Assim foi em todas as gerações anteriores. Somos um país independente, respeitado e admirado por muitos por causa do bom trabalho do seu Povo e da sua juventude em particular. Temos que continuar a transformar a energia e o dinamismo da juventude em alavanca para continuarmos a construção de uma Nação mais próspera, feliz e justa”. Assim tem sido feito, atendendo a que os jovens estiveram e continuarão a estar na linha de frente das principais execuções das políticas do Estado. No entanto, convém referir que ninguém está excluído dos esforços para fazer de Angola um país bom para se viver e todos os contributos são bem-vindos para termos uma sociedade inclusiva. 

Angola. VÁRIAS EMPRESAS PÚBLICAS EXTINTAS POR INEFICIÊNCIA



Graciete Mayer*

Nove empresas públicas ligadas aos sectores da agricultura, geologia e minas, pescas e indústria foram extintas este mês, ao abrigo de um conjunto de decretos presidenciais publicados no Diário da República, I.ª Série, n.º 154, de 9 de Novembro.

Trata-se da Empresa Regional de Abastecimento ao Sector Cafeícola (PROCAFÉ), Ermanal (Luanda), Empromar Kuroka, Empromar Kapiandalo, Fropesca, Farinol, Empresa Transformadora de Madeira (ETM), Alfaias Agrícolas (ALFAG), Empresa Mineira de Fosfatos do Zaire e da Minaquartzo e (FOSFANG U), todas anteriormente classificadas como “Unidade Económica Estatal” (UEE).   

Em Junho deste ano, o ministro da Economia, Abraão Gourgel, disse que existem, actualmente, em Angola, numerosas empresas do sector público a actuar em regime de monopólio, com reduzida eficiência e competitividade, que não satisfazem as necessidades dos consumidores. “Num modelo de economia de mercado, são os empresários mais capazes e audazes a força activa da reconstrução económica do país e da modernização do tecido produtivo nacional sob liderança do Estado”, afirmou  o ministro da Economia.

Com o Programa de Fomento do Empresariado Angolano, que incentiva a criação de emprego em todo o país, o Governo espera aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) em 1,1 mil milhões de dólares ou 2,4 mil milhões.  

Outra das dez medidas previstas pelo Governo é a criação de um Fundo Público de Capital de Risco para apoiar projectos em fase de lançamento. Contempla ainda o aumento da oferta de serviços financeiros por parte da banca, a formação profissional nas grandes empresas, a facilitação de crédito às pequenas e médias empresas, o apoio aos pequenos empresários, o fomento do cooperativismo e a definição da política de subsídios ao fomento empresarial.

O programa traça ainda como objectivos a simplificação dos processos burocráticos, o incentivo ao consumo da produção anacional, o fomento de infra-estruturas de apoio às empresas, a dinamização de Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) e de pólos industriais, e a criação de benefícios fiscais para o empreendedorismo, além dos recém criados Bolsa de Valores e do Mercado de Capitais.

Um estudo realizado em 2006, a pedido do Governo, propôs que a reestruturação do sector público empresarial angolano, que abrange actualmente 216 empresas, deve passar pela manutenção de apenas 41, enquanto outras 77 devem ser privatizadas e 53 liquidadas. Elaborado pela empresa de consultorio  internacional  da CESO, empresa portuguesa de consultadoria, o estudo foi encomendado pelo Ministério das Finanças e apresentado em Luanda, com as propostas dos ante-projectos da Lei-Quadro do Sector Público Empresarial, do Estatuto da Entidade Supervisora, do Estatuto do Gestor Público e do seu sistema remuneratório.

*Jornal de Angola – Foto Mota Ambrósio

Angola. A LIBERDADE QUE SE ALCANÇOU ESTÁ SEDENTA DE AMOR E DE VIDA!




1 – Neste 11 de Novembro de 215, as minhas memórias estiveram bem presentes…

Enquanto na Praça do Mausoléu de Agostinho Neto o desfile comemorativo se espraiou sob meus olhos como um majestoso rio humano e eu repetia o gesto automático de disparar a pequena máquina fotográfica que gravou a afirmação de patriotismo e de esperança que tão intensamente se viveu, por dentro dos meus olhos húmidos, tocando-me por inteiro, tomando-me o cérebro e as entranhas, revivi aquele remoto 11 de Novembro de 1975 duma forma muito especial: reconstruindo secretamente os passos peregrinos e decididos do rio de minha própria juventude quando em Angola, entre o troar das armas, se afirmava e se assumia o sonho mais legítimo de liberdade!

Aos Dembos havia chegado em 1972, animado já de horizontes que se impunham muito para lá daquela época opaca, fechada ainda na caixa do fascismo e do colonialismo: minha consciência crítica havia sido oxigenada em Lisboa, onde a frequência na universidade, mesmo sem Casa do Império, possibilitou-me fazer um balanço sério das conjunturas que então se viviam, com a corajosa e resoluta dádiva dos colegas mais velhos e experientes, que me levavam também a questionar toda a vivência juvenil até então…

Nas universidades portuguesas o espírito de luta contra o fascismo e o colonialismo ganhava asas e dimensionou um território humano que viria a antecipar as transformações sócio-políticas que eclodiriam em todas as frentes do espaço português, implodindo o Estado Novo e finalmente abrindo autodeterminação e independência para as colónias.

Era o tempo dos trovadores e Zeca Afonso cantava as janeiras!

Tudo isso apanhou-me em cheio logo nos meus verdes vinte anos, pelo que quando dei por mim nos Dembos, feito alferes miliciano das Forças Armadas Portuguesas, sabia que iria ser sujeito a duras provas, por que o contraditório fustigaria e poria à prova de forma subtil mas inadiável todos os meus passos e todas as mais profundas convicções próprias dum jovem que despertava para a vida.

Não foi assim um náufrago que chegou os Dembos, foi um jovem para o qual a justiça não era uma palavra vã e perante as lições correntes com que se tinha de deparar, forçosa, ainda que paulatinamente, em tudo teria de optar.

Foi esse ambiente que me sacudiu por inteiro, um ambiente em que o quotidiano era uma radiografia das desigualdades, dos desequilíbrios humanos existentes e tantas vezes das injustiças sociais mais absurdas que se poderia imaginar, que conheci Teresa Cassule, uma jovem camponesa analfabeta de Pango Aluquém, nascida numa das pobres aldeias da região, na aldeia de Benza…

Com o fervor dos meus verdes anos cedo fiz dela minha companheira, com um misto de compreensão e espectativa por parte da sua família, pois possivelmente não suporiam que algo duradouro pudesse um dia surgir: em dias turbulentos afinal eram tão frequentes os amores de passagem, como as aves de arribação e depois o que faria um alferes miliciano na vida, amarrado por indeléveis laços a uma jovem camponesa dos Dembos?…

Entre as riquezas que pude então recolher, que a muitos poderá surpreender, ao ouvir os mais velhos de então, constavam histórias que se foram entrecruzando, pois marcavam o século XX até então naquela região: desde a saga das resistências dos Dembos aos choques de 1961…

A minha companheira contou-me mesmo, ela própria, algumas dessas histórias que os pais transmitiam oralmente e com toda a circunspecção aos filhos, por que tinham a noção exacta de que sua divulgação poderia desencadear por si o mesmo tipo de opressão já antes experimentada…

Desfilaram aldeias bombardeadas (Gombe ya Muquiama), aldeias desaparecidas (uma aldeia entre Pango Aluquém e Cazuangongo), exemplos de vidas que se esvaíram, famílias inteiras que haviam desaparecido na voragem da guerra… as fronteiras entre o que era a possibilidade de vida e a morte prematura que se impunha aos oprimidos, aos pobres, aos angolanos sujeitos à qualificação do indigenato, àqueles cujo único crime era enfim a sede de liberdade que lhes era negada pela força das armas, aqueles a que eram negados os mais elementares direitos humanos…

Em Agosto de 1973, na modesta casita de pau-a-pique rebocada a cimento e com chão cimentado que havia erigido na Benza, nasceria nossa primeira filha que levaria também por minha opção o nome da mãe, Teresa e de minha mãe, Maria…

Era um ser frágil, muito sujeito desde logo à precariedade de nossa vida e fui surpreendido pela decisão de meus pais, pois eles decidiram ir buscá-la numa viagem épica que encetaram do Lobito até Pango Aluquém, num carrito que estava dimensionado a um Lobito – Benguela e pouco mais que isso…

A Teresinha partiu com eles que tiveram a hombridade de não me censurar face à situação: no fundo acho que reconheciam a legitimidade das opções que se me deparavam e compreendiam os meus anseios, as minhas espectativas e as minhas esperanças na flor da vida…
  
2 – Quando foi possível ingressar nas FAPLA, num memorável encontro que o Comandante N’Zagi pessoalmente me propiciou, a Teresa Cassule já estava comigo em Luanda, onde vivíamos numa casinha de madeira alugada ali no Lelo (Ilha do Cabo), junto ao Largo da Peixeira (hoje desaparecido)…

Depois foi um desfiar contínuo de missões em 1974 e 1975, até chegar ao dia em que, ainda sob a bandeira portuguesa, na base secreta da ilha Cabeleira (Kamuxiba), próximo do Estado-Maior das FAPLA então instalado no morro da Luz, teve a minha unidade a missão de proteger os Comandantes das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, que haviam chegado clandestinamente no âmbito da “Operação Carlota”…

A unidade estava espalhada num pequeno conjunto de casas que pertenciam à patriótica família Tavira, disfarçado pela comunidade envolvente e dela faziam parte outros angolanos, entre eles os camaradas Luís Rosa Lopes, Manuel da Ressurreição, “Pancho” (recentemente falecido), o internacionalista português “Alex” (de seu verdadeiro nome Eduardo Cruzeiro)…

Ali pude assistir ao desdobrar dos mapas por parte dos Comandantes cubanos, entre eles Dias Arguelles e às suas discussões que levavam pouco a pouco a começaram a estabelecer os planos para as frentes sul e norte de Luanda… foi assim que pela primeira vez me foi explicado o significado da “Operação Carlota”, em honra da temerária escrava rebelde de Matanzas, assim como foi talvez a primeira vez que foi estabelecido o conceito que viria a criar o funil de Kifangondo, integrado no plano preparatório para a defesa de Luanda, a norte…

A minha companheira esteve comigo ainda algum tempo nessa base, mas grávida de meu segundo filho, foi decidido entre nós que ela fosse ao Pango Aluquém a fim de melhor ser assistida pela sua família…

As batalhas sucediam-se em Luanda, na barra do Dande, no morro da Cal, nas estradas do litoral norte e sul e parte da unidade acabou por ser destacada às pressas para os Dembos, pois havia a hipótese das forças conjuntas do inimigo poderem romper na via Pango Aluquém – Cazuangongo – ponte do Zenza e vir a surgir em Maria Teresa, na estrada de Catete…

A aba leste do funil de Kifangondo foi assim reforçada, porquanto a aba oeste era o mar.

No momento em que cheguei a Pango Aluquém num camião Hino de grande caixa aberta que levava dezenas de combatentes, fui a correr até à Benza onde encontrei a Teresa Cassule com a irmã Conceição Cassule, cada uma com sua trouxa à cabeça, grávidas e com dois meus sobrinhos: um o Ribeiro (já falecido) pela mão e a Carlota, que era ainda bébé, às costas da mãe… iam para as lavras pois corria o boato que “a FNLA vem aí” e por isso tinham de se refugiar e proteger!

Mandei-as ir para casa: “nós chegámos, vão haver combates e eles não vão conseguir avançar” disse com toda a convicção que me ia na alma, até por que tinha todas as razões de vida para assim creditar…

Reforçaram as unidades os dispositivos que estavam às ordens do Comandante César Augusto Kiluanji (hoje digno Embaixador de Angola em Cuba), que comandava a frente, mas mesmo assim acabou-se por perder a Mobil e Kibaxi…

Às pressas formou a unidade um pequeno CIR na Fazenda SAGRI, enquanto se reforçava Cacamba (do lado do Úcua) e Kikeza (do lado de Kibaxi)…

O Manuel Ressurreição “Pancho” dispararia um “muanacaxito” desde os altos de Cacamba, contribuindo para que as linhas não fossem mais rompidas a oeste de Pango Aluquém e eu com outros mais camaradas (Luis Rosa Lopes, “Saber Andar”, falecido, “Diabo Branco”, Carlos Freitas, falecido e outros) reforçámos os Comandantes Vida e Wachile em Kikeza, onde tínhamos um canhão de 76mm de quem estava encarregue o camarada Xavier (hoje General reformado de Artilharia)…a norte de Pango Aluquém a FNLA tinha também os dias contados…

No dia 11 de Novembro de 1975 já havíamos reconquistado Kibaxi com a chegada do Comandante Margoso e de mais reforços das FAPLA e a minha unidade ficou instalada na Missão, a partir da qual íamos fazendo patrulhas envolventes, inclusive uma patrulha que chegou à ponte do Dange na estrada do café, que o inimigo havia destruído com explosivos…

Entre aqueles que fizeram parte da logística de tropas das FAPLA e cumpriram várias missões arriscadas de ligação, esteve Alfredo de Jesus, “Manguchi”, de quem sou familiar e amigo de coração, um camarada que sempre apoiou as FAPLA e o MPLA no Bengo, de forma digna, decidida e honrada…
  
3 – A 20 de Novembro de 1975 nasceria o meu segundo filho com a minha companheira Teresa Cassule…

Ainda na área de Kibaxi, não pude estar presente, mas quando a notícia chegou tive a noção de quanto foi vital toda aquela epopeia…

Meu filho receberia o nome do meu pai, João e o meu, Manuel, tal qual havíamos procedido com a Teresinha…

Na altura não havia combatentes das FAR cubanas nos Dembos mas foi deste modo a minha participação no início da “Operação Carlota”, que sairia vitoriosa em Cabinda, em Kifangondo e no Ebo.

Se por acaso o inimigo tivesse tomado Luanda, tinha já a missão de ficar nos Dembos a fim de integrar a guerrilha que se formaria de imediato…
  
4 – Enquanto o desfile na Praça do Mausoléu prosseguia, foi esse o desfile que passava por dentro dos meus olhos, numa onda húmida e enternecida…

Todo o simbolismo saturado de vida me estremeceu: as convicções, as emoções, a saudade imensa, eu feito um humilde homem total, na pele dum ignoto combatente, face a face à história e à humanidade…

A Teresa Cassule minha companheira dessas eras decisivas viria a sucumbir em meados do último ano do século XX: tinha um coração frágil que não aguentou com as injustiças da vida que entretanto nos atingiam em cheio…

Aconteceram muitas coisas que não escolhi que acontecessem… mas a memória da escrava Carlota impunha-se-me sempre, por que a partir dela havia um caminho que se abria e eu integrava a torrente humana que engrossava cada vez mais esse caminho e ia alcançando com coragem cada conquista, uma a uma, com sacrifício, sangue, suor, lágrimas, mas com um horizonte radioso que seria impossível perder!

Com todos os defeitos humanos, com algumas virtudes, mas sempre sedento de amor e de vida, como nos meus verdes anos nos Dembos, quando despertei para o desfile dos 40 anos da“dipanda”… foi assim que consegui ver a liberdade em Angola, bem por dentro de mim! 

- Foto da minha companheira das horas decisivas, Teresa Cassule

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