quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

AUTONOMIA E LIVRE COOPERAÇÃO: DUAS PRÁTICAS DA NOVA CULTURA POLÍTICA



Rui Peralta, Luanda

As práticas de comunização do saber, de assistência mutua e de trabalho cooperativos esboçam lógicas alternativas de vida social e económica. A lógica normativa dominante caracteriza-se: 1) pela difusão de normas de concorrência ao conjunto das actividades, em todos os sectores, difundidas por todo o mercado através das grandes empresas e grupos empresarias e do Estado (que promove estas normas nos serviços públicos); 2) modelo exclusivo, único, de empresa. Nada é feito fora da empresa, transformada em micro-universo concentracionário, onde cada um identifica-se com a empresa ou com o capital que deve autovalorizar-se.

O problema mais grave nas democracias representativas do Ocidente, nos tempos que correm, é o entrelaçamento entre as oligarquias económicas e as oligarquias políticas, entrelaçamento que a crise permanente acabou por originar uma oligarquia de duas faces. Como resultado a dominação oligárquica tem, paulatinamente, sobreposto às formas democráticas de representação e de participação. Este domínio é muito mais visível no plano económico (austeridade, privatizações, etc.) do que no plano político (embora neste nível as oligarquias têm tido “empurrões” diversos com base nos atentados terroristas dos grupos fascista islâmicos e no fortalecimento da “industria da segurança”).

Na tentativa de estancar este processo a esquerda política tenta a fórmula tradicional que aponta o Estado contra o mercado, fórmula errónea, que retirou o mercado da vida social e empurrou-o abertamente para o domínio oligárquico, perante os falhanços e as falências estatistas. As democracias representativas estão a ser esvaziadas. A primazia do Poder Legislativo desapareceu, em benefício da primazia do executivo, ameaçando o equilíbrio originado pela divisão de poderes. A adulteração das relações de mercado originou que este ultrapassasse a sua esfera social.

As empresas devem reassumir o seu lugar como projectos, com princípios de gestão alicerçados na participação e na cooperação. O mercado tem a sua construção histórica e pluridimensional. Não é responsável pelos males que afectam a sociedade contemporânea, na medida em que o mercado foi destruturado pela lógica oligárquica que assumiu o controlo das operações. É uma esfera da vida social que prima pelas relações de troca, pelas práticas de comercialização e da produção. Não é o centro da actividade social, assim como o Estado não é o centro da actividade politica e muito menos da sociedade.

Não existe um fosso que separa irremediavelmente a esfera económica da esfera jurídica. Há que romper com essa ideia, de que o direito, o jurídico, é uma superestrutura e a produção uma infra-estrutura. As relações jurídicas são parte integrante das relações de produção e estas têm a sua esfera específica na vida social, que é o mercado, mas as relações jurídicas não se esgotam aí, estendem-se por todas as esferas da vida social.

A democratização da vida económica implica serviços e bens que favorecem o bem-estar de todos. Este pressuposto foi muitas vezes confundido com o conceito de Estado Social (Welfare State) o que desapossou os actores sociais da sua capacidade de deliberação e de decisão. Como resultado o Estado Social acabou por cavar a sua própria sepultura e hoje vive a agonia da falta de sustentabilidade. A resposta não consiste em reconstruir o Estado Social mas em como criar sustentabilidade e ao mesmo tempo ampliar os seus benefícios, não sob a forma exclusiva de um serviço de Estado, mas sob a forma de um Serviço Público socialmente autónomo.

É necessário criar instituições novas que permitam aos usuários (consumidores, produtores e prestadores) dar a sua opinião, controlar as suas decisões e gerir os seus recursos. Quanto às empresas - privadas, mistas ou públicas – devem ser projectos de reinvenção constante assentes em valores inovadores, alternativos e criativos, que optimizem os seus níveis de produtividade e que criem novos paradigmas de competitividade e de cooperação. Projectos para o sujeito e em função do sujeito e não para a extrapolação do objecto. Experimentem…

PORQUE É QUE A ECONOMIA NÃO É UMA CIÊNCIA EXATA?



Fernando Belo* - Público, opinião

Nas estatísticas, os lucros vêm nas rubricas financeiras relativas ao capital, enquanto os salários não aparecem, vêm na contabilidade dos “custos sociais”.

1. Os economistas gabam-se de a ciência deles ser a "mais matemática" das ciências sociais, mas enganam-se tantas vezes que não se percebe de que é que se gabam; pior, ultimamente revelam-se impotentes para obstarem às consequências terríveis duma especulação financeira que tomou os freios nos dentes e anda a comprar ao desbarato as economias produtivas mais frágeis, depois de as ter incentivado a desenvolverem-se com base no crédito fácil. Truques dignos duma qualquer fábula de La Fontaine, a inventar, se não a há já. E vê-se a multidão de economistas de todo o gabarito a acharem que não há alternativa. Ciência exacta? Ainda que não exacta: ciência?

2. Para vislumbrar uma resposta: o que é que faz da Física, Química e Bioquímica ciências exactas? Não é tanto a teoria interpretativa, que tem as suas falhas como qualquer saber de humanos, mas a sua dupla matematicidade: as equações algébricas que se inventaram para dar conta dasmedidas de movimentos variados, deslocamentos, correntes eléctricas, transformações moleculares, etc. Ora essas medidas relevam da tradição geométrica que o século XVII algebrizou (curvas em coordenadas cartesianas correspondentes a equações) e têm a propriedade de os seus resultados, em unidades convencionadas, se destinarem a ocupar as variáveis dessas equações e a verificá-las ("verdade" duma "igualdade"), qualquer que seja a proximidade das interpretações teóricas delas, discutida frequentemente entre os cientistas. As medidas dependem de técnicas diversas (régua, relógio, balança, etc.), consoante a dimensão da experimentação laboratorial, e é usando, por sua vez, de forma politécnica, as equações e aplicando as técnicas de medida que a engenharia constrói mecanismos capazes de movimentos concertados segunda as descobertas experimentais. Mas é sempre ao tipo de fenómeno singular, com experimentações científicas repetidas que corresponde quer a equação física, quer o fenómeno técnico.

3. Os fenómenos de cujo saber a Economia se ocupa são os do mercado, compras e vendas, segundo uma "língua de preços em unidades monetárias, oscilando conjunturalmente, língua que todos os agentes devem conhecer, já que é desses preços que se fazem os custos mais complexos dos orçamentos de cada unidade social, empresa ou família. Se se pergunta em que é que consiste o laboratório da Economia, percebe-se logo uma diferença importante: não há nada de geométrico nele nem de equações algébricas cujas variáveis correspondam a técnicas de mensuração. Essencialmente, o laboratório dos economistas, cuja manipulação lhes dá um saber que mais ninguém tem de outra forma qualquer, consiste nas estatísticas em seus arquivos, os principais sendo oficiais. Elas não podem ter em conta os fenómenos singulares do mercado, com é óbvio, cada compra e venda, cada custo e cada orçamento, e está aí uma primeira diferença em relação às ciências exactas: elas registam somas aritméticas de milhares desses fenómenos, contando com o "equivalente" que a moeda é – outorgando preço – a qualquer mercadoria para não precisar de ter em conta as diferenças entre elas, adentro duma região de fenómenos estatisticamente seleccionados. Na estatística – interesse e limite dela –, os fenómenos económicos encontram-se misturados e quanto mais se subir em generalidade económica, maior é a mistura. E o que é que se sabe que releve de cientificidade? Movimentos sociais económicos, dados pelas diferenças entre estatísticas correspondentes a dois períodos de tempo, comparando as respectivas taxas: estas não têm dimensão, apenas cresceram ou diminuíram? Por definição de ciência social, o "singular" desaparece, donde que nenhuma técnica exacta seja possível aos economistas, cujo saber é sempre de aproximações (nunca há 100%), sempre com uma forte componente de interpretação.

4. Ora, esta é necessariamente política e a razão é simples. Se alguém preocupado com a solidariedade social pode pensar que o fenómeno crucial da Economia enquanto ciência seria tratar a maneira de decidir a partilha justa do que se ganha com a venda do que abastece o mercado de mercadorias entre os lucros dos que investem o capital na maquinaria e os salários dos que laboram com esta, deverá saber que não há nenhum critério rigoroso, aritmético ou científico para essa decisão: os seus critérios são sempre políticos, de concertação ou de luta social, com intervenção ou não do Estado. Ora, nas estatísticas, os lucros vêm nas rubricas financeiras relativas ao capital, enquanto os salários não aparecem, vêm na contabilidade dos “custos sociais”, a dimensão política essencial entre ambos não joga nas interpretações feitas com base nas estatísticas que os economistas fabricam e consultam, fica escondida nelas. O que se chama "neoliberalismo" vive dessa trapaça.

*Filósofo

Portugal. António Costa acentua urgência de acordo para atualizar salário mínimo



O primeiro-ministro, António Costa, congratulou-se hoje com a postura de diálogo assumida pelos parceiros sociais relativamente às propostas apresentadas pelo Governo e acentuou a urgência de um acordo para a atualização do salário mínimo antes do final do ano.

"É indispensável termos rapidamente concluído o processo de atualização do salário mínimo nacional para que a 01 de janeiro vigore o novo salário mínimo", afirmou António Costa aos jornalistas no final de uma reunião em sede de concertação social.

O primeiro-ministro reafirmou que o aumento do salário mínimo é da competência do Governo, ouvindo os parceiros sociais, e manifestou o seu agrado pela vontade demonstrada por todos para a negociação, tendo ficado marcada uma reunião para terça-feira, dia 15, às 15:00, para discutir a matéria.

O chefe do Governo considerou desejável que seja alcançado um acordo sobre o rendimento mínimo para os próximos quatro anos, "porque é melhor para a previsibilidade das empresas", mas reconheceu que tal vai depender das propostas dos parceiros sociais na reunião da próxima semana.

"Temos um ponto de partida e um ponto de chegada. Quanto à trajetória, temos uma proposta mas vamos aguardar para ver o que os parceiros têm para dizer", disse o primeiro-ministro.

Segundo António Costa, cabe agora aos parceiros reagir à proposta do Governo e depois o Governo reagirá à dos parceiros.

Além da proposta do aumento do salário mínimo para os 530 euros em janeiro de 2016, o executivo propôs também a negociação de um acordo estratégico para a legislatura e um acordo para promover o investimento e a capitalização das empresas.

Ainda de acordo com o primeiro-ministro, o Governo ficou de apresentar aos parceiros sociais um calendário para negociar um acordo estratégico.

SMS/RRA// ATR - Lusa

Portugal. AFINAL, A GERINGONÇA É OUTRA



António Galamba – jornal i, opinião

Geringonça ou gerigonça-Coisa mal engendrada, tosca, mal feita e que ameaça partir-se ou dar de si.

Todos temos bem presente, o debate parlamentar em que Paulo Portas, parafraseando Vasco Pulido Valente, rotulou de “geringonça” a alternativa de governo do PS sustentada nas três posições política conjuntas com BE, PCP e Os Verdes. Os dados vindos a lume trataram de aplicar o conceito à realidade emanada da fase final da governação da direita, de Passos e Portas, após a ida às urnas.

Parece que a narrativa eleitoral, qual geringonça, não tinha correspondência com a realidade. As possibilidades de devolução da sobretaxa minguaram, o desemprego aumentou, o crescimento estagnou no terceiro trimestre devido, em especial, à diminuição da procura interna e, segundo Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), até setembro, o défice situou-se nos 3,7% do PIB, longe dos 2,7% estipulados pelo governo PSD/CDS e dos 3% exigidos por Bruxelas.

Da famosa “almofada” dos “cofres cheios” já só sobra uma fronha de 61,2 milhões para dezembro. A coisa deu de si e vai-se sabendo umas verdades. É certo que este é aquele momento em que a tentação de um novo governo para pintar a manta do anterior é grande, mas, nestes casos, o algodão não engana. Mais uma vez, a realidade questiona o calendário das eleições legislativas adotado pela Presidência da República.

A verdade é que sendo tão importante a saída de Portugal do Procedimento dos Défices Excessivos, aquilo que alguns designam de “segunda saída limpa”, é uma irresponsabilidade ter sido escolhido um tempo em que a margem de manobra é pequena e o risco descontrolo é grande, por via da incerteza sobre o sentido da vontade popular e a elaboração do orçamento de Estado.

Chegados aqui, montados nos resultados da geringonça da direita, quando demasiadas coisas soam a quadratura do círculo (tudo para todos) é tempo de agir. Agir focados nas necessidades das pessoas, com bom senso, com rigor e com sentido de sustentabilidade. Saber aproveitar a perceção de escassez dos recursos disponíveis, de partilha de recursos e de mobilização de sinergias é aproveitar a parte boa da herança dos últimos quatro anos.

Fazê-lo criando condições de previsibilidade e de sustentabilidade é decisivo para que a vida dos cidadãos, das empresas e das instituições não seja uma espécie de acordeão ao sabor das opções dos governos e das conjunturas. É essa cultura generalizada da incerteza que está presente na sociedade quando a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) chega a acordo com os sindicatos para a atualização salarial dos funcionários das IPSS para entrar em vigor em setembro, com retroativos a janeiro de 2015, sem ter em conta a situação financeira das instituições, depois de quatro anos a absorver as dificuldades das famílias.

Com um novo governo é espetável que não sejamos assolados pelo fantasma do Natal passado, mas também não podemos cair numa dimensão em que a esmola seja tanta que o pobre desconfie. Obviamente que estamos a falar do básico em muitas matérias, de direitos e de funções do Estado para as quais terão de ser encontrados recursos financeiros no quadro dos compromissos internacionais assumidos.

A quadratura é particularmente difícil quando olhamos à nossa volta e constatamos a incerteza presente em muitos dos destinos onde os portugueses procuraram as oportunidades que não tiveram no território nacional nos últimos anos. A situação da economia angolana, as dificuldades em Moçambique, a desaceleração da economia brasileira, as alterações eleitorais e políticas na Venezuela ou a ameaça global do terrorismo são tudo nuvens no horizonte para muitos portugueses, para muitas empresas exportadoras e para Portugal. Infelizmente para muitos, o regresso à terra, para passar o Natal com a família, pode mesmo significar o fim das oportunidades que tiveram fora do território nacional.

O nível de incerteza, perante os fatores que não controlamos, torna ainda mais incompreensível a propaganda, a incompetência e a incapacidade do anterior governo para gastar os fundos comunitários do anterior quadro comunitário e para disponibilizar os recursos financeiros do novo quadro comunitário, Portugal 2020, para as entidades públicas e para os privados. Gastaram tanto tempo a tentar marcar as cartas do futuro, com os mapeamentos e as programações, que se esqueceram de colocar o dinheiro ao serviço das pessoas e dos territórios. Também aqui a geringonça da direita, de tão mal engendrada, tosca e mal feita, deu de si.

*Membro da comissão política nacional do PS - 
Escreve à quinta-feira

Portugal. Défice. Centeno anuncia "medidas adicionais" e aponta o dedo a Passos



Travão a fundo a todas as despesas não urgentes. É essa a fórmula de Mário Centeno para conseguir fechar o ano com um défice abaixo dos 3% e conseguir assim sair dos procedimentos por défice excessivo em Maio, altura em que Bruxelas irá validar o número final do défice deste ano.

O "congelamento de processos pendentes de descativações e transições de saldo de gerência considerados não urgentes", “uma redução dos fundos disponíveis das administrações públicas para 2015 em 46 milhões de euros e a não assunção de novos compromissos financeiros considerados não urgentes" são as três medidas aprovadas para cumprir o objetivo que permitirá a Portugal vir a beneficiar de alguma flexibilidade prevista no Tratado Orçamental já em 2016.

Centeno diz que Passos falhou

O ministro das Finanças não quis avançar qual seria o défice caso não fossem aplicadas estas “medidas adicionais”, mas assegurou que “o objetivo orçamental não foi cumprido”.
Por outras palavras, falhou a meta de fechar o ano com um défice de 2,7% que tinha sido prometida por Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque.

Falhado esse objetivo, Centeno tenta agora fechar 2015 com um défice abaixo dos 3%, admitindo que as medidas hoje aprovadas em Conselho de Ministros irão constituir “um exercício difícil e exigente para a Função Pública”, mas assegurando que não irão pôr em causa o seu funcionamento já que tudo o que foi decidido “incide sobre verbas e custos que são considerados compromissos não urgentes”.

“Estamos confiantes de que com um esforço adicional esta circunstância possa ser acautelada e o défice possa ser cumprido”, declarou Mário Centeno no briefing do Conselho de Ministros, um dia depois de o deputado do PS Paulo Trigo Pereira ter admitido no Parlamento que iria ser difícil fechar o défice nos 3%.

“Se a execução orçamental deste último trimestre for igual à do ano passado, teremos um défice excessivo de 3,1%”, dizia Trigo Pereira, sublinhando que o Governo de Costa apenas poderá ser responsabilizado pelos últimos 29 dias do ano.

Margarida Marvim - jornal i

Portugal. Morreu Maria Eugénia Cunhal, a irmã mais nova do antigo líder do PCP



A irmã mais nova do antigo líder comunista Álvaro Cunhal, Maria Eugénia Cunhal, também militante do PCP, jornalista e escritora, morreu hoje, aos 88 anos, informou o secretariado do Comité Central daquele partido.

Os dirigentes comunistas expressam "profunda mágoa e tristeza" pelo falecimento de Eugénia Cunhal, pessoa com "uma vida dedicada à luta contra o fascismo, pela liberdade, contra a exploração capitalista, pela democracia, pela paz, o socialismo e o comunismo", dirigindo "aos seus filhos, neta e restante família, as suas sentidas condolências".

O corpo de Maria Eugénia Cunhal, nascida em 17 de janeiro de 1927 - uma dos três irmãos de Cunhal - estará em câmara ardente na sociedade "Voz do Operário", em Lisboa, a partir das 11:00 de sexta-feira. A cerimónia fúnebre, que culmina no cemitério do Alto de São João, começará pelas 11:00 de sábado, até à cremação, prevista pelas 12:00.

Maria Eugénia Cunhal, 14 anos mais nova que o histórico secretário-geral comunista, falecido em 2005, pertencia ao setor Intelectual (Artes e Letras) da Organização Regional de Lisboa do PCP, foi detida pela polícia política do Estado Novo aos 18 anos, sendo ainda presa para interrogatórios noutras ocasiões, enquanto Álvaro Cunhal se encontrava na clandestinidade.

Professora, tradutora, jornalista e escritora foram as suas ocupações profissionais, tendo publicado as obras "O Silêncio do Vidro" (1962), "História de Um Condenado à Morte" (1983), "As Mãos e o Gesto" (2000), "Relva Verde Para Cláudio" (2003) e "Escrita de Esferográfica" (2008), além da primeira tradução para Português dos contos de Tchekov, "Os Tzibukine" (1963).

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. UM NOVO INÍCIO



Pedro Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião

A Esquerda foi sempre a expressão do desejo de mudança. Pelo contrário, a Direita representa a resistência a que algo mude. É assim há mais de dois séculos, desde que Luís XVI convocou os "Estados Gerais" que, contra a vontade do rei, se transformaram na Assembleia Constituinte que desencadeou a Revolução Francesa para acabar com a servidão, o regime senhorial e o absolutismo monárquico de direito de divino. O Centro, porém, não tem definição nem substância própria salvo o que resulta das contraposições que pretenda conciliar. Sem a Esquerda, afunila-se o universo das opções possíveis, esbatem-se as diferenças que matizam o pluralismo, promovem a cidadania e dão sentido ao debate público. Degrada-se a política e corrompe-se a democracia. Não tratamos aqui de categorias morais: o "bem" e o "mal" apenas qualificam o mais feliz e o mais perverso do que mudou ou persistiu. A mudança política, porém, marca o destino da Esquerda.

Graças aos acordos alcançados entre os partidos da Esquerda, foi derrotada a moção de rejeição apresentada pelo PSD e o CDS na semana passada. O Governo socialista assumiu por fim a plenitude das suas funções e a maioria que o suporta demonstrou ser capaz de corresponder às expectativas dos eleitores que lhe confiaram o seu voto e o seu futuro. Ficou provado que a miséria e o desemprego não são uma fatalidade inelutável, que, afinal, ao contrário do que o Governo da Direita obsessivamente afirmou ao longo de quatro anos - ora como justificação para as suas opções ideológicas ora como disfarce para os seus fracassos - existe, de facto, uma alternativa política. O reencontro das esquerdas assinalou também a reconciliação dos socialistas com a tradição progressista da social-democracia europeia, de Helmut Schmidt e de Mário Soares, há muito abandonada por Blair e outros apóstolos da "terceira via".

A etapa que agora se cumpriu não descreve um caminho fácil e linear. O primeiro passo exigia a obtenção de uma vitória inequívoca nas "eleições primárias" abertas à participação dos simpatizantes, convocadas para responder ao desafio lançado por António Costa. É oportuno recordar que uma parte substancial dos "argumentos" usados pela Direita contra o atual secretário-geral, numa flagrante manobra de "destruição de caráter", foram ensaiados, originalmente, no âmbito do combate interno no Partido Socialista. Depois, a coincidência da prisão de José Sócrates com o congresso partidário que consagrou a nova liderança do partido, funcionou, perante a opinião pública, como uma espécie de "certificação" das acusações que responsabilizavam o PS por todas as desgraças do país. O prolongamento da prisão preventiva do antigo primeiro-ministro e os sucessivos incidentes processuais, acompanhados pela violação sistemática do segredo de justiça, engendraram um fantasma que assombrou toda a campanha eleitoral. Foi neste contexto profundamente adverso, e apesar dele, que o PS construiu o seu programa eleitoral, persuadiu os cidadãos da bondade das suas propostas e até se viu obrigado a demonstrar aos opositores que as suas contas estavam certas, que as medidas haviam sido calendarizadas com rigor e que os impactos económicos e financeiros das políticas que propunha tinham sido devidamente calculados.

A nova etapa que agora se inicia enfrenta problemas de elevada complexidade e terá de responder a sérios desafios que reclamam, como dizia aqui, há duas semanas, a articulação inteligente das duas frentes em que este combate vai ser travado: a prática governativa e o trabalho parlamentar. O Governo, pela sua estrutura e composição, mostra que soube resistir à voracidade habitual dos aparelhos e das clientelas partidárias. A sociedade portuguesa continua a revelar grandes dificuldades no confronto com os seus preconceitos e práticas discriminatórias larvares. Apenas por isso, justifica-se destacar a presença, por mérito próprio, da ministra Francisca Van Dunem na pasta da Justiça, e dos secretários de Estado Carlos Miguel, nas "autarquias locais", e Ana Sofia Antunes, na "Inclusão das Pessoas com Deficiência". Por sua vez, o Parlamento assumiu um papel decisivo que lhe confere uma centralidade inédita na ação política e que o vai expor, inapelavelmente, ao mais severo julgamento dos eleitores que representa. Que seja a bem da democracia!

Portugal, do salazarismo ao marcelismo quase vai bisar se votar do cavaquismo ao marcelismo




Vamos voltar quase ao mesmo?

No final dos anos 60 Salazar caiu da cadeira (abençoada!), foi então que depois do salazarismo veio o marcelismo, de Marcelo Caetano (padrinho de Marcelo Rebelo de Sousa). Atualmente, ao que parece, no início de 2016, depois do cavaquismo voltamos ao marcelismo? 

Nos finais dos anos 60 aconteceu porque a direita nazi-fascista assim o quis. Atualmente a perspetiva é semelhante (não só nos ismos) e também será por que a direita assim o quer. E o que querem os portugueses eleitores? Repetir a dose mas com aparências de democracia? Vamos voltar quase ao mesmo?

Marcelo Rebelo de Sousa, geneticamente um personagem da direita, terá todo o apoio da direita. O anúncio acontecerá hoje. As “novas” serão apregoadas pelo PSD e pelo CDS oficialmente. Vamos voltar ao mesmo?

E os portugueses, afinal o que querem? Voltar quase ao mesmo com aparência de democracia?

Redação PG

PSD e CDS anunciam hoje apoio formal a Marcelo

Os Conselhos Nacionais dos dois partidos reúnem-se esta noite, pelas 21 horas.

O PSD e o CDS vão hoje formalizar o seu apoio à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República.

Pedro Passos Coelho e Paulo Portas vão levar aos respetivos Conselhos Nacionais essa posição e, segundo apurou o Diário de Notícias, aprovarão textos aproximados.

“Preservar e respeitar a natureza especial, suprapartidária das eleições presidenciais, será certamente um dos argumentos", apontados para justificar o apoio da candidatura, disse uma fonte próxima.

Os dois partidos quererão ainda demarcar-se dos restantes partidos, onde as presidenciais são motivo de divisão interna. O PS, por exemplo, não deu indicação de voto a nenhum candidato quando há três da sua aérea política - Henrique Neto, Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa.

O facto de o Presidente da República ter funções de representação externa do país e ser o comandante supremo das Forças Armadas, também será a base de um dos argumentos, com os partidos a dizer que o candidato escolhido “tem de acreditar e defender os compromissos de Portugal na UE e com a NATO. É estratégico para o país".


Fonte próxima de Marcelo garantiu, contudo, que a participação de Passos e Portas na campanha “vai ser mínima”. Em declarações ao i, a mesma fonte diz que não estão planeados “grandes eventos, grandes concentrações ou comícios”.

Notícias ao Minuto

O PAÍS DOS BURROS



Não nos podemos admirar de em Portugal a ditadura nazi-fascista ter tido uma permanência efetiva durante 48 anos se atentarmos naqueles em que os portugueses ainda hoje votam e os resultados de sondagens recentes, como as referidas mais em baixo por Pedro Santos Guerreiro neste Expresso Curto de hoje.

Nessa sondagem os portugueses inquiridos consideram que Pedro Passos Coelho devia continuar a ser primeiro-ministro, sendo que ainda mais rumaríamos à pobreza, à fome, à miséria, para vantagem de uns quantos que “comem tudo e não deixam nada”, principalmente os da seita de Cavaco e também de Passos e Portas. A favor de Passos PM 52%, contra 37% de Costa, segundo a sondagem – que são o que são por enfermarem de fácil manipulação e sabermos da falta de honestidade dos que inquirem. Nem sempre mas por vezes demais.

Portugal parece o país dos burros (salvos sejam o nobres animais). Elegem para PR Cavaco, que afinal se vem a demonstrar que era da PIDE - a terrorista polícia política. Votam e elegem uma direita ressabiada para se governar e aos seus. Direita que retrocede nas chamadas conquistas de Abril e faz da justiça social uma grande injustiça – mais de que qualquer outro governo. Tudo com o pretexto da “crise”. O curioso é que os banqueiros e os mais ricos não pagaram a “crise”. Quem a pagou e está a pagar são os contribuintes portugueses de médios e menores recursos. E contribuintes somos todos. Todos, porque ao comprarmos batatas ou sal, ou o que quer que seja, estamos a pagar impostos, contribuímos. Mais ou menos mas contribuímos para o coletivo. Ou será para uns quantos roubarem? Isso, quem se governa é que sabe. E quem devia governar-nos não sabe?

O tema daria para estarmos por aqui até que a vaca tossisse. Urge avançar. Sabemos que esta prosa é arrojada ao dar a entender que existem eleitores portugueses que consideramos burros mas… não o são? Não constataram que Passos é um mentiroso compulsivo e que Portas não lhe fica atrás em hipocrisia e jogatanas políticas que em nada o dignificam? Uma palavra: “irreversível”. E querem mais do mesmo?

Terminou há pouco o Fórum da TSF sobre a pobreza, sobre o aumento do salário mínimo. Os sindicatos querem o aumento, os patrões não. Especialistas afirmam que o impacto na economia será positivo e contribuirá para a redução da pobreza. Os patrões dizem que vai haver mais desemprego. Balelas. Com empresários assim não vamos longe. A massa salarial corresponde a 20% dos encargos das entidades patronais. São custos ínfimos comparativamente aos restantes. Os restantes, em muitos casos, em demasiados casos, são os relativos a grandes empresários sem escrúpulos que querem tudo para eles e se possível zero para os que lhes proporcionam a possibilidade de viverem à grande, assim como as suas famílias. São exploradores sem escrúpulos que vêem nos que para eles trabalham escravos. Gentinha ou gentalha – como alguns dizem em privado.

Ponto assente: o salário mínimo e outros salários que em muito pouco lhe são superiores devem aumentar. Empresários com competência e menos ganância facilmente superam este aumento de custo.

E então? Querem mais Passos? Querem mais Cavaco? É que por esses a pobreza faz parte da paisagem dos tempos salazaristas de que Cavaco, Passos e Portas mostram ter muitas saudades, assim como os das suas seitas nas ilhargas. Gente assim só tem sucesso em países de burros (salvos sejam os nobres animais). E em Portugal estão a ter sucesso, estão mais ricos apesar da "crise". E esta, hem?!!

Lá por isso tenham um bom dia, se conseguirem. Não se ofendam. É preferível que acordem desse turpor a que o cavaquismo cinzentão estático e miserável vos habituou. Acordem.

Redação PG / MM

Bom dia, este é o Expresso Curto

Pedro Santos Guerreiro - Expresso

Dinheiro barato, petróleo barato. Mas então?...

Não há forma de permitir maiores poupanças às pessoas e aos países do que ter petróleo barato, dizia há duas semanas em Lisboa o gestor de ativos Philippe Jabre. Pois bem, boa notícia: o barril de petróleo está abaixo dos 40 dólares, o que não acontecia desde 2009.

Estamos na era do petróleo barato, como escreveu Vítor Andradeno Expresso Diário, o que é mau para os lucros das petrolíferas, para os países produtores e para as fontes de energia alternativas, de que se continua a falar em Paris na Cimeira do Clima, que o Público tem acompanhado neste dossiê. Mas é bom para países importadores como Portugal, que assim equilibram a sua balança energética

Este é o primeiro factor que não controlamos que nos corre de feição. Outro é o de termos juros baixos, permitidos pela política do Banco Central Europeu. Sem ela, Portugal estaria a pagar pela nova dívida pública taxas de 5%, o que colocaria a sua sustentabilidade em risco, refere o Negócios. A política monetária ajuda também as famílias, que estão a pagar taxas euribor de zero ou perto disso nos seus créditos à habitação, como realça a manchete do Correio da Manhã.

Mas no meio deste mel aparece o mal: o Banco de Portugal reviu em baixa as perspetivas de crescimento da economia portuguesa até 2017. E porquê? Porque “não se conhecia informação relativa às medidas de natureza orçamental que serão implementadas nos próximos anos”. Eis como a técnica pressiona a política. O crescimento está (também) nas mãos de Mário Centeno, que foi para o Governo deixando o… Banco de Portugal.

OUTRAS NOTÍCIAS

A maioria dos portugueses defende que o primeiro-ministro deveria ser Pedro Passos Coelho (52%) e não António Costa (37%), escreve o Jornal de Notícias. Mas 49% concorda que Cavaco tomou a melhor opção ao indigitar (ou indicar…) António Costa como líder do Governo, completa o Diário de Notícias. São os resultados do barómetro da Universidade Católica para os dois jornais, Antena 1 e RTP. O PS sobe nas intenções de voto; Catarina Martins é a líder mais popular.

A discussão política prossegue quanto à formação do Conselho de Estado. A esquerda e a direita não se entendem e as contas estão baralhadas. O PS quer que a esquerda tenha três dos cinco lugares que o Parlamento indica para o órgão e o Bloco de Esquerda pretende colocar um antigo coordenador (Francisco Louçã ou João Semedo). Possivelmente, os cinco maiores partidos nomearão um representante cada um. Mais do que a distribuição de lugares “é necessário ajudar o Conselho de Estado a encontrar um significado para a sua existência”, escreve Fernando Sobral no Negócios, “aliviando assim a dor contínua que sofreu durante os anos do consulado de Cavaco”.

Por falar em óleo de fígado de bacalhau, Passos e Portas formalizam hoje apoio a Marcelo, diz o DN. Mas mantêm-se afastados da campanha, escreve o i.

O PS quer repor viagens gratuitas para ferroviários e familiares, conta o Negócios.

E vai manter a fatura da sorte, continuando a dar automóveis,escreve o DN em manchete.

Título do dia: “Desliga dos Campeões”, na primeira página do Jornal de Notícias e de A Bola. Depois de perder com o Chelsea, o FC Porto caiu da Champions para a Liga Europa. Hoje não me esqueço que joga o Belenenses (contra o Fiorentina, 20:05), assim como Sporting (contra o Besiktas, 20:05, transmissão na SIC) e Braga (contra o Groningen, 18:00), que anda numa maré estranha com as bagagens. Depois de ter ficado sem chuteiras há pouco mais de um mês em Marselha, ontem ia ficando sem malasNo Benfica, onde Gaitán renovou até 2019, decide-se agora os próximos adversários:Rui Vitória vai “cair no tanque dos tubarões”, escreve António Magalhães, diretor do Record.

Faz 30 anos que foi criado o primeiro hipermercado em Portugal, o Continente de Matosinhos, lembra o Negócios.

Novo Banco chama sindicatos para discutir o futuro, escreve o Económico. “Entra, entra, disse a aranha à mosca”.

O Ministério Público quer vigiar as privatizações, as Parcerias Público Privadas e a distribuição dos fundos comunitários, atividades que considera de “maior risco de corrupção”, escreve o Diário Económico.

Portugal está há quase 30 anos a receber fundos comunitários, mas, segundo dados citados pela Exame, 91% dos portugueses não consegue identificar um só projeto que tenha melhorado as suas vidas desde a adesão à CEE.

“Portugal devia premiar corruptos arrependidos”, aconselha Robserson Pozzobon, um dos procuradores do Ministério Público do Brasil responsável pela investigação da operação Lavajato, em entrevista ao Observador. Já à Rádio Renascença, o responsável afirma que o auxílio de autoridades portuguesas "é fundamental".

Segundo a Anacom, dois em cada três utilizadores de telemóveis em Portugal têm um smartphone.

A Volkswagen declarou que afinal não mentiu sobre o nível de emissões de CO2 de 800.000 automóveis, ao contrário do que tinha dito no início de novembro. De qual das três vezes disse a verdade?

“Que faziam os países no século XX perante uma situação como esta?Começavam uma guerra”. Assim se referiu o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, ao abate do caça russo Su-24 pela aviação turca. Contudo, a Rússia decidiu não responder “de forma simétrica”.

Em França, três jovens foram condenados por simularem um ataque terrorista visando extorsão. O caso aconteceu cinco dias depois dos atentados de Paris, quando o trio tomou o controlo do sistema de intercomunicação de um comboio regional e ameaçou os passageiros de morte, caso não entregassem os telemóveis.

“Eu tê-lo-ia morto” se soubesse o que ele se preparava para fazer, desabafa o pai de Foued Mohamed-Aggad, de 23 anos, um dos autores do massacre no Le Bataclan. Na CNN.

Os autores do massacre na Califórnia trocavam mensagens jiadistas há já dois anos, diz o FBI e explica o New York Times.

Donald Trump lidera as sondagens americanas para as eleições primárias dos republicanos, mas os republicanos querem despedir Trump, por causa da sua islamofobia, mas não sabem como. O homem que disse que os Estados Unidos deviam bloquear a entrada a todos os muçulmanos garante que não desiste, nem que concorra como independente. No Reino Unido, uma petição para impedir entrada de Trump no país está em vias de ser discutida no Parlamento.

Despedida ainda não foi Dilma Rousseff, que viu o Supremo Tribunal brasileiro adiar processo de impugnação. As más notícias no Brasil não param. A Moody's admite colocar o rating do país ao nível do “lixo”.

Angela Merkel é a personalidade do ano da revista Time. A revista chama-a de “chanceler do mundo livre”. É a primeira mulher a sê-lo desde 1986.

“O que captou a atenção das pessoas durante a saga da Grécia - e Portugal, e Irlanda, e brevemente a Itália, mas em primeiro e último lugar, a Grécia – foi o semblante austero de Merkel. Ela não foi a única pessoa do norte a pregar austeridade às ensolaradas nações do Mediterrâneo que gastaram dinheiro que não tinham. Mas foi Merkel que se tornou o rosto do banqueiro europeu, caricaturada aqui como uma dominatrix e acolá como um Stormtrooper [soldado do império do mal da “Guerra das Estrelas”]. A crise prosseguiu durante anos e a imagem de Merkel cresceu tão entrincheirada como a sua posição: resgatar só se a Grécia terminasse as suas maneiras gastadoras”. Excerto do perfil de Merkel, na Time.

Qual é a sua figura do ano? O Expresso quer saber. Vote aqui, as escolhas dos nossos leitores podem ser votadas até às 17 horas de amanhã.

Sim, já começaram as listas “os melhores do ano”. Para Manohla Dargis, do New York Times, os melhores filmes de 2015 são, ex aequo, “The Assassin”, de Hou Hsiao-Hsien, e “Mad Max: Estrada da Fúria”, de George Miller. As listas de melhores filmes segundo os críticos deste jornal podem ser vistas na íntegra aqui.

O artista que continuou a ser conhecido como Prince disponibilizou online um vídeo de uma interpretação ao vivo, feita no festival de Coachella de 2008, de Creep, talvez a música dos Radiohead mais ouvida de sempre. A versão de Prince foi mitificada na altura mas não podia ser encontrada online, até que o vocalista dos Radiohead, Thom Yorke, agora o autorizou, como conta a Time. O vídeo não tem grande qualidade mas está aqui.

A GNR desmantelou duas estufas com 300 pés de metro e meio de altura de canábis numa antiga padaria em Felgueiras.

FRASES

“Isto não está decidido”. Sampaio da Nóvoa, em entrevista à SIC.

“Penso que devemos caminhar para o sistema parlamentar. (…) O passo que falta, e que me parece que começa a ser debatido, é a não eleição direta do Presidente, passando este a ser escolhido (como em Itália, na Alemanha e noutras repúblicas) pelo Parlamento e tendo poderes de representação de Estado e protocolares”, propõe Daniel Oliveira no Expresso Diário.

“A CGTP vai sequestrar o PS”. Bagão Félix, na SIC Notícias.

“O Robert Walser tem uma pergunta muito terrível, que parece muito banal: “As pessoas que vivem contigo são felizes?”. É uma pergunta decisiva. Se a esta pergunta a resposta não é um sim inequívoco, há alguma coisa que está a cair.” Gonçalo M. Tavares,entrevistado na revista Ler.

O QUE EU ANDO A LER

Foi ontem apresentado o quarto volume da biografia de Álvaro Cunhal, de José Pacheco Pereira, que foca o período entre a fuga de Peniche em 1961 e a doença de Salazar em 1968. Segundo o autor, Cunhal defendeu a invasão soviética da Checoslováquia em 1968, não porque não simpatizasse com as tentativas de renovação dos comunistas checos mas por mero pragmatismo: para que a União Soviética prevalecesse, conta o editor de Internacional, Rui Cardoso.

Fez ontem 38 anos que Clarice Lispector morreu. A escritora brasileira (que na verdade nasceu na Ucrânia) é uma leitura de sempre, por qualquer dos seus romances, como “Perto do Coração Selvagem” ou “A Paixão Segundo G.H.”.

António Mega Ferreira dizia há três semanas na Fundação José Saramago que Clarice é uma escritora que tem sempre na mesinha de cabeceira. Um dos seus livros que pode ser lido como um sortido de confissões, paixões ou mundanidades é “A Descoberta do Mundo”, que reúne muitas das crónicas que publicou no Jornal do Brasil, entre 1967 e 1973. “Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda.”

“Que mistério tem Clarice”, cantaria Caetano Veloso, “para guardar-se assim tão firme, no coração?” Crónicas, romances e poesia escreveu Clarice Lispector. “Não me deixe ir, posso nunca mais voltar.”

Tenha um dia bom, muito bom, com os artigos do Expresso durante o dia e do Diário às 18h, ou com textos outros. Afinal, como diz Gonçalo M. Tavares na edição da revista Ler que acaba de sair, “há palavras que nos acordam, que constantemente nos acordam, mesmo que tenhamos muito sono”.

OS NEGÓCIOS DUVIDOSOS DA FAMÍLIA DE “DON ERDOGAN”



“A única via usada pelos vários grupos terroristas para fornecer o petróleo ao mercado internacional passa pela Turquia”, disse o ex-deputado turco

Um ex-deputado do maior partido da oposição da Turquia concedeu uma entrevista à Sputnik Turkiye comentando o papel da Turquia no comércio ilegal de petróleo por parte do EI e de outros grupos terroristas.

O tema do papel muito ativo que a Turquia desempenha no transporte do petróleo que o grupo terrorista Estado Islâmico fornece aos mercados mundiais já há muito tempo que gera uma discussão internacional. O ex-deputado do maior partido da oposição da Turquia, Mehmet Ali Ediboglu, concedeu a entrevista à Sputnik Turkiye comentando o assunto.

Segundo ele, desde março de 2014 o tráfico de petróleo tem sido realizado de duas maneiras.

O petróleo chega à Turquia primeiramente através do oleoduto subterrâneo que passa por todos os povoados que ficam na fronteira turco-síria, construído por meio de equipamento especial.

Mehmet Ali Ediboglu sublinhou que não só os terroristas do EI estão que praticam esta atividade criminosa, mas também oposição armada síria e a Frente al-Nusra, afiliada a Al-Qaeda.

Turquia, Israel e depois – para todo o mundo…

Haytham Mannaa era no início da crise síria um dos líderes da oposição mas logo decidiu se separar da oposição devido a recusar aceitar os seus métodos da luta. Ele também tem várias vezes declarado que a Turquia há muito que ignora este fato: que os terroristas do EI estavam atravessando a fronteira turca e estavam garantindo o comércio ilegal de petróleo através do território turco.

Mannaa também informou que o Conselho de Segurança da ONU já recebeu o seu relatório sobre a venda de petróleo do EI através da Turquia com o apoio de quatro empresários próximos das autoridades do Curdistão Iraquiano.

O ex-deputado turco Mehmet Ali Ediboglu declarou à Sputnik que Mannaa também enviou ao Conselho de Segurança da ONU a lista de empresas e nomes de empresários que vendem o petróleo. Logo após isso, vários empresários iraquianos mencionados na lista foram detidos de acordo com a decisão do governo do Iraque. Mas a Turquia se recusou a tomar quaisquer medidas a respeito da questão.

O entrevistado sublinhou especialmente que o petróleo proveniente da Turquia é feito chegar a Israel, de onde já é depois distribuído pelo mundo. Da região tuca de Ceyhan, o petróleo segue para Israel, EUA, Itália, França, Alemanha e Holanda.

Quando a família é mais importante que as leis

Em maio de 2008, as relações entre Ancara e a Autonomia curda no Iraque passaram para uma nova etapa. Em agosto do mesmo ano, em Singapura e nas ilhas Virgens, um “paraíso offshore” no mar do Caribe, foram criadas três empresas ligadas. O parceiro destas era a empresa Powertrans, fundada antes, em 2011, em Istambul. De acordo com o jornalista turco Tolga Tanis, esta última pertence à holding Calik, cujo diretor-geral é Berat Albayrak, genro do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e recentemente tornado ministro da Energia turco. 

Dois meses após a criação da Powertrans, durante a primeira reunião do gabinete de ministros Erdogan, o então premiê turco, decidiu dar facilidades às compras do petróleo proveniente do Curdistão Iraquiano. De acordo com a legislação, o transporte de petróleo do Iraque à Turquia ou país terceiro é proibido. Mas uma única frase do texto da decisão do gabinete de ministros turco permitiu ultrapassar a proibição:

“Nos casos em que os interesses do país o exigem, é permitido realizar o trânsito automóvel ou ferroviário de uma mercadoria mencionada no documento”.

Além da Powertrans, existe também outra empresa – a Oiltrans, criada nas mesmas ilhas em dezembro de 2009. Uma dos parceiros desta empresa é a família Nazir, muito próxima do líder do Curdistão iraquiano Massoud Barzani.  

Segundo dados da estatística, as duas empresas lucraram cerca de 700 milhões de dólares em agosto de 2013.

Tendo em conta que a autonomia curda no norte do Iraque não é um Estado independente, o acordo com a liderança em Arbil não tem o status de um acordo internacional, e, por isso, é considerado um contrato, que deve ser regulado pelas leis do Direito Civil. Desta forma, o acordo sobre a produção e venda de petróleo não necessita de ratificação pelo parlamento turco. Como se vê, tudo o que é genial é simples…

Sputnik

RELATÓRIO DA AMNISTIA INTERNACIONAL REVELA COMIO DAESH ADQUIRIU ARMAS



As armas que o grupo terrorista Daesh usa no Iraque e na Síria, antes de chegarem às suas mãos, podem ter passado por uma rede complexa de compra e venda, envolvendo o Reino Unido, os EUA e outras nações ocidentais, segundo o novo relatório da Anistia Internacional.

Várias décadas de transferências de armamentos pouco regulads ao Iraque, bem como a falta de controle no terreno, permitiram o Daesh munir-se de um enorme arsenal letal, que agora é usado para cometer crimes de guerra e crimes contra a humanidade de grande escala no Iraque e na Síria.

A organização divulgou no seu relatório “Análise: o Armamento do Estado Islâmico” ('Taking Stock: The arming of Islamic State') que as armas vieram dos EUA e do Reino Unido porque, após a primeira Guerra do Golfo, muitos armamentos foram deixados em várias cidades. Além destas, no período da guerra até à atualidade foram fornecidas outras armas que também acabaram nas mãos do Daesh.

O relatório divulga que as armas britânicas, após a ocupação do Iraque em 2003, também chegaram às mãos dos terroristas.

Mas a Anistia Internacional sublinha que a maioria de armas foi obtida nos estoques previamente controlados pelo exército iraquiano. Muitas dessas armas também foram fornecidas por países ocidentais:

“O Reino Unido esteve envolvido no abastecimento de serviços de segurança iraquianos. No início do 2007, a China enviou aproximadamente 20.000 armas de assalto ao Reino Unido para sem seguida serem fornecidas aos serviços de segurança iraquianos”.

A organização sublinha:

“Similarmente, entre março de 2005 e dezembro de 2006, vários armamentos ligeiros foram exportados da Bósnia e Herzegovina e da Sérvia ao Reino Unido, e depois reexportados para o Iraque.”

Ainda de acordo com o relatório, após assumir o controle de Mosul, a segunda maior cidade do Iraque, em junho de 2014, os militantes do Daesh retiraram uma grande quantidade de armas fabricadas internacionalmente dos estoques iraquianos. Eles incluíram armas e veículos militares fabricadas nos EUA, usados posteriormente para ocupar outras partes do país, com consequências devastadoras para a população civil nessas áreas.

Vários tipos de armas capturadas ou adquiridos ilicitamente permitiram aos terroristas levar a cabo uma terrível campanha de violência. Execuções sumárias, estupro, tortura, sequestro e tomada de reféns obrigaram centenas de milhares de pessoas a fugir ou a se tornarem  deslocados.

Sputnik

AS TEMPESTADES QUE RONDAM A AMÉRICA LATINA



Vai terminando a primeira grande onda de governos populares. Retrocessos começaram, mas haverá resistência. Que aprender com os erros? Como preparar uma retomada?

Raúl Zibechi – Outras Palavras - Tradução: Gabriel Filippo Simões

O fim do ciclo progressista implica na dissolução de hegemonias e no início de um período de dominação, de maior repressão aos setores populares organizados. Até agora, temos comentado as causas do fim desse ciclo; agora é preciso começar a compreender as consequências – tremendas, pouco atraentes, demolidoras em muitos casos.

A recente eleição de Mauricio Macri na Argentina é uma guinada à direita que reacende a chama do conflito social. A resposta dos editores do conservador jornal La Nación, na forma de um editorial que defende abertamente o terrorismo de Estado é uma amostra do que está por vir, mas também das resistências que o projeto da direita tradicional terá de enfrentar.

Não estamos diante de um retorno aos anos 1990, marcados pelo neoliberalismo e privatizações, pois os de baixo estão numa situação diferente: mais organizados, com maior autoestima e mais entendimento do modelo que os oprime. Acima de tudo, com maior capacidade de confrontar os poderosos. Experiências coletivas não acontecem em vão – deixam marcas profundas, sabedoria e modos de fazer que neste novo estágio irão desempenhar um papel decisivo, na necessária resistência às novas direitas.

O período que se inicia em toda a América do Sul, quando o presidente Rafael Correa já anunciou que não pretende se reeleger [presidente do Equador], será de forte instabilidade econômica, social e política; de crescente interferência militar do Pentágono; de novas dificuldades para aintegração regional, que já passa por sérios problemas; de deterioração nas condições de vida dos setores populares, cujos rendimentos começaram a se corroer nos últimos dois anos.

Nesta nova conjuntura, penso que algumas questões são centrais:

A primeira é que não haverá forças políticas capazes de gerar um mínimo de consenso em torno dos governos, tal como os governos progressistas conseguiram obter em sua primeira fase. Não haverá consenso em governos como o de Macri; mas convém lembrar que a hegemonia de Lula foi quebrada durante o segundo mandato de Dilma Rousseff. O mesmo ocorreu nos governos de Tabaré Vázquez, Rafael Correa e NicolasMaduro, embora com causas diferentes.

Quando a hegemonia se esvai, a lógica de dominação se impõe, o que nos leva diretamente à exacerbação dos conflitos de classe, gênero, geração e étnico-raciais. A tríade dominação-conflitos-repressão vai afetar (já está afetando) as mulheres e os jovens dos setores populares, as principais vítimas da guinada sistêmica à direita.

A segunda questão a ser considerada é que o modelo político-econômico é mais importante e decisivo do que as pessoas que o conduzem e administram. Nas esquerdas, ainda temos uma cultura política muito centrada nos caudilhos e líderes – que sem dúvida são importantes, mas que não são capazes de ir além dos limites estruturais que o modelo impõe sobre eles. O extrativismo é o grande responsável pela crise que assola a região, pelo desgaste que os governos sofrem e, grosso modo, é o fator principal que explica a guinada à direita das sociedades.

Ao contrário do modelo industrial de substituição de importações, que gerou inclusão e promoveu o desenvolvimento social, o atual modelo extrativista gera polarização social e econômica e conflitos nas comunidades, além de destruir o meio ambiente. Portanto, é um modelo que produz violência, criminalização da pobreza e militarização das sociedades e dos territórios de resistência.

A incapacidade dos governos progressistas de abandonar o modelo extrativista e a vontade expressa das neodireitas de aprofundá-lo anuncia tempos dolorosos para os povos. A recente tragédia em Mariana (Minas Gerais) causada pela ruptura de duas barragens da mineradora Vale, provocando um gigantesco tsunami de lama que cobriu campos cultivados e vilarejos inteiros, é uma pequena amostra do que nos espera caso um limite não seja colocado ao modelo mineração-soja-especulação.

Em terceiro lugar, o fim do ciclo progressista supõe o retorno de movimentos antissistêmicos ao centro do cenário político, do qual eles haviam sido deslocados pela centralidade da disputa entre governos e oposição conservadora. Mas os movimentos que estão sendo ativados não são os mesmos, nem possuem os mesmos modos de organização e prática,dos que encabeçaram as disputas dos anos 1990.

Na Argentina, o movimento dos piqueteros não existe mais, embora tenha deixado profundos vestígios e lições, além de um setor organizado que trabalha nas villas das grandes cidades, com novos tipos de iniciativas tais como as casas populares de mulheres e secundaristas. Os movimentos camponeses, como o dos Sem Terra, transformaram-se devido à expansão geométrica da soja. Mas novos atores, mais complexos e diversos, emergem; deles participam, entre outros, os afetados pela mineração ou agrotóxicos, bem como ampla gama de profissionais de saúde, educação e mídia.

A impressão é de que estamos assistindo a novas articulações, acima de tudo nas grandes cidades, onde os protestos contra a desigualdade e por mais democracia extravasam as trincheiras de partidos e sindicatos e também dos movimentos da década neoliberal das privatizações.

Por fim, o ciclo progressista deve se fechar com uma análise clara dos erros cometidos pelos movimentos. Seria desmoralizante para os mesmos que no próximo ciclo de lutas se repetissem os mesmos erros que afetaram sua autonomia nos últimos anos. É provável que a maior dificuldade para o enfrentamento consista em saber como acomodar a dupla atividade dos movimentos: as lutas contra o modelo (a defesa de espaços próprios, mobilização e formação) e a criação do novo em cada espaço e tema possível (saúde, produção, habitação, terra e educação).

Enquanto ações nas ruas nos permitem impedir ataques vindos de cima, a criação do novo é caminhar na direção da autonomia. Estas são maneiras que aprendemos de continuar navegando em meio às tempestades.

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