Eugénio Costa Almeida* | Pululu
Nota:
Este texto estava, inicialmente, a ser escrito directamente no Facebook; mas
dada a sua já longa extensão preferi, antecipando a outros que já estão
escritos (do antes e do depois das eleições, incluindo, intervenções minhas em
órgãos de informação estrangeiros), colocar aqui, tal como estava a ser escrito
na referida página social:
1.
A confusão pós-eleitoral do Pais, parece estar a vingar com os partidos da Oposição
a anunciarem que vão recorrer para o Tribunal Constitucional
por não reconhecerem os resultados da Comissão Nacional de Eleitoral (CNE - cujos dados que ainda lá estão são de 25 de
Agosto das 18:48 horas, conforme imagem); e que Portugal aparece para não
só não ajudar, como parece estar a complicar...
A
CNE diz que já há resultados quase definitivos e estes, ainda que provisórios,
dão a vitória - com tangencial maioria qualificada (150 para 146) - ao MPLA e,
por extensão eleição de João Lourenço como Presidente;
A
Unita, através do
presidente Isaias
Samacuva alerta - afirma, e com propriedade porque só no dia 6 de Setembro
haverão resultados eleitorais definitivos, ainda que sujeitos a eventuais
recursos, como tudo parece indicar - que ainda não há Presidente e que os
apuramento que fez das cópias das actas indicam resultados diferentes dos
apresentados pela CNE;
A
CASA
CE - Mobilização Nacional em Declaração, que já aqui reproduzi parte,
afirma não reconhecer os resultados divulgados pela CNE - e tal como a UNITA
diz ter contagens bem diferentes - pelo que vai solicitar a sua impugnação ao
Tribunal Constitucional.
Acresce-se
que me recordo de ter lido que a APN (Aliança Patriótica Nacional), quase na
mesma altura que o declarava, anunciar o não acolhimento à declaração de
vitória do MPLA, apesar do
seu líder já ter saudado João
Lourenço como Presidente (como já li nestas páginas sociais);
Da
FNLA-Frente Nacional de
Libertação de Angola não vi qualquer comentário sobre o acto eleitoral
(talvez eu estivesse distraído...);
O
Partido
da Renovação Social (PRS) através do seu secretário de informação, Humilde
Samarina, tal como a UNITA e a CASA-CE, contesta os resultados provisórios
anunciados hoje pela CNE, que só atribuem ao partido a eleição de dois
deputados o que "não correspondem à verdade".
Finalmente
ontem o Presidente da República Portuguesa, Marcelo
Rebelo de Sousa - Presidente da República, felicitou a presumível - face
aos resultados - vitória de João Lourenço
Presidente, sem esperar pelos resultados definitivos.
Mas
não só, apesar dos Observadores, apesar de terem
criticado a Comunicação Social pública que favoreceu, fortemente, o partido do
Poder, ou seja, o MPLA, afirmou que a votação - e isso, a maioria, se não
quase todos os partidos o reconheceram e louvaram a atitude dos eleitores
angolanos - decorreu de forma "pacífica,
livres, justas e transparentes".
2.
Perante estes factos acima referidos os partidos da Oposição (que unidos numa
foto, já tinham reclamado da legitimidade das primeiras divulgações) ponderam
recorre para o Tribunal
Constitucional de Angola (TC). Só que aqui, há um outro problema adicional:
da eventual ilegalidade dos seus membros, como a seguir discorro e reproduzo:
Num
depoimento há tempos concedido à DW
(Português para África) : «Lindo Bernardo Tito, jurista e deputado da
bancada parlamentar da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação
Eleitoral (CASA-CE), não tem dúvidas: "A Constituição é clara. O limite
temporal do exercício das funções dos juízes conselheiros do Tribunal
Constitucional é de sete anos" (...) Tanto a Lei Constitucional de 1992,
em vigor na altura da nomeação de Rui Ferreira, como a Constituição da
República de Angola, aprovada em 2010, prevêem a nomeação dos juízes
conselheiros para um mandato de sete anos não renovável. Rui Ferreira foi designado
para o cargo há oito anos."». É certo que João Pinto, do MPLA, considera
não não haver ilegalidade, ainda que a sua justificação seja iníqua, porque
invoca «o artigo 243º da Constituição da República de Angola e para o
Regulamento do Tribunal Constitucional, que estabelecem o "princípio da
nomeação diferida dos juízes conselheiros"; sem que, todavia, esta
estabeleça "que a substituição deve ser feita paulatinamente, os juízes do
Tribunal Constitucional estão a violar a Constituição que eles juraram e dizem
estar a defender"». Ora eram a Presidência e a Assembleia Nacional (ambas
detidas pelo partido maioritário) que deveriam proceder à sua substituição e
não o fizeram sem que houvesse uma justificação plausível!
Face
a esta situação, e num eventual acórdão do TC favorável à Oposição (tal como
poderá ocorrer o contrário, o que aconteceu em 2012) poderá verificar-se uma ou
as duas situações:
Ou
todos acolhem o acórdão sem contestação (atitude mais salutar) e ficamos todos
felizes porque foi feita Justiça;
ou,
como será expectável e natural, o MPLA decide não acolhê-lo invocando,
precisamente, da eventual ilegalidade temporal dos eméritos (e estes são-no)
Juízes.
3.
Aqui chegados, vamos ter Portugal e o seu Presidente (e a sua entourage) num
possível imbróglio que, honestamente, não sei como o Presidente
Marcelo - e o Governo português, que também já o fez através do Palácio das
Necessidades (posições já bem criticadas aqui
e de forma muito dura e directa) - vão resolver.sem que a imagem de Portugal em
Angola não fique deteriorada. Não esquecer que há quem conteste a presença de
muitos expatriados portugueses no País, não pela sua actividade laboral, mas
por aquilo que ganham (e quando alguns demonstram falta de conhecimentos
técnicos superiores aos angolanos - sobre esta matéria há vários textos aqui).
4.
Vamos pois aguardar os resultados finais, com a certeza absoluta, que - mesmo
depois de uma eventual revisão - os mesmos serão sempre objecto de contestação
e recusa de aceitação (tal
como já acontece, tanto o MPLA como a Oposição, anunciam a vitória). Seja
por parte da Oposição (os números que esta apresenta e que têm sido também
apresentados, aos longo destes dias, por pessoas que, supostamente - e não
tenho razões para duvidar delas -, têm sido divulgados por elas nas suas
páginas sociais, diferem dos que a CNE apresenta;não esquecendo, todavia, o que
a imagem ainda nos oferece(???!!!) ), seja pelo MPLA. Isto, se essa
"revisão" - contrária a eventuais "ordens
superiores" como projectam denúncias várias -, não der a este partido
quer a vitória, quer a tão desejava, quanto necessária, maioria qualificada
para continuar a manobrar a AN.
Eugénio
Costa Almeida, Ph.D (DSSc | Investigador/Researcher/Pós-Doutorando
**Eugénio
Costa Almeida – Pululu -
Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em
Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo
Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de
opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.
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