Alexander Shulgin [*]
Senhor Presidente,
Gostaria de começar o meu discurso com palavras que pertencem ao grande pensador Martin Luther King: "uma mentira é como uma bola de neve: quanto mais rola, maior se torna".
Este sábio aforismo é plenamente aplicável em política. Quem escolheu o caminho do engano terá de mentir repetidamente, inventar explicações para as divergências, espalhando desinformação e falsificando, usando desesperadamente todos os meios para cobrir as pistas das mentiras e esconder a verdade.
O Reino Unido entrou nesta via escorregadia. Tudo Isto vê-se claramente no exemplo do "caso Skripal" fabricado pelas autoridades britânicas, esta provocação anti russa mal disfarçada, acompanhada de uma campanha de propaganda sem precedentes, retomada por um grupo de países, com a expulsão definitiva sem precedentes de diplomatas sob um pretexto rebuscado. Por favor, não se tente fazer passar esse grupo pela comunidade internacional – está longe de ser o caso.
Faz um mês que a primeira-ministra britânica Theresa May lançou acusações extremamente graves contra a Rússia relativas à utilização de armas químicas. Esperamos desde há longo tempo uma explicação, confiando nos nossos colegas britânicos, para apoiar estas afirmações ruidosas com factos pelo menos parcialmente inteligíveis. Propusemos várias vezes trabalharmos juntos, no inquérito sobre os eventos de Salisbury, pedimos informações. A resposta consistiu em declarações altivas e arrogantes dizendo que a Rússia deveria confessar o crime.
A parte britânica continua a divulgar acusações absolutamente infundadas, espalhando cada vez mais novas versões, muitas vezes sem sentido, dos acontecimentos. Políticos e funcionários britânicos não podem simplesmente continuar a derramar novas torrentes de mentiras. Londres sabota qualquer tentativa de conduzir uma investigação verdadeiramente objetiva do incidente de Salisbury, com a participação de especialistas russos. Eles tudo classificaram, fazendo a sua própria investigação. Embora os "responsáveis" já tivessem sido apontados.
A razão pela qual fazem isto é óbvia. A Grã-Bretanha pretende evitar a todo custo o estabelecimento da verdade sobre os factos, para esconder todas as provas que podem expô-los. Eles jogam apenas para ganhar tempo. Porque quanto mais se avança, mais difícil será saber o que realmente aconteceu (ou não) em Salisbury.
A mentira teme sempre a verdade, porque a verdade é a mais terrível arma contra a mentira. Passemos então aos factos a nu que demonstram a que ponto o governo britânico difunde com insolência e desajeitadamente insinuações sobre o caso "Skripal".
MENTIRA Nº1
A Rússia não responde a nenhuma pergunta legítima apresentada pelo Reino Unido em 12 de março de 2018, através do embaixador da Federação da Rússia em Londres, A.V. Yakovenko (alguns aliados do Reino Unido não cessam de o repetir como um mantra).
Eu gostaria de vos relembrar que o lado britânico sugeriu que nós confessássemos uma das duas versões que ela inventou: ou o envenenamento de Sergey e Yulia Skripal foi uma ação deliberada da Rússia; ou a Rússia perdeu o controlo do arsenal de armas químicas que teria. Apesar da natureza descarada deste ultimato, nós certamente não o ignorámos e demos imediatamente uma resposta inequívoca: a Rússia não tem nada a ver com o incidente químico de Salisbury. A Grã-Bretanha não nos contactou para mais perguntas.
MENTIRA Nº2
Grã-Bretanha agiu em estrita conformidade com a Convenção sobre armas químicas.
Os fatos mostram exatamente o oposto. Por exemplo, o artigo IX do Convenção determina que os Estados partes nos casos, devem realizar consultas bilaterais sobre qualquer questão ambígua. Vemos que, na realidade, o Reino Unido não estava em conformidade com esta disposição e ainda se recusa a interagir connosco. Em relação ao ultimato britânico já mencionado, dado ao embaixador da Federação da Rússia, não pode em nenhum caso ser considerado como uma "proposta de cooperação", no sentido da Convenção ou um "pedido de assistência jurídica".
Pela nossa parte, a 13 de abril, enviamos, através do Secretariado Técnico, uma nota para a parte britânica em virtude do nº 2 do artigo IX, com uma lista de questões legítimas que temos sobre o "caso" Skripal". Agimos estritamente em conformidade com a Convenção e esperamos que nossos parceiros de Londres façam o mesmo. Ainda assim, não houve resposta. É como se o Reino Unido não se tivesse absolutamente apercebido da existência da Convenção ou não quisesse agir em conformidade com as suas normas.
Também fomos testemunhas da maneira como Londres desenvolveu uma nova forma de trabalho – "verificação independente pelo Secretariado Técnico da OPAQ sobre as conclusões da parte britânica". Quero sublinhar que não há nada como isto na Convenção. É uma invenção do Reino Unido. Ao invés de seguir as disposições da Convenção, o Reino Unido decidiu não assumir as disposições da Convenção.
MENTIRA Nº3
A Rússia recusa-se a cooperar no estabelecimento da verdade.
Na realidade, é exatamente o contrário. A Rússia está extremamente interessada - provavelmente mais do que qualquer outro país - numa investigação honesta, aberta e imparcial sobre o incidente de Salisbury. Temos repetidamente proposto, pedido, pedido e exigido ao lado britânico para cooperar com a investigação. Submetemos a exame da 57ª sessão extraordinária do Conselho Executivo um projeto de decisão pedindo à Rússia e à Grã-Bretanha para estabelecerem uma interação com a participação do Secretariado Técnico. Manifestamos e confirmamos agora a nossa disponibilidade para cooperar com a OPAQ e no seio da OPAQ.
Infelizmente, todos os nossos esforços esbarram com a parede cega da relutância total de Londres em interagir.
MENTIRA Nº4
O Reino Unido pretende que a Rússia multiplique até ao infinito as suas versões do incidente químico de Salisbury, tentando desviar de si mesmo a onda de críticas pela alegada utilização de armas químicas em solo britânico.
Na realidade, foi isso o que fez o lado britânico, difundiu através de seus meios de comunicação ditos "independentes" versões infinitas: primeiro o veneno estava na mala, depois na maçaneta da porta, em seguida no trigo, depois no restaurante, depois no ramalhete de flores, a seguir no sistema de ventilação do carro e em seguida no perfume, etc.
MENTIRA Nº5
Os dirigentes russos teriam declarado que o extermínio dos traidores no exterior é uma política de Estado da Federação da Rússia.
É uma calúnia e um total absurdo. Mostrem onde viram isso. Claro, o Reino Unido não poderá apresentar um único exemplo de uma declaração deste tipo porque nada de semelhante alguma vez foi dito pelos líderes russos.
MENTIRA Nº6
As conclusões dos peritos do Secretariado Técnico com base nos resultados da análise de amostras colhidas do pai e filha Skripal confirmaram que tinham sido envenenados com uma substância da família "Novichok".
Os nossos peritos militares estão prontos a apresentar a sua avaliação do que foi dito no relatório do Secretariado Técnico com base nos resultados do trabalho do grupo de especialistas do Reino Unido.
Por agora, direi apenas uma coisa: a afirmação de que o Secretariado Técnico confirmou que este produto químico indica sua origem russa é uma mentira. O próprio relatório não diz uma única palavra sobre o nome "Novichok"; a Convenção sobre Armas Químicas contém apenas um conceito. E no relatório do Secretariado Técnico, não há além disto confirmação de "pegada" russa na substância química encontrada em Salisbury.
No entanto, as autoridades britânicas imediatamente lançaram nos media de todo o mundo a notícia falsa de que a OPAQ teria confirmado que os Skripal haviam sido envenenados com "Novichok", e que este último, dizem, foi desenvolvido na URSS e na Rússia, donde a culpa seria de Moscovo. É assim que as conclusões do relatório do Secretariado Técnico são falsificadas.
MENTIRA Nº7
O dito "Novichok" é uma invenção soviética que, supostamente, não poderia ser produzido senão na Rússia.
É necessário lembrar que "Novichok" é o nome inventado no Ocidente para um grupo de substâncias químicas que foram desenvolvidas em muitos países, incluindo o Reino Unido. Numa de suas entrevistas recentes, o Secretário de Estado Boris Johnson confirmou que o Reino Unido tem amostras dessa substância no laboratório em Porton Down. Na verdade, temos muitas perguntas para este laboratório. Seria interessante saber como é que eles determinaram que os Skripal haviam sido envenenados com um agente neurotóxico tipo "Novichok". Porque qualquer pessoa razoável entenderia que só se poderia estabelecê-lo se tivessem o componente original para poderem comparar com a substância química que foi encontrada. Segue-se que este laboratório tem um stock de "Novichok" e possivelmente também os antídotos que foram usados no tratamento dos Skripal.
Na Rússia, nunca houve pesquisa e desenvolvimento ou trabalhos experimentais no âmbito de um programa conhecido como "Novichok". Repito, nunca houve programa com tal nome. Na era soviética, na década de 1970, não só os soviéticos, mas também cientistas britânicos e americanos estavam a trabalhar na criação de novos tipos de agentes neurotóxicos. Foi assim que o famoso gás de nervos VX foi criado. E na década de 1990, após o colapso da URSS, os serviços especiais ocidentais levaram da Rússia um grupo de químicos e documentação. Especialistas ocidentais começaram a olhar para os documentos e, com base neles começaram a trabalhar nesse sentido, tendo obtido alguns resultados, que se tornaram públicos.
Sabemos muito bem que os agentes neurotóxicos do tipo "Novichok" estavam em produção em vários países. E, contrariamente ao que os nossos parceiros ocidentais fazem, que não se cansam de baixar os olhos e dizer que sabem algo, mas que se trata, como dizem, de assuntos secretos e que não podem revelá-lo, nós operamos de forma diferente. Trabalhamos com fontes abertas. Assim em 1 de dezembro de 2015, o United States Patent and Trademark Office contactou a agência russa responsável para as questões relativas às patentes com um pedido de verificação de patenteabilidade de uma invenção feita por um cientista americano T. Rubin. Eis o documento. (demonstração).
Este documento fala sobre a invenção de uma bala especial, cuja peculiaridade é ter uma cavidade separada para equipá-la com diferentes tipos de agentes tóxicos. Ao usar a invenção mencionada, o efeito letal é alcançado graças ao efeito deste agente tóxico no organismo humano. Por outras palavras, estas munições são da responsabilidade da Convenção sobre armas químicas. O princípio de funcionamento da bala é equipar componentes binários que interagem uns com os outros no momento do impacto. E isso é o que lemos na página 11 deste documento americano oficial, "Pelo menos um dos ingredientes ativos pode ser selecionado entre agentes neurotóxicos, incluindo... tabun (GA), sarin (GB), soman (GD), cyclosarin (GF) e VG,... VM, VR, VX e [atenção!]! agentes Novichok "
Por outras palavras, este documento confirma que nos Estados Unidos, os agentes neurotóxicos "Novichok" não só foram produzidos, mas também patenteados como arma química. E não há muito tempo, só há alguns anos – a patente é datada de 1 de dezembro de 2015.
Além disso, pesquisando a palavra-chave "Novichok" no google.patents.com, podem encontrar-se mais de 140 patentes concedidas pelos Estados Unidos, relativas à utilização e à proteção contra a exposição ao agente neurotóxico "Novichok".
Estes são os factos reais e não palavras no ar. É a resposta para aqueles que pretendem com insolência que os agentes nervosos, do tipo "Novichok" existiam e foram produzidos na URSS e na Rússia.
MENTIRA Nº8
Uma das vítimas, uma cidadã russa, Yulia Skripal, evitaria contactos com parentes e recusou assistência consular russa.
Atualmente, as autoridades britânicas zelosamente ocultam Yulia Skripal dos media e do público. Não sabemos onde ela está. Do lado russo, bem como seus parentes (à sua prima Victoria foi negado um visto de entrada pelas autoridades britânicas) é negado o acesso a ela. Não tem a possibilidade de voltar para a Rússia e submeter-se a um exame médico e tratamento.
As circunstâncias acima mencionadas indicam que a cidadã russa Yulia Skripal foi feita refém pelas autoridades britânicas, detida pela força no território do Reino Unido e submetida a manipulações psicológicas.
Dei alguns exemplos da maneira como as autoridades britânicas espalham desinformação e mentem abertamente. Esta lista de divulgações poderia provavelmente prosseguir, mas provavelmente devemos parar por aqui. É sintomático que o Reino Unido não pense em retirar sequer uma qualquer das suas teses, mesmo que elas sejam totalmente infundadas.
Não tenho quaisquer dúvidas de que no futuro podemos esperar novas vagas de desinformação, de pseudo fugas nos meios de comunicação, ataques insolentes por parte das autoridades britânicas. Mas nenhuma prova real jamais será produzida.
O Reino Unido mostra claramente que não está disposto a cooperar adequadamente no quadro da pesquisa sobre esta história obscura. Isto convence-nos de que o Reino Unido não quer a verdade. Eles não podem permitir que seja revelada.
O relatório apresentado pelo Secretariado Técnico sobre as conclusões dos peritos britânicos suscita uma série de perguntas e chamadas para exame pormenorizado suplementar, inclusive do lado britânico. Qualquer especialista entenderia que as conclusões finais não podem ser feitas senão tendo perante os nossos olhos os materiais do produto químico e a análise espectral das amostras mencionadas. E o Secretariado Técnico não transmitiu esses documentos senão a Londres.
Sublinhamos que a Rússia não tomará à letra as conclusões relativas ao caso "Skipal", enquanto uma simples condição não for cumprida: os especialistas russos terão acesso às vítimas, bem como aos documentos referidos na análise dos peritos da OPAQ e todas as informações reais que Londres dispõe sobre este incidente.
Temos fortes razões para acreditar que é uma provocação grosseira contra a Rússia por parte dos serviços especiais do Reino Unido. E se o lado britânico continua a recusar-se a cooperar connosco, não fará senão reafirmar a nossa convicção de que é exatamente o caso.
Senhor Presidente,
Não podemos deixar de lembrar o seguinte ditado: para algumas pessoas, a mentira não é um meio de justificação, mas um meio de defesa. Em 16 de abril, ouvimos uma outra declaração estranha: o G7 apelou à Rússia para responder a questões legítimas do Reino Unido sobre o caso Skripal. Podeis considerar esta declaração como a nossa resposta.
Ao mesmo tempo, gostaríamos que a parte britânica respondesse às numerosas perguntas específicas da Federação da Rússia sobre o incidente de Salisbury. Além disso, ficaríamos gratos se os representantes do G7 pudessem explicar-nos por que razão os seus países lançaram uma guerra diplomática contra a Rússia com base em falsificações.
Obrigado, Sr. Presidente.
[*] Embaixador da Federação da Rússia na Organização para a Proibição de Armas Químicas ( OPAQ ). A presente declaração foi apresentada na 59ª reunião dessa organização da ONU.
A versão em inglês encontra-se em netherlands.mid.ru/...
e a versão em francês em www.legrandsoir.info/...
Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .
Gostaria de começar o meu discurso com palavras que pertencem ao grande pensador Martin Luther King: "uma mentira é como uma bola de neve: quanto mais rola, maior se torna".
Este sábio aforismo é plenamente aplicável em política. Quem escolheu o caminho do engano terá de mentir repetidamente, inventar explicações para as divergências, espalhando desinformação e falsificando, usando desesperadamente todos os meios para cobrir as pistas das mentiras e esconder a verdade.
O Reino Unido entrou nesta via escorregadia. Tudo Isto vê-se claramente no exemplo do "caso Skripal" fabricado pelas autoridades britânicas, esta provocação anti russa mal disfarçada, acompanhada de uma campanha de propaganda sem precedentes, retomada por um grupo de países, com a expulsão definitiva sem precedentes de diplomatas sob um pretexto rebuscado. Por favor, não se tente fazer passar esse grupo pela comunidade internacional – está longe de ser o caso.
Faz um mês que a primeira-ministra britânica Theresa May lançou acusações extremamente graves contra a Rússia relativas à utilização de armas químicas. Esperamos desde há longo tempo uma explicação, confiando nos nossos colegas britânicos, para apoiar estas afirmações ruidosas com factos pelo menos parcialmente inteligíveis. Propusemos várias vezes trabalharmos juntos, no inquérito sobre os eventos de Salisbury, pedimos informações. A resposta consistiu em declarações altivas e arrogantes dizendo que a Rússia deveria confessar o crime.
A parte britânica continua a divulgar acusações absolutamente infundadas, espalhando cada vez mais novas versões, muitas vezes sem sentido, dos acontecimentos. Políticos e funcionários britânicos não podem simplesmente continuar a derramar novas torrentes de mentiras. Londres sabota qualquer tentativa de conduzir uma investigação verdadeiramente objetiva do incidente de Salisbury, com a participação de especialistas russos. Eles tudo classificaram, fazendo a sua própria investigação. Embora os "responsáveis" já tivessem sido apontados.
A razão pela qual fazem isto é óbvia. A Grã-Bretanha pretende evitar a todo custo o estabelecimento da verdade sobre os factos, para esconder todas as provas que podem expô-los. Eles jogam apenas para ganhar tempo. Porque quanto mais se avança, mais difícil será saber o que realmente aconteceu (ou não) em Salisbury.
A mentira teme sempre a verdade, porque a verdade é a mais terrível arma contra a mentira. Passemos então aos factos a nu que demonstram a que ponto o governo britânico difunde com insolência e desajeitadamente insinuações sobre o caso "Skripal".
MENTIRA Nº1
A Rússia não responde a nenhuma pergunta legítima apresentada pelo Reino Unido em 12 de março de 2018, através do embaixador da Federação da Rússia em Londres, A.V. Yakovenko (alguns aliados do Reino Unido não cessam de o repetir como um mantra).
Eu gostaria de vos relembrar que o lado britânico sugeriu que nós confessássemos uma das duas versões que ela inventou: ou o envenenamento de Sergey e Yulia Skripal foi uma ação deliberada da Rússia; ou a Rússia perdeu o controlo do arsenal de armas químicas que teria. Apesar da natureza descarada deste ultimato, nós certamente não o ignorámos e demos imediatamente uma resposta inequívoca: a Rússia não tem nada a ver com o incidente químico de Salisbury. A Grã-Bretanha não nos contactou para mais perguntas.
MENTIRA Nº2
Grã-Bretanha agiu em estrita conformidade com a Convenção sobre armas químicas.
Os fatos mostram exatamente o oposto. Por exemplo, o artigo IX do Convenção determina que os Estados partes nos casos, devem realizar consultas bilaterais sobre qualquer questão ambígua. Vemos que, na realidade, o Reino Unido não estava em conformidade com esta disposição e ainda se recusa a interagir connosco. Em relação ao ultimato britânico já mencionado, dado ao embaixador da Federação da Rússia, não pode em nenhum caso ser considerado como uma "proposta de cooperação", no sentido da Convenção ou um "pedido de assistência jurídica".
Pela nossa parte, a 13 de abril, enviamos, através do Secretariado Técnico, uma nota para a parte britânica em virtude do nº 2 do artigo IX, com uma lista de questões legítimas que temos sobre o "caso" Skripal". Agimos estritamente em conformidade com a Convenção e esperamos que nossos parceiros de Londres façam o mesmo. Ainda assim, não houve resposta. É como se o Reino Unido não se tivesse absolutamente apercebido da existência da Convenção ou não quisesse agir em conformidade com as suas normas.
Também fomos testemunhas da maneira como Londres desenvolveu uma nova forma de trabalho – "verificação independente pelo Secretariado Técnico da OPAQ sobre as conclusões da parte britânica". Quero sublinhar que não há nada como isto na Convenção. É uma invenção do Reino Unido. Ao invés de seguir as disposições da Convenção, o Reino Unido decidiu não assumir as disposições da Convenção.
MENTIRA Nº3
A Rússia recusa-se a cooperar no estabelecimento da verdade.
Na realidade, é exatamente o contrário. A Rússia está extremamente interessada - provavelmente mais do que qualquer outro país - numa investigação honesta, aberta e imparcial sobre o incidente de Salisbury. Temos repetidamente proposto, pedido, pedido e exigido ao lado britânico para cooperar com a investigação. Submetemos a exame da 57ª sessão extraordinária do Conselho Executivo um projeto de decisão pedindo à Rússia e à Grã-Bretanha para estabelecerem uma interação com a participação do Secretariado Técnico. Manifestamos e confirmamos agora a nossa disponibilidade para cooperar com a OPAQ e no seio da OPAQ.
Infelizmente, todos os nossos esforços esbarram com a parede cega da relutância total de Londres em interagir.
MENTIRA Nº4
O Reino Unido pretende que a Rússia multiplique até ao infinito as suas versões do incidente químico de Salisbury, tentando desviar de si mesmo a onda de críticas pela alegada utilização de armas químicas em solo britânico.
Na realidade, foi isso o que fez o lado britânico, difundiu através de seus meios de comunicação ditos "independentes" versões infinitas: primeiro o veneno estava na mala, depois na maçaneta da porta, em seguida no trigo, depois no restaurante, depois no ramalhete de flores, a seguir no sistema de ventilação do carro e em seguida no perfume, etc.
MENTIRA Nº5
Os dirigentes russos teriam declarado que o extermínio dos traidores no exterior é uma política de Estado da Federação da Rússia.
É uma calúnia e um total absurdo. Mostrem onde viram isso. Claro, o Reino Unido não poderá apresentar um único exemplo de uma declaração deste tipo porque nada de semelhante alguma vez foi dito pelos líderes russos.
MENTIRA Nº6
As conclusões dos peritos do Secretariado Técnico com base nos resultados da análise de amostras colhidas do pai e filha Skripal confirmaram que tinham sido envenenados com uma substância da família "Novichok".
Os nossos peritos militares estão prontos a apresentar a sua avaliação do que foi dito no relatório do Secretariado Técnico com base nos resultados do trabalho do grupo de especialistas do Reino Unido.
Por agora, direi apenas uma coisa: a afirmação de que o Secretariado Técnico confirmou que este produto químico indica sua origem russa é uma mentira. O próprio relatório não diz uma única palavra sobre o nome "Novichok"; a Convenção sobre Armas Químicas contém apenas um conceito. E no relatório do Secretariado Técnico, não há além disto confirmação de "pegada" russa na substância química encontrada em Salisbury.
No entanto, as autoridades britânicas imediatamente lançaram nos media de todo o mundo a notícia falsa de que a OPAQ teria confirmado que os Skripal haviam sido envenenados com "Novichok", e que este último, dizem, foi desenvolvido na URSS e na Rússia, donde a culpa seria de Moscovo. É assim que as conclusões do relatório do Secretariado Técnico são falsificadas.
MENTIRA Nº7
O dito "Novichok" é uma invenção soviética que, supostamente, não poderia ser produzido senão na Rússia.
É necessário lembrar que "Novichok" é o nome inventado no Ocidente para um grupo de substâncias químicas que foram desenvolvidas em muitos países, incluindo o Reino Unido. Numa de suas entrevistas recentes, o Secretário de Estado Boris Johnson confirmou que o Reino Unido tem amostras dessa substância no laboratório em Porton Down. Na verdade, temos muitas perguntas para este laboratório. Seria interessante saber como é que eles determinaram que os Skripal haviam sido envenenados com um agente neurotóxico tipo "Novichok". Porque qualquer pessoa razoável entenderia que só se poderia estabelecê-lo se tivessem o componente original para poderem comparar com a substância química que foi encontrada. Segue-se que este laboratório tem um stock de "Novichok" e possivelmente também os antídotos que foram usados no tratamento dos Skripal.
Na Rússia, nunca houve pesquisa e desenvolvimento ou trabalhos experimentais no âmbito de um programa conhecido como "Novichok". Repito, nunca houve programa com tal nome. Na era soviética, na década de 1970, não só os soviéticos, mas também cientistas britânicos e americanos estavam a trabalhar na criação de novos tipos de agentes neurotóxicos. Foi assim que o famoso gás de nervos VX foi criado. E na década de 1990, após o colapso da URSS, os serviços especiais ocidentais levaram da Rússia um grupo de químicos e documentação. Especialistas ocidentais começaram a olhar para os documentos e, com base neles começaram a trabalhar nesse sentido, tendo obtido alguns resultados, que se tornaram públicos.
Sabemos muito bem que os agentes neurotóxicos do tipo "Novichok" estavam em produção em vários países. E, contrariamente ao que os nossos parceiros ocidentais fazem, que não se cansam de baixar os olhos e dizer que sabem algo, mas que se trata, como dizem, de assuntos secretos e que não podem revelá-lo, nós operamos de forma diferente. Trabalhamos com fontes abertas. Assim em 1 de dezembro de 2015, o United States Patent and Trademark Office contactou a agência russa responsável para as questões relativas às patentes com um pedido de verificação de patenteabilidade de uma invenção feita por um cientista americano T. Rubin. Eis o documento. (demonstração).
Este documento fala sobre a invenção de uma bala especial, cuja peculiaridade é ter uma cavidade separada para equipá-la com diferentes tipos de agentes tóxicos. Ao usar a invenção mencionada, o efeito letal é alcançado graças ao efeito deste agente tóxico no organismo humano. Por outras palavras, estas munições são da responsabilidade da Convenção sobre armas químicas. O princípio de funcionamento da bala é equipar componentes binários que interagem uns com os outros no momento do impacto. E isso é o que lemos na página 11 deste documento americano oficial, "Pelo menos um dos ingredientes ativos pode ser selecionado entre agentes neurotóxicos, incluindo... tabun (GA), sarin (GB), soman (GD), cyclosarin (GF) e VG,... VM, VR, VX e [atenção!]! agentes Novichok "
Por outras palavras, este documento confirma que nos Estados Unidos, os agentes neurotóxicos "Novichok" não só foram produzidos, mas também patenteados como arma química. E não há muito tempo, só há alguns anos – a patente é datada de 1 de dezembro de 2015.
Além disso, pesquisando a palavra-chave "Novichok" no google.patents.com, podem encontrar-se mais de 140 patentes concedidas pelos Estados Unidos, relativas à utilização e à proteção contra a exposição ao agente neurotóxico "Novichok".
Estes são os factos reais e não palavras no ar. É a resposta para aqueles que pretendem com insolência que os agentes nervosos, do tipo "Novichok" existiam e foram produzidos na URSS e na Rússia.
MENTIRA Nº8
Uma das vítimas, uma cidadã russa, Yulia Skripal, evitaria contactos com parentes e recusou assistência consular russa.
Atualmente, as autoridades britânicas zelosamente ocultam Yulia Skripal dos media e do público. Não sabemos onde ela está. Do lado russo, bem como seus parentes (à sua prima Victoria foi negado um visto de entrada pelas autoridades britânicas) é negado o acesso a ela. Não tem a possibilidade de voltar para a Rússia e submeter-se a um exame médico e tratamento.
As circunstâncias acima mencionadas indicam que a cidadã russa Yulia Skripal foi feita refém pelas autoridades britânicas, detida pela força no território do Reino Unido e submetida a manipulações psicológicas.
Dei alguns exemplos da maneira como as autoridades britânicas espalham desinformação e mentem abertamente. Esta lista de divulgações poderia provavelmente prosseguir, mas provavelmente devemos parar por aqui. É sintomático que o Reino Unido não pense em retirar sequer uma qualquer das suas teses, mesmo que elas sejam totalmente infundadas.
Não tenho quaisquer dúvidas de que no futuro podemos esperar novas vagas de desinformação, de pseudo fugas nos meios de comunicação, ataques insolentes por parte das autoridades britânicas. Mas nenhuma prova real jamais será produzida.
O Reino Unido mostra claramente que não está disposto a cooperar adequadamente no quadro da pesquisa sobre esta história obscura. Isto convence-nos de que o Reino Unido não quer a verdade. Eles não podem permitir que seja revelada.
O relatório apresentado pelo Secretariado Técnico sobre as conclusões dos peritos britânicos suscita uma série de perguntas e chamadas para exame pormenorizado suplementar, inclusive do lado britânico. Qualquer especialista entenderia que as conclusões finais não podem ser feitas senão tendo perante os nossos olhos os materiais do produto químico e a análise espectral das amostras mencionadas. E o Secretariado Técnico não transmitiu esses documentos senão a Londres.
Sublinhamos que a Rússia não tomará à letra as conclusões relativas ao caso "Skipal", enquanto uma simples condição não for cumprida: os especialistas russos terão acesso às vítimas, bem como aos documentos referidos na análise dos peritos da OPAQ e todas as informações reais que Londres dispõe sobre este incidente.
Temos fortes razões para acreditar que é uma provocação grosseira contra a Rússia por parte dos serviços especiais do Reino Unido. E se o lado britânico continua a recusar-se a cooperar connosco, não fará senão reafirmar a nossa convicção de que é exatamente o caso.
Senhor Presidente,
Não podemos deixar de lembrar o seguinte ditado: para algumas pessoas, a mentira não é um meio de justificação, mas um meio de defesa. Em 16 de abril, ouvimos uma outra declaração estranha: o G7 apelou à Rússia para responder a questões legítimas do Reino Unido sobre o caso Skripal. Podeis considerar esta declaração como a nossa resposta.
Ao mesmo tempo, gostaríamos que a parte britânica respondesse às numerosas perguntas específicas da Federação da Rússia sobre o incidente de Salisbury. Além disso, ficaríamos gratos se os representantes do G7 pudessem explicar-nos por que razão os seus países lançaram uma guerra diplomática contra a Rússia com base em falsificações.
Obrigado, Sr. Presidente.
[*] Embaixador da Federação da Rússia na Organização para a Proibição de Armas Químicas ( OPAQ ). A presente declaração foi apresentada na 59ª reunião dessa organização da ONU.
A versão em inglês encontra-se em netherlands.mid.ru/...
e a versão em francês em www.legrandsoir.info/...
Esta declaração encontra-se em http://resistir.info/ .
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