Manlio Dinucci*
Agindo como orgãos programados
desde a sua criação, as Administrações da NATO e da União Europeia, prosseguem
o seu projecto afastadas de qualquer controlo político.As burocracias militares
e civis resultantes da ocupação norte-americana da Europa Ocidental, pretendem
defender os interesses da elite transnacional sem se preocupar com a vontade
dos povos.
Em 11 e 12 de Julho de 2018,
desenvolve-se em Bruxelas a CIMEIRA NATO ao nível de Chefes de Estado e de
Governo, dos 29 países membros. Confirma ao mais alto nível o fortalecimento da
estrutura de comando, principalmente, na função anti-Rússia. Serão estabelecidos:
- um novo Comando
Conjunto para o Atlântico, em Norfolk, nos EUA, contra os “submarinos russos
que ameaçam as linhas de comunicação marítima entre os Estados Unidos e a
Europa”
- um novo Comando
Logístico, em Ulm, na Alemanha, como “dissuasor” contra a Rússia, com a tarefa
de “mobilizar mais rapidamente as tropas em toda a Europa em qualquer
conflito”.
Em 2020, a NATO terá, na Europa,
30 batalhões mecanizados, 30 esquadrilhas aéreas e 30 navios de combate,
apetrechados em 30 dias ou menos, contra a Rússia. O Presidente Trump terá, portanto,
cartas mais fortes na Cimeira bilateral, que terá a 16 de Julho, em Helsínquia,
com o Presidente Putin, da Rússia. Daquilo que o Presidente dos EUA estabelecer
na mesa de negociações, dependerá, fundamentalmente, a situação na Europa.
O raio de expansão da NATO vai
muito além da Europa e dos próprios membros da Aliança. Ela tem vários
parceiros ligados à Aliança por vários programas de cooperação militar. Entre
os vinte incluídos na Parceria Euro-Atlântica, figuram a Áustria, a Finlândia e
a Suécia. A parceria mediterrânica inclui Israel e a Jordânia, que têm missões
oficiais permanentes na sede da NATO, em Bruxelas, e Egipto, Tunísia, Argélia,
Marrocos e Mauritânia. A parceria do Golfo inclui o Kuwait, o Qatar e os
Emirados, com missões permanentes a Bruxelas, além do Bahrein. A NATO também
tem nove “Parceiros globais” na Ásia, na Oceania e na América Latina - Iraque,
Afeganistão, Paquistão, Mongólia, Coreia do Sul, Japão, Austrália, Nova
Zelândia e Colômbia - alguns dos quais “contribuem, activamente, para as
operações militares da NATO”.
A NATO - criada em 1949, seis
anos antes do Pacto de Varsóvia, baseada formalmente no princípio defensivo
estabelecido pelo Artigo 5 - foi transformada numa aliança que, de acordo com o
“novo conceito estratégico”, compromete os países membros a “liderar operações
de resposta a situações de crise não previstas no artigo 5.º, fora do
território da Aliança”. Segundo o novo conceito geoestratégico, a Organização
do Tratado do Atlântico Norte estendeu-se às montanhas afegãs, onde a NATO está
em guerra há 15 anos.
O que não mudou, na mutação da
NATO, foi a hierarquia dentro da Aliança. É sempre o Presidente dos Estados
Unidos que nomeia o Comandante Supremo Aliado na Europa, que é sempre um
general dos EUA, enquanto os Aliados se limitam a ratificar a sua escolha. O
mesmo aplica-se aos outros comandos chave. A supremacia dos EUA fortaleceu-se
com a ampliação da NATO, pois que os países do Leste europeu estão mais
vinculados a Washington do que a Bruxelas.
O próprio Tratado de Maastricht,
de 1992, estabelece a subordinação da União Europeia à NATO, da qual fazem
parte 22 dos 28 países da UE (com a Grã-Bretanha de saída da União). O mesmo
estabelece no artigo 42.º, que “a União respeita as obrigações de alguns
Estados Membros, que consideram que a sua defesa comum se efectue através da
NATO, no âmbito do Tratado do Atlântico Norte”. E o protocolo n. 10 sobre a
cooperação estabelecida pelo art. 42 salienta que a NATO “continua a ser a base
da defesa” da União Europeia. A Declaração Conjunta sobre a Cooperação NATO/UE,
assinada em 10 de Julho em Bruxelas, na véspera da Cimeira, confirma esta
subordinação: “A NATO continuará a desempenhar a sua função única e essencial
como pedra angular da defesa colectiva para todos os aliados, e os esforços da
UE também fortalecerão a NATO” [1].
A PESCO e o Fundo Europeu para a Defesa, sublinhou o Secretário-Geral
Stoltenberg, “são complementares e não alternativas à NATO”. A “mobilidade
militar” está no centro da cooperação NATO/UE, consagrada na Declaração
Conjunta. Igualmente importante é a “cooperação marítima NATO/UE no
Mediterrâneo, para combater o tráfico de migrantes e, assim, aliviar o
sofrimento humano”.
Sob pressão dos EUA e neste
contexto, os aliados europeus e o Canadá aumentaram a sua despesa militar em 87
biliões de dólares, desde 2014. Apesar disso, o Presidente Trump vai bater com
os punhos na mesa da Cimeira, acusando os aliados porque, todos juntos, gastam
menos do que os Estados Unidos. “Todos os aliados estão a aumentar as despesas
militares", afirma o Secretário Geral da NATO, Stoltenberg.
Os países que destinam à despesa
militar, pelo menos 2% do seu PIB, aumentaram para 3%, em 2014, e para 8%, em
2018. Prevê-se que, desde agora até 2024, os aliados europeus e o Canadá
aumentarão a sua despesa militar em 266 biliões de dólares, expandindo a
despesa militar da NATO para mais de 1 trilião de dólares por ano. A Alemanha,
em 2019, ampliará para uma média de 114 milhões de euros por dia e planeia
aumentá-la em 80% até 2024. A Itália comprometeu-se a alargá-la dos actuais 70
milhões de euros por dia, para cerca de 100 milhões de euros/dia. Como exige
aquele que, no programa do governo, é definido como “o aliado privilegiado da
Itália”.
Manlio Dinucci* | Voltaire.net.org | Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto
(Itália)
*Geógrafo e geopolítico. Últimas
publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014; Diario di viaggio,
Zanichelli 2017; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.
Imagem: A Comissão Europeia e o
Secretariado-Geral da NATO fizeram preceder a Cimeira dos Chefes de Estado e de
Governo da Aliança, pela assinatura de uma Declaração Conjunta. Para essas
Administrações tratava-se de impossibilitar o sistema que gerem de maneira a impedir
que as (autoridades) eleitas o contestassem.
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