Para UNITA e CASA-CE, Presidente
angolano negligencia assuntos domésticos essenciais, como saúde e educação.
Partidos descrevem a visita oficial de João Lourenço à Alemanha como um
espetáculo para inglês ver.
No final da visita de dois dias à
Alemanha, encerrada esta quinta-feira (23.08) foram assinados memorandos de
entendimento para reforçar a cooperação económica e aumentar o financiamento
alemão ao Estado angolano. Em 2011,
a oposição criticou a proposta de venda pela Alemanha de
barcos-patrulha à Angola e o negócio não foi efetuado, mas, segundo o
Presidente angolano, João Lourenço, os constrangimentos do passado foram
ultrapassados.
O deputado Lindo Bernardo Tito,
vice-presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação
Eleitoral (CASA-CE), a terceira força política do país, avalia que os
compromissos internacionais assumidos por João Lourenço no exterior terão
enormes encargos para o futuro do país.
"O atual Orçamento Geral do
Estado é financiado na ordem de 40% com endividamento interno e externo. Isto
que está a acontecer é trazer mais encargos para o país. O país precisa hoje
neste quadro olhar para questões essenciais, como a saúde e educação",
afirma.
Para o vice-presidente da União
Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Raúl Danda, a governação
de João Lourenço não está direcionada aos problemas da população.
"Estamos a ver um país que
está mais preocupado em gastar milhões para comprar um satélite do que para
comprar medicamentos de combate à malária. Estamos a ver um Governo mais
preocupado em criar datas e fazer um marketing para o exterior do que resolver
os problemas reais do país. Qualquer Governo deveria primeiro preocupar-se com a
situação das suas populações e depois fazer o resto", sublinha.
'Para inglês ver'
Em entrevista
exclusiva à DW África, João Lourenço afirmou que muito foi feito nos
seus primeiros
11 meses de governação, até mais do que o esperado. Mas para o
vice-presidente do maior partido da oposição angolana, Raúl Danda, as
ditas "conquistas" do Presidente são um espetáculo para inglês ver.
"O que o Presidente João
Lourenço tem estado a fazer até agora é exonerar e nomear pessoas. Para lá
disto, não estamos a ver muito mais. É verdade que agora há nomes de pessoas
que estão a ser investigadas e são constituídas arguidas, mas repare, eu acho
que o Presidente está a envederar numa caça às bruxas", afirma.
"Tem muitas outras pessoas
no país que se enriqueceram de forma ilícita e não são responsabilizadas.
Continuamos a ver aquelas pessoas de nível mais baixo, que roubaram um cabrito
ou uma galinha ou aquele funcionário público que desviou uma ninharia a serem
postos na cadeia, quando outras pessoas não. Isso não significa rigorosamente
nada. Isso é um show-off, é conversa para boi dormir, é para inglês ver",
acrescenta.
Segundo Raúl Danda, só haverá
mudança efetiva em Angola quando o Movimento Popular de Libertação de Angola
(MPLA) sair do poder. "Isto é só uma brincadeira. Eu não sei como alguém
fora de Angola consegue acreditar que o Presidente João Lourenço esteja a fazer
alguma coisa de extraordinário. Não está. Será por que ele ainda não é presidente
do MPLA e quer fazer isso depois? Com o MPLA, cai uma pessoa e entra outra, mas
o sistema continua a ser o mesmo. E, enquanto o sistema continuar o mesmo,
havemos de ter dificuldades no país", critica.
Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE,
pondera que o Presidente angolano montou uma estrutura para afirmar a sua
autoridade. "O que ele fez demais é afirmar a sua autoridade como
Presidente da República, mas um conjunto de questões sociais ficou para ser
feito neste primeiro ano de mandato. Aumentaram a fome no país, as falhas no
setor da educação e a falta de qualidade das unidades médicas no país",
observa.
Para o economista angolano
Precioso Domingos, os angolanos poderão saber em breve quem de facto é João
Lourenço. "Vem aí o Congresso do MPLA. O Presidente João Lourenço vai se
tornar presidente do MPLA já amanhã e vai ter todos os poderes. Nós vamos
conhecer melhor o Presidente João Lourenço depois de setembro. Eu,
particularmente, tenho muitas expetativas", diz.
Karina Gomes | Karina Gomes |
Deutsche Welle
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