José Filomeno dos Santos foi
recentemente constituído arguido. Sobre si pesam crimes como peculato enquanto
gestor do Fundo Soberano de Angola.
O semanário angolano Expansão
revelou, na sua última edição, que "os acordos para a gestão dos três mil
milhões de dólares aplicados nos sete investimentos alternativos não podem ser
denunciados". O jornal, que cita Carlos Alberto Lopes, do Conselho de Administração,
avança ainda que os contratos "prendem" o Fundo Soberano de Angola à
empresa Quantum por 10 a 15 anos.
Estas informações, surgem numa
altura em que José Filomeno dos Santos "Zenú", já enfrenta um
processo movido pela Procuradoria-geral da República. O filho do ex-Presidente
José Eduardo dos Santos é acusado de crimes de peculato, abuso de confiança e
burla por defraudação enquanto gestor do Fundo Soberano de Angola.
Oportunidade de afirmação para
Justiça angolana
Para o jornalista e analista
Alexandre Neto Solombe, este caso é uma oportunidade "para a Justiça
angolana se afirmar".
"O modo como a Justiça
angolana tratar o caso "Zenú" e demais casos ligados a alta figura
política em Angola, principalmente ligadas ao partido no poder, vai certamente
enviar uma mensagem forte para os mercados interno e externo", explica
Alexandre Neto Solombe.
O analista lembra também que a
consciência de cidadania dos angolanos evoluiu nos últimos tempos. Hoje, já é
possível ver cidadãos a escrutinar atuação dos órgãos da administração da
Justiça em Angola, revela.
"Não nos esqueçamos também
que os próprios órgãos da administração da Justiça penal em Angola estão sob
escrutínio dos cidadãos por causa deste alto nível de consciencialização que
tomou conta dos angolanos nos últimos temos. De tal maneira que, a estes órgãos
só lhes resta uma caminho: aplicar a lei e fazer cumprir a lei",
acrescentou Solombe.
Para além de "Zenú" dos
Santos no Fundo Soberano de Angola, outros filhos do antigo chefe de Estado
também estiveram na gestão da coisa pública. com destaque para Isabel dos
Santos à frente da petrolífera angolana Sonangol, maior fonte de receitas do
Estado. A empresária angolana, por exemplo, também já foi notificada pela
Procuradoria-Geral da República para prestar declarações sobre alegada
transferência de valores monetários.
"Eduardo dos Santos
procurava tirar vantagens para o beneficio próprio e dos seus familiares mais
diretos e aqueles que o circundavam", explica Solombe.
O "patriota" José
Eduardo dos Santos
Numa entrevista concedida ao
canal português SIC Notícias, em junho de 2013, o então Presidente angolano
José Eduardo dos Santos disse que gostaria de ser lembrado como "um grande
patriota".
Esta terça-feira, em declarações
à rádio Luanda Antena Comercial (LAC), o presidente da UNITA, maior partido da
oposição, fê-lo. Ou seja, chamou-lhe "patriota".
"Há tendência entre nós de
capitalizarmos naquilo que é de negativo mesmo se as pessoas fizeram atos de
grande importância, grande relevância nacional. Não é patriótico tentar criar
situações apenas negativas ou capitalizar apenas em feitos negativos quando
pessoas a que nos referimos contribuíram de uma forma significativa para o
país", disse Isaías Samakuva.
Mas em setembro de 2015, Samakuva
desafiou os deputados da oposição a processar o Presidente Eduardo dos Santos
por supostos crimes de corrupção, peculato e suborno.
O assunto sobre o patriotismo do
ex-chefe de Estado está envolto em polémica. Para alguns, tratou-se de um
discurso com sentido de Estado. Mas outros criticaram-no.
Para o analista o Alexandre Neto
Solombe "a UNITA teve sempre uma relação privilegiada com o chefe do
executivo na abordagem dos vários dossiers implicados no processo de paz".
"Muito se discute sobre o
mérito desta designação de patriota a Eduardo dos Santos, como se percebe nas
redes sociais, mas estamos em democracia e cada um é livre de exprimir o seu
ponto de vista. Terá sido isso que motivou Isaías Samakuva atribuir esse
qualificativo apesar das várias contestações", concluiu Solombe.
Manuel Luamba | Deutsche Welle
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