terça-feira, 7 de agosto de 2018

Fogo “come” região de Monchique. Jornais “comem” os artigos definidos. Podem?


Não se entendeu ainda se a moda que vimos na comunicação social de “comer” os artigos definidos, por exemplo, vai pegar. Que ela (a moda) está a alastrar é um facto e constata-se aqui e ali. Pode não ser o caso do Curto que vem mais em baixo. Mas está a acontecer.

O melhor é lembrar que o português é uma língua riquíssima que estão a estragar. Primeiro com o pernicioso Acordo Ortográfico e agora com mais esta. Reparem bem porque de vez em quando damos por falta dos artigos definidos nas notícias e não achamos nada que corresponda a umas “gralhas” mas sim a opção dos que escrevem as notícias, parece que de categoria profissional de jornalistas. É que esses jornais e revistas dos grandes grupos económicos andam a fazer disso e não são uns pobres blogues (como o PG e outros que são pura carolice). Têm responsabilidades em diversos aspetos. Também no modo como escrevem o português. Ponto.

Em cima foi só um aparte. O tema é o fogo em Monchique. Depois de “estar quase “acabado” eis que regressa. Depois de tanta luta de mais de um milhar de contendores nas diversas frentes, eis que o fogo reacende. E hoje há muito vento, para piorar tudo. Baixaram as temperaturas mas o vento trama tudo. Todo o esforço dos bombeiros foi gorado e já há algumas horas que tudo voltou ao mesmo. Também os moradores na região estão com os coração repletos de negritude e de medos. Já se registaram alguns feridos, só um mesmo com gravidade, mas a maior ferida neste momento é a frustração de terem visto o fogo dominado e quase extinto numa vasta região e agora voltou tudo ao mesmo. Monchique está novamente ameaçada por aquele gigante em chamas. Chamas que estão muito perto das ruas e das casas…

Não se pode, neste caso, dizer o costumeiro “seja o que os deuses quiserem”. Não. Porque nada garante que esses estejam pelos ajustes de não queimar tudo em redor da zona habitacional. O que há a fazer é lutar, lutar sempre, como em tudo. Viu-se hoje que a luta anterior foi inglória mas nada mais há a fazer de recomendável para além de lutar contra o fogo. Que a força e o ânimo esteja com os soldados da paz, os militares e outros que apoiam aquela luta e se aplicam a proteger os habitantes da região, reconduzindo-os para lugares seguros, assim como os turistas que ainda por lá restam.

Força, homens e mulheres tão sacrificados. Força. Muito obrigado. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Na primeira prova de fogo mostrámos a nossa impotência

Rui Gustavo | Expresso

Primeiro foi o calor extremo, agora é o vento forte: o incêndio de Monchique continua incontrolável pelo quinto dia consecutivo. Ontem, a meio da tarde, chegou a estar perto de ser declarado extinto, mas durante a noite e a madrugada entrou no perímetro urbano de Monchique, obrigando à evacuação de centenas de pessoas em várias aldeias. Hoje de manhã a situação é dramática e apesar de descida acentuada da temperatura, o vento forte é agora o inimigo. Já arderam 20 mil hectares de floresta, há casas destruídas e 29 pessoas ficaram feridas. As chamas ameaçaram o quartel dos bombeiros e o convento de Nossa Senhora do Desterro. Mais de mil homens combatem as chamas, alguns em condições muito precárias, como o Expresso Diário denunciou ontem, noticiando o facto de haver bombeiros que combatem o fogo a dormir no chão .

O mais impressionante ou chocante de tudo isto é que estava, literalmente, escrito nas estrelas: antes do verão um estudo universitário identificava a zona de Monchique como aquela onde era mais provável que ocorressem grandes incêndios. Ainda em choque com as tragédias de Pedrógão e do Pinhal Interior - morreram mais de cem pessoas há menos de um ano, não podemos esquecer - o Governo anunciou um esforço nunca visto para prevenir e combater os incêndios. Nunca se limpou tanta mata e vegetação; os meios, ainda que insuficientes, também nunca terão sido tantos e, no entanto, à primeira prova de fogo continuamos a mostrar a nossa impotência.

É verdade que os fogos, como o vento e o calor, são inevitáveis. Mas há muito trabalho por fazer, a especialização das equipas e a profissionalização dos bombeiros, defendida pelas equipas de trabalho que analisaram os grandes fogos do ano passado ainda está por realizar e ainda não foi encontrada uma forma de interiorizar que o combate aos fogos se faz durante o ano todo. A associação de bombeiros profissionais vai pedir uma audiência ao ministro Eduardo Cabrita para tentar perceber porque é que cinco dias ainda não foram suficientes para extinguir o fogo. E o verão ainda está a meio.

O fogo está nas primeiras páginas de todos os jornais de hoje que ajudam a perceber o que ainda está mal. O Público noticia: "Plano de gestão para Monchique parado há sete meses". Um projeto estruturante para Perna Negra, precisamente onde o fogo começou, está na gaveta à espera de aprovação perante a incompreensão da Associação de Produtores Florestais. Estavam previstos caminhos e pontos de água para combater os fogos. Parece simples. O Correio da Manhã publica uma foto impressionante das chamas a cercar Monchique e o JN, mais pessimista, descreve um "Inferno sem fim à vista". No I, um problema: "173 chamadas sem resposta" para o 112, no domingo. De acordo com este jornal, amanhã, quinta e sexta "meio país será atendido por apenas três pessoas".É um ponto fraco. No DN, a rendição: "Fizemos tudo o que devíamos e perdemos tudo na mesma". No Expresso Diário, o fim: "Não ficou nada para contar a história".

No dia 7 de agosto de 1794 realizou-se em Lisboa o último auto-de-fé da inquisição. As chamas eram então alegóricas, pintadas em barris onde os condenados à morte eram sufocados com um garrote. O último condenado escapou à morte, tendo sido condenado a uma pena de prisão por ter insultado a igreja. As chamas reais não são tão misericordiosas.

OUTRAS NOTÍCIAS

O presidente americano Donald Trump admitiu que o filho, Trump Jr, se encontrou há dois anos com uma advogada russa ligada ao Kremlin para obter informações sobre a então adversária na corrida à Casa Branca, Hilary Clinton. Antes tinha dito que o encontro se destinava a discutir a adoção de órfãos russos. A realidade é menos fofa.

Os Estados vão voltar a impor sanções ao Irão, medida já aplaudida por Israel que elogiou a coragem de Trump.

Prossegue o verão, ou melhor,o ano quente do Sporting: Bruno de Carvalho entrega hoje a lista de candidatura à presidência do clube. A lista é encabeçada por um testa de ferro assumido,Erik Kurgy, que já disse que entregará o poder a Bruno de Carvalho caso a lista vença as eleições. O presidente da Assembleia Geral, Jaime Marta Soares, foi obrigado pelo tribunal a receber a lista, mas já avisou que receber é uma coisa e aceitar é outra. Bruno de Carvalho está suspenso de sócio, mas mesmo assim não desiste de voltar à presidência do clube.

Na Indonésia, um novo tremor de terra já matou 98 pessoas e obrigou à evacuação de milhares de turistas. Há vinte portugueses que saíram da ilha de Gili, mas ainda estão em Lombok. A previsão de um tsunami provocou o pânico mas mostrou-se exagerada.

Amanhã é dia de São Receber para cerca de um milhão e meio de pensionistas. O aumento extraordinário das pensões prometido pelo Governo vai ser cumprido mas, pelas contas feitas pela Sónia M. Lourenço, só vai chegar a um máximo de cinco euros brutos para um escasso número de pessoas. A maioria dos aumentos ficará abaixo desta quantia.

O Benfica joga hoje com o Fenerbahçe Spor Kulubulu o acesso ao playoff de acesso à Liga dos Campeões. O jogo é às oito (uma inovação da Liga para esta temporada) e julgo que será a primeira vez que a Benfica TV transmite um jogo da Champions. O acesso à fase de grupos vale, por si só, 15,2 milhões de euros. Cada vitória valerá 2,7 milhões e o empate 900 mil euros. A derrota ainda não é premiada. O Benfica, que na última época fez uma campanha trágica na Liga dos Campeões, não vai poder contar com o goleador Jonas, o melhor jogador das últimas épocas que estará lesionado e emocionalmente pouco disponível depois de um convite milionário do Al-Hilal treinado por Jorge Jesus, antigo campeão pelo Benfica.Os turcos são uma boa equipa, como explica o Tiago Teixeira.

A notícia não é de hoje, mas é bizarra demais para a ignorar: Steven Seagal, ator americano especializado em filmes de ação (porrada talvez seja a palavra que melhor descreve o enredo das fitas protagonizadas por este astro ) foi nomeado pelo Governo russo como representante diplomático para a área humanitária. O ator, que é neto de russos, é admirador do presidente Vladimir Putin e tem nacionalidade russo. Este episódio comprova a visão política dos extintos Gato Fedorento que em plena era Troika sugeriram que a solução para a crise passaria por contratar a estrela de “Força em Alerta 2” para dar uma coça ao então primeiro ministro Passos Coelho e ao vice, Paulo Portas.

Começa hoje a 22ª edição do Meo Sudoeste. Pela Zambujeira do Mar já passaram bandas como os Portishead, PJ Harvey, Sonic Youth, Blur ou Suede. Agora é outra coisa.

FRASES

"Um amigo meu disse-me que há uma desorganização total"
Fernando Curto, da Associação de Bombeiros profissionais, sobre o combate ao fogo de Monchique

"Estou em contacto permanente"
António Costa, primeiro-ministro de férias e ligado ao twitter, sobre o combate ao fogo

"Portugal aprendeu com Pedrógão"
Marcelo Rebelo de Sousa, otimista

"Foi legal e não sabia de nada"
Donald Trump, no twitter, sobre o encontro do filho com uma advogada russa

O QUE EU ANDO A LER

Espião na primeira pessoa
Sam Shepard

O último livro do dramaturgo e ator americano começou por ser escrito à mão porque Shepard, afetado pela esclerose lateral amiotrófica, já não tinha forças para escrever à máquina, como sempre fazia. Foi depois ditado para um gravador e por fim foi ditado às duas irmãs de Sam Shepard que se encarregaram de o publicar. A versão final ainda seria revista pela cantora Patti Smith, amiga e ex-namorada do escritor que ganhou um pulitzer em 1979 com a peça “Buried Child” e foi nomeado para um Óscar da Academia pelo filme “Os Eleitos” . O livro é uma espécie de auto biografia ficcional feita através de postais poéticos que prenunciam a morte. Shepard observa um velho num alpendre que, depois percebe, é ele mesmo. Não é o melhor livro do americano mas nem todos temos a hipótese de escrever o próprio epitáfio. “O que é isso que faz alguém deixar-se afundar, que faz alguém sentir que não vai vencer, que nunca vai superar alguma coisa? Não sei o que é. Monotonia. A mesma coisa.”

Monstress
Marjorie Liu e Sana Takeda

Banda desenhada de uma dupla feminina (uma raridade) é um festival gráfico e uma história terrível e bela que mistura fantasia, extra terrestres, escravidão e canibalismo. Ainda assim é recomendável para jovens entre os 13 e os 99 anos. Em Portugal foram publicados dois volumes da série que ganhou o prémio Esiner (uma espécie de óscares da Banda Desenhada) para a melhor série e o melhor argumento, sendo a primeira vez que uma mulher ganha este último. Cada vez mais isto vai deixando de ser notícia.

A Gaivota, de Anton Tchekhov
Michael Mayer

É mais o que ando a ver: filme americano baseado numa das peças essenciais do mestre russo, é, para além de um agora raro exercício de inteligência, uma oportunidade para duas atrizes de primeira água: Annette Bening, no papel da diva Irina e Elisabeth Moss, a atriz de “Handmaid’s Tale, que interpreta a desorientada Masha. Filme raro sobre a tragédia de amar sem esperança.

Por hoje é tudo. O combate ao fogo e outras notícias vão estar no Expresso e no Expresso diário. O calor abrandou, está frio lá fora e já temos mais uma razão para nos queixarmos.

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