Jorge Rocha* | opinião
O grande incêndio de Monchique
está quase esgotado nas televisões, após estas terem-no aproveitado para criar
aquele clima de «drama», de «horror» com que se comprazem, não só para ganharem
audiências, mas sobretudo para criticarem, mais ou menos explicitamente, o
governo de António Costa.
Não tendo acontecido os mortos,
que possibilitassem à Judite da TVI voltar a falar em direto com um cadáver em
plano de fundo, ou para que a brasileira de Pedrógão pudesse ter mais uns
minutos de glória a interligar a tragédia do ano transato com o incêndio desta
semana, os diretores de informação têm de render-se à inevitabilidade de
captarem o regozijo do primeiro-ministro por essa grande vitória que terá sido
a inexistência de perda de vidas humanas. E isso, só por si, constitui uma
grande vitória para o governo e para a estratégia gizada desde o ano passado
sob a coordenação do ministro Eduardo Cabrita.
No rescaldo das cinzas cresce a
noção de, a repetirem-se diretos das zonas ardidas, serem sentidas como
não-notícias, que justificam o zapping para quem possa, por essa
altura, apresentar informações mais apelativas. Até mesmo a tentativa de pôr em
causa a ação musculada das forças policiais para forçarem a evacuação de quem
estava em risco, priorizando a salvaguarda dos bens em detrimento da própria
vida, foi desarticulada pelos constitucionalistas de direita chamados de
urgência para comporem o ramalhete dos pivots, que desgraçadamente se
viram criticados em direto.
Ou essoutro intento de criticar a excessiva importância
conferida a precaver a vida das populações em prejuízo das casas e árvores, que
as chamas incontroláveis, estimuladas pelos ventos, iam consumindo. Quando José
Manuel Mestre e um seu tonto colega da SIC o pressupuseram, logo um ruidoso
coro público os desaprovou.
A angústia dos Ricardos Costas ou
dos Sérgios Figueredos (nem refiro os da sarjeta da Cofina!) residirá agora em
não encontrarem matéria passível de tapar o vazio de não existirem novas
estórias que possam cavalgar para porem em xeque o governo. Depois deste
sinistro, os do ano transato converteram-se em histórias passadas, e o roubo de
Tancos já foi tão explorado, que nem a ajuda de Marcelo conseguirá reaviva-lo.
Valem-lhes que tragédias não faltam noutras latitudes, desde vulcões e sismos
na Indonésia às cheias em
França. Para quem se alimenta das desgraças alheias, há
sempre fartos mortos a vampirizar!
*Jorge Rocha | Ventos Semeados
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