Cidadãos, entre figuras públicas
e anónimos, reprovam a medida que visa combater a venda desordenada
na cidades angolanas. Feminista, ativistas e juristas mostram-se indignados.
Marcha em protesto prevista para dezembro.
A "Operação
Resgate" pretende acabar com a venda ambulante de bens e serviços
nas cidades angolanas, foi anunciada pelo Governo angolano no passado dia 24 de
outubro.
Em reação à medida, o angolano Damião Cosme Spencer postou fotos na sua conta do Facebook.
“Triste! Será que estamos a
combater o povo?”, pergunta o internauta.
Já Mandume de Carvalho usou o
Twitter para criticar a "Operação Resgate" e exigir organização
a parte do Governo angolano:
Por seu torno, Nelson Domingos escreve na sua conta no Facebook onde
acredita que deveria começar o combate à venda desordenada nas cidades:
"O 'resgate' do Estado
deve ser feito contra aqueles que se enriqueceram ilicitamente com o dinheiro
público ou contra o povo empobrecido que apenas procura sobreviver?"
critica.
Figuras conhecidas também
contestam
Não são apenas os chamados
cidadãos anónimos que se manifestaram contra a medida nas redes
sociais. José Patrocínio, coordenador da ONG OMUNGA, com
sede na província angolana de Benguela, também fez a sua crítica.
"Vamos iniciar o
"resgate" nas instituições públicas, como a polícia", critica no
Facebook.
Numa outra publicação na mesma
rede social, escreve em defesa das comerciantes ambulantes, conhecidas como
zungueiras:
"Se as zungueiras esão
desorganizadas, é porque o Estado está desorganizado," afirma.
Eva Rap Diva, uma das rappers femininas mais
respeitadas em Angola, também não ficou indiferente. Sua publicação no
Facebook repercutiu, tendo sido compartilhada mais de uma centena de vezes.
"Querem acabar com a venda
ambulante, querem acabar com as zungueiras e zungueiros na rua, querem acabar
com o mercado informal. Ok! Mas criem políticas sérias, arranjem alternativas e
soluções, porque a zunga não foi criada ao acaso por pessoas que decidiram ir
vender em locais impróprios com o objetivo de infringir a
lei", escreve.
José Gomes Hata, conhecido ativista do caso
"15+2", mostrou-se também incrédulo com o que
Governo chama de "resgate da autoridade do Estado":
"Sinceramente, nunca me
passou pela cabeça que o Estado angolano assumisse publicamente que perdeu
autoridade, mas ainda assim continua a governar," critica também no
Facebook.
"Operação resgate: problema
ou solução?"
Segundo Orlando
Bernardo, diretor do Gabinete de Comunicação Institucional e
Imprensa do Comando Geral da Polícia, a "Operação Resgate", visa
combater, entre outros, a venda "desordenada", fora dos mercados, de
bens e serviços nas cidades angolanas, que "atrapalha, e de que maneira, a
circulação automóvel ao nível das cidades”. Vai também fiscalizar a venda de
telemóveis, cartões de recargas telefónicas, venda de acessórios de viaturas e
o garimpo da água em locais impróprios.
Na sua conta do Facebook, o jovem
jurista Serrote Simão, se propõe a responder à pergunta:
"Resgate é um problema ou uma solução?":
"O Estado deveria
facilitar a regulamentação das zungueiras assim como aqueles estrangeiros que
exercem actividades económicas no nosso país de forma ilegal de modo a aumentar
as receitas do Estado por via de impostos e das taxas", defende ao final
de um longo texto.
Para responder também a essa
questão, a DW África ouviu o jornalista e analista Alexandre Neto Solombe.
"Olha, o que está acontecer
é que 'a corda da diversão' já não dá mais espaço de manobra, para quem
quis passar a imagem daquilo que não é realmente: democracia," explica
Solombe.
Solombe acrescenta: "Aos
poucos, o circo do Presidente fecha-se e ele vai estando menos disponível,
optando por ditar as regras a partir da Sodoma dele".
"Já imaginou o estado de
tensão que está a gerar o anúncio de tal operação e os perigos que daí
decorrem?" questiona o também economista.
Alexandre Neto Solombe desconfia
que "vão revistar, vão invadir quintais. Sabe,
estas ações fazem-me recordar as ações populares de assalto que eram
realizadas no âmbito do poder popular".
Mas em declarações à imprensa, a
Polícia angolana garantiu que não haverá excessos na "Operação
Resgate".
Marcha contra o desemprego à vista
O anuncio da "Operação
Resgate" já provocou o encerramento de cantinas e outros postos de
trabalho, num mercado já precário devido à crise económica e
financeira resultante da baixa do preço do petróleo no mercado internacional
que assola o país desde 2015.
Segundo um estudo realizado em
2016 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), 20% da população em
idade ativa está desempregada. Os jovens são os mais afetados -
46% não tem emprego.
Durante a campanha eleitoral, em
2017, O MPLA, partido no poder, através do seu candidato, João Lourenço, atual
Presidente da República, prometeu a criação de cerca de 500 mil postos de
trabalho. A não concretização da metade da promessa, até, pelo menos, julho de
2018, levou um grupo de jovens a realizar uma marcha nacional. Na altura,
centenas de jovens gritaram nas ruas de Luanda: "O Desemprego não é
escolha, é má Governação".
O mesmo grupo convocou para 8 de
dezembro próximo, uma marcha nacional contra o desemprego. A DW África
conversou com o ativista Arante Kivuvu, um dos organizadores da manifestação:
"O objetivo é pressionar o
Governo com vista à criação de políticas urgentes para que a juventude possa
ter emprego, escasseado pela crise económica. Não vemos vontade política
por parte do Governo para resolver o problema. A marcha será na metade do
país. Já temos algumas províncias confirmadas como Benguela, Zaire, Malanje e
Uige," garante.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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