segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Angolanos pedem "protesto ao Estado português" após incidentes no bairro da Jamaica


Ativistas foram às ruas de Luanda pedir uma posição do Governo sobre as denúncias de cidadãos angolanos que residem no bairro da Jamaica, em Lisboa, e que teriam sofrido violência policial.

Um grupo de uma dezena de angolanos pediu neste sábado (02.02), em Luanda, "um protesto ao Estado português" por parte de Angola por causa dos incidentes entre polícia e moradores do bairro da Jamaica, no Seixal, nos arredores de Lisboa, alegando que "foram vítimas alguns angolanos".

Os subscritores desta "declaração de tomada de posição", apresentada publicamente em Luanda, dizem-se "indignados" com os acontecimentos do mês passado em Portugal, em Vale de Chícharos, conhecido como bairro da Jamaica, e com as "declarações de xenofobia que daí advieram". 

Entre os membros do grupo estão ativistas do grupo 15+2. Eles defendem que Angola "exija do Estado português a responsabilização civil e criminal dos cidadãos portugueses promotores de declarações racistas".

"Série de manifestações"

Se o Estado angolano "se mantiver impávido", este grupo promete "uma série de manifestações diante da Embaixada de Portugal em Angola e do Consulado de Portugal em Benguela", assim como "uma campanha nacional de boicote a tudo quanto é produto de origem portuguesa" e outras medidas posteriores visando os portugueses que vivem no país, que serão explicadas "em momento oportuno", disse à Lusa Nuno Dala, um dos integrantes do processo 15+2, que afirmou ser "contra violência".

Afonso Matias "Mbanza Hanza", outro subscritor da declaração, disse estar "indignado" com o "estranho silêncio" do Estado angolano. "Desde já não é certo, tem de se condenar e averiguar por que é que a PSP [Polícia de Segurança Pública] chegou a esse ponto, esse pronunciamento deveria acontecer, porque é estranho que o Estado angolano não se pronuncie e o pronunciamento do consulado angolano em Portugal foi uma vergonha", afirmou.

Dito Dali, que se manifesta "solidário" com os habitantes do bairro da Jamaica, sublinhou que este grupo tomou uma posição tendo em conta o "silêncio do Estado angolano que lhe é característico diante certo tipo de situações".

"Não podemos aceitar que diante da brutalidade que os nossos irmãos passam todos os dias em Portugal o Estado angolano se remeta pura e simplesmente ao silêncio em sinal de alguma cumplicidade", afirmou Dali.

Governo angolano diz acompanhar investigações

O Governo de Angola apelou a 25 de janeiro à população a abster-se de participar em qualquer iniciativa que coloque em causa a ordem e tranquilidade pública, na sequência dos acontecimentos registados com cidadãos angolanos no bairro da Jamaica.

Num comunicado, o Ministério do Interior de Angola relacionou o apelo com o facto de estar a "acompanhar, com alguma preocupação", diversos "pronunciamentos de vários cidadãos nacionais e estrangeiros" após os desacatos naquele bairro do Seixal.

O Ministério do Interior angolano aconselhou também todos os cidadãos a aguardarem "com serenidade" os resultados do inquérito mandado instaurar pelas autoridades portuguesas e adianta que as estruturas competentes do Governo de Angola estão a acompanhar a questão.

Violência policial

Em 20 de janeiro, a polícia foi chamada ao bairro da Jamaica após ter sido alertada para "uma desordem entre duas mulheres". Segundo a PSP, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras. Do incidente resultaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente.

Posteriormente foi convocada uma manifestação contra a violência policial, em frente ao Ministério da Administração Interna, que resultou também em incidentes entre participantes e a polícia.

Moradores do bairro, no distrito de Setúbal, têm afirmado que a polícia abusou da força, referindo também não terem participado em manifestações. O Ministério Público e a PSP abriram inquéritos aos incidentes no Bairro da Jamaica.

O bairro começou a formar-se na década de 1990, quando populações que vinham dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) começaram a fixar-se em prédios e torres inacabados, fazendo puxadas ilegais de luz, água e gás.

Agência Lusa, tms | em Deutsche Welle

Sem comentários:

Mais lidas da semana