Ativistas foram às ruas de Luanda
pedir uma posição do Governo sobre as denúncias de cidadãos angolanos que
residem no bairro da Jamaica, em Lisboa, e que teriam sofrido violência
policial.
Um grupo de uma dezena de
angolanos pediu neste sábado (02.02), em Luanda, "um protesto ao Estado
português" por parte de Angola por causa dos incidentes entre polícia e
moradores do bairro da Jamaica, no Seixal, nos arredores de Lisboa, alegando
que "foram vítimas alguns angolanos".
Os subscritores desta
"declaração de tomada de posição", apresentada publicamente em
Luanda, dizem-se "indignados" com os acontecimentos do mês passado em
Portugal, em Vale de Chícharos, conhecido como bairro da Jamaica, e com as
"declarações de xenofobia que daí advieram".
Entre os membros do grupo estão
ativistas do grupo 15+2. Eles defendem que Angola "exija do Estado
português a responsabilização civil e criminal dos cidadãos portugueses
promotores de declarações racistas".
"Série de
manifestações"
Se o Estado angolano "se
mantiver impávido", este grupo promete "uma série de manifestações
diante da Embaixada de Portugal em Angola e do Consulado de Portugal em
Benguela", assim como "uma campanha nacional de boicote a tudo quanto
é produto de origem portuguesa" e outras medidas posteriores visando os
portugueses que vivem no país, que serão explicadas "em momento
oportuno", disse à Lusa Nuno Dala, um dos integrantes do processo 15+2,
que afirmou ser "contra violência".
Afonso Matias "Mbanza
Hanza", outro subscritor da declaração, disse estar "indignado"
com o "estranho silêncio" do Estado angolano. "Desde já não é
certo, tem de se condenar e averiguar por que é que a PSP [Polícia de Segurança
Pública] chegou a esse ponto, esse pronunciamento deveria acontecer, porque é
estranho que o Estado angolano não se pronuncie e o pronunciamento do consulado
angolano em Portugal foi uma vergonha", afirmou.
Dito Dali, que se manifesta
"solidário" com os habitantes do bairro da Jamaica, sublinhou que
este grupo tomou uma posição tendo em conta o "silêncio do Estado angolano
que lhe é característico diante certo tipo de situações".
"Não podemos aceitar que
diante da brutalidade que os nossos irmãos passam todos os dias em Portugal o
Estado angolano se remeta pura e simplesmente ao silêncio em sinal de alguma
cumplicidade", afirmou Dali.
Governo angolano diz acompanhar
investigações
O Governo de Angola apelou a 25
de janeiro à população a abster-se de participar em qualquer iniciativa que
coloque em causa a ordem e tranquilidade pública, na sequência dos
acontecimentos registados com cidadãos angolanos no bairro da Jamaica.
Num comunicado, o Ministério do
Interior de Angola relacionou o apelo com o facto de estar a "acompanhar,
com alguma preocupação", diversos "pronunciamentos de vários cidadãos
nacionais e estrangeiros" após os desacatos naquele bairro do Seixal.
O Ministério do Interior angolano
aconselhou também todos os cidadãos a aguardarem "com serenidade" os
resultados do inquérito mandado instaurar pelas autoridades portuguesas e
adianta que as estruturas competentes do Governo de Angola estão a acompanhar a
questão.
Violência policial
Em 20 de janeiro, a polícia foi
chamada ao bairro da Jamaica após ter sido alertada para "uma desordem
entre duas mulheres". Segundo a PSP, um grupo de homens reagiu à
intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando
pedras. Do incidente resultaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um
agente.
Posteriormente foi convocada uma
manifestação contra a violência policial, em frente ao Ministério da
Administração Interna, que resultou também em incidentes entre participantes e
a polícia.
Moradores do bairro, no distrito
de Setúbal, têm afirmado que a polícia abusou da força, referindo também não
terem participado em manifestações. O Ministério Público e a PSP
abriram inquéritos aos incidentes no Bairro da Jamaica.
O bairro começou a formar-se na
década de 1990, quando populações que vinham dos Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa (PALOP) começaram a fixar-se em prédios e torres inacabados,
fazendo puxadas ilegais de luz, água e gás.
Agência Lusa, tms | em Deutsche Welle
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