terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

São Tomé | PM Jorge Bom Jesus em dúvida sobre a duração do seu mandato


 Após dois meses como Primeiro Ministro e Chefe do Governo de São Tomé e Príncipe, Jorge Bom Jesus, que ainda beneficia do período de graça, proferiu no contacto com a população do distrito de Lobata, uma declaração que despertou a atenção do Téla Nón, e de alguns cidadãos atentos. «Eu tenho dito que não estou preocupado com o número de dias que eu vou permanecer no Governo, ou a testa do Governo. Cada dia vai ser um dia de realização, seja quanto tempo for, quererei é sair disto com o sentimento do dever cumprido», afirmou o Chefe do Governo.

Jorge Bom Jesus fez tais declarações no âmbito da auscultação das populações do distrito de Lobata com vista a elaboração do orçamento geral do Estado de 2019.

De repente, para a opinião pública nacional atenta, o Chefe do Governo são-tomense, deixou entender que já não tem certeza se cumprirá os 4 anos, que a constituição política define como tempo de mandato de um governo constitucional.

Jorge Bom Jesus é Presidente do partido MLSTP, que tem 23 assentos no parlamento. O acordo de incidência parlamentar com a coligação PCD-MDFM-UDD com 5 deputados, gerou uma nova maioria de 28 mandatos que governa o país desde 3 de Dezembro de 2018. Do outro lado da barricada está o partido ADI na oposição com 25 assentos e o Movimento Caué (ligado a Cervejeira Rosema), com 2 assentos.

O Téla Nón sabe que a forma como o novo líder do MLSTP e Primeiro Ministro tem repartido os cargos ou “tachos” na administração pública, está a provocar tensão e crispação no seio do MLSTP. Muitos militantes de cúpula estão zangados com o Primeiro Ministro, por terem ficado de fora na distribuição das pastas ministeriais ou na repartição dos “tachos estratégicos” na administração pública.

O Téla Nón apurou que os militantes de cúpula do MLSTP que ficaram à margem do “bolo” Estatal, estão a agir no sentido de pressionar o Chefe do Governo, para travar uma alegada “influência exagerada” que a coligação PCD-MDFM-UDD, está a ter em alguns sectores ditos estratégicos da governação e, sobretudo na casa parlamentar.

Um clima de pressão que com o andar do tempo, poderá gerar choques entre o MLSTP e a Coligação. Um cenário de crispação que a agudizar-se nesta legislatura, inevitavelmente causará por um lado, a queda do Governo “JBJ”antes do final do mandato legal de 4 anos, e por outro lado, poderá garantir o regresso imediato do partido ADI ao poder.

Com 25 mandatos, e mais 2 do movimento Caué, sem necessidade de novas eleições, o Partido ADI pode encontrar na coligação (PCD-MDFM-UDD), que é da sua linhagem política(Família da Mudança), o apoio parlamentar alargado para voltar a governar o país, e redistribuir os “Tachos”que o MLSTP partilhou nos últimos meses.

O clima de pressão por causa de interesses pessoais em tachos e outras regalias do poder, se abate sobre a Nova Maioria(MLSTP/Coligação), e certamente tira discernimento a qualquer Primeiro Ministro, para avaliar e com exactidão, o tempo em que permanecerá no governo, ainda mais quando se trata de uma maioria muito curta, que desfaz-se com apenas a vacilação de um deputado.

O cenário político actual, em que o Chefe do Governo já não sabe o tempo em que permanecerá no governo, transforma o congresso do partido ADI marcado para 30 de Março próximo, num farol que vai pôr luz sobre cenário futuro. Se Patrice Trovoada, que acabou por ser o factor da União dos Partidos que formam a actual nova maioria, deixar a liderança da ADI, e passar o testemunho para a nova geração- Esperança da ADI, o tempo da actual nova maioria, pode ficar mais curto.

Ainda mais, quando o clima de tensão que muitos militantes de cúpula do MLSTP, estão a lançar no ambiente político, deverá aumentar de intensidade nas próximas semanas, caso o Supremo Tribunal de Justiça de São Tomé e Príncipe, avance com o processo de devolução da cervejeira Rosema, ao seu proprietário original o empresário angolano Melo Xavier.

Trata-se de um caso judicial que em 2018, quase matava o partido MLSTP. Alguns militantes de cúpula do MLSTP auferem rendimentos significativos, fruto da venda de centenas de grades de cervejas, que há vários anos a administração da cervejeira concede a tais militantes de cúpula do MLSTP.

A passagem da cervejeira para outro proprietário significará a bancarrota para tais militantes de cúpula do MLSTP, ainda mais por terem sido afastados dos “tachos estratégicos” partilhados pelo Governo. Certamente vão-se rebelar, e o MLSTP vai tremer. Resta saber se o Presidente do partido e Primeiro Ministro JBJ, conseguirá conter os abalos que em curto prazo, sacudirão o MLSTP.

Para já JBJ, pediu aos militantes do partido, sobretudo os militantes de base, que amam o MLSTP de forma incondicional, sem quaisquer interesses ou busca de dividendos, para que sejam a retaguarda segura do seu Governo. Foi na reunião do Conselho Nacional do partido realizada no último sábado.

Abel Veiga | Téla Nón

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