Após dois meses como Primeiro
Ministro e Chefe do Governo de São Tomé e Príncipe, Jorge Bom Jesus, que ainda
beneficia do período de graça, proferiu no contacto com a população do distrito
de Lobata, uma declaração que despertou a atenção do Téla Nón, e de alguns
cidadãos atentos. «Eu tenho dito que não estou preocupado com o número de dias
que eu vou permanecer no Governo, ou a testa do Governo. Cada dia vai ser um
dia de realização, seja quanto tempo for, quererei é sair disto com o
sentimento do dever cumprido», afirmou o Chefe do Governo.
Jorge Bom Jesus fez tais
declarações no âmbito da auscultação das populações do distrito de Lobata com
vista a elaboração do orçamento geral do Estado de 2019.
De repente, para a opinião
pública nacional atenta, o Chefe do Governo são-tomense, deixou entender que já
não tem certeza se cumprirá os 4 anos, que a constituição política define como
tempo de mandato de um governo constitucional.
Jorge Bom Jesus é Presidente do
partido MLSTP, que tem 23 assentos no parlamento. O acordo de incidência
parlamentar com a coligação PCD-MDFM-UDD com 5 deputados, gerou uma nova
maioria de 28 mandatos que governa o país desde 3 de Dezembro de 2018. Do outro
lado da barricada está o partido ADI na oposição com 25 assentos e o Movimento
Caué (ligado a Cervejeira Rosema), com 2 assentos.
O Téla Nón sabe que a forma como
o novo líder do MLSTP e Primeiro Ministro tem repartido os cargos ou “tachos”
na administração pública, está a provocar tensão e crispação no seio do MLSTP.
Muitos militantes de cúpula estão zangados com o Primeiro Ministro, por terem
ficado de fora na distribuição das pastas ministeriais ou na repartição dos
“tachos estratégicos” na administração pública.
O Téla Nón apurou que os
militantes de cúpula do MLSTP que ficaram à margem do “bolo” Estatal, estão a
agir no sentido de pressionar o Chefe do Governo, para travar uma alegada
“influência exagerada” que a coligação PCD-MDFM-UDD, está a ter em alguns
sectores ditos estratégicos da governação e, sobretudo na casa parlamentar.
Um clima de pressão que com o
andar do tempo, poderá gerar choques entre o MLSTP e a Coligação. Um cenário de
crispação que a agudizar-se nesta legislatura, inevitavelmente causará por um
lado, a queda do Governo “JBJ”antes do final do mandato legal de 4 anos, e por
outro lado, poderá garantir o regresso imediato do partido ADI ao poder.
Com 25 mandatos, e mais 2 do
movimento Caué, sem necessidade de novas eleições, o Partido ADI pode encontrar
na coligação (PCD-MDFM-UDD), que é da sua linhagem política(Família da
Mudança), o apoio parlamentar alargado para voltar a governar o país, e
redistribuir os “Tachos”que o MLSTP partilhou nos últimos meses.
O clima de pressão por causa de
interesses pessoais em tachos e outras regalias do poder, se abate sobre a Nova
Maioria(MLSTP/Coligação), e certamente tira discernimento a qualquer Primeiro
Ministro, para avaliar e com exactidão, o tempo em que permanecerá no governo,
ainda mais quando se trata de uma maioria muito curta, que desfaz-se com apenas
a vacilação de um deputado.
O cenário político actual, em que
o Chefe do Governo já não sabe o tempo em que permanecerá no governo,
transforma o congresso do partido ADI marcado para 30 de Março próximo, num
farol que vai pôr luz sobre cenário futuro. Se Patrice Trovoada, que acabou por
ser o factor da União dos Partidos que formam a actual nova maioria, deixar a
liderança da ADI, e passar o testemunho para a nova geração- Esperança da ADI,
o tempo da actual nova maioria, pode ficar mais curto.
Ainda mais, quando o clima de
tensão que muitos militantes de cúpula do MLSTP, estão a lançar no ambiente
político, deverá aumentar de intensidade nas próximas semanas, caso o Supremo
Tribunal de Justiça de São Tomé e Príncipe, avance com o processo de devolução
da cervejeira Rosema, ao seu proprietário original o empresário angolano Melo
Xavier.
Trata-se de um caso judicial que
em 2018, quase matava o partido MLSTP. Alguns militantes de cúpula do MLSTP
auferem rendimentos significativos, fruto da venda de centenas de grades de
cervejas, que há vários anos a administração da cervejeira concede a tais
militantes de cúpula do MLSTP.
A passagem da cervejeira para
outro proprietário significará a bancarrota para tais militantes de cúpula do
MLSTP, ainda mais por terem sido afastados dos “tachos estratégicos”
partilhados pelo Governo. Certamente vão-se rebelar, e o MLSTP vai tremer.
Resta saber se o Presidente do partido e Primeiro Ministro JBJ, conseguirá
conter os abalos que em curto prazo, sacudirão o MLSTP.
Para já JBJ, pediu aos militantes
do partido, sobretudo os militantes de base, que amam o MLSTP de forma
incondicional, sem quaisquer interesses ou busca de dividendos, para que sejam
a retaguarda segura do seu Governo. Foi na reunião do Conselho Nacional do
partido realizada no último sábado.
Abel Veiga | Téla Nón
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