sábado, 18 de maio de 2019

Futebol à portuguesa | Não há precedentes históricos que dêem esperança ao Porto


Última jornada

Jogam-se este sábado os encontros decisivos para a atribuição do título nacional: o Benfica entra na última jornada do campeonato com tudo a seu favor - está a apenas um ponto do título, defrontando em casa um descansado Santa Clara, e os números e a história estão claramente do seu lado, enquanto ao Porto somente um milagre na Luz e uma vitória caseira sobre o Sporting pode valer o bicampeonato.

Para os encarnados perderem o título seria necessário fazerem aquilo que ainda não fizeram desde a chegada de Bruno Lage ao comando técnico da equipa: sofrerem uma derrota no campeonato. Somam 17 vitórias em 18 jogos (a exceção foi o 2-2 caseiro com o Belenenses na Luz), um percurso quase limpo que permitiu uma recuperação que pouca gente esperava.

Ora, nunca na história da liga portuguesa (iniciada em 1934) um líder à entrada da última jornada perdeu o campeonato por causa de uma derrota na derradeira ronda da prova.



A única situação em que se deu uma troca de posições entre primeiro e segundo classificados na última jornada aconteceu em 1955, quando o líder Belenenses empatou em casa com o Sporting (e esteve a vencer até aos 86 minutos de jogo) e perdeu o campeonato para o Benfica, que nessa ronda venceu na Luz o Atlético, por 3-0).

Recorde-se que na situação atual o Benfica, além de não receber um grande (que ainda por cima era então tetracampeão), até pode empatar neste último jogo.

Campeão em caso de empate

Fomos procurar na história casos em que o líder entrava na última jornada sabendo que até podia empatar em casa para ser campeão. A derradeira ocasião em que tal sucedeu foi em 2009/10, quando o Benfica recebeu e bateu o Rio Ave, com dois golos de paraguaio Cardozo (que lhe valeram a Bola de Prata após disputa com o portista Falcão). À mesma hora o Braga, que matematicamente ainda podia chegar ao título se o Benfica perdesse, não conseguiu melhor do que empatar (1-1) em casa do Nacional de Madeira.

A situação anterior nestas condições teve lugar mais de trinta anos antes, em 1978/79: após uma intensa luta com o Benfica, o Porto precisava somente do empate na última jornada nas Antas, perante o Barreirense, e venceu por 4-1, garantindo o bicampeonato (após os tais 19 anos sem vencer o título). Cenário semelhante viveu o Benfica em 1968, goleando (8-0) o Varzim na Luz, quando o empate lhe bastava, com seis golos de Eusébio, que assim conquistou a primeira Bota de Ouro da história, batendo a concorrência do também famoso goleador alemão Gerd Muller.

Os dois outros casos parecidos aconteceram na longínqua década de trinta: em 1939, o Porto empatou a três golos no seu campo da Constituição com o Benfica, resultado que lhe garantiu o título mesmo à tangente, e em 1937 os encarnados até podiam empatar em casa na última ronda mas não fizeram por menos e golearam (6-0) os portistas.

Ou seja, em cinco casos do mesmo tipo nunca a equipa da casa, sendo líder do campeonato, desperdiçou a vantagem de poder empatar na derradeira ronda para chegar ao título. E quase sempre venceu por números claros.

Aliás, não costuma mesmo haver grandes dramas para os líderes na última jornada: em 30 casos de disputa até ao derradeiro jogo, 29 foram favoráveis aos líderes. A exceção é mesmo o Belenenses de 1955, como vimos atrás.

O teste final para o Benfica de Lage

À história juntam-se outros números para que que quase ninguém acredite realmente que o Benfica possa perder o campeonato na última ronda, perante o seu público, face a uma equipa descansada na tabela.

Fomos dar uma espreitadela às casas de apostas e, num apanhado geral, estas calculam em 4% as probabilidades do Benfica perder em casa com o Santa Clara. E convém lembrar que a estas probabilidades há ainda que juntar a necessidade do Porto vencer o Sporting para ser campeão, em caso de derrota dos encarnados.

Independentemente do que acontecer este sábado, esta foi uma longa luta a dois: recorde-se que à jornada 22, com a derrota do Braga em Alvalade, Porto e Benfica ficaram claramente isolados na frente da Liga: o Porto com 54 pontos e o Benfica com 53.

Depois disso, foram 11 jornadas em que as duas equipas ganharam quase sempre. Os encarnados somaram 10 triunfos e os portistas nove. Como acontecera na época anterior, o campeonato terá ficado decidido no jogo entre os dois conjuntos, com a derrota da equipa que ia à frente na sua própria casa perante o rival direto (desta vez à 24ª jornada, no Dragão; na época passada fora à jornada 30, na Luz).

Agora, perante o Santa Clara, no jogo da verdade, os encarnados apenas têm que manter o seu desempenho na prova (sem derrotas), desde a chegada de Bruno Lage, para serem campeões, podendo mesmo chegar ao golo 100. Têm nesta altura 99, mais 27 do que o Porto e 28 do que o Sporting). Não se confirma assim a ideia de que os ataques ganham jogos mas as defesas vencem campeonatos (o Benfica tem 30 golos sofridos contra 19 do Porto)

Note-se que, com Lage, o Benfica marcou 68 golos em 18 jogos (3,8 por encontro), contra 31 golos nos primeiros 15 jogos (exatamente o mesmo número do Porto). Nesse sentido, o Porto manteve mais ou menos a média de dois golos por jogo desde aí, enquanto o Benfica quase a duplicou.

Curiosamente, em todo o campeonato o Benfica tem sofrido a maioria dos golos em casa (16 contra 14), marcando também mais em casa (59 do total de 99). Isto dá um resultado médio caseiro de quase 4-1.

Mas convém perceber que nem tudo poderão ser facilidades na derradeira partida na Luz. O Santa Clara é uma das únicas seis equipas com saldo de golos positivo no campeonato, a par dos quatro primeiros e do Vitória de Guimarães, e como tal poderá não ser o convidado mais agradável para a "festa". Isto também porque:

- O Santa Clara é a sexta equipa do campeonato com melhor desempenho fora de casa, logo a seguir aos cinco primeiros, com seis vitórias, quatro empates e seis derrotas

- Os açorianos têm a terceira melhor defesa fora de casa, com somente 15 golos sofridos (contra 18 do Sporting, 14 do Benfica e 11 do Porto)

- Apenas perderam três vezes por dois golos de diferença e nunca por três ou mais.
- No Dragão, em Alvalade e em Braga perderam sempre por 1-0.

- É uma das quatro equipas (juntamente com os três grandes) que tem apenas uma derrota nos últimos seis jogos - nos quais curiosamente somente venceu um, empatando quatro.

- É a melhor equipa da liga fora do círculo dos três grandes em termos de golos obtidos na sequência de bolas paradas (sem contar penáltis).

Apesar de tudo isto, o histórico de confrontos entre Benfica e Santa Clara é claramente favorável aos encarnados: em oito jogos, sete vitórias do Benfica e um empate, com 13 golos marcados e dois sofridos. Em casa das águias, estas conseguiram o pleno: quatro jogos, quatro vitórias (somente um golo concedido).

Finalmente, deve dizer-se que no jogo da Luz há ainda essa luta particular de Seferovic para ser o melhor marcador do campeonato: tem neste momento 21 golos, mais um do que Bruno Fernandes. Mas até poderá muito bem acontecer que Bruno Fernandes não vá a jogo no Dragão, por estar em risco de exclusão da final da Taça se vir um cartão amarelo perante o Porto.

Nota: Este foi o tema central do programa Números Redondos desta semana (na antena da TSF, às sextas-feiras, às 20.30) - que pode ouvir aqui, na íntegra - no qual abordamos ainda a "final" da luta pela manutenção entre Tondela e Chaves e destacamos os números do treinador bicampeão inglês Pep Guardiola.

TSF

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