África fornece um campo de
visibilidade que prova a prática de conspiração
Martinho Júnior, Luanda
Em África, a contradição
dialética entre as culturas dos povos nómadas e seminómadas, habitantes dos
maiores e mais quentes desertos e savanas do globo e as culturas essencialmente
sedentárias dos povos instalados nas regiões tropicais fulcrais em água para
todo o continente, onde o espaço vital é alvo duma cada vez mais acirrada
disputa, é um manancial de ingerência e manipulação do qual deriva toda a
manobra da prática de conspiração nos termos que interessam, no absoluto e no
detalhe, ao domínio hegemónico e unipolar da aristocracia financeira mundial.
É nesse plasma dialético
injectado em África, tornado “globalização”, que as geoestratégias
dominantes se vão distendendo com práticas de conspiração, evidenciando-se as
acções que têm vindo a incidir sobre a Líbia, o Sahara, a África do Oeste e por
todo o Sahel, por um lado, face às acções que por outro lado, têm vindo a
incidir sobre o Uganda, o Ruanda, o Burundi e o este da RDC, ou seja, nos
Grandes Lagos e nas regiões onde nascem as três principais bacias hidrográficas
do continente, o Congo, o Nilo e Zambeze… (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/04/28/africa-da-inercia-a-catastrofe/).
Instalados os fulcros da
contradição, a ingerência e a manipulação dominante espraiam-se em raios de distinta
intensidade e de forma a que país africano algum seja desse “pendor” de
manobra excluído!
Há um instrumento de medida e
estatística: as capacidades de produção de mensagens dirigidas a África e as
premissas de guerra psicológica de maior ou menor intensidade (“soft power”),
correspondem a esse tipo de impulsos e são produzidas em quantidades tais que
em muito superam as mensagens dos africanos em relação a si prórios!
1- O Instituto Para Estudos
Estratégicos e Políticos Avançados (The Institute for Advanced Strategic
& Political Studies, IASPS –http://www.iasps.org/mission.php), é um “think tank” inaugurado
em 1984, sediado em Jerusalém e com delegação em Washington, vocacionado para estudos
de natureza geoestratégica em suporte do império da hegemonia unipolar. (http://www.historycommons.org/entity.jsp?entity=institute_for_advanced_strategic_and_political_studies).
Desde o início do século XXI, que
forjou a sua capacidade analítica relativa a assuntos do Médio Oriente Alargado
e a África, adaptando-se ao capitalismo neoliberal que ocupou o espaço vazio dos
países socialistas após a “implosão” da URSS…
Em 2002 duas significativas
matérias estavam em debate nas mesas do IASPS, integrando o Projecto para o
Novo Século Americano (https://plutocracia.com/projecto_para_o_novo_seculo_americano.html),
um plano que hoje, tendo desaparecido da net, está a ser revigorado com a
adm8nstração republicana do Presidente Donald Trump e seus falcões (https://actualidad.rt.com/opinion/luis-gonzalo-segura/306743-acuerdos-petroleros-internacionales-reflejan-debilidad-eeuu):
- A gestação do African Oil
Policy Initiative Group, em suporte da administração republicana de George W.
Bush e da panóplia de iniciativas a desenvolver em relação a África
sub-sahariana ao nível do petróleo no Golfo da Guiné (que iria incluir os
fundamentos para o surgimento do AFRICOM); (http://www.sourcewatch.org/index.php/African_Oil_Policy_Initiative_Group);
- O Projecto de Água e Energia
GWEST (Global Water & Energy Strategy Team) desde logo relativo à
Turquia e ao Mar Cáspio, que se implicou como elemento reitor das
geoestratégias israelitas na direcção quer do Médio Oriente Alargado, quer na
direcção de África, tendo sempre em conta a questão básica e essencial da
escassez de água interior em Israel. (https://www.sourcewatch.org/index.php?title=Global_Water_%26_Energy_Strategy_Team).
As linhas de abordagem
geoestratégica integradas nos temas energia e águas interiores em 2002 eram
portanto já evidentes como linhas essenciais para o IASPS definir as opções e
programas para o século XXI, podendo integrar múltiplas matérias subjacentes,
entre elas as orientadoras para a conversão da indústria mineira, tornando-a
apta a fornecer as indispensáveis matérias-primas para as novas tecnologias da
contemporânea revolução tecnológica.
A sobrevivência de Israel está
intimamente associada a essa abordagem geoestratégica.
O seu quadro humano da época
espelhou a natureza dessas preocupações prioritárias.
É evidente que no mínimo o IASPS
foi um “think tank” inspirador para os que, a partir da contradição
fundamental inerente às culturas reitoras em África, desenvolverem todas as
receitas e práticas conspirativas por todo o continente, não só na direcção
daqueles que são alvo de caos, de terrorismo e de desagregação, como aqueles,
alvo de ingerências, impactos e manipulações motivadoras de capitalismo
neoliberal.
A guerra psicológica em curso
sobre o continente, espelha também esse espectro geoestratégico! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/06/a-guerra-psicologica-do-imperio-da.html).
Em todos os casos a ofensiva
imperialista da hegemonia unipolar, provocou um novo paradigma de
neocolonialismo em curso por toda a África, com uma intensidade nunca antes
experimentada. (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/01/07/africa-dilecto-alvo-neocolonial/).
2- A gestação do AFRICOM
correspondeu aos dois paradigmas essenciais do IASPS – energia e águas
interiores: as pistas em termos do carácter e dos contactos dos personagens
envolvidos vão todas nessa direcção, desde o berço de sua constituição.
Dissequei muitos dos contenciosos
desse “berço” em 2015 e 2016, com a série “O Laboratório AFRICOM”,
(https://paginaglobal.blogspot.com/2015/08/o-laboratorio-africom-i.html)
mas hoje as práticas conspirativas em relação a África tornaram-se ainda mais
amplas, intensivas e visíveis, num cenário completamente desfavorável aos
interesses dos tão vulnerabilizados estados africanos e dos seus povos:
Se efectivamente compararmos
estatisticamente a quantidade diária das mensagens produzidas pelos africanos
sobre assuntos do seu próprio continente, com a quantidade de mensagens
externas relativas a África, o saldo é esmagador, sobretudo a favor das
mensagens das correntes dominantes dos Estados Unidos e da União Europeia, que
invadem, impactam e moldam além do mais os meios de informação (?) pública no
continente-berço!...
O nº X de “O Laboratório
AFRICOM” foi propositadamente publicado agora (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/06/o-laboratorio-africom-x.html),
tendo em conta o cômputo de nterpretações suscitadas em 2015 e 12016, de forma
a poder inventariar com mais detalhe o tema em 2020!
O esforço “soft power” do
império da hegemonia unipolar, começando a enfrentar tantas dificuldades no
Médio Oriente Alargado, (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/05/imperio-da-hegemonia-unipolar-esta.html)
intensificou-se em África nos termos duma nova“guerra fria” contra a
República Popular da China e seus aliados emergentes, que em África vão
procurando encontrar outros parâmetros de relacionamento internacional
apostando em investimentos importantes na construção de infraestruturas e
abrindo caminho à cultura da não ingerência nos assuntos africanos. (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/01/capitalismo-reconversao-e-continuidade.html).
A extensão da Nova Rota da Seda a
África, (http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/portos-de-angola-e-mocambique-ligados-a-nova-rota-da-seda)
particularmente concentrada na África Oriental e Corno de África (em torno de
Djibouti), é um contencioso-alvo para os Estados Unidos na azáfama do que o
império da hegemonia unipolar está a aplicar a África!
Nessa “nova guerra fria” as
posições dos Estados Unidos e de vassalos neocoloniais e neocolonialistas como
a França, a Espanha, a Itália e Portugal, têm assumido vantagens na África do
Norte, na África do Oeste, no Sahel, na África Central (Grandes Lagos) e em
franjas da África Austral como em Angola e em Moçambique. (https://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/10/05/o-fardo-da-hegemonia/).
As práticas de conspiração em
espiral e a partir de fulcros contraditórios como a Líbia e o Ruanda, estão a
dar os seus frutos para o sistema do domínio de 1% sobre o resto da humanidade,
sob um sanguinolento tapete de intermináveis tensões, conflitos e guerras que
tendem em redesenhar o mapa decorrente da Conferência de Berlim, instaladas que
estão as esferas de influência arquitectadas sobretudo pelos anglo-saxões e
sionistas, explorando tutelas via AFRICOM. (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/04/28/africa-da-inercia-a-catastrofe/).
3- O esmagamento de Kadafi na
Líbia (http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/opcao-pelo-inferno.html)
e a espiral de caos que se seguiu, afectou a imensa região dos desertos e
savanas quentes do Sahara e do Sahel, com a disseminação dos impactos dos
radicais islâmicos sunitas e wahabitas desde o Cabo Verde, no Senegal, até aos
cabos do leste da ilha de Socotra, que pertencente ao Iémen e continua Índico
Norte adentro o Corno de África! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/06/18/charla-debate-sobre-libia-y-africa-con-patrick-mbeko/).
O que Kadafi havia erigido na
Líbia (https://www.voltairenet.org/article171767.html),
em termos de independência, soberania, desenvolvimento e bem-estar para o seu
povo e em benefício dos povos africanos e da OUA, eclipsou-se numa espiral de
caos, de terrorismo e de desagregação que afectou a África do Oeste, a África
Central e o Corno de África, envolvendo todo o Sahel até ao Lago Chade (Boko
Haram), a bacia do Nilo (a artificiosa divisão e vulnerabilidade do Sudão) e a
bacia do Congo (Grandes Lagos e República Centro Africana)… (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/04/pesadas-penas-neocoloniais-para-africa-i.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/04/pesadas-penas-neocoloniais-para-africa.html).
Em 2011 e nos anos que se lhe
seguiram, acompanhei a evolução dessa disseminação que tacitamente tanto tem a
ver com o persuasivo “soft power” insuflado no laboratório AFRICOM
por via dos grandes falcões anglo-saxónicos e sionistas. (http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/novo-desastre-programado-para-africa.html).
Um
ponto de situação exaustivo é-nos lembrado aqui, espelhando a colecção
informativa e analítica dos palestinos: (http://uprootedpalestinians.blogspot.com/2012/05/zionist-infestation-of-africa-revisited.html).
O movimento de nómadas e
seminómadas, em direcção da África do Norte e Mediterrâneo, como em direcção à
região vital das grandes Nascentes e Grandes Lagos do espaço continental
africano (em direcção da África Central e Austral), está a ser
oportunisticamente aproveitado para injectar ainda mais disputas
(fundamentalismo radical islâmico de origem sunita/wahabita, caos, terrorismo e
desagregação), numa manobra que aumenta exponencialmente o coque constante a
que está sujeita a imensa região vital da África tropical rica em água
interior, onde se encontra as culturas sedentarizadas do continente! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/12/irracionalidade-humana-na-subversao-de.html).
4- A posição dominante do império
da hegemonia unipolar nos Grandes Lagos e região das nascentes dos maiores rios
africanos (repito o Nilo, o Congo e o Zambeze), a posição dominante na área de
espaço vital equatorial, sobretudo enquadrado entre os Trópicos de Câncer e
Capricórnio, foi conquistado pelo lóbi dos minerais sob regência da
administração democrata de Bill Clinton, com a ascensão de Paul Kagame ao poder
no Ruanda, (https://blackagendareport.com/praise-blood-crimes-rwandan-patriotic-front-0)
o que explica em parte os êxitos (em termos de capitalismo neoliberal) do
próprio Ruanda!
As contradições internas do
próprio Ruanda foram aproveitadas para o raio de expansão na Região dos Grandes
Lagos e nascentes do Congo, Nilo e Zambeze! (http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/rwanda/etc/interview.html).
Quer dizer por outro lado, os
impactos dos movimentos de pressão fundamentalista islâmica dirigem-se para uma
região de culturas eminentemente sedentárias, previamente “preparadas”, (https://sfbayview.com/2017/09/bill-clintons-favorite-african-paul-kagame-wins-re-election-by-99-percent-arrests-opponent/)
mas também ela sob controlo remoto dos interesses da hegemonia, ampliando assim
o espectro controlado das contradições e jogando, com poucos obstáculos, com o
injectado fundamentalismo, caos, terrorismo e desagregação! (https://umoya.org/2019/06/18/nueva-guerra-ruanda/).
Essa essência da ingerência em
nome do império da hegemonia unipolar, ali onde não há Nova Rota da Seda, dilui
até ver a emergência da influência da China e dos BRICS nas contradições
transversais em África, inclusive nos Congos e República Centro Africana, onde
apesar de tudo a Rússia se movimenta também mais à vontade!
O Ruanda como fulcro catalisador
da manobra hegemónica nos Grandes Lagos, tendo em conta a água interior e os
minerais que são matérias-primas para as novas tecnologias da Nova Revolução
Tecnológica decorrente, beneficia de toda a propaganda e publicidade, como um
factor gerador de influências e de mobilização no largo espectro dos Grandes
Lagos e região das nascentes de três dos maiores grandes rios africanos!... (https://umoya.org/2019/05/07/marginacion-hutu-ruanda/).
5- Em jeito de conclusão:
Os Estados Unidos possuem ainda
incomensuráveis capacidades geoestratégicas de ingerência e manipulação
neocolonial em África, que recorrem a seus vassalos da NATO e “parcerias” agenciadas
em muitas elites africanas afins, explorando os processos contraditórios entre
as regiões de desertos e savanas quentes e pobres em água (onde proliferam as
culturas nómadas e seminómadas), face às regiões equatoriais ricas em água e
espaço vital (onde proliferam as culturas sedentárias ainda que em regimes de
autossubsistência).
Ganhar consciência dialética
dessa situação crítica relativa a África, é um primeiro passo de consciência
crítica e rebelde, nos termos da lógica com sentido de vida, das possibilidades
de desencadear uma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável como um
processo de paz para todo o continente africano e desse modo, gerar a cultura
de inteligência pan-africanista capaz de enfrentar os fenómenos climáticos e
ambientais que estão a atirar os africanos, a própria humanidade, para o
abismo!
Martinho Júnior - Luanda, 22 de Junho de 2019
Imagens:
01- Mapas de estudo sobre o
relacionamento dos factores físico-geográfico-ambientais com os factores
humanos;
02- Mapas sobre as migrações
africanas contemporâneas;
03- Mapa relativo ao caos,
terrorismo e desagregação injectados na Líbia;
04- O plano da CIA que acabou por
ser aplicado na ascensão de Paul Kagame no Ruanda, Grandes Lagos e região das
nascentes de três dos maiores rios africanos;
05- Paul Kagame com Netanyahu,
uma vocação para os impactos da hegemonia unipolar em África, explorando
processos contraditórios e disseminando expansão.
A consultar:
O LABORATÓRIO AFRICOM
O Laboratório AFRICOM – I – https://paginaglobal.blogspot.com/2015/08/o-laboratorio-africom-i.html
O Laboratório AFRICOM – II
– https://paginaglobal.blogspot.com/2015/08/o-laboratorio-africom-ii.html
O Laboratório AFRICOM – III
– https://paginaglobal.blogspot.com/2015/08/o-laboratorio-africom-iii.html
O Laboratório AFRICOM – IV
– https://paginaglobal.blogspot.com/2015/08/o-laboratorio-africom-iv.html
O Laboratório AFRICOM – V – https://paginaglobal.blogspot.com/2015/09/o-laboratorio-africom-v.html
O Laboratório AFRICOM – VI
– https://paginaglobal.blogspot.com/2015/09/o-laboratorio-africom-vi.html
O Laboratório AFRICOM – VII
– https://paginaglobal.blogspot.com/2015/10/o-laboratorio-africom-vii.html
O Laboratório AFRICOM – VIII
– https://paginaglobal.blogspot.com/2015/10/o-laboratorio-africom-viii.html
O Laboratório AFRICOM – IX
– https://paginaglobal.blogspot.com/2015/11/o-laboratorio-africom-ix.html
O Laboratório AFRICOM – X – https://paginaglobal.blogspot.com/2019/06/o-laboratorio-africom-x.html
O Laboratório AFRICOM – XI
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/12/o-laboratorio-africom-xi.html
O Laboratório AFRICOM – XII
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/12/o-laboratorio-africom-xii.html
O Laboratório AFRICOM – XIII
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2015/12/o-laboratorio-africom-xiii.html
O Laboratório AFRICOM – XIV
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/o-laboratorio-africom-xiv.html
O Laboratório AFRICOM – XV
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/o-laboratorio-africom-xv.html
O Laboratório AFRICOM – XVI
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/o-laboratorio-africom-xvi.html
O Laboratório AFRICOM – XVII
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/o-laboratorio-africom-xvii.html
O Laboratório AFRICOM – XVIII
– http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/01/o-laboratorio-africom-xviii.html
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