Pedro Ivo Carvalho | Jornal de
Notícias | opinião
Vítor Constâncio rejeita ser o
culpado. Mas a sua insistência em transformar-se na vítima é difícil de
engolir. Compreende-se que o ex-governador do Banco de Portugal não se recorde,
com um grau de detalhe que seria patriótico, de todos os episódios daquele
verão quente de 2007, em que uma elite montada a cavalo no bem público (não é
sempre assim?) gizou um plano para tomar de assalto um banco privado (BCP) na
garoupa de um banco do Estado (CGD).
Porém, a estratégia por ele
seguida nas duas idas à Comissão Parlamentar de Inquérito à Caixa foi apenas um
exercício esforçado, mas não conseguido, de fuga para a frente. E, sobretudo,
foi muito pouco esclarecedora sobre o essencial. Afinal, para que serve um
regulador que não é capaz de regular uma transação duvidosa que, soubemos
depois, significou uma perda de dois mil milhões de euros para os
contribuintes?
Constâncio explicou: não podia
ter tido acesso prévio à operação de empréstimo de 350 milhões de euros da
Caixa a Berardo para adquirir uma posição qualificada no BCP; e, uma vez em
marcha, também não podia ter travado o negócio (embora aqui haja interpretações
díspares sobre a real capacidade em fazê-lo). Em síntese: agiu como agiu porque
quis respeitar escrupulosamente a lei.
Saúda-se o compromisso de seguir
as normas. A um regulador não se pede que usurpe as funções legais, mas
exige-se que, no âmbito das mesmas, não afaste todos os mecanismos (incluindo o
da influência política e mediática, a que Constâncio tanto tem recorrido nos
últimos dias para se defender), no sentido de impedir aventureirismos que, no
final, resultem não apenas em danos irreversíveis para o mercado, mas sobretudo
em faturas avultadas pagas por nós.
Na história trágica da Caixa já
sabíamos quem eram os fora da lei. Agora, descobrimos que o único homem que
tinha verdadeiramente o poder para evitar um negócio ruinoso só não o fez
porque era um dentro da lei.
Diretor-adjunto
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