sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Ataque de longa distância a campo de petróleo saudita põe fim à guerra contra o Iémene


Hoje (17.08) afinal a Arábia Saudita foi derrotada na guerra contra o Iémene. Não teve defesas contra as novas armas que os Houthis no Iémene adquiriram. Essas armas ameaçam as linhas de sobrevivência económica dos sauditas. Esse foi hoje o ataque decisivo:

Drones disparados pelos rebeldes Houthis do Iémene atacaram no sábado um campo gigante de petróleo e gás, em área profunda no vasto território desértico da Arábia Saudita, causando o que o reino descreveu como “incêndio limitado” no segundo ataque recente desse tipo contra a sua crucial indústria de energia. 

A nota emitida pelos sauditas apareceu por vídeo, horas depois da declaração de Yahia Sarie, porta-voz militar dos Houthis, na qual os Houthis informam que os rebeldes lançaram 10 drones armados com bombas contra o campo, na sua “maior operação de todos os tempos”. E ameaçam que novos ataques virão.


O ataque é um xeque-mate contra os sauditas. Shaybah está a cerca de 1.200 quilómetros (750 milhas) de distância do território controlado pelos Houthis. Há muitos outros alvos económicos importantes nesse raio de alcance:

A distância entre o campo e o território controlado pelos rebeldes no Iémene demonstra o alcance dos drones dos Houthis. Investigadores da ONU dizem que o novo Veículo Não Tripulado [ing. Unmanned Aerial Vehicle] UAV-X dos Houthis, que se viu em meses recentes na guerra liderada pelos sauditas contra o Iémene, parece ter alcance de até 1.500 quilómetros (930 milhas). Assim, os campos de petróleo sauditas; uma usina nuclear em construção nos Emirados; e o muito movimentado aeroporto internacional de Dubai ficam expostos àqueles drones.

Analistas acreditam que, diferentes dos sofisticados drones pilotados à distância por pilotos que recebem dados de satélites, os drones dos Houthis parecem ser programados para atingir latitude e longitudes definidas, e não podem ser controlados quando já não estejam ao alcance do rádio. Os Houthis usaram drones que podem ser difíceis de rastrear por radar, para atacar baterias de mísseis Patriot dos sauditas e tropas inimigas.

O ataque mostra conclusivamente que os ativos mais importantes dos sauditas já estão sob ameaça. Essa ameaça económica soma-se a um déficit de 7% no orçamento que o FMI prevê para Arábia Saudita. Mais bombas sauditas contra os Houthis passam agora a ter custo adicional muito significativo, que pode inclusive implicar risco para a viabilidade do estado saudita. Os Houthis pegaram pelos colhões o príncipe Mohammad bin Salman e podem apertar à vontade.

Os drones e mísseis que os Houthis usam são cópias de projetos iranianos montados no Iémene com a ajuda de especialistas do Hizbullah libanês. Há quatro dias, uma delegação de Houthis visitou o Irão. Durante a visita, o Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei admitiu, pela primeira vez em público, que os Houthis têm o apoio do Irã:

“Declaro apoio à resistência dos fiéis, homens e mulheres do Iémene (…) O povo do Iémene estabelecerá governo forte” – informou a TV estatal, citando Khamenei, em fala numa reunião com o principal negociador do movimento Houthi, Mohammed Abdul-Salam, que o visitava em Teerão.

Khamenei, que pela primeira vez participou de conversações em Teerão com alto representante dos Houthis, também conclamou para uma “forte resistência contra os complôs montados pelos sauditas para dividir o Iémene” – noticiou a Agência Fars de Notícia, semiestatal.

“Deve-se endossar um Iémene unificado e coerente, com integridade soberana. Dada a diversidade religiosa e étnica do Iémene, proteger a integridade do Iémene exige diálogo doméstico” – disse o Supremo Líder, citado pela TV.

A visita a Teerão provou que o movimento Houthi já não é movimento isolado, não reconhecido:

Funcionários do Irã, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália, além do movimento Houthi Ansarullah do Iémene, trocaram ideias sobre meios para chegar a uma solução política para a já tão longa guerra no país da Península Árabe.

reuniões aconteceram no Ministério de Relações Exteriores do Irão no sábado, com participação de delegações do Irão, do movimento Ansarullah e de quatro países europeus.

Os delegados explicaram a posição e as ideias dos respectivos governos sobre desenvolvimentos no Iémene, incluindo desenvolvimentos políticos e no campo de combate, bem como a situação humanitária no país.
Os delegados insistiram quanto à necessidade de pôr fim imediato àquela guerra, entendendo que os meios políticos são a via definitiva para solucionar a crise.

A guerra contra o Iémene, que MbS iniciou em março de 2015 já se provou definitivamente impossível de ser vencida, para a Arábia Saudita, há muito tempo. Agora está definitivamente perdida. Nem EUA nem europeus virão em socorro dos sauditas. Não há meios tecnológicos que garantam proteção razoável contra ataques como os que os sauditas sofreram agora. O pobre Iémene derrotou a rica Arábia Saudita.

Os sauditas terão de aceitar as negociações políticas pró-paz. O Iémene exigirá pagamentos de reparação do tipo que fazem gemer o devedor. Mas não haverá alternativa para os sauditas, que não seja pagar o quanto os Houthis cobrem.

Os Emirados Árabes Unidos agiram com inteligência, ao se retirarem do Iémene nos últimos meses. O objetivo de guerra deles era conseguir controlar o porto de Áden. A aliança dos Emirados com separatistas do sul do Iémene que atualmente controlam a cidade garante precisamente isso. Resta saber por quanto tempo conseguirão manter-se assim, dado que Khamenei rejeita qualquer ideia de se dividir o Iémene.

O ataque de hoje tem dimensão ainda maior, além de marcar o fim da guerra contra o Iémene. A evidência de que o Irão forneceu aqueles drones com alcance de 1.500 quilómetros aos seus aliados no Iémene significa que aliados do Irão no Líbano, Síria e Iraque também têm acesso a recursos similares.

Israel e Turquia terão de levar em consideração essa evidência. As bases dos EUA no Golfo Persa e no Afeganistão, também devem ficar espertas. O Irão não apenas tem mísseis balísticos para atacar aquelas bases: também têm drones contra os quais os sistemas de defesa aérea e mísseis dos EUA são mais ou menos imprestáveis. Só os Emirados Árabes Unidos, que compraram sistemas de defesa aérea Pantsir S-1 russos, montados em chassis de caminhão alemão MAN (!), têm algumas capacidades para derrubar aqueles drones. O Pentágono adoraria comprar alguns desses Pantsir S-1 russos.

Foi o uso pelos EUA de drones ‘invisíveis’ contra o Irão que permitiu que os iranianos capturassem um exemplar, o qual foi estudado e clonado. O extensivo programa iraniano de drones é nativo e bastante antigo, mas muito se beneficiou da tecnologia que os EUA, sem querer, lhes forneceram.

Todas as guerras que os EUA e aliados fizeram contra os povos no Oriente Médio, contra os afegãos (2001), contra os iraquianos (2003), contra os libaneses (2006), contra os sírios (2011), contra os iraquianos novamente em (2014) e contra o Iémene (2015), tiveram, como principal resultado não buscado, que fortaleceram o Irão e os aliados do Irão.

Há importante lição a aprender desses eventos. Mas nada indica que o rascunho de ser humano que reina em Washington DC tenha capacidade para compreender essas coisas.

Moon of Alabama, 17.08.2019 | Oriente Midia | Traduzido por Vila Mandinga

Imagem: Novos drones e mísseis exibidos em julho de 2019 pelas forças armadas do Iémene aliadas dos Houthis

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