Hoje (17.08) afinal a Arábia
Saudita foi derrotada na guerra contra o Iémene. Não teve defesas contra as
novas armas que os Houthis no Iémene adquiriram. Essas armas ameaçam as linhas
de sobrevivência económica dos sauditas. Esse foi
hoje o ataque decisivo:
Drones disparados pelos rebeldes
Houthis do Iémene atacaram no sábado um campo gigante de petróleo e gás, em área
profunda no vasto território desértico da Arábia Saudita, causando o que o
reino descreveu como “incêndio limitado” no segundo ataque recente desse tipo
contra a sua crucial indústria de energia.
A nota emitida pelos sauditas
apareceu por vídeo, horas depois da declaração de Yahia Sarie, porta-voz
militar dos Houthis, na qual os Houthis informam que os rebeldes lançaram 10
drones armados com bombas contra o campo, na sua “maior operação de todos os
tempos”. E ameaçam que novos ataques virão.
O ataque é um xeque-mate
contra os sauditas. Shaybah está a cerca de 1.200 quilómetros (750 milhas ) de distância
do território controlado pelos Houthis. Há muitos outros alvos económicos
importantes nesse raio de alcance:
A distância entre o campo e o
território controlado pelos rebeldes no Iémene demonstra o alcance dos drones
dos Houthis. Investigadores da ONU dizem que o novo Veículo Não Tripulado [ing.
Unmanned Aerial Vehicle] UAV-X dos Houthis, que se viu em meses recentes na
guerra liderada pelos sauditas contra o Iémene, parece ter alcance de até 1.500
quilómetros (930 milhas ).
Assim, os campos de petróleo sauditas; uma usina nuclear em construção nos
Emirados; e o muito movimentado aeroporto internacional de Dubai ficam expostos
àqueles drones.
Analistas acreditam que,
diferentes dos sofisticados drones pilotados à distância por pilotos que
recebem dados de satélites, os drones dos Houthis parecem ser programados para
atingir latitude e longitudes definidas, e não podem ser controlados quando já
não estejam ao alcance do rádio. Os Houthis usaram drones que podem ser
difíceis de rastrear por radar, para atacar baterias de mísseis Patriot dos
sauditas e tropas inimigas.
O ataque mostra conclusivamente
que os ativos mais importantes dos sauditas já estão sob ameaça. Essa ameaça
económica soma-se a um déficit de 7% no orçamento que
o FMI prevê para Arábia Saudita. Mais bombas sauditas contra os
Houthis passam agora a ter custo adicional muito significativo, que pode
inclusive implicar risco para a viabilidade do estado saudita. Os Houthis
pegaram pelos colhões o príncipe Mohammad bin Salman e podem apertar à vontade.
Os drones
e mísseis que os Houthis usam são cópias
de projetos iranianos montados no Iémene com a ajuda de especialistas
do Hizbullah libanês. Há quatro dias, uma delegação de Houthis visitou
o Irão. Durante a visita, o Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei admitiu, pela
primeira vez em público, que os Houthis têm o apoio do Irã:
“Declaro apoio à resistência dos
fiéis, homens e mulheres do Iémene (…) O povo do Iémene estabelecerá governo
forte” – informou a TV estatal, citando Khamenei, em fala numa reunião com o
principal negociador do movimento Houthi, Mohammed Abdul-Salam, que o visitava
em Teerão.
Khamenei, que pela primeira vez
participou de conversações em Teerão com alto representante dos Houthis, também
conclamou para uma “forte resistência contra os complôs montados pelos sauditas
para dividir o Iémene” – noticiou a Agência Fars de Notícia, semiestatal.
“Deve-se endossar um Iémene
unificado e coerente, com integridade soberana. Dada a diversidade religiosa e
étnica do Iémene, proteger a integridade do Iémene exige diálogo doméstico” –
disse o Supremo Líder, citado pela TV.
A visita a Teerão provou que o
movimento Houthi já
não é movimento isolado, não reconhecido:
Funcionários do Irã,
Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália, além do movimento Houthi Ansarullah do
Iémene, trocaram ideias sobre meios para chegar a uma solução política para a já
tão longa guerra no país da Península Árabe.
reuniões aconteceram no
Ministério de Relações Exteriores do Irão no sábado, com participação de
delegações do Irão, do movimento Ansarullah e de quatro países europeus.
Os delegados explicaram a posição
e as ideias dos respectivos governos sobre desenvolvimentos no Iémene, incluindo
desenvolvimentos políticos e no campo de combate, bem como a situação
humanitária no país.
…
Os delegados insistiram quanto à
necessidade de pôr fim imediato àquela guerra, entendendo que os meios
políticos são a via definitiva para solucionar a crise.
A guerra contra o Iémene, que MbS
iniciou em março de 2015 já
se provou definitivamente impossível de ser vencida, para a Arábia Saudita, há
muito tempo. Agora está definitivamente perdida. Nem EUA nem europeus virão
em socorro dos sauditas. Não há meios tecnológicos que garantam proteção
razoável contra ataques como os que os sauditas sofreram agora. O pobre Iémene
derrotou a rica Arábia Saudita.
Os sauditas terão de aceitar as
negociações políticas pró-paz. O Iémene exigirá pagamentos de reparação do tipo
que fazem gemer o devedor. Mas não haverá alternativa para os sauditas, que não
seja pagar o quanto os Houthis cobrem.
Os Emirados Árabes Unidos agiram
com inteligência, ao se retirarem do Iémene nos últimos meses. O objetivo de
guerra deles era conseguir controlar o porto de Áden. A aliança dos Emirados
com separatistas do sul do Iémene que
atualmente controlam a cidade garante precisamente isso. Resta saber
por quanto tempo conseguirão manter-se assim, dado que Khamenei rejeita
qualquer ideia de se dividir o Iémene.
O ataque de hoje tem dimensão
ainda maior, além de marcar o fim da guerra contra o Iémene. A evidência de que
o Irão forneceu aqueles drones com alcance de 1.500 quilómetros aos seus
aliados no Iémene significa que aliados do Irão no Líbano, Síria e Iraque também
têm acesso a recursos similares.
Israel e Turquia terão de levar
em consideração essa evidência. As bases dos EUA no Golfo Persa e no
Afeganistão, também devem ficar espertas. O Irão não apenas tem mísseis
balísticos para atacar aquelas bases: também têm drones contra os quais os
sistemas de defesa aérea e mísseis dos EUA são mais ou menos imprestáveis. Só
os Emirados Árabes Unidos, que compraram sistemas de defesa aérea Pantsir S-1
russos, montados em chassis de caminhão alemão MAN (!), têm algumas capacidades
para derrubar aqueles drones. O Pentágono adoraria comprar alguns desses
Pantsir S-1 russos.
Foi o uso pelos EUA de drones ‘invisíveis’
contra o Irão que permitiu que os iranianos capturassem
um exemplar, o qual foi estudado e clonado. O extensivo programa iraniano
de drones é nativo e bastante antigo, mas muito se beneficiou da
tecnologia que os EUA, sem querer, lhes forneceram.
Todas as guerras que os EUA e
aliados fizeram contra os povos no Oriente Médio, contra os afegãos (2001),
contra os iraquianos (2003), contra os libaneses (2006), contra os sírios
(2011), contra os iraquianos novamente em (2014) e contra o Iémene (2015), tiveram,
como principal resultado não buscado, que fortaleceram o Irão e os aliados do
Irão.
Há importante lição a aprender
desses eventos. Mas nada indica que o rascunho de ser humano que reina em
Washington DC tenha capacidade para compreender essas coisas.
Moon
of Alabama, 17.08.2019 | Oriente Midia | Traduzido por Vila Mandinga
Imagem: Novos drones e mísseis
exibidos em julho de 2019 pelas forças armadas do Iémene aliadas dos Houthis
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