Martinho Júnior, Luanda
SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE
NOVEMBRO DE 2019
Uma das maiores deficiências de
que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a
ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos
afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.
Essa falta de vontade e de
perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do
conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o
campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias
injectadas do exterior!
Isso permite que outros não abram
o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses,
manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as
interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!
In – Aprender reinterpretando – https://paginaglobal.blogspot.com/2019/06/angola-aprender-reinterpretando.html
Esta série pretende reabrir
dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da
América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas
um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e
corajosamente fazer!
Abrir os links permite
complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.
17- Entre 1961 e 1965 o MPLA foi
alvo de manobras cuja origem era identificada com os Estados Unidos e seus
aliados europeus e africanos, manobras essas no sentido de o inviabilizar por
completo, neutralizar a sua acção no terreno e na frente diplomática, assim
como “apagá-lo do mapa” do movimento de libertação em África! (https://www.academia.edu/9501562/Dos_nacionalismos_%C3%A0_guerra._Os_movimentos_de_liberta%C3%A7%C3%A3o_angolanos_-_1945_1965?email_work_card=interaction_paper).
A vida dura mas catalisadora foi
vivida pela própria família de António Agostinho Neto! (http://villasegolfe.co.ao/pt/articles/info/745/).
Alguns dos militantes do MPLA,
como a heroína Deolinda Rodrigues, haveriam de pagar com sua própria vida esse
abismo a que o império queria condenar deliberadamente o MPLA! (http://www.mpla.ao/oma.25/deolinda-rodrigues.29.html; https://pt.wikipedia.org/wiki/Deolinda_Rodrigues_Francisco_de_Almeida; https://revistaraca.com.br/a-historia-da-militante-angolana-deolinda-rodrigues/; https://opais.co.ao/index.php/2019/02/13/feitos-da-nacionalista-deolinda-rodrigues-recordados-em-palestra/).
A situação obrigava a
inquebrantável vontade de luta armada, nas condições mais difíceis, nos cabocos
da lógica com sentido de vida implícita já nos alvores do rumo em direcção à
autodeterminação e à independência! (https://journals.openedition.org/cea/135).
Os pesados reveses de então, mais
fortaleceram as convicções e a vontade do guia, assim como de todos os que com
ele se identificavam, no penoso mas decisivo rumo, na única via possível: a da
luta política sem fronteiras e a armada no interior! (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/o-comandante-a-guerrilha-e-a-formacao-do-exercito/fotos).
A busca incessante de unidade,
pela vontade do guia e de seus seguidores, sobrepôs-se a tendências
desagregadoras internas como a de Viriato da Cruz, obtendo pouco a pouco e cada
vez mais vitórias político-diplomáticas no ambiente internacional da época,
onde o colonialismo português e o “apartheid” haveriam de ser
politicamente condenados e derrotados, anos antes do seu colapso final!... (https://www.academia.edu/10513124/O_comunismo_de_Viriato_da_Cruz_e_os_seus_reflexos_no_nacionalismo_angolano?auto=download).
Outro sintoma haveria de ocorrer:
nas universidades portuguesas: depois da afirmação da Casa dos Estudantes do
Império (https://www.buala.org/pt/a-ler/a-vitoria-e-certa-apontamentos-para-a-historia-do-mpla)
nada mais seria como antes e os estudantes venceram fascismo e colonialismo,
outros anos antes do seu colapso final!... A gesta trovadora de Zeca Afonso
marcou indelevelmente as vitórias progressistas nas universidades portuguesas,
que tanto haveriam de influenciar na eclosão do 25 de Abril de 1974! (https://www.youtube.com/watch?v=CbVQV1XNOCY; https://www.youtube.com/watch?v=ReJrOCcCmno; https://www.youtube.com/watch?v=ERXpCjbwny0&t=208s).
18- No IIIº tomo de “Um
amplo movimento”, os documentos colectados por Lúcio Lara atestam os anos
difíceis do itinerário do MPLA até ao fim de 1964! (https://sites.google.com/site/tchiweka/Home/livros-editados-1/tchi80-testemunhos/lucio-lara-o-meu-testemunho; https://sites.google.com/site/tchiweka/Home/livros-editados-1/tchi80-testemunhos/lucio-lara-1).
Lúcio Lara com toda a sua
sobriedade e honestidade intelectual de militante da causa do movimento de
libertação em África, deixa os documentos falarem por si!... (https://www.buala.org/pt/autor/associacao-tchiweka-de-documentacao; http://www.redeangola.info/opiniao/chamavam-lhe-utopia/).
Em “O comandante, a
guerrilha e a formação do exército”, o historiador militar Miguel Júnior (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/o-comandante-a-guerrilha-e-a-formacao-do-exercito/fotos)
sintetiza por seu turno essa época assim (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&id=196:a-poesia-de-agostin):
“Quando Neto chegou, na
realidade, o MPLA vivia uma situação crítica.
A situação real do MPLA era
péssima, pois estava quase sem recursos. O MPLA era acusado de ser um movimento
que apenas se dedicava à luta política e não pelas armas, como fazia a FNLA
desde Março de 1961. O quadro ainda era mais [preocupante] porque havia
confusão e algum desnorte na sua liderança. (Agostinho Neto, 2011, p.161).
Neste ambiente de pressão interna teve lugar, no fim de 1962, a 1ª Conferência do MPLA. Quando os companheiros de luta identificaram qualidades políticas e de liderança em Agostinho Neto, eles não hesitaram e de pronto tudo fizeram para a sua ascensão à posição de líder político do Movimento Popular de Libertação de Angola. A 1ª Conferência do MPLA elegeu uma nova liderança e Agostinho Neto passou a ser, de facto, o líder da organização.
O líder assumiu as rédeas da organização e estabeleceu um plano de acção assente em diligências a fim de obter armas e alimentos para os guerrilheiros e dinheiro para a sua acção diplomática. Agostinho Neto priorizou a procura de apoios, sem os quais não poderia agir e impulsionar a luta de libertação. (Agostinho Neto, 2011, p.164).
Neste sentido, ele visitou alguns
países ocidentais e africanos (Estados Unidos da América, República Federal da
Alemanha, Suíça, Tunísia, Marrocos, França, Grã-Bretanha e Itália).
A crise que estava a corroer o MPLA, na verdade, não foi estancada com os resultados da 1ª Conferência.
Por força da situação que
imperava, a direcção do movimento desmembrou-se em 1963 e vários quadros
abandonaram a luta. O MPLA confrontava-se com as primeiras desistências.
A situação tornou-se mais crítica pois a OUA tinha reconhecido a FNLA como movimento de libertação e o MPLA foi expulso do Congo Leopoldville e foi obrigado a rumar para Brazzaville.
Estas situações e outras
representaram um golpe contra o MPLA. Embora o MPLA tenha perdido força humana
e intelectual, Agostinho Neto manteve-se firme e confiante.
Ele estava convicto que a luta
continuaria a sua marcha triunfal.
Diante do cerco em que se encontrava o MPLA, Agostinho Neto manobrou e criou, em 1963, a Frente Democrática de Libertação de Angola – FDLA.
Esta organização foi criada e
dirigida por ele.
Segundo a sua visão, a Frente
Democrática de Libertação de Angola – FDLA perseguiria vários objectivos, sendo
os principais “quebrar o isolamento internacional, reduzir a influência
dominadora do GRAE, mobilizar as populações do norte de Angola e a população
refugiada nos Congos e atrair apoios para a luta de libertação. (Agostinho
Neto, 2011, p.178). Mas os seus esforços não tiveram o impacto desejado. A referida
organização foi sol de pouca dura.
Por isso, Agostinho Neto manteve de pé a ideia da luta armada. Mas esta luta exigia quadros, disponibilidade e dedicação à causa do povo angolano. Assim teve lugar a Conferência de Quadros em 1964. Os objectivos desta conferência foram a unidade e a reorganização do MPLA e a continuação da luta armada e política.
Por força dos seus resultados, e face à situação deplorante em que se encontrava a organização, Agostinho Neto fez um apelo aos quadros que se encontravam no exterior a fim de se juntarem aos esforços que ele e outros companheiros de luta levavam a cabo para retirar a organização do estado de inoperância e retomar a luta.
O seu apelo foi correspondido e
muitos quadros regressaram à luta armada de libertação nacional.
Agostinho Neto continuou os esforços de reorganização interna, tendo priorizado a reestruturação do Exército Popular de Libertação de Angola – EPLA.
Por isso, este exército foi
dissolvido e deu lugar ao Corpo de Guerrilheiros do MPLA. Com esta medida,
Agostinho Neto introduziu a concepção correcta de guerrilheiro e de combatente
armado sem qualquer distinção. Ao mesmo tempo, ele desencadeou um programa de
consciencialização sobre o valor da luta armada em conformidade com os
princípios do MPLA.
A reestruturação prosseguiu o seu curso o que permitiu extinguir o Departamento de Guerra. Com esta mudança, Agostinho Neto assumiu o comando e a coordenação da luta armada, bem como definiu um modelo de estrutura territorial da guerra de guerrilhas de acordo com as particularidades do país. Além do mais, Agostinho Neto valorizou a importância da preparação militar, pois ela era essencial para o desencadeamento de novas acções armadas no interior de Angola.
O conjunto de medidas adoptadas no sentido de relançar a guerra de guerrilhas mais a postura do líder, que se assumiu como o comandante das forças guerrilheiras, permitiu ao MPLA retomar as acções guerrilheiras na 2ª Região Militar, em 1964, e criar um centro de instrução revolucionária.
A fé inabalável na luta mais a vontade de manter acesa a sua chama foram os suportes que permitiram congregar esforços para manter activa a Frente Norte. Além do mais, o processo de afirmação do MPLA na arena política implicava actividades políticas e militares concretas. Agostinho Neto mais os seus companheiros interiorizaram essas exigências. Assim, o MPLA continuou a privilegiar a luta armada de maneira concreta e Agostinho Neto passou a enfatizar a necessidade de mais acções militares.
Por força desta postura, a partir de 1965, o MPLA passou a controlar uma parcela do território no norte de Cabinda, por sinal a sua 2ª Região Militar. Os ganhos alcançados em Cabinda abriram de forma automática as portas para o reconhecimento do MPLA, como movimento de libertação de Angola, por parte da Organização de Unidade Africana (OUA). Este feito deveu-se “ao enorme esforço de Agostinho Neto de reorganização e de reactivação da luta armada em Cabinda”.
Do ponto de vista político e militar, os ganhos evidenciavam-se apesar dos impedimentos que colocavam aos guerrilheiros do MPLA no território do Congo Leopoldville. Assim, os guerrilheiros do Esquadrão Cienfuegos chegaram à 1ª Região Militar, em 1966, decorridos vários anos após o 4 de Fevereiro de 1961”.
Além dos obstáculos artificiosos
que o MPLA teve de enfrentar como alvo dilecto do imperialismo, do
neocolonialismo, do colonialismo e do “apartheid”, as próprias condições
no terreno, conforme ao ambiente físico-geográfico-hidrográfico entre o Congo e
a 1ª Região Político Militar, eram algo que só com dolorosas experiências se
poderia ultrapassar, até por que no princípio era muito o desconhecimento e as
exigências da luta armada em condições tão adversas, estiveram quantas vezes
acima dos esforços sobre humanos dos guerrilheiros… (http://5---breve-monografia-angolana.blogspot.com/2006/08/55-hidrografia.html).
Na estação das chuvas, com as
colunas em direcção norte-sul ou em sentido contrário, havia que atravessar
rios com caudalosas bacias, como o MBridge, o Loge ou o Lifune, de inconstantes
e incontinentes enxurradas, o que era impraticável por causa dos exíguos meios
existentes… só durante a curta estação do cacimbo esses obstáculos naturais se
tornavam mais dóceis, facilitando a progressão... (http://www.africa-turismo.com/mapas/angola.htm; https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_rios_de_Angola; file:///C:/Users/vítor/AppData/Local/Microsoft/Windows/INetCache/IE/5Q0QWFHW/2.-Manuel-Quintino.pdf).
Para o MPLA, até o ciclo da água
em ambientes equatoriais e tropicais se tornou num imenso desafio para as
progressões em direcção à 1ª Região Político-Militar (https://dokumen.tips/download/link/relatorio-do-estado-geral-do-ambiente-em-angola)…
e no entanto quanto da vida nessa bolsa intrépida de Nambuangongo e dos Dembos,
tinha que ver com um espaço vital em disputa para um dia se reforçar a frente
clandestina em Luanda e chegar à vitória da autodeterminação e da
independência, ainda que essa vitória tivesse de ser o parto sangrento e
heróico que foi, rebentando as cadeias em que Carlota foi um dia acorrentada,
no outro lado do mar!
O base guerrilheira Bernó,
situada próximo do rio Dange, na zona A da 1ª Região Político Militar, era um
ponto de chegada para quem conseguiu chegar do Congo, assim como um ponto de
confluência e de irradiação para as outras zonas, B e C!... (https://www.info-angola.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=4224:berno-base-guerrilheira&catid=657&Itemid=1756).
O isolamento da 1ª Região
Política Militar, a plataforma mais próxima para a guerrilha chegar a Luanda a
partir do Congo e ligar-se às células clandestinas do MPLA, (https://www.info-angola.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=4224:berno-base-guerrilheira&catid=657&Itemid=1756)
obrigaria à abertura da IIIª e IVª Regiões Político Militares do MPLA, como
alternativas de luta armada na direcção da capital do país! (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/o-comandante-a-guerrilha-e-a-formacao-do-exercito/fotos).
A infiltração conseguida pelo
colonialismo na 1ª Região Político Militar, tornou possível a corrosão que
contribuiu +ara os acontecimentos do 27 de Maio de 1977, já com Angola
recém-independente! (https://www.facebook.com/groups/MPLA.Angola/permalink/424533887577374/).
19- Mesmo nas condições mais
difíceis que encontrou, António Agostinho Neto conseguiu aplicar parâmetros
mínimos de segurança vital e funcional vocacionados para o futuro,
transmitindo-os à sociedade, às comunidades e a cada ser humano, por que o
homem valia-se dum pensamento colectivo de vanguarda, como um povo em marcha
entre outros povos também em luta, um povo apto desde logo para lutar pela vida
e pela felicidade de todos os angolanos nos horizontes dos próprios programas
do movimento de libertação em África e internacionalista e solidário como em
África também experimentaram os revolucionários cubanos!... (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/neto_foi_politico_visionario; https://www.iberlibro.com/9789592101739/segundo-frente-Congo-Historia-Batallo%CC%81n-9592101736/plp; http://m.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/mobile/noticias/politica/2011/11/49/Nacionalistas-estrangeiros-relatam-experiencias-vividas-lado-MPLA,a8b95cb3-085f-4135-a8c0-e3d2c4a61cc7.html?version=mobile).
A 2 de Janeiro de 1965, com o
projecto de mais um Vietname na imensidão sul da Tricontinental, o Comandante
Che Guevara visitou o MPLA! (https://elsudamericano.wordpress.com/2017/09/24/pasajes-de-la-guerra-revolucionaria-congo-por-ernesto-guevara/;https://paginaglobal.blogspot.com/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html).
As duas frentes congolesas do
Comandante Che (http://www.granma.cu/cuba/2015-09-29/revolucionario-hasta-el-ultimo-de-sus-dias; https://lapupilainsomne.wordpress.com/2015/09/29/el-adios-a-un-hermano-por-piero-gleijeses/),
foram a primeira linha da frente informal contra a internacional fascista e a
semente da lógica com sentido de vida na África Central e Austral, entre Dar es
Salam e Brazzavile (http://www.granma.cu/granmad/secciones/30_angola/artic01.html)
que não se ficou por aí, conforme se pôde constatar nas décadas seguintes, com
a participação do génio estratégico do Comandante Fidel e de seus pares
africanos!... (http://globedia.com/che-congo-historia-fracaso; https://www.youtube.com/watch?v=12jxAja8fWM; https://www.youtube.com/watch?v=9QytzEBzOYI; https://www.youtube.com/watch?v=ovI2gdwHtcA; http://www.cubadebate.cu/noticias/2016/04/08/piero-gleijeses-risquet-me-dio-la-ciudadania-cubana/#.XbxzHyZCfmJ).
Foram também um berço embalando
os sonhos de paz, precisamente na região tropical de África mais rica em água e
minérios, onde o espaço vital é dos mais disputados do continente! (https://www.rebelion.org/noticia.php?id=236502; https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/01/07/africa-dilecto-alvo-neocolonial/).
20- O Comandante Iko Carreira em
suas “Memórias” e contrariando as tendências da falta da cultura da
memória que deliberadamente foram ocorrendo sobretudo desde meados da década de
oitenta do século passado e até hoje, (http://jornaldeangola.sapo.ao/entrevista/o_pais_tem_uma_falta_de_memoria_historica_generalizada),
lembra assim na página 83:
“Che Guevara foi ter com o MPLA,
pois trazia instruções nesse sentido da parte de Fidel Castro que queria saber
em que estádio se encontrava a luta do povo angolano e que queria também pôr à
disposição desta organização, se necessário, instrutores e ajuda material.
Foi recebido pelo Presidente Neto
e por mais alguns membros da direcção do MPLA.
Aproveitou também a oportunidade
para expor algumas das suas ideias sobre a luta de libertação na África
Austral.
O Che pensava que todos os
revolucionários desta parte de África deviam travar a luta revolucionária no
Congo Democrático e que só depois iriamlibertar Angola e assim por diante…
Esta ideia de criação no Congo de
um núcleo revolucionário que iria libertar a África Austral, sem ter em conta o
tipo de luta que se processava e o nível de cada povo, foi repudiada por Neto.
Quanto a uma eventual ajuda,
depois de ter exposto a situação da luta, Neto pediu instrutores e auxílio
material, com o que o Che concordou.
Efectivamente, pouco tempo depois
chegavam os quatro instrutores prometidos, que logo mudaram de nome: César, que
deveria assessorar a OMA e a futura DP e os instrutores militares Humberto, que
é hoje o General Moracén, Reinaldo e René.
Já não me recordo dos nomes
verdadeiros, nem de César, nem dos dois últimos.
Dos quatro cubanos, unicamente
dois ficaram no MPLA, César e Humberto, mas só este último foi para Angola na
altura da independência e ficou lá a trabalhar.
Hoje tem também a nacionalidade
angolana e como tive ocasião de dizer é general”... (http://www.granma.cu/granmad/secciones/50_granma-80_fidel/secretos_de_generales/art08.html; http://mesaredonda.cubadebate.cu/mesa-redonda/2016/05/25/rafael-moracen-la-extraordinaria-vida-de-un-hombre-sencillo-fotos-y-video/; https://paginaglobal.blogspot.com/2018/09/o-primeiro-comandante-em-chefe-de.html).
De facto em “O Pensamento
estratégico de Agostinho Neto”, o Comandante Iko Carreira considera assim a
página 95:
“No tempo em que Neto se decidiu
para generalização da luta armada, como forma de luta para a conquista do
poder, numa situação pré-revolucionária como era a de Angola antes da
independência, estavam em voga, entre os revolucionários, as teorias do
núcleode Che Guevara e do cerco das cidades pelo campo, de Mao Tsé Tung.
Neto não seguiu nenhuma das
grandes teorias, anunciando ao mundo a sua própria.
Esta foi inspirada mais pelo
exemplo de Josip Broz Tito e da sua defesa popular Generalizada.
O anúncio da generalização da
luta armada foi feito pelo próprio Agostinho Neto, na sua prelecção de fim de
ano e começo do novo, em Dezembro de 1965, na Rádio Congolesa, através do
Programa do MLA, Angla Combatente.
A teoria da generalização da luta
armada é, podemos dizer, o resultado da interpretação da teoria de Mao com a do
núcleo desenvolvida por Che, que consistia na formação de um grupo, ou grupos
de dirigentes que iria para um local determinado do país, normalmente
inacessível, ou de acesso muito difícil e que a partir daí desenvolveria
acções, constituindo um verdadeiro polo de atracção”…
A segurança vital e funcional do
grupo dirigente, garantindo a procura incessante da lógica com sentido de vida
desde a raiz da acção do movimento de libertação em África (recorde-se uma vez
mais o CVAAR), era intrínseca à generalização da luta armada!
Por essa razão, mesmo que
houvesse o isolamento prolongado da 1ª Região Político Militar, o núcleo
dirigente em torno do guia pôde abrir outras frentes de luta armada enquadradas
num projecto comum com outras organizações de luta contra o colonialismo
(Frelimo, Zanu, Zapu, Swapo, ANC… ) a partir da placa central da Zâmbia, a meio
caminho entre Dar es Salam e Brazzaville, fazendo progredir para sul a linha da
frente informal estabelecida originariamente pelo próprio Che… e isso não era
propriamente “a história dum fracasso”! (http://mesaredonda.cubadebate.cu/mesa-redonda/2016/07/01/victor-dreke-siempre-al-lado-de-las-mejores-causas-de-cuba/; https://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/maturacao-da-amizade-afro-cubana.html).
Três colunas guerrilheiras do
MPLA se sucederam na tentativa de incrementar a luta na 2ª Região Político
Militar (tornando Cabinda num laboratório da luta armada no interior), levar
socorro à 1ª Região Político Militar e com isso, ligar-se às células da luta
clandestina em Luanda… (https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Independ%C3%AAncia_de_Angola).
Essa experiência esteve na origem
dos esforços que se seguiriam a leste, tirando partido da Zâmbia e da
intrincada bacia do Alto Zambeze, com afluentes da sua margem direita nascendo
bem na região central das grandes nascentes de Angola (Luena, Lungué Bungo,
Luanguinga e Cuando) , o que facilitava a penetração até ao centro do país! (https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Zambeze).
Em 1965 e nos dois anos
seguintes, foi entretanto assim (https://www.guerracolonial.org/index.php?content=327):
… “Em 1965, o MPLA conseguiu
instalar forças bem armadas na região a sul de Nambuangongo, próximo de rio
Dange, desalojando os elementos da UPA/FNLA ali instalados desde 1961.
Daqui, o movimento alargou a sua influência para sul, na direcção de Catete e para leste, na direcção de Mucondo, expulsando a UPA/FNLA de mais algumas das suas bases.
Daqui, o movimento alargou a sua influência para sul, na direcção de Catete e para leste, na direcção de Mucondo, expulsando a UPA/FNLA de mais algumas das suas bases.
O avanço militar do MPLA para sul ameaçou a «Estrada do Café» Luanda-Caxito-Carmona e poderia vir a criar problemas noutro itinerário importante, a estrada Luanda-Catete-Salazar, o que aproximava a guerrilha da capital. Este avanço foi travado pelas forças portuguesas em operações de certa envergadura, realizadas em 1968.
Ainda em 1965, o MPLA, contando com o apoio do Congo-Brazzaville, expandiu as suas actividades militares em Cabinda, que iniciara em 1964.
Nesta zona, levou à prática
grande número de acções; principalmente emboscadas e minas, que provocaram
baixas nas forças portuguesas”…
O reforço das acções da PIDE/DGS
e SCCIA, conjugadas a outras quadrículas de “luta contra insurreição” no
terreno do norte de Angola e nos países à volta de Angola (nos dois Congo e na
Zâmbia), (http://media.rtp.pt/descolonizacaoportuguesa/pecas/a-guerra-instala-se-em-tres-frentes/)
foi incrementado, conforme pode ser testemunhado pelos tomos da Fundação
António Agostinho sobre “Agostinho Neto e a Libertação de Angola – 1949 –
1974”… todavia, apesar do neocolonialismo, com a luta política ganha, o
movimento de libertação em África dispunha-se imparavelmente a ir muito mais
longe no terreno!
… A criatividade do guia e dos
seus companheiros de rumo foi determinante (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/o-comandante-a-guerrilha-e-a-formacao-do-exercito/fotos):
… “O MPLA preconizou o
desenvolvimento da luta armada e a sua expansão a todo o território nacional,
em 1964.
Por isso, quando certas condições
estavam criadas na República da Zâmbia, em 1966, o MPLA iniciou a guerra no
Leste de Angola.
Assim, a guerra de guerrilhas
chegou ao território do Moxico.
Este facto representou de maneira
clara mais um marco e um avanço significativo para a luta de libertação
nacional, visto que a 1ª Região Militar “estava isolada e quase inactiva.
[A 2ª região Militar] tinha
dificuldades de penetração e de recrutamento […] apesar da quantidade de armas
e munições […]” disponíveis.
De acordo com a visão de Agostinho Neto, a ideia estratégico-operacional não era permanecer no Leste, mas sim que “o Leste seria a base de guerrilha. O seu objectivo era atingir Luanda”. A partir de Malange e Bié.
Tirando partido deste ganho, em 1966, Agostinho Neto conceptualizou também a necessidade “da generalização da luta armada” a todo o território nacional. Mas esta ideia só foi levada à prática em 1967.
Por isso, neste ano, o MPLA
tratou de dar corpo a duas ideias centrais da luta de libertação nacional.
Começou por materializar a
ideia da “generalização da luta armada” e apelou aos membros da Organização
para a “participação efectiva na luta” armada.
Estas foram as metas fixadas por
Agostinho Neto no período em análise. Porém, em 1967, Agostinho Neto frequentou
um “estágio político-militar” mais certos companheiros na União Soviética.
Partindo da experiência acumulada com o Esquadrão Cienfuegos, em 1967, Agostinho Neto, como comandante, planeou o envio de mais um esquadrão para a 1ª Região Militar.
O Esquadrão Kamy partiu, mas não
teve a mesma sorte.
Mesmo assim, os esforços prosseguiram no sentido de se auxiliar a 1ª Região Militar com outros apoios, tendo o MPLA preparado o Esquadrão Bomboko para o efeito.
Este mal conseguiu transpor o
Zaíre devido às acções das forças de segurança deste país. Apesar de tudo, o
MPLA continuou o seu trabalho para auxiliar a 1ª Região Militar mediante o
envio da Coluna Benedito, em 1970, mas também não foi bem sucedido.
Diante destes recuos, o
comandante foi forçado a alterar a sua estratégia em relação à 1ª Região
Militar. Assim foi possível evitar outras baixas no seio da organização.
Fruto da visão do líder, a guerra de guerrilhas do MPLA registou um avanço notório em 1968.
A notoriedade resultou do
alastramento da guerra de guerrilhas a todo território da 3ª Região Militar e
ao facto do MPLA ter estendido as suas actividades militares a outras áreas
geográficas”…
Saltar do paradigma do espaço
vital da bacia do Congo, para a bacia do Zambeze, iria ser decisivo para os
primeiros passos do fim do colonialismo português, para a transitoriedade do
regime de Ian Smith e para o início do fim do “apartheid”! (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/05/africa-da-inercia-catastrofe-martinho.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2017/03/aprender-com-historia.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/04/colocar-nossas-pernas-titubeantes-no.html).
A internacional fascista na
África Austral, pela primeira vez teria um sinal de avanço na direcção sul, a
partir da linha entre Dar es Salam e Brazzaville, por que a Zâmbia propiciava
acessos às organizações guerrilheiras da África Austral que, pela primeira vez,
começaram a melhor fustigar o colonialismo português, o “apartheid” e
o regime branco de Ian Smith na então Rodésia, futuro Zimbabwe! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018_09_15_archive.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2017/02/angola-cuba-e-memoria-do-grande-salto.html).
A lógica com sentido de vida,
tirou partido da passagem do paradigma da bacia do Congo para a bacia do
Zambeze, deslocando estrategicamente a linha da frente informal cada vez mais
para sul e antecipando a Linha da Frente que uniria os esforços de libertação
contra o “apartheid”, já com Angola e Moçambique independentes! (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/cartas_dos_leitores/nascimento_da_sadc).
CONTINUA
Martinho Júnior -- Luanda, 3 de Novembro de 2019
Imagens:
01- Agostinho Neto e Basil
Davidson, uma inspiração anto fascista que se unia a Broz Tito, da Jugoslávia –
uma foto que correu mundo (https://expresso.pt/actualidade/basil-davidson-1914-2010=f593672 );
02- “João António Rosa, Tiro
ou Águas do Mar, integrante do Destacamento Cienfuegos e então Chefe das
Operações da 1ª Região Militar. Entrevistado em Bernó a 18 de Novembro de 2010” – https://www.info-angola.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=4224:berno-base-guerrilheira&catid=657&Itemid=1756;
03- “A guerrilha e a
formação do exército” – foto de António Agoatinho numa das bases do MPLA – http://jornalcultura.sapo.ao/historia/o-comandante-a-guerrilha-e-a-formacao-do-exercito/fotos;
04- “Dos diversos lugares
visitados nessa altura, o mais impressionante foi Bernó, pela quantidade de
vestígios ainda encontrados 42 anos depois de ter sido abandonado e pelas emoções
que o lugar despertou nos antigos guerrilheiros que ali regressavam pela
primeira vez, como Benigno Vieira Lopes, Ingo, Inácio Miseraque Santos, Achille
e João António Rosa, Tiro” – https://www.info-angola.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=4224:berno-base-guerrilheira&catid=657&Itemid=1756;
05- Iko Carreira, combatente da
luta de libertação, estrategista, militar fundador das FAPLA e um dos fieis
companheiros de António Agostinho Neto - http://jornaldeangola.sapo.ao/entrevista/o_pais_tem_uma_falta_de_memoria_historica_generalizada.
TEXTOS ANTERIORES, DESTA SÉRIE:
POEMA DA HEROÍNA ANGOLANA
DEOLINDA RODRIGUES, MEMBRO DO CVAAR E FIGURA EMBLEMÁTICA DA ORGANZAÇÃO DAS
MULHERES ANGOlANAS NA HORA DAS GRANDES DECISÕES (https://noticias.sapo.ao/actualidade/artigos/poema-de-deolinda-rodrigues-heroina-nacional-angolana):
África
Mamã África
geraste-me no teu ventre
nasci sob o tufão colonial
chuchei teu leite de cor
cresci
atrofiada mas cresci
juventude rápida
como a estrela que corre
quando morre o nganga
hoje sou mulher
não sei já se mulher se velhinha
mas é a ti que venho
África
Mamã África
geraste-me no teu ventre
nasci sob o tufão colonial
chuchei teu leite de cor
cresci
atrofiada mas cresci
juventude rápida
como a estrela que corre
quando morre o nganga
hoje sou mulher
não sei já se mulher se velhinha
mas é a ti que venho
África
Mamã África
Tu que me geraste
não me mates
não praguejes um rebento teu
senão, não tens futuro,
não sejas matricida.
sou Angola, a tua Angola
não te juntes ao opressor
ao amigo do opressor
nem a teu filho bastardo
eles caçoam de ti
não me mates
não praguejes um rebento teu
senão, não tens futuro,
não sejas matricida.
sou Angola, a tua Angola
não te juntes ao opressor
ao amigo do opressor
nem a teu filho bastardo
eles caçoam de ti
caíste na ratoeira
enganada
não distingues o verdadeiro do falso
no teu cândido e secular vigor
cegaste
agora és tu
enganada
não distingues o verdadeiro do falso
no teu cândido e secular vigor
cegaste
agora és tu
África,
Mamã África
que dás força ao irmão bastardo
para asfixiar-me
azagaiar-me pelas costas
Mamã África
que dás força ao irmão bastardo
para asfixiar-me
azagaiar-me pelas costas
o opressor, o amigo do opressor
o teu filho bastardo
(também tu, mamã áfrica?)
Divertir-se-ão
Ao ouvir-me expirar
o teu filho bastardo
(também tu, mamã áfrica?)
Divertir-se-ão
Ao ouvir-me expirar
Mas África,
mamã África
pelo amor da coerência
ainda quero crer em ti.”
mamã África
pelo amor da coerência
ainda quero crer em ti.”
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