Martinho Júnior, Luanda
SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE
NOVEMBRO DE 2019
Uma das maiores deficiências de
que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a
ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos
afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.
Essa falta de vontade e de
perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do
conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o
campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias
injectadas do exterior!
Isso permite que outros não abram
o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses,
manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as
interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!
In – Aprender reinterpretando – https://paginaglobal.blogspot.com/2019/06/angola-aprender-reinterpretando.html
Esta série pretende reabrir
dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da
América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas
um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e
corajosamente fazer!
Abrir os links permite
complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.
09- Angola pode continuar a
ser um país com rumo, desde que o homem a libertar seja a prioridade de todas
as atenções e as abordagens sejam feitas numa lógica com sentido de vida, com a
segurança vital indispensável em função do imenso respeito devido à humanidade
e para com a Mãe Terra! (https://paginaglobal.blogspot.com/2017/09/mensagem-para-todos-os-africanos-e.html).
No início da luta armada essa
filosofia foi adoptada sem rodeios pelo guia e pelos seus mais próximos
seguidores, desde que António Agostinho Neto assumiu a direcção, (http://paginaglobal.blogspot.com/2015/02/historias-de-fevereiro-i.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2015/02/historias-de-fevereiro-ii.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2015/02/historias-de-fevereiro-iii.html)
mas já com um temperado processo de luta que ele próprio começou antes a
trilhar. (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/contributo_de_neto_para_a_afirmacao__da_nossa_identidade_cultural).
Um dos primeiros sinais dessa
luta pode-se encontrar no Iº tomo de “Agostinho Neto e a libertação de
Angola – 1949-1974 – Arquivos da PIDE/DGS”, (https://www.cplp.org/id-4447.aspx?Action=1&NewsId=2210¤tPage=58&M=NewsV2&PID=10872),
numa informação dirigida “ao Exmº Snr Director dos Serviços de Informação
da LEGIÃO PORTUGUESA”, com data de 12 de Julho de 1949, por alguém que focava
preocupadíssimo a actividade da Casa dos Estudantes do Império, onde o então
jovem Neto já se evidenciava. (https://www.uccla.pt/casa-dos-estudantes-do-imperio; https://www.dw.com/pt-002/casa-dos-estudantes-do-imp%C3%A9rio-ber%C3%A7o-de-l%C3%ADderes-africanos-em-lisboa/a-16233230).
Para quem pretender ter uma visão
introdutória próxima, sintética, mas substantivamente lúcida, sobre quem era
António Agostinho Neto, pode ter em “O pensamento estratégico de Agostinho
Neto”, de Iko Carreira, um guião indispensável, pois a sua complexa
personalidade não se pode separar de sua própria trajectória patriótica e
revolucionária de luta, uma forja a quente de suas capacidades de opção, decisão
e clarividência face ao futuro. (https://www.wook.pt/livro/o-pensamento-estrategico-de-agostinho-neto-iko-carreira/71049).
Iko Carreira, um dos seus
intrépidos seguidores, escreveu sobre ele a página 45 desse livro:
“Quando se encontrava preso pela
PIDE (Policia Internacional da Defesa do Estado – polícia secreta portuguesa
sob o regime de Salazar e Caetano, com outra designação) ou com residência fixa
pela mesma polícia, Neto já acreditava vir a ser o grande libertador de Angola.
Leitor dos Poetas e Escritores
libertadores da América Latina da década de 30, ele foi bastante influenciado
pelos escritos de Jorge Amado e os exemplos de Carlos Prestes e também por
Álvaro Cunhal, respectivamente presidente do Partido Comunista Brasileiro e
secretário-geral do Partido Comunista Português, dos anos60.
Na qualidade de membro do MUD
Juvenil (Movimento de Unidade Democrática da juventude portuguesa), assistiu ao
Festival Mundial da Juventude na Roménia, onde fez o possível por representar
Angola, distinta da delegação portuguesa. Aí fez amizades que marcaram a sua
vida, tais como a de Yonesco, dirigente romeno e a de Giulini, hoje homem de
negócios, italiano.
Esses festivais eram, na sua
grande maioria, suportados pela União Soviética e daí o início do rótulo de
comunista, que sempre perseguiu Neto.
Formado em medicina, regressou a
Luanda, escolhendo para lugar do seu primeiro consultório, um bairro pobre da
capital angolana”…
Até à Conferência de Imprensa em
Léopoldville do Presidente Honorário do MPLA, António Agostinho Neto (ocorrida
a 10 de Agosto de 1962), foram no mínimo treze anos de intensa luta em que ele
teve de vencer inúmeras barreiras, obstáculos, prisões e perseguições, uma
temperança individual e colectiva (muitos camaradas o acompanharam e com ele
assumiam a quota-parte das iniciativas) que tinha tudo a ver com o rumo da
lógica com sentido de vida e da segurança vital indispensável até ao momento do
jovem revolucionário se tornar no guia que orientaria o rumo do MPLA. (https://www.revistas2.uepg.br/index.php/tel/article/download/9262/6063).
Com ele o rumo do movimento de
libertação em África, junto de outros insignes pares, também eles
experimentados na luta e vocacionados dentro de organizações de libertação
similares, ganhou vigor, coerência e claros objectivos! (https://www.facebook.com/notes/ale-xandre/liberta%C3%A7%C3%A3o-da-%C3%A1frica-austral/255317584648734/; https://www.buala.org/pt/a-ler/a-vitoria-e-certa-apontamentos-para-a-historia-do-mpla).
Na Iª Conferência Nacional do
MPLA, realizada entre 1 e 3 de Dezembro de 1962, António Agostinho Neto assumiu
com seu vigor e onteligência, o cargo do Presidente do Comité Director do MPLA
e desde então sua vocação e sua energia tornaram-no no guia do rumo que desde
logo deveria ser tomado. (IIº tomo de “Agostinho Neto e a libertação de
Angola – 1949-1974 – Arquivos da PIDE/DGS”).
Na obra “O Pensamento
Estratégico de Agostinho Neto”, o Comandante Iko Carreira confirma a propósito,
a página 33:
… “Neto devia, assim, ser
sempre defendido, pois não só a sua acção era globalmente positiva, mas também
por que ele, mesmo antes de iniciar a sua actividade na Presidência do MPLA,
era já um dirigente carismático da luta de libertação do Povo Angolano.
Ninguém se opunha a isso e quem
quisesse fazê-lo, acabaria sempre por ser esmagado pela dinâmica da própria
luta.
…
O pensamento Estratégico de
Agostinho Neto já estava bem delineado, já toda a gente sabia, com reuniões ou
sem elas, onde ia desembocar”.
10- O Comunicado de 16 de
Dezembro de 1962, resultante da Iª Conferência Nacional do MPLA, espelha os
primeiros passos a dar no rumo de luta que então efectivamente se iniciou,
quebrando com a psicologia do oprimido e da vitimização, quebrando também com leituras
menos precisas ou indecisas de outras ideologias que porventura pretendessem
vigorar. (http://www.mpla.ao/mpla.6/historia.7.html; https://sites.google.com/site/tchiweka/Home/documentos-catalogados/documentos-1962; https://sites.google.com/site/tchiweka/Home/documentos-catalogados/documentos-1963?tmpl=%2Fsystem%2Fapp%2Ftemplates%2Fprint%2F&showPrintDialog=1).
Segundo Iko Carreira (páginas 46
e 47 do mesmo livro), “Neto percebeu que era tomado por um intruso na luta
de libertação de Angola, tudo tinha sido cozinhado pelos americanos e que
portanto só lhe restava e só poderia fazer a luta se estivesse de acordo em
fazê-la com base nos princípios do marxismo-leninismo e ainda, que teria de ter
uma organização que lhe desse essa garantia.
A luta de libertação do povo
angolano contra o colonialismo português, estava nas previsões do presidente
Kennedy, que dava sempre o seu acordo a todas as iniciativas que combatessem a
antiga ordem. Mas os EUA tinham já então a sua opção. Assim durante o périplo
Neto correspondeu melhor o significado político e a importância do MPLA”…
O Comunicado fazia um introito
sobre a composição do evento e de seguida apontava, do geral para o particular,
a “LINHA POLÍTICA”, o “PROGRAMA DE ACÇÃO”, as “ESTRUTURAS”,
o “COMITÉ DIRECTOR” e o “COMTÉ POLÍTICO-MILITAR”.
As coerentes linhas e o vigor da
lógica com sentido de vida e de segurança vital fazem parte da essência do
documento, pelo que vale a pena lembrar este curto excerto referente à “LINHA
POLÍTICA”:
“Em matéria de linha política, a
Primeira Conferência Nacional estabeleceu que o MPLA deve garantir a
representação da população rural na direcção do Movimento e dos organismos de
condução da luta no interior do país e acentuou que a Revolução Angolana deve
concentrar todos os esforços na realização das aspirações das massas
camponesas, na base duma aliança de todas as forças produtivas da nação.
Encarando o futuro do país, a Conferência
determinou que o Movimento deve zelar pela implantação em Angola de um regime
que seja a emanação da vontade popular e que ofereça garantias ao povo de
exercer o controlo do poder, satisfazendo cabalmente os seus anseios de
liberdade, justiça e progresso em todos os domínios.
A conferência manifestou-se
categoricamente contra o tribalismo, o regionalismo, o sectarismo e a
intolerância racial e contra as distinções de carácter político e religioso.
Estabeleceu que o MPLA se oporá à
entrada de investimentos que comprometam a independência económica e politica
de Angola”…
11- Segundo Iko Carreira (página
49 e 50 do seu livro acerca de Neto), “no MPLA não se tinha dado até então
muita atenção ao problema das estruturas. Vivera-se até aí do Comité Director
não eleito e das estruturas do CVAAR (Copor Voluntário Angolano de Assistência
aos Refugiados).
A importância do CVAAR pode ser
apreciada de várias maneiras. Constituía em primeiro lugar, a cobertura
jurídica do MPLA no Congo-Léopoldville, pois o MPLA nunca conseguiu autorização
para trabalhar a partir daquela capital. No CVAAR estavam integrados todos os
médicos angolanos, ou simples estudantes de medicina, conseguindo realizar
alguns cursos acelerados de enfermagem. No seu auge, assistindo
indiscriminadamente angolanos e congoleses (leia-se zairenses), o CVAAR chegou
a ter 27 dispensários distribuídos por toda a fronteira do Congo com Angola,
sem esquecer o Congo-Brazzaville.
É então que se trata de dar ao
Movimento as estruturas que o seu desenvolvimento necessitava. O país foi assim
dividido em regiões, estas em zonas e estas últimas em sectores e estes em
localidades”…
… A Conferência institucionalizou
ainda o EPLA”.
O “PROGRAMA DE ACÇÃO” estabelecido
no âmbito da Iª Conferência Nacional do MPLA preconizou que o MPLA era, numa
incessante busca de unidade e coesão:
. “Um movimento de massas”;
. “Um movimento revolucionário”;
. Se “generalizava uma
disciplina de guerra a todos os sectores do MPLA”;
. Se dava “primazia do
interior sobre o exterior”;
. Se determinava o “primado
da política sobre o militar”;
. Se “lançava no presente as
bases da nação futura”;
. Se passava a “planificar o
trabalho de todos os sectores”.
Desde logo passou-se a atender:
. À “acção no interior de
Angola”;
. À “acção no exterior de
Angola”;
. À “acção nos Congos”;
(este aspecto detalhou-se, pois incidia “sobre o terreno” em que o
movimento de libertação incidia com todos os meios ao seu dispor e com o poder
de mobilização que passou a melhor deter). (http://www.mundamba.com/2015/05/manuel-quarta-mpunza-responsavel-do-cvaar-em-matadi-em-1962.html).
A “acção nos Congos” era
já compatível com o que foi a 1ª linha da frente informal instalada em 1965 com
as duas frentes do Che no Congo, conforme tenho referido em intervenções
anteriores! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/11/uma-longa-luta-em-africa-ii.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2017/01/uma-longa-luta-em-africa-iii.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/o-che-e-sua-poalha-humana.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/imprescindivel-fidel.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2016/11/a-unidade-progressista-em-torno-do.html).
De então para cá a amizade entre
Cuba e Angola situa-se bem no eixo da aproximação progressista entre a América
e África! (http://mail.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=899:o-bloqueio-a-cuba-e-tambem-uma-afronta-a-africa&catid=37:noticias&Itemid=206).
A composição do Comité Director,
do Comité Político-Militar e do Exército Popular de Libertação de Angola, EPLA,
era uma pré-adaptação em função do carácter do início da luta armada, com a
vocação de lógica com sentido de vida e a despontar para os parâmetros de
segurança vital indexado ao interior de Angola, face ao colonialismo e ao
neocolonialismo de então, face ao império que no Congo Léopoldville se fazia
intensamente sentir!
O Comité Director tinha um
Presidente (António Agostinho Neto), dois Vice-Presidentes e sete Departamentos
(de Guerra, das Relações Exteriores, da Organização e Quadros, da Informação,
dos Assuntos Sociais, de Finanças e Economia e de Segurança); cinco
Departamentos vocacionavam-se essencialmente para esferas de acção “civil” e
apenas dois, o Departamento de Guerra e o de Segurança, (chefiados
respectivamente por Manuel Lima e Iko Carreira) tinham directamente a ver com a
luta armada propriamente dita.
O subjacente Comité
Político-Militar era formado pelo Presidente, o 1º Vice-Presidente (Matias
Migueis) e pelos Chefes dos Departamentos da Guerra, das Relações exteriores
(Mário de Andrade), da Organização e Quadros (Lúcio Lara) e das Finanças e
Economia (Desidério da Graça).
A segurança vital, inspirada na
própria experiência do movimento de libertação dando primazia ao interior, era
desde logo indispensável ao rumo a seguir para se assumir uma vida independente
e soberana, mas também indispensável quando, na sequência da independência
passaria a ser necessário continuar a assumir capacidade de luta em benefício
da vida e da felicidade de todos os angolanos.
12- A segurança vital nesses
termos mobilizadores, permitiu desde logo outra velocidade e coerência de e na
acção, permitiu articuladas transversalidades, integrando processos
multidisciplinares, abrangentes ou específicos nos seus objectivos, seguindo e
animando a trilha do rumo da luta pela autodeterminação, a independência e a
soberania, garantindo a cultura do respeito para com a humanidade e planeta,
Mãe Terra, em função da vocação inteligente da própria luta!
A 10 de Janeiro de 1963, na
sequência da reorganização preconizada sob a égide de António Agostinho Neto, o
MPLA informava a formação do EPLA, Exército Popular de Libertação de Angola,
predispondo-se a um novo estágio de luta, apenas dois anos depois do 4 de
Fevereiro de 1961. (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/forca_aerea_reflecte_a_estrategia_de_neto).
O EPLA contudo, tendo e conta a
primazia da luta no interior, teve vida efémera e acabaria por ser substituído
pelos Destacamentos Guerrilheiros, antes da proclamação das FAPLA.
A 28 de Fevereiro de 1963, era
fundada a Escola de Quadros, a forja do revolucionário do MPLA.
Nesse primeiro trimestre também o
CVAAR foi reorganizado. (https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnx0Y2hpd2VrYXxneDo3YjNmN2JiOGVmNDhiMWU0).
Em todos os fóruns internacionais
essa revitalização do MPLA se manifestou galvanizadora e mobilizadora em torno
do e com o seu guia e, aqueles que alimentavam letargia de tendência
etno-nacionalista, em torno de Viriato da Cruz e Matias Migueis, passaram a
alimentar argumentos reactivos face à nascente capacidade pró-activa, face ao
seu rumo, face à sua crescente energia e vitalidade apontada para o objectivo
da autodeterminação e da independência de Angola e uma presença justa no seio
das nações e dos povos de todo o mundo.
Vencer a vitimização não foi
fácil no seio do MPLA e, no preciso momento em que essa luta intestina se
radicalizava com a chegada de António Agostinho Neto, as conjunturas próximas
no próprio Congo Léopoldville, assim como a cisão do campo socialista, agravada
no início da década de 60 do século XX, espelhavam-se nas duas correntes
internas mais expressivas de então. (https://revistaforum.com.br/blogs/rodrigovianna/brodrigovianna-hoje-na-historia-1963-ruptura-entre-urss-e-china/).
A segurança vital do rumo
encetado pelo MPLA tendo como guia António Agostinho Neto, experimentou assim
uma primeira ruptura que, por razões dos objectivos da própria luta, urgia
ultrapassar com o reforço do próprio rumo e sua segurança vital face ao
divisionismo e todas as formas de desagregação interna.
A imposição da FNLA e do Governo
Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE), favorecia a conduta
etno-nacionalista e distorcia a amplitude colectiva mobilizadora indispensável
à luta, inibindo a segurança vital do movimento de libertação em África e
procurando sujeitá-lo a interesses que contrariavam a vocação libertária de
todo o povo angolano, esmagadoramente vivendo no interior do país.
Perante esse fenómeno, os
esforços resolutos em defesa do rumo escolhido em torno do guia António
Agostinho Neto, foi imprescindível nos tempos do “Vitória ou Morte”,
tempos que tornaram disjuntivos quando, com a expulsão do MPLA de Léopoldville,
obrigou à travessia do rio Congo e à instalação da sede do MPLA no exílio em
Brazzaville!
Se não houvesse lógica com
sentido de vida, nem capacidade de segurança vital apontada ao interior, o
movimento de libertação em África deixaria de ter a prática dum dos seus
principais componentes e poderia mesmo ter desaparecido na sua expressão de
coerência maior! (https://paginaglobal.blogspot.com/2016/11/a-unidade-progressista-em-torno-do.html; http://litoralcentro-comunicacaoeimagem.pt/2016/11/10/a-unidade-progressista-em-torno-do/).
Martinho Júnior -- Luanda, 26 de Outubro de 2019
Imagens:
01- Capa do livro de Américo
Boavida, “Angola, cinco séculos de exploração portuguesa” – https://www.estantevirtual.com.br/livros/americo-boavida/angola-cinco-seculos-de-exploracao-portuguesa/4029542074;
02- “Angola sob o domínio português,
mito e realidade”, de Gerald J. Bender – https://www.estantevirtual.com.br/copelivros/gerald-j-bender-angola-sob-o-dominio-portugues-mito-e-realidade-1953109788;
03- “O pensamento
estratégico de Agostinho Neto”, de Iko Carreira – https://www.wook.pt/livro/o-pensamento-estrategico-de-agostinho-neto-iko-carreira/71049;
04- “Um amplo movimento-
Volume I” de três volumes – Lúcio e Ruth Lara, continuados pela ATD, “Associação
Tchiweca de Documentação” – https://www.angola-books.com/p1/um-amplo-movimento-vol-i.html;
05- “Agostinho Neto e a
libertação de Angola, 1949-1974, arquivos da PIDE-DGS” – Fundação
Agostinho Neto – https://www.cplp.org/id-4447.aspx?Action=1&NewsId=2210¤tPage=58&M=NewsV2&PID=10872.
Anteriores:
“ADEUS À HORA DA LARGADA”, POEMA
DE ANTÓNIO AGOSTINHO NETO, MARCO DO RUMO QUE LEVOU À CONSUMAÇÃO DO PROGRAMA
MÍNIMO DO MPLA E DO MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA, (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=610:partida-para-o-contrato&catid=45:sagrada-esperanca&Itemid=233 ):
ADEUS À HORA DA LARGADA
Minha mãe
(todas as mãe negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
Sou
eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areias ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafézais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz eléctrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
vão em busca de vida.
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