Martinho Júnior, Luanda
SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE
NOVEMBRO DE 2019
Uma das maiores deficiências de
que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a
ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos
afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.
Essa falta de vontade e de
perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do
conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o
campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias
injectadas do exterior!
Isso permite que outros não abram
o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses,
manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as
interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!
- In – Aprender reinterpretando
– https://paginaglobal.blogspot.com/2019/06/angola-aprender-reinterpretando.html
Esta série pretende reabrir
dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da
América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas
um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e
corajosamente fazer!
Abrir os links permite
complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.
05- O movimento da luta de
libertação em África ao assumir, em nome da vida, a luta pela vida, pela
autodeterminação, pela independência, pela soberania, despertava para um rumo,
pois para se dar ignição à vontade de vencer escravatura, colonialismo, “apartheid”,
subdesenvolvimento, assim como todas as suas conjugadas sequelas e levar por
diante esse imenso esforço pró-activo, necessário seria entre outras
preocupações: (https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-africa-nao-e-desenvolvida-economicamente/)
Estabelecer programas marcando as
etapas desse longo caminho a trilhar, com objectivos e de forma a procurar
cumpri-los mobilizando colectivos dispostos para uma longa luta a desencadear;
desses programas, em Angola o MPLA cumpriu o que foi o Programa Mínimo (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&id=997:discurso-do-presidente-agostinho-neto-na-proclamacao-da-independencia-de-angola)
e o programa de luta contra o “apartheid” (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1095:agostinho-neto-e-a-luta-de-libertacao-na-africa-austral-general-miguel-junior&catid=37:noticias&Itemid=206; http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/angola_foi_determinante_para__fim_do_apartheid);
Identificar a graduação do campo
inimigo e dos papeis que cada componente desse campo detinha para desenvolver
as suas acções; (http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/1975-guerra-pela-independencia.html);
Adquirir cultura vocacional
compatível, exemplar e inabalável, com tão firmes quão modernas convicções e
princípios, a fim de gerar a base de mobilização, organização, sustentação e
disciplina; (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=951:agostinho-neto-teve-um-sentido-de-unidade-muito-forte&catid=37:noticias&Itemid=206; https://paginaglobal.blogspot.com/2016/05/angola-paulo-cadi.html);
Alimentar-se de sabedoria
humanística (sua e de seus aliados naturais), interpretando a necessidade de
avaliar as aplicações que não podiam fugir necessariamente ao rigor, para
melhor abrir caminho evitando-se os escolhos e as armadilhas não só de natureza
histórica, mas também de natureza antropológica e até de natureza
físico-geográfica-ambiental; (http://www.granma.cu/mundo/2014-03-11/de-brazzaville-a-la-paz-definitiva);
Assumir com dignidade a leitura
dialética e geoestratégica dos fenómenos, época a época, conjuntura a
conjuntura, com a necessária capacidade de relativização, etapa a etapa
(recorde-se, fenómenos sempre tão sensivelmente contraditórios e quantos
deles “a quente”); (http://www.granma.cu/cultura/2014-04-11/conmemoran-aniversario-del-proceso-de-lucha-contra-el-colonialismo-espanol-y-la-esclavitud);
Identificar correntes de
pensamento e acção, a fim de melhor escolher as opções vitais, pró-activas ou
reactivas, aferidas ao contexto da própria luta de libertação, nos mais
variados cenários nacionais e externos; (https://paginaglobal.blogspot.com/p/blog-page.html);
Buscar incessantemente consensos,
sempre com a pedagogia propícia à unidade, à coesão e mantendo constante
reserva à artificiosa réplica dos conceitos e práticas etno-nacionalistas,
neocolonialistas e imperialistas; (https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=16146:bureau-politico-do-mpla-considera-agostinho-neto-como-patriota-convicto&catid=23&lang=pt&Itemid=641);
Estudar consequentemente os
espaços físico-geográfico-ambientais, a fim de procurar melhor equacionar as
iniciativas e as acções no terreno, no âmbito da complexidade da luta e da
guerrilha;
Avaliar estratégica e taticamente
o inimigo e suas múltiplas formas de manifestação, face a face à panóplia de
desafios, de obstáculos, de subversões, de alienações, de ilusões, de
ingerências, de conveniências, de manipulações, ou de riscos…
Conter gastos, de forma a
canalizar todos os recursos disponíveis para a abrangência da luta e da
guerrilha;
Assumir práticas inteligentes,
exemplares e num crescendo de mobilização; e…
… nas condições da luta armada,
escolher um líder com o mérito e a força não só para responder a tantos desses
desafios, mas também capaz de ser um guia e fazer erguer do barro, erguer do
chão, um homem novo, a começar por dentro das próprias fileiras. (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/07/09/bajo-la-mirada-silenciosa-de-agostinho-neto/; http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/09/um-longo-caminho-para-paz.html).
A iniciativa que levou por diante
o CVAAR, “Corpo Voluntário Angolano de Apoio aos Refugiados”, correspondeu
desde logo a esse despertar, integrando uma plataforma composta de outras
iniciativas humanísticas, como o surgimento da “União Nacional dos Trabalhadores
Angolanos”, UNTA, fundada a 16 de Abril de 1960… (https://www.unta-cs.com/public/sobrenos.html, http://wizi-kongo.com/luta-de-libertacao-de-angola/dombele-bernardo-a-fundacao-da-unta-na-primeira-pessoa/).
Ambas iniciativas voltadas para a
educação, a saúde e o trabalho nas condições de exílio, contudo surgiram numa
época (início da década de 60 do século passado) em que o MPLA, intérprete do
movimento de libertação em África, ainda não havia conseguido discernir os
termos de seu próprio rumo, nem recebido o guia para levar por diante a saga da
luta armada nas condições e conjunturas de então! (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/paises_ricos_e_paises_pobres).
06- Toco assim nos fundamentos da
lógica com sentido de vida, da lógica que não pode existir sem a coerência
substantiva da luta com o rumo da libertação, um rumo obrigatoriamente exigente
na identificação com o próprio povo ávido dessa libertação! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/09/um-longo-caminho-para-paz.html).
O movimento, no seu significado
mais colectivo, precisava desde logo vencer o estado mental de prostração e vitimização
dos “condenados da Terra”, dos oprimidos, tema que foi sensivelmente
desenvolvido pelo médico e psiquiatra Frantz Fanon, (http://www.buala.org/pt/autor/frantz-fanon)
ele mesmo implicado na luta armada de libertação na Argélia na última fase de
sua curta vida. (http://www.buala.org/pt/a-ler/os-condenados-da-terra-de-frantz-fanon-prefacio-de-jean-paul-sartre).
Dizia ele numa das suas
incontornáveis tomadas de consciência (https://operamundi.uol.com.br/super-revolucionarios/60099/franz-fanon-ator-e-pensador-da-luta-anticolonial):
“Abandonemos essa Europa que não
para de falar no homem, ao mesmo tempo que o massacra onde quer que o encontre,
em todos os cantos de suas ruas limpas, em todos os cantos do mundo”…
O movimento de libertação,
precisava de, ao abordar com rigor os recursos humanos e materiais próprios,
lógica com sentido de vida, capaz de indispensável segurança vital, a fim de
melhor responder aos desafios, aos riscos e às conjunturas por vezes tão
tremendamente adversas tanto internamente, quanto no âmbito dos seus
relacionamentos externos, fosse a nível nacional, fosse a nível regional, fosse
a nível continental, malgrado os campos amigos do Não Alinhamento activo e do
socialismo de então. (http://agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=category&id=48&Itemid=232).
O movimento precisava ainda de
fazer, a quente, em tempo de luta armada e perante contraditórios sucessivos na
tensão entre civilização e barbárie, avaliações que o levassem a uma conduta
anti imperialista, (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/03/11/estado-do-mundo/)
dado o carácter das múltiplas conjunturas que teve de sucessivamente enfrentar,
de Argel ao Cabo e sobretudo, na charneira de “linha da frente” que
era Angola, catapultada pelo génio geoestratégico da primeira linha da frente
informal do Che, entre Dar es Salam e Brazzaville! (http://paginaglobal.blogspot.com/2016/11/uma-longa-luta-em-africa-i.html; http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/11/uma-longa-luta-em-africa-ii.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2017/01/uma-longa-luta-em-africa-iii.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2017/01/uma-longa-luta-em-africa-iv-mobilizacao.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2017/02/uma-longa-luta-em-africa-v.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2017/06/uma-longa-luta-em-africa-vi.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2018/09/uma-longa-luta-em-africa-vii.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2018/09/uma-longa-luta-em-africa-viii.html).
07- A chegada do médico e guia da
revolução angolana a Léopoldville, estabeleceu os nexos de vanguarda para agir
de forma pro-activa gerando o padrão adequado de luta que tinha de enfrentar um
campo inimigo asfixiador, inclusive nas parcas rectaguardas com que naquela
altura contava, com o rumo capaz de atingir o objectivo mínimo: a
autodeterminação, a independência, a soberania… (https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=25457:apresentacao-da-obra-agostinho-neto-e-a-libertacao-de-angola-1949-1974-arquivos-da-pide-dgs-joao-pinto&catid=17&lang=pt&Itemid=1067).
Na conferência com a imprensa
feita pelo Dr. Agostinho Neto, a 10 de Agosto de 1962, (o documento é
transcrito no volume II de “Um amplo movimento”, entre as páginas 434 e
439 – http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=927:agostinho-neto-e-a-libertacao-de-angola-documentos-do-seu-processo-da-pide-dgs&catid=37:noticias&Itemid=206), o
ainda Presidente Honorário do MPLA produziu uma Declaração que, marcando o
momento inadiável da transição interna, fazia sucessivamente: (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&id=66&lang=en).
A retrospectiva da sua própria
vida de luta até chegar então a Leopoldville; (http://www.maan.co.ao/dr-agostinho-neto/uma-fuga-astuciosa/);
A avaliação sintética da situação
grave de sobrevivência e vida em que se encontravam mais de 200.000 angolanos
refugiados no Congo (uma avaliação que aproveitava, entre outros, os relatórios
do recém formado CVAAR); (http://www.buala.org/pt/a-ler/corpo-voluntario-angolano-de-assistencia-aos-refugiados);
A avaliação sintética sobre o
agravamento da repressão colonial no interior do território, com um enorme
campo de morte que se acresceu à opressão, no rescaldo reactivo do colonialismo
português às primeiras acções armadas em 1961; (https://observador.pt/especiais/angola-1961-como-os-independentistas-prepararam-guerra/; http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/repressao_colonial_criou_revolta_popular);
Um curto ponto de situação sobre
as capacidades ainda tão insipientes do MPLA;
A imperiosa necessidade de gerar
unidade e coesão entre todas as forças dispostas à luta contra o colonialismo
português, algo que a meu ver tem já que ver com a indispensável segurança
vital inerente à logica com sentido de vida, em prol duma própria luta armada
com rumo;
Um apelo final pedindo o apoio
internacional a amigos e aliados da justa causa da luta já em curso do
movimento de libertação em África, em especial apoio directo ao próprio MPLA.
No curto ponto de situação sobre
as capacidades do MPLA, o Dr. António Agostinho Neto realçava:
“O Movimento Popular de
Libertação de Angola que a meu ver soube interpretar melhor o sentido da
corrente nacionalista angolana lutando pela realização da unidade nacional e
contra toda a espécie de discriminação de ordem racial, ideológica, etc. e
traduzindo a vontade firme do povo em prosseguir a luta até à vitória final – o
MPLA está em plena expansão.
A luta exige um esforço maior. Os
refugiados têm necessidade duma grande assistência. Os nacionalistas, que têm
necessidade de agir, aderem ao MPLA e exigem os meios para combater.
Por tudo isso o MPLA faz grandes
esforços para aumentar o número dos seus quadros qualificados, adaptar-se à
nova situação militar e política, mobilizar no meio da população quadros para o
trabalho político e administrativo, para a assistência médico-social, para a
instrução da juventude, e para edificar um sistema de cooperativas destinado a
suprir as necessidades de produção e de consumo dos refugiados.
A luta armada deverá ser objecto
de uma atenção especial”.
Buscar unidade e coesão tão
alargada quanto o possível ainda que com factores externos próximos tão
desfavoráveis era por si importante desde logo para buscar unidade e coesão
interna e essa foi a tarefa que assumiu o Presidente (ainda Honorário) António
Agostinho Neto, abrindo a porta que o viria a tornar no guia, “aquele por
quem se espera”! (https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=25457:apresentacao-da-obra-agostinho-neto-e-a-libertacao-de-angola-1949-1974-arquivos-da-pide-dgs-joao-pinto&catid=17&lang=pt&Itemid=1067).
08- A segurança vital que se
pretendia acrescer a unidade e a coesão na luta, sacudia o espectro
sociopolítico interno e de outras organizações, já com a preocupação duma
exigência maior, a fim de sintomaticamente e desde logo se ultrapassarem as
vicissitudes dos etno-nacionalismos e de suas envolvências neocoloniais.
O primado da vida, da unidade, da
coesão e duma luta com rumo, deveria nortear enquanto vanguarda o movimento de
libertação em África, pois essa mesma luta era contra sistemas repressivos e
não de qualquer povo ou comunidade, contra qualquer povo ou comunidade! (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/agostinho_neto_um_percurso_historico).
A doutrina, a filosofia e a
ideologia do rumo, deveria ser por si uma capacidade armada, que antes de mais
deveria atender às vítimas da opressão, deveria transmitir a elas mobilização
para se vencer a vitimização e deveria sobretudo movê-las da letargia para a
indispensável energia humana em prol da liberdade que tão secularmente tardava!
(http://paginaglobal.blogspot.com/2016/11/a-unidade-progressista-em-torno-do.html).
O guia nasceu assim, com esse
espírito de luta, não caiu do céu por obra e graça de espírito santo algum e a
personalidade que amadureceu para ser esse guia, com esse rumo do movimento de
libertação, com esse programa mínimo da autodeterminação, independência e
soberania para Angola, foi António Agostinho Neto! (http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/fundacao_lanca_obra_historica_sobre_antonio_agostinho_neto).
Por isso todas as outras
correntes de interpretação ou integravam as fileiras mesmo que contra aseu
inicial desconhecimento das coisas, ou haviam de ser vencidas e ultrapassadas
quando constituíram fraccionismo, queimando-se as etapas com sobras retrógradas
que se juntaram em tempo de pré independência aos etno-nacionalismos e até
ao “apartheid”, ou esperariam subtilmente a sua hora para se manifestar,
pois esse rumo era mais que exigente: impunha-se para além da sobrevivência:
havia que construir vida no porvir e abrir caminho até ao patamar justo de
vida, a vida que desde sempre a África foi negada, fosse por razões históricas,
fosse por razões inerentes à definição dos complexos processos de antropologia
cultural! (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/07/o-pensamento-de-agostinho-neto-e-um.html).
O guia, no essencial antes do 11
de Novembro de 1975, garantiu o rumo, numa lúcida plataforma embebida de lógica
com sentido de vida, ainda que num aparentemente estreito caminho de segurança
vital, com a valiosa contribuição da revolução cubana! (http://paginaglobal.blogspot.com/2016/03/marcos-dum-caminho-longo-em-comum.html).
Assim sendo a segurança vital,
levando em consideração a trajectória do guia numa atmosfera de intensa lura, (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=529:pausa&catid=45:sagrada-esperanca&Itemid=233)
passava a ser, um conjunto de conhecimentos, conceitos, medidas, métodos,
comportamentos e práticas que concorriam (e hoje como amanhã continuarão a
concorrer) para garantir sustentabilidade à vida, que estão também na base dos
conceitos de desenvolvimento com implicações a muito longo prazo, por isso
amigas da humanidade, amigas do ambiente, amigas da água e amigas da
biodiversidade, geração após geração. (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/reviver-agostinho-neto).
A essência da luta de então,
animou-se substantivamente de expressões da lógica com sentido de vida e de
segurança vital, próprio duma vanguarda que rompe o caminho em função desse
rumo e desponta para o cumprimento dos objectivos previamente fixados, no
horizonte próximo e remoto!
Para o rumo do movimento de
libertação era essa a densidade que recaía no papel do guia, essa densidade que
ele assumiu corajosa e dignamente (antes e depois de vencida a etapa do
programa mínimo), a densidade que ele assumiu sempre que teve de enfrentar
Mobutu, (https://diversidadeafricana.wordpress.com/2012/06/17/os-primeiros-anos-da-angola-independente-1975-1979-marcelo-bittencourt-4/)
a densidade que ele assumiu na luta contra o “apartheid”, mas também a
densidade que começou a não ser assumida, quando num momento crítico se abriu a
porta a outras correntes internas, todas elas subvertendo velada ou abertamente
o rumo, aproveitando-se particularmente do trágico 27 de Maio de 1977 e dos
seus rescaldos, no ocaso “do olhar silencioso de Lénin” (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/08/angola-e-as-inquietacoes-essenciais.html).
Em apenas dois anos e quatro
meses (dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977, até à morte física do
Presidente António Agostinho Neto) a segurança vital foi posta em causa, o rumo
foi posto em causa, desde logo com o próprio “fenómeno” do 27 de Maio
de 1977 que era dirigido contra o guia (e por isso conseguiu sorver a vida de
alguns dos quadros que em torno do Presidente garantiam esse rumo com segurança
vital), abrindo espaço a outras correntes intestinas de até aí letárgica
subversão! (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/04/angola-atingimos-o-zero-martinho-junior.html).
Se o golpe foi contra a
substantiva pedagogia do rumo, contra a vanguarda e contra o guia, nos espaços
vazios, ou nas brechas que se criaram numa manobra de sangue, penetraram
imediatamente sensibilidades internas que aguardavam sua hora e vocação!
Essa é uma das razões de só agora
se abrir a oportunidade para se fazer um sério balanço histórico interno sobre
o peso do 27 de Maio de 1977, mas sobretudo sobre as razões de só agora se
fazer esse balanço!
Por mais disfarces que fossem ou
continuem a ser usados na e com a derrota do fraccionismo, ou por mais
populismos e oportunismos (liberais ou neoliberais) que a partir dele viessem a
medrar, por mais que a propaganda se estimulasse aproveitando o momento mais
radicalizado das contradições internas e depois, a memória dum rumo numa lógica
com sentido de vida não podia equivocar-se pois continuou ainda durante alguns
anos a via da luta contra o “apartheid” e suas sequelas, continua a
via da luta em paz contra o subdesenvolvimento e por um desenvolvimento
sustentável, está a germinar, ainda que mergulhada em tanta insipiência, a via
para se gerar uma cultura de inteligência patriótica imbuída de segurança vital
para o próprio povo angolano! (http://www.angonoticias.com/Artigos/item/61241/27-de-maio-recordar-para-prevenir; https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=37692:filha-de-neto-defende-que-angola-deve-passar-a-realizar-eleicoes-fiaveis-e-crediveis&catid=14:entrevistas&lang=pt&Itemid=1090).
Por essas razões profundas,
inerentes ao movimento de libertação em África, mantenho que apesar de tudo,
apesar da corrupção em elevado grau alicerçada na degradação do rumo, uma
corrupção travestida com as camaleónicas roupas do populismo, do oportunismo e
do neoliberalismo próprio das portas escancaradas, Angola continua a ser um
país com rumo! (https://paginaglobal.blogspot.com/2017/09/mensagem-para-todos-os-africanos-e.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2017_09_24_archive.html; https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/07/09/bajo-la-mirada-silenciosa-de-agostinho-neto/; http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/acordar-o-homem-angolano.html).
CONTINUA
Martinho Júnior -- Luanda, 20 de Outubro de 2019
Imagens:
01- Símbolo vanguardista do MPLA
– iluminando o rumo;
02- Deolinda Rodrigues, membro do
CVAAR e heroína da luta de libertação de Angola;
03- Américo Boavida, membro do
CVAAR e herói da luta de libertação de Angola;
04- Agostinho Neto e Américo
Boavida, no terreno e em missão, em prol do rumo da luta de libertação nacional
de Angola;
05- O Presidente João Lourenço
reafirmando em Havana e perante o busto de António Agostinho Neto, a
necessidade de coerência do rumo.
MEMÓRIA DA HEROICIDADE
INTELECTUAL E HUMANA DE VIRIATO DA CRUZ, OUTRAS DAS FIGURAS PIONEIRAS DO MPLA,
MAS NÃO O FORJADOR DECISIVO DO SEU RUMO (https://www.lusofoniapoetica.com/poetas-de-angola/viriato-da-cruz/mama-negra.html):
Mamã negra (canto da esperança)
(À memória do poeta haitiano Jacques
Roumain)
Tua presença, minha Mãe - drama
vivo duma Raça,
Drama de carne e sangue
Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
Pela tua voz
Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais
[dos seringais dos algodoais!...
Vozes das plantações de Virgínia
dos campos das Carolinas
Alabama
Cuba
Brasil...
Vozes dos engenhos dos bangüês
das tongas dos eitos
[das pampas das minas!
Vozes de Harlem Hill District
South
vozes das sanzalas!
Vozes gemendo blues, subindo do
Mississipi, ecoando
[dos vagões!
Vozes chorando na voz de
Corrothers:
Lord God, what will have we done
- Vozes de toda América! Vozes de
toda África!
Voz de todas as vozes, na voz altiva de Langston
Na bela voz de Guillén...
Pelo teu dorso
Rebrilhantes dorsos aso sóis mais fortes do mundo!
Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor
[amaciando as mais ricas terras
do mundo!
Rebrilhantes dorsos (ai, a cor
desses dorsos...)
Rebrilhantes dorsos torcidos no "tronco", pendentes da
[forca, caídos por Lynch!
Rebrilhantes dorsos (Ah, como brilham
esses dorsos!)
ressuscitados em Zumbi, em Toussaint alevantados!
Rebrilhantes dorsos...
brilhem, brilhem, batedores de
jazz
rebentem, rebentem, grilhetas da Alma
evade-te, ó Alma, nas asas da Música!
...do brilho do Sol, do Sol
fecundo
imortal
e belo...
Pelo teu regaço, minha Mãe,
Outras gentes embaladas
à voz da ternura ninadas
do teu leite alimentadas
de bondade e poesia
de música ritmo e graça...
santos poetas e sábios...
Outras gentes... não teus filhos,
que estes nascendo alimárias
semoventes, coisas várias,
mais são filhos da desgraça:
a enxada é o seu brinquedo
trabalho escravo - folguedo...
Pelos teus olhos, minha Mãe
Vejo oceanos de dor
Claridades de sol-posto, paisagens
Roxas paisagens
Dramas de Cam e Jafé...
Mas vejo (Oh! se vejo!...)
mas vejo também que a luz roubada aos teus
[olhos, ora esplende
demoniacamente tentadora - como a
Certeza...
cintilantemente firme - como a Esperança...
em nós outros, teus filhos,
gerando, formando, anunciando -
o dia da humanidade
O DIA DA HUMANIDADE!...
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