terça-feira, 12 de novembro de 2019

REINTERPRETAR O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA – VI


Martinho Júnior, Luanda  

SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE NOVEMBRO DE 2019

Uma das maiores deficiências de que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.

Essa falta de vontade e de perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias injectadas do exterior!

Isso permite que outros não abram o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses, manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!


Esta série pretende reabrir dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e corajosamente fazer!

Abrir os links permite complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.




21- Em 1966, ainda as colunas guerrilheiras que partiam do Congo estavam a tentar alcançar a 1ª Região Político Militar, já o MPLA estaca a abrir a Frente Leste, fortalecendo o esforço do movimento de libertação em África, conjuntamente com a Frelimo, a Zanu, a Zapu e a Swapo, todos eles também presentes na plataforma da Zâmbia, tirando partido, nas suas linhas, da bacia do Zambeze, dois anos após a independência da colonial “Rodésia do Norte”! (https://www.teorico.co.mz/2018/09/independencia-da-zambia.html).

O movimento de libertação em África na sua luta armada tinha a ideologia como uma arma ofensiva mobilizadora e vocacionada para o futuro, tirando partido dum ambiente internacional favorável, tendente a isolar colonialismo e “apartheid” e, pelo facto de se identificar “no terreno” com as camadas sociais mais deserdadas, os “indígenas” resultantes do colonialismo português e do “apartheid”, particularmente os camponeses quantas vezes barbaramente deserdados de suas próprias terras! (https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2014/9/43/Zambia-Independencia-Zambia-anos-inspirou-paises-vizinhos-Governo-mocambicano,78a77671-feaa-4ec4-bdc9-7b868a86983b.html).

O movimento de libertação garantia segurança vital num quadro proactivo de lógica com sentido de vida, intransponível por que com um guia e um rumo, venciam até as fraquezas e as contradições (algumas delas internas) próprias do início da luta! (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/presidente_felicitou_homologo_zambiano).

Do outro lado do “front”, a internacional fascista, dialeticamente instalada num quadro reactivo, ripostou com doutrinas indexadas aos conceitos cristãos ultraconservadores do tempo das caravelas e do tráfico negreiro, de guerra contra insurreição e de acção psicológica, com imensa dificuldade de programar outros horizontes para além dos disponibilizados pela sua própria barbárie e incapazes de articular doutrina para além da irracionalidade propagada de seu estafado “anti-comunismo”! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/09/uma-longa-luta-em-africa-viii.html).

Isso foi muito importante para definir os campos em que se movia o movimento de libertação não-alinhado mas intenso nas suas energias (e seus aliados naturais, particularmente Cuba revolucionária) e os etno-nacionalismos, todos eles manipuláveis e alienáveis, a partir dos interesses coloniais, neocoloniais e do “apartheid”. (https://guerras.brasilescola.uol.com.br/seculo-xx/guerra-fria-os-paises-nao-alinhados.htm).

Isso foi importante por que face à constante tentativa de neutralização, o movimento de libertação quando estendia as suas forças para o interior de Angola, levou sempre em conta a necessidade de deter espaço vital como garante de suas próprias linhas de penetração e basificação, não ferindo nem unidade, nem coesão, nem a identidade nacional..

Isso foi também muito importante por que luta era muito mais que a guerra: a luta era dirigida à mente e ao coração dum homem ávido de vida e de civilização, mobilizando os próprios povos a libertar e tratando de criar unidade, coesão e identidade nacional, a guerra era desde logo a admissão psicológica duma posição insustentável e diminuída nas suas próprias opções divisionistas ou desagregadoras, que de tão retrógradas, tinham muito mais a ver com a barbárie redundante do passado do que com o futuro!

Isso foi ainda mais importante por que a luta de libertação em África era uma corrente inspirada na revolução dos escravos no Haiti, dos princípios do século XIX, que foi a ignição da luta de libertação na América, com as independências de há dois séculos e todo o processo que se arrasta até hoje em buscada definição da democracia participativa e “protagónica” aberta à vida dos povos e avessa à representatividade democrática conformada pelo império da hegemonia unipolar ao poder de suas oligarquias vassalas e instrumentais! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/03/11/estado-do-mundo/).

De facto reduzir a luta de libertação aos parâmetros da “Guerra Fria”, era desconhecer a própria história segundo a leitura que faziam os oprimidos da Terra, alvos da barbárie secular que sobre eles se abateu desde finais do século XV… (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/imprescindivel-fidel.html).

… Assim se fez avançar a linha da frente informal Dar es Salam – Brazzaville, para a plataforma que constituía a Zâmbia, que, apesar das filtragens dos serviços de inteligência reactiva, passava a propiciar mais capacidade ofensiva proactiva dirigida à espinha dorsal da África Austral e às suas transversais costelas! (https://bambaramdipadida.blogspot.com/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.htmlhttps://paginaglobal.blogspot.com/2017/11/angola-11-de-novembro-de-1975-uma.html).

22- Instrumentos da guerra colonial contra o alvo dilecto que era o movimento de libertação, como a PIDE-DGS e o SCCIA apoiados pelas escolas que formaram seus quadros (particularmente o ICSPU, Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina), em África só podiam encontrar campo de manobra, tão discreta quanto o possível, em ambientes reactivos indexados ao neocolonialismo, como por exemplo no Zaíre (particularmente com a ascensão de Mobutu), ou no Senegal, onde pontificava um ícone da cultura francofone, Leopold Senghor, ou no Malawi sob a égide dum vassalo de curtos horizontes como Hastings Banda! (https://www.dn.pt/artes/interior/a-pide-no-xadrez-africano-ou-as-acoes-e-subversoes-de-um-agente-para-manter-imperio-portugues-8869014.html).

É evidente que mesmo nesses países a manobra do movimento de libertação era imparável, apesar do terror que foi movido contra ele, conforme o caso do Congo-Zaíre na constante hostilização ao MPLA e apesar dos papeis do CVAAR e da UNTA! (http://wizi-kongo.com/luta-de-libertacao-de-angola/a-questao-identitaria-na-crise-do-mpla-1962-1964/).

O Inspector Fragoso Allas, que viria a ser um dos discretos mentores do “spinolismo” reactivo do “Portugal e o futuro”, é identificado no IIº tomo de “Agostinho Neto e a libertação de Angola – 1949 -1974”, quando ouviu o desertor do MPLA, proveniente de Brazzaville, José Rodrigues Ferreira (Relatório nº 21/65-GAB, páginas 580-611). (http://www.dw.com/pt-002/as-manobras-pol%C3%ADticas-da-pide-no-xadrez-africano/a-42113292).

Nesse relatório, entre muitas outras preocupações de carácter reactivo, procurava o Inspector saber sempre sobre os armamentos que o MPLA recebia em Ponta Negra enquanto o desertor José Rodrigues Ferreira por lá esteve, armamento indispensável para levar a cabo a luta armada em Angola face à teimosia retrógrada de Salazar e de Caetano, grande parte dele naquela altura proveniente da Bulgária!

O Fragoso Allas foi, recorde-se, um dos mais diligentes instrumentos humanos do âmbito do Pacto Ibérico (entre Salazar e Franco), assinalado pelo Departamento de Segurança do MPLA em 1962!

Seria contudo em Lusaka que a inteligência colonial se esmeraria em contactos, já no início da década de 70 e antes do 25 de Abril, explorando o êxito de Jorge Jardim, a parir de Moçambique e Malawi.

Em 1966, segundo Iko Carreira em suas “Memórias” (página 88), “o MPLA tomou então duas grandes iniciativas –a formação e envio para o interior do país de esquadrões político-militares integrados em colunas de população e, para o Leste, de quadros oriundos do norte do país. O MPLA seguia a sua linha estratégica – reforçar-se e expandir-se para poder verdadeiramente fustigar o inimigo”… (http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/lazer-e-cultura/2005/5/22/Nzila-aprtesenta-hoje-livro-sobre-Memorias-Iko-Carreira,000f0ca2-adb6-46ed-9313-dbdb7e973e0f.html).

Entre 1966 e 1970, o MPLA conseguiu ganhar a rectaguarda da Zâmbia, mesmo assim sem se poder evitar por um lado outras dissidências internas, ou o seu embrião, por outro o crescimento dos processos reactivos, quer com a Operação Madeira que haveria de integrar Savimbi na guerra de contra insurreição e contra a progressão do MPLA no leste, quer com a chegada das SADF, em 1968, nos alvores do Exercício Alcora, na tentativa de fortalecer o campo da internacional fascista na África Austral e Central, (precisamente no canto sudeste de Angola)!

Há outra questão a evidenciar e para isso recorro a Iko e suas “Memórias” (páginas 87/88):

“Há que salientar a actividade da União Soviética e de Cuba nesta fase:

Estes países tornaram-se o maior suporte do MPLA – continuando a sê-lo até depois da independência e até pouco antes do desmoronamento da União Soviética, formando quadros e prestando ajuda material em diversos ramos.

Em boa verdade, o MPLA ainda não se tinha declarado marxista-leninista (nem nunca o fez durante aluta de libertação), mas o facto de alguns dos seus dirigentes não o serem declaradamente, impediu a União Soviética, por motivos ideológicos, de ser mais consequente.

A título de exemplo, ao contrário do PAIGC e da Frelimo, o MPLA durante a luta de libertação nunca recebeu da União Soviética mísseis antiaéreos Estrela 2.

O PCUS, Partido Comunista da União Soviética, desconfiou sempre dos dirigentes do MPLA, por um lado devido ao seu nacionalismo e por outro por a organização ter por várias vezes recusado defender as teses expressas pelos representantes dos organismos da União Soviética.

Este país, por sua vez, não apreciava muito as posições e Agostinho Neto e parece ter sido a caução de Álvaro Cunhal que levou o PCUS a apoiar o MPLA”.

O Não Alinhamento activo podia e devia ter seus aliados no campo socialista, mas era seu dever não se limitar aos parâmetros históricos e antropológicos do âmbito da Guerra Fria, apesar dos custos que isso comportou! (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/07/nao-alinhamento-activo-imprescindivel.htmlhttps://www.facebook.com/groups/MPLA.Angola/permalink/2196636483700430/).


23- Em 1968 o guia e seus seguidores reagiram às tentativas de neutralização e asfixia do MPLA… do ambiente de decrepitude houve a criatividade proactiva que só a lógica com sentidode vida poderia propiciar!

O MPLA esboçou “O Plano Iko e a abertura da Frente Leste” (https://www.buala.org/pt/a-ler/a-vitoria-e-certa-apontamentos-para-a-historia-do-mpla):

Os dois anos seguintes serão decisivos para a afirmação do MPLA enquanto movimento de libertação e para o lançamento da luta de guerrilha no território angolano.

“A estratégia adoptada conjugava a intervenção política e militar segundo os princípios da guerra de guerrilha teorizados pelos revolucionários chineses, cubanos, vietnamitas e argelinos.

Pouco produtiva em termos de novas adesões ao movimento e de crescimento político, a frente de Cabinda permitiu formar a primeira geração de guerrilheiros, testar os comandos militares formados na Argélia, China, URSS e nas próprias bases congolesas, bem como o armamento que então começava a chegar ao porto de Brazzaville, de proveniência jugoslava e soviética.

O MPLA irá então lançar um ambicioso plano, o Plano Iko, para conseguir vencer a barragem imposta pela FNLA e pelo governo de Mobutu no agora Zaire e que o impedia de atingir a sua I região político-militar no distrito de Luanda.

Um escritório foi aberto em Dar-es-Salam, capital da Tanzânia, em 1964 e outro em Lusaka, capital da Zâmbia, em 1965, aproveitando a vaga de independências vizinhas.

Tudo consistia na criação de uma segunda frente de combate no Leste de Angola, com a deslocação de armas e combatentes para a fronteira da Zâmbia, a criação de bases de lançamento de colunas de guerrilheiros para o interior do país.

A dificuldade do plano estava desde logo no transporte de material desde a costa tanzaniana até à Zâmbia por um extensíssimo e acidentado percurso terrestre.

A segunda dificuldade estava na própria penetração no interior do território, numa zona semi-desértica, com populações que o colonialismo português praticamente não influenciara, que viviam segundo costumes e modos de vida próprios (onde predominavam grupos familiares alargados, comunidades aldeãs ligadas por parentesco e laços étnicos, hierarquias tribais e uma agricultura extensiva de subsistência), falavam dialectos próprios e que até aí tinham poucos contactos com as ideias nacionalistas.

A penetração foi efectuada inicialmente por pequenos grupos com tarefas de contacto com as populações e de difusão de algumas ideias nacionalistas.

Os sentimentos anti-coloniais não deixavam de ser ai profundos, tendo os primeiros guerrilheiros encontrado um terreno favorável à sua acção, rapidamente explorado em sucessivos ataques às estruturas do poder colonial, num avanço decidido para Oeste, em direcção ao planalto central de Angola com o intuito de circundar o Huambo e o caminho de ferro de Benguela pelo norte e pelo sul.

As primeiras vitórias do MPLA na frente leste permitiram-lhe ganhar um considerável prestígio entre as populações, com um afluxo de jovens e, por vezes, de populações inteiras, aos acampamentos da guerrilha, onde se formavam Serviços de Assistência Médica, Centros de Instrução Revolucionária, sistemas de cultivo colectivos, levando à formação de autênticas zonas libertadas, cuja extensão e segurança levaram a que parte da direcção do movimento se tivesse deslocado para o interior em 1968.

A frente Leste, que avançou decididamente, desde a criação da III Região politico-militar no Moxico em 1966, até à IV Região na Lunda em 1968 e a V região no Bié em 1969, seguindo o Plano Iko - cujo intuito era a criação de uma Pista Agostinho Neto, que ligasse as bases da Zâmbia à I Região político-militar e permitisse ao movimento uma capacidade operacional ofensiva às portas de Luanda – permitiu ao MPLA alcançar um prestígio internacional inigualável e ser reconhecido em 1966 pela OUA como legítimo representante do povo Angolano, reforçada pela falência visível do projecto político de Holden Roberto, cada vez mais subordinado ao poder de Mobutu e aos interesses norte-americanos na região”…

Segundo Iko Carreira (“Memórias”, página 95), a apenas três anos depois da passagem do Che por Brazzaville e dos contactos com o MPLA:

“Como já tive ocasião de dizer, nos começos do ano de 1968, mais precisamente a 3 de Janeiro, o camarada Presidente Agostinho Neto deu uma conferência de imprensa em Brazzaville em que anunciou a transferência da Sede para o interior.

Iniciou-se então um grande movimento de militantes e de estruturas em direcção ao leste.

Esta mudança veio modificar sensivelmente a linha estratégica do MPLA.

Dada a impossibilidade de atingir a 1ª Região via Zaire, tentámos fazê-lo a partir do leste, onde concentrámos todo o nosso esforço.

Foi ainda ao longo dessa conferência que o Presidente Neto focou duas questões que, na altura, revestiam grande importância para o MPLA.

A primeira que acusava o Presidente Mobutu de impossibilitar a luta em Angola, por não dar liberdade de acção suficiente à nossa organização.

Ora acusar um chefe de estado africano não era uma coisa normal…

Mas o Presidente Neto, destemido e corajoso como era, acusou Mobutu de ser o grande causador da estagnação da guerra em Angola.

A segunda questão focada relacionava-se com o facto de existir uma tendência entre alguns combatentes a ir viver no exterior, o que significava um grande peso para a organização, sobretudo quando eles se instalavam nas cidades.

Foi essa uma das razões que levou o camarada Presidente a mudar a Sede para o interior, transformando assim Brazzaville e Dr es Salam em meras representações do MPLA.

Agostinho Neto pediu ainda que o GRAE deixasse de ser reconhecido, mas mesmo os chefes de estado africanos nossos amigos não acreditaram que a OUA viesse a reconsiderar tal possibilidade”…

Imaginam por que razão tenho reivindicado hoje para Angola, “colocando minhas pernas no futuro” a mudança de paradigma no sentido de adoptar “Uma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável”?

O patriotismo angolano não se esgotou e se antes perante os desafios da pré independência, foi possível o Plano Iko e a Rota Agostinho Neto, acredito que numa ampla base de consensos patrióticos é possível em democracia a mudança de paradigma que, perante a dialética antropológica milenar inerente ao próprio continente, é hoje vitalmente recomendável para Angola!...


24- A Rota Agostinho Neto passou a ser uma preocupação muito mais séria para o colonialismo português, para o neocolonialismo, para o “apartheid”, para a internacional fascista, para o império e todas as suas sequelas!... (https://observador.pt/especiais/paraquedistas-a-forca-especial-que-entrou-na-guerra-de-angola-pelo-ar/).

Uma apreciação portuguesa à então “guerra colonial”, vê-a assim (https://www.guerracolonial.org/index.php?content=327):

“Rota Agostinho Neto

A organização político-militar do MPLA foi-se aperfeiçoando ao longo da guerra, com muitos recuos e avanços, que quase sempre reflectiam a sua capacidade política de conduzir a luta no interior.

Em 1970, pode dizer-se que o movimento dispunha de complexa organização, abrangendo quase todo o território de Angola, dividido em seis regiões militares”.


“Em conferência de imprensa realizada em Brazzaville, em 3 de Janeiro de 1968, Agostinho Neto definiu o seguinte objectivo para a organização militar do MPLA:

Conduzir uma guerra popular revolucionária de longa duração, generalizada a toda a extensão do território nacional e envolvendo aldeias, que são também mobilizadas para o trabalho clandestino e que serão tomadas na última fase da guerra”. 

“A abertura da IV Região Militar (Malanje), em 1968, destinava-se a possibilitar a ligação entre o Leste e o Norte, com o fim de apoiar esta região a partir da Zâmbia através de uma linha de infiltração a que foi dado o nome de Rota Agostinho Neto”. 

“O início do movimento de expansão da III Região Militar para norte do caminho de ferro de Benguela, com vista à instalação da futura IV Região Militar, ocorreu em 18 de Março de 1968, tendo sido efectuado por elementos da Zona A da III Região Militar, comandados por Pambassangue, que partiram de Lumeje.

Como comandante de toda a operação de penetração foi nomeado Petrof, membro da Comissão Militar, mais tarde substituído por Henrique Teles Carreira, Iko.

Para esta operação foram constituídos dois grupos, sendo designado o primeiro por Certeza ou Fura Terra, sob o comando de Paulino Manuel e de João Correia Diazau e o segundo por Lastro ou Fura-Mata, que actuou dividido em dois subgrupos com os nomes de Lastro A ou Secção Sangue do Povo, sob o comando de Cafuxe, e Lastro B ou Secção Pachanga, sob o comando de Chambassuku.

O conceito de manobra desta operação consistia em fazer actuar o Certeza na região de Luacano-Casage-Lumeje-Nova Chaves-Cassai e o Lastro na região de Lumeje-Buçaco e infiltrar um destacamento com a designação de Grande Bomboko ou BBKO, sob o comando de Mateus Cadete Kavunga, com a missão de atingir Sautar (distrito de Malanje) e activar o II Distrito da IV Região Militar.

Em 15 de Junho, o destacamento BBKO chegou a Mandume, sendo dividido em três secções, que avançaram por escalões. Os grupos Lastro escoltaram o destacamento BBKO até Sautar, cobrindo-lhe os flancos e a retaguarda.

Em 29 de Julho de 1968, o primeiro grupo do destacamento Certeza encontrava-se na margem esquerda do rio Lualo, a sueste de Nova Chaves, portanto no seu objectivo, vindo o seu posto de comando a receber o nome de código de Kaladende.

Por sua vez, em 8 de Agosto, a secção Pachanga estava na região de Luatxe, juntamente com a primeira secção do destacamento BBKO.

A partir de 31 de Outubro, o MPLA achava-se em vias de consolidar a sua actividade político-militar na Lunda e na faixa leste do sector do Luso e de infiltrar uma secção do destacamento BBKO na região de Sautar, através da infiltrante geral rio Luena-Sandando-rio Cassai, que materializaria a Rota Agostinho Neto.

Em 30 de Novembro de 1968, parte do destacamento BBKO estava instalado na região de Luma-Cassai e a secção Certeza implantara-se entre Casage-Nova Chaves e o rio Cassai.

O posterior desenvolvimento da guerra obrigou o MPLA a deslocar a Rota Agostinho Neto mais para sul e, em 1969, foram assaltados por forças portuguesas cinco dos principais acampamentos que apoiavam esta penetrante - Chichima, Chiconde, Ho-Chi-Minh, Cauevo e Che Guevara.

A Rota Agostinho Neto constituiu a zona de conflitos mais intensos entre as forças do MPLA e as forças portuguesas de toda a guerra no Leste”.

A derrota política venceu qualquer tipo de “vitória militar” que fosse evocada e isso aconteceria sempre que se tocasse no assunto da luta de libertação em África e das campanhas que ainda hoje lhe são movidas… como acontece com a recente versão fascista-colonialista de “história” segundo Carlos Pacheco!... (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1222:assassinato-da-memoria-de-neto&catid=37:noticias&Itemid=206).

A versão dum qualquer “Pacheco” (Patrícia Faria parece ter descoberto esse nome parasitário ainda que sem aplica-lo ao fascismo-colonialismo português… fenómenos típicos de “cama e mesa” – https://www.youtube.com/watch?v=jIHRgzIlilU), é um último arroto ideológico da longa trilha do “spinolismo” que tem alimentado múltiplas “transversais” sociopolíticas portuguesas, algumas delas “deep inside” nos governos portugueses do “Arco da Governação” sucedâneos do golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal!

Naquela altura porém, a passagem da linha da frente informal, do paralelo intoxicado da bacia do Congo, para o paralelo mais oxigenado da bacia do Zambeze, penetrando de norte para sul na África Austral, foi feita com a certeza vertical, como uma gigantesca espada translúcida duma lógica com sentido de vida dirigida ao coração da barbárie, que seguramente conduzia à incontornável assunção civilizacional de “A VITÓRIA É CERTA”! (http://www.faan.og.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=192:acacio-barradas-escreve-sobre-a-vida-de-neto&catid=76:2009&Itemid=245).

CONTINUA

Martinho Júnior -- Luanda, 4 de Novembro de 2019

Imagens: 
01- “A abertura da Rota Agostinho Neto foi uma das mais extraordinárias acções político-militares do MPLA. Muitos combatentes que participaram nessa saga heróica ainda estão vivos. Foi assim que nasceu a Frente Leste. Pacheco não falou com nenhum comandante. E podia falar com o almirante Toka, hoje na carreira diplomática, ou o comandante Ndalu, membro do bureau político do MPLA e deputado. Mais: o seu amigo e colega de liceu, Roberto Leal Monteiro, Ngongo” general das FAA na reserva e deputado, que combateu sempre na Frente Leste. Ainda mais um: o general Petroff, especialista em minas e armadilhas não convencionais, que à sua conta obrigou à presença de dez batalhões, em permanência, na Zona Militar Leste” – http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1222:assassinato-da-memoria-de-neto&catid=37:noticias&Itemid=206;
02- “A Rota Agostinho Neto constituiu a grande operação do MPLA no Leste de Angola, após ter obtido o apoio da Zâmbia para ali instalar bases militares, o MPLA pretendeu ligar a sua 3ª Região Militar, o Leste, à sua 1 ª Região Militar, o Norte, progredindo primeiro ao longo do caminho de ferro e depois em direcção a Malanje. Nesta operação o MPLA empenhou as suas melhores forças e comandantes e foi ao longo desta «Rota» que se desenvolveram os grandes combates entre aquele movimento e as forças portuguesas da Zona Militar Leste. Nos primeiros meses de 1970, o MPLA concentra esforços no Leste de Angola, procura abrir um corredor em direcção ao Norte através do Planalto Central, coração económico da província e importante região estratégica, designa os melhores chefes militares, Petroff e Iko Carreira” – http://cart3514.blogspot.com/2009/10/historia-rota-agostinho-neto.html;
03- “Um retrato biográfico do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto (1922-1979), completado por testemunhos inéditos de familiares e amigos, dão forma à obra “Uma Vida Sem Tréguas”, organizada pelo jornalista Acácio Barradas” – http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_flippingbook&view=book&id=2&page=1&Itemid=110&lang=pt
04- … “Eram conhecidos e estavam identificados 3 esquadrões na zona, o Voina, o Vitória e o Sakembo (1 esquadrão tinha 100 a 150 efectivos).
Chamavam-lhe a Rota do Luena ou Agostinho Neto” – https://cc3485bt3870.blogs.sapo.pt/tag/mpla
05- “A CONCP voltou a reunir-se em Dar-Es-Salam, em 1965, para a II Conferência (da esq. para a dir.) Agostinho Neto, Gaston Sumialat, Amílcar Cabral, Mohamed Babu, Eduardo Mondlane e Mohamed Meghracui” – https://desenvolturasedesacatos.blogspot.com/2014/04/historia-da-guerra-colonial-13-parte.html.

TEXTOS ANTERIORES, DESTA SÉRIE:






AGOSTINHO NETO ATÉ NA POESIA RESPIRAVA E REFLECTIA O RUMO DA LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=577:criar&catid=45:sagrada-esperanca&Itemid=233).

CRIAR

Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impúdica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com olhos secos
Criar criar
gargalhas sobre os escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiros
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com olhos secos
Criar criar
Estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar com olhos secos
Criar criar
criar liberdades nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forças simuladas
criar
criar amor com os olhos secos.

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