Angola está a sofrer diretamente
da epidemia do novo coronavírus Covid-19. A desaceleração do comércio com a
China afeta as exportações de petróleo e coloca em causa a recuperação da crise
económica do país.
A epidemia do coronavírus é
um problema global e por isso estão a ser encetados esforços a nível mundial
para conter o Covid-19. Novos casos no Irão e na Itália reforçam a necessidade
de uma ação para travar a disseminação do vírus que já contaminou mais de
78 mil pessoas na China e causou mais de 2600 mortes.
Para além das questões de saúde,
as economias estão sendo impactadas pelas barreiras sanitárias e restrições de
movimentações entre países. A consequente desaceleração dos negócios com a
China é outro problema global, particularmente grave para países em
desenvolvimento como Angola, que dependem quase completamente da exportação de
uma matéria prima - o petróleo.
Segundo o economista angolano
Precioso Domingos, a dependência económica deAngola do
petróleo, e da sua venda para a China, afeta mais do que as receitas do
país e pode gerar uma queda na produção.
"Sendo hoje a China o maior
importador de petróleo da Angola, começa por afetar o preço do barril do
petróleo, como está a ocorrer. E, afetando o preço, significa que Angola tem
menos receitas por arrecadar. Mas a história não fica por aí. Isto
afeta de forma dupla Angola pela via do preço que afeta as receitas, mas
por outro lado também inibe a produção. Porque o preço serve como incentivo
para o aumento da produção, para fazer novos investimentos a nível do
setor petrolífero angolano”, disse o economista à DW África.
Riscos de agravamento da crise
Angola vive um perído de crise
desde 2016, agora agravada pelos escândalos de corrupção protagonizados
pelo ex-Presidente José
Eduardo dos Santos e a sua família. A dívida pública chega a 90% do
Produto Interno Bruto (PIB) e ocupa mais de metade do Orçamento
Geral do Estado (OGE). Angola depende quase que exclusivamente da exportação de
petróleo para gerar receitas, o que torna o país muito vulnerável com
a redução do comércio com a China.
Segundo Precioso Domingos,
acresce que o agravamento da crise pode impedir o país a sair do período
de recessão a curto prazo. O economista realça que Angola vai precisar do crude
para sair da crise. "O setor não petrolífero angolano é muito fraco e
tem tendência de se tornar mais fraco do que já é a curto e médio prazo".
O que também significa, no entanto, que se as receitas geradas pelo petróleo
cairem, Angola "dificilmente vai sair da recessão em 2020. E isso
pode-se prolongar até 2021". Com outra consequência grave: "Em termos
de capacidade de atrair investimento, quer nacional, quer estrangeiro, mas
sobretudo estrangeiro, o país fica limitado”, comenta o especialista.
Perspectivas económicas
Para já, diz Precioso Domingos, o
Governo angolano não se deve precupar com uma revisão do Orçamento Geral do
Estado. Isto porque o vírus ainda pode ser contido, o que evitaria grandes
prejuízos ao país. Apesar dessa esperança, o economista salienta que
Luanda deve olhar para o coronavírus com muita cautela, pois se o surto
alastrar ou durar por períodos mais longos, a epidemia pode
trazer graves problemas económicos ao país. E Angola não está preparada para as
consequências.
"O coronavírus acaba sendo
mais prejudicial para países como Angola do que propriamente para países como a
China. A capacidade de resiliência da economia chinesa é diferente da nossa, e
da capacidade de resiliência de economias africanas". E fica o
alerta: "Angola deve olhar para o coronavírus com muita preocupação”.
Marina Oliveto | Deutsche Welle
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