Alemães saem às ruas de Hamburgo
e outras cidades para exigir que governo aceite receber migrantes em meio à
crise na fronteira grego-turca. Manifestantes denunciam violência estatal na
região e clamam: "Há espaço aqui."
Milhares de pessoas saíram às
ruas de cidades como Berlim e Hamburgo neste sábado (07/03) em protesto contra
a atitude do governo alemão diante da crise migratória que se instalou na
região fronteiriça entre a Grécia e a Turquia. "Abram as fronteiras",
clamam os manifestantes.
Os protestos ocorrem em resposta
à delicada situação provocada na divisa turca com a União Europeia (UE) depois
que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que não mais
impediria os migrantes de cruzarem o limite de seu país em direção à Europa.
O anúncio levou milhares de
refugiados – muitos do Afeganistão, Irã e Síria – para a região fronteiriça,
onde forças de segurança gregas tentam impedir a todo custo a entrada desses
migrantes, fazendo uso inclusive de gás lacrimogêneo e canhões de água.
A Alemanha, juntamente com outros
países da UE, insiste que não pode acolher mais requerentes de refúgio e que a
fronteira para o continente permanece fechada.
"Se a Europa fecha
oficialmente suas fronteiras e a violência estatal contra os refugiados
aumenta, todas as pessoas que defendem a solidariedade e o direito de refúgio
devem ir às ruas", disse Christoph Kleine, ativista do grupo Seebrücke,
que organizou o ato em Hamburgo.
Ao menos 5 mil pessoas estiveram
presentes na manifestação na cidade no norte do país neste sábado, segundo os
organizadores. A polícia fala em 3.900 manifestantes.
"Hamburgo tem espaço",
gritavam muitos dos presentes, em referência às alegações de alguns políticos
de que a Alemanha não tem espaço suficiente para acolher mais migrantes. Em
cartazes, liam-se frases como "parem a guerra, não as pessoas" e
"ajudem!".
O protesto também buscou chamar
atenção para as condições cada vez mais degradantes no superlotado campo de
refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos.
Segundo a médica Verena Atabay,
que trabalhou em Lesbos, muitos migrantes ali vivenciaram tortura e
maus-tratos, enquanto menores de idade moravam sozinhos em tendas, dormindo no
frio e no molhado. "Não podemos decepcionar essas pessoas", disse
ela.
"Tenho vergonha desta
Europa", afirmou Heiko Habbe, da organização Fluchtpunkt, que presta
assistência jurídica gratuita a refugiados. Segundo ele, fechar as fronteiras
da UE não afasta inimigos, mas pessoas necessitadas. Habbe exige o fim da
violência estatal, a dissolução do campo de Moria e um processo de concessão de
refúgio mais justo aos migrantes.
O protesto em Hamburgo foi o
maior de vários ocorridos na Alemanha neste sábado. Em Berlim, organizadores
falam em 4 mil manifestantes. Também estavam planejados atos em Münster,
Weimar, Ulm, Leipzig, Oldenburg e Rostock, bem como em cidades da Áustria e da
Suíça.
As demandas dos manifestantes
ecoam as de vários políticos alemães de esquerda, que pediram à chanceler
federal Angela Merkel que acolha ao menos os refugiados mais vulneráveis.
Em comunicado conjunto neste
sábado, governadores do Partido Social Democrata (SPD), incluindo os prefeitos
das cidades-estados de Berlim, Hamburgo e Bremen, exigiram a criação de um
"pacto de humanidade", sob o qual migrantes possam ser acolhidos e
distribuídos entre as regiões.
"Colocando todo o cálculo
político de lado, agora é hora de agir e, no mínimo, tirar pelo menos as
crianças e jovens refugiados desacompanhados dessa situação", afirmou o
prefeito de Berlim, o social-democrata Michael Müller.
Dezenas de milhares de migrantes
estão tentando entrar na Grécia, um Estado-membro da UE, desde que a Turquia
afirmou, em 28 de fevereiro, que não mais tentaria mantê-los em seu território,
conforme foi acordado em 2016 com o bloco em troca de ajuda financeira.
A atitude foi vista como uma
tentativa de pressionar a UE a aumentar a ajuda ao país, que abriga em torno de
3,6 milhões de refugiados sírios, ou ainda para obter o apoio europeu à
campanha militar da Turquia na Síria.
A própria Grécia vem registrando
um aumento no número de refugiados oriundos da Turquia. Em 2019, mais de 60 mil
requerentes de refúgio chegaram ao país, onde os campos estão superlotados e
sofrem com escassez de alimentos, roupas e medicamentos.
Na última quarta-feira, o
Parlamento alemão rejeitou uma moção do Partido Verde para admitir 5 mil
menores provenientes de campos de migrantes gregos. O ministro do Interior da
Alemanha, Horst Seehofer, que adota uma postura rígida em relação a refugiados,
disse que o país apenas acolheria pessoas no contexto de uma iniciativa
europeia ampla.
Desde que Merkel abriu as
fronteiras alemãs para mais de um milhão de refugiados em 2015, a migração se
tornou uma das questões mais polêmicas no país, gerando uma divisão em seu
partido, a União Democrata Cristã (CDU), e alimentando uma onda de extrema
direita.
Deutsch Welle | EK/dpa/afp/epd/rtr
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