Quase sem preâmbulo, lá voltamos a roubar o Curto ao tio Balsemão (hoje sem Bilderberg). O trabalhador do texto foi José Cardoso, definido por editor-adjunto lá do burgo… Todos jornalistas, queremos acreditar, mas com cargos de categorias reluzentes. Boa. Estamos a tentar perceber como classificarão as senhoras da limpeza a laborar no Expresso e restante grupo balsemista. “Pérolas da Higiene”. Será também uma boa. Parabéns, senhoras… Mas, nem por isso ganham mais, antes pelo contrário. É a vida, não só de marinheiros, mas de todos que neste país se estão a afogar. Somos os náufragos dos tais um por cento que nos exploram selvaticamente e que passam por nós navegando nos seus iates de luxo, indiferentes, sem sequer nos laçarem umas bóias.
Acerca das abordagens por que o autor envereda diremos que “é uma questão de ler” – parafraseando parcialmente António Gueterres acerca de números e contas, não de letras.
Por isso remetemos todos vós para o Expresso Curto. Leiam, para ficarem mais atualizados sobre o que trata o Expresso e também acerca dos tratantes que abundam por este mundo cercado de oceanos poluídos e cada vez mais destruído devido à ação humana e febre do lucro de gentes que nem se pode dizer que na nossa escala estejam abaixo de cão porque os animais neste caso até merecem medalhas de bom comportamento e bom trato, ao invés dos referidos tratantes.
Bom dia e uma carteira recheada… de sonhos, que é algo semelhante ao Xanax para os que estão em baixo, ressacados por via da atual sociedade do esclavagismo moderno e do planeta pestilento em que somos obrigados a sobreviver.
Em tempos salazaristas (anos 60), depois do assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, obra de Palma Inácio e outros anti-fascistas, disse Luís Filipe Costa aos microfones do Rádio Clube Português: "Felizmente há LUAR". Agora dizemos nós: Felizmente há Avante! Porque não?!!
Vá no Curto. A seguir.
MM | PG
Bom dia, este é o seu Expresso Curto
A
Avante! que vai avante e a Beirute que regressa ao passado
José Cardoso | Expresso
De repente, receou-se que a História estivesse a rebobinar 30 anos e voltou a pairar o espetro do regresso à guerra naquele que é o país do Médio Oriente mais martirizado por ela nos tempos recentes, o Líbano: duas grandes explosões praticamente seguidas arrasaram boa parte do porto da capital, Beirute, e uma vasta área adjacente.
Para se ter uma ideia da violência da segunda explosão, fique a saber que
provocou ondas sísmicas equivalentes às de um abalo de 3,3 graus na escala de
Richter e que foi ouvida na ilha de Chipre, a mais de 200 kms. O balanço vai
já, à hora de envio desta newsletter, em pelo menos 100 mortos e 4 mil feridos
– e aumentará certamente ao longo das próximas horas e dias, porque há
numerosos desaparecidos.
Tem AQUI um
texto que reúne toda a informação pertinente. E AQUI um
minuto de vídeo que condensa gravações feitas por vários telemóveis
imediatamente antes, durante e logo após as explosões.
As deflagrações e suas causas (as primeiras informações apontam que terão sido acidentais) e primeiras consequências têm sido desde a tarde de ontem o tema dominante nos noticiários em todo o mundo.
Perdoe-se-me a soberba da militância em ca(u)sa própria, mas o Expresso tem
feito um excelente trabalho, pela quantidade, qualidade e rapidez da informação
que fez chegar aos seus leitores, nomeadamente com várias reportagens e relatos.
Como ESTE
RELATO do português José Cortez, que tinha chegado a Beirute 24 horas
antes. Ou o de Joachim, que andou
quatro quilómetros por cima de vidros partidos . Ou o que conta
Ahmad, que diz
não ter percebido se estava vivo ou não. Porque a explosão
foi 10 vezes maior do que a do bombardeamento de depósitos de combustível por
Israel, como nos contou Ihab Kraidly
Ao
que se sabe até agora, há apenas um português ferido. Mas há portugueses
que vivem em Beirute que só escaparam porque não estavam em casa.
A
FESTA QUE VAI AVANTE
Tem
sido, e promete continuar a ser durante pelo menos mais um mês - pelo que é mas
também por ser organizada por quem é - a discussão política (e de café) mais
apaixonada sobre os limites das restrições na luta contra a covid-19: deve a
Festa do Avante! deste ano realizar-se? Não deveria o Governo impedi-la? Por
que motivo não estão autorizados até fim de setembro festivais e iniciativas
que congregam milhares de pessoas e a Festa do Avante! é permitida?
As
discussões em torno do assunto vão certamente continuar. Mas da parte do
organizador, o PCP, que esta terça-feira apresentou formalmente a iniciativa,
já veio a resposta: “Estamos
preparados para tudo”.
E
o preparados para tudo é-o sobretudo para fazer a festa magna dos comunistas
portugueses, que marca a rentrée política do partido, no cumprimento rigoroso
das regras sanitárias anticovid-19, a
condição que António Costa tinha posto para que o Governo a autorizasse.
Isto embora haja quem
não acredite muito que isso seja possível, como o nosso cronista residente
Daniel Oliveira, que no passado esteve envolvido na organização de várias delas.
Mas
a deste ano, a 44ª edição, vai mesmo avante, pelo que em 45 anos apenas
uma vez não se realizou a Festa do Avante!. Foi em 1987, por causa de uma "decisão
reacionária do governo Cavaco/PSD".
Se
quiser saber como decorreu a primeira e qual o contexto político e social da
altura (1976) pode espreitar ESTE
ARTIGO dos nossos camaradas do Observador.
OUTRAS
NOTÍCIAS
ONDE
PÁRA O REI?
Uma
das notícias que tem marcado os últimos dias é o autoexílio do Rei emérito de
Espanha. Onde está? Onde vai passar a viver? É mesmo exílio? Virá para
Portugal, onde já viveu no passado durante vários anos? Marcelo,
que tudo sabe, diz que não sabe.
Um dos vários textos que publicámos é sobre uma das grandes preocupações de Juan Carlos: como o julgará a História? É precisamente sobre isto que escreve hoje Henrique Monteiro, na sua crónica habitual das quartas-feiras. (Ontem, Henrique Raposo deixava uma pergunta: haverá Espanha?)
CALOR ABRASADOR, TEMPO DE INCÊNDIOS. MALDIÇÃO DOS BOMBEIROS?
Há sete anos que não morriam tantos bombeiros – e a época de combate aos incêndios ainda mal começou. É sobre isto – que “não é uma inevitabilidade” – outro dos artigos exclusivos para o qual chamo a atenção. Tem lá os dados dos bombeiros mortos nos últimos anos e respetivas causas.
COVID-19. DEVEM AS DISCOTECAS REABRIR? E
Devem, mas não nas condições em vigor desde esta segunda-feira, defendem responsáveis do sector, que vaticinam que 60% a 80% dos clubes noturnos vão desaparecer até ao fim do ano. E no sector da restauração e das bebidas o cenário também não é animador.
AINDA A COVID-19. OS AÇORES VIOLARAM A CONSTITUIÇÃO?
O Tribunal Constitucional diz que sim, defendendo que o Governo regional não podia ter decidido sozinho a imposição de quarentena obrigatória de 14 dias a quem aterrasse no arquipélago. É a manchete do Público desta quarta-feira.
E A "QUOTA" SILLY SEASON?
Como
estamos em agosto e não quero dar cabo da velha tradição chamada silly season,
aqui deixo duas referências.
A
primeira é sobre a
descoberta de novas colónias de pinguins e como ela foi feita: a partir do
espaço, pelos astronautas, ao observarem que a brancura da neve da Antártida se
tinha alterado – por causa dos dejetos dos bichos.
A segunda é sobre uma situação que se vê amiúde em filmes de aventuras: gente que fica isolada numa ilha desabitada algures e que é resgatada depois de ter escrito um gigantesco SOS na areia da praia. Agora aconteceu mesmo.
FRASES
“Estamos preparados para tudo”, Alexandre Araújo, diretor da festa do Avante!
"É o meu dia a dia, e isto é racismo”, Danny Rose, defesa negro do clube britânico Tottenham, contando estar farto de que a polícia o mande parar para saber se o carro é roubado
“Todos me chamam Jose. Eu não sou Jose, sou José!", José Mourinho
O QUE ANDO A LER
Chegada
ao seu quarto de hotel, Mary ficou espantada. Do sabonete ao roupão, da touca
aos chinelos ou à escova de polir os sapatos, a marca de tudo – até a garrafa
de vinho que estava dentro no minibar – tinha o seu apelido. E não era em sua
honra, porque era assim em todos os quartos do hotel – era por causa do dono.
Mary,
de apelido Trump, tinha acabado de chegar nesse dia 4 de abril de 2017 ao
Internacional Trump Hotel, em Washington, a convite do tio Donald, proprietário
do estabelecimento e há três meses Presidente dos Estados Unidos. Tinha
convidado a sobrinha única Mary, os irmãos e outros parentes para um jantar de
família na Casa Branca no dia seguinte, pelos anos de duas irmãs, tias de Mary,
que faziam 80 e 75 anos.
A
segunda coisa que Mary estranhou surgiria no dia seguinte, durante o jantar de
aniversário na Casa Branca, quando ouviu do tio um comentário completamente a
despropósito, tanto mais que as relações com muitos dos familiares presentes,
Mary incluída, eram muito distantes – em alguns casos não se viam nem se
contactavam há anos. Donald abriu a boca, apontou com o dedo, e como o
interlocutor não conseguia alcançar o que ele pretendia, comentou algo como:
“Fiz branqueamento dos dentes. Que tal?”.
Estes dois episódios estão no início do livro que Mary acaba de lançar – e que mão amiga me fez chegar (ainda não há edição portuguesa). E, embora a leitura só vá no primeiro terço da obra, as duas situações acima descritas são apenas dois dos muitos exemplos usados por Mary para a tese que é a essência do livro: demonstrar que o tio é um narcisista, mentiroso, prepotente e misógino, cujo caráter foi moldado pela família disfuncional em que cresceu, sobretudo pelo pai, apresentado como um “sociopata” que destruiu a família.
Intitulado “Much and Never Enough: How My Family Created the World’s Most Dangerous Man (que poderia ser traduzido em português como “Demasiado e Nunca Suficiente: Como a Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo”), o livro é o exemplar mais recente daquilo que parece ser um novo subgénero literário, surgido há três anos (depois da eleição de Trump) e que já vai em seis obras (já lá irei mais à frente): a espécie-de-biografia-de-malhar-em-Trump.
A diferença de "Too Much and Never Enough" em relação aos cinco
anteriores (já lá vamos) é o facto de a autora ser quem é, saber o que sabe e
ter as qualificações que tem – Mary, de 55 anos, é licenciada em psicologia.
A
sobrinha de Donald conta, por exemplo, como o ambiente familiar no clã era
desbragado, sendo “frequentes os insultos racistas, antissemitas e misóginos”,
sobre os quais nenhum membro da família fazia reparos.
“Tendo sido abandonado pela mãe (que esteve muito doente) pelo menos durante um ano e tendo o pai falhado não apenas na resposta às suas necessidades como para o fazer sentir seguro ou amado, Donald sofreu privações que o marcaram para a vida”. Os traços de personalidade daí resultantes são, entre outros, as manifestações de narcisismo, a falta de compaixão de uma pessoa que não consegue ter empatia por outros seres humanos, afirma a autora.
O “despejar do saco” – sobre as “disfuncionalidades” da família e, sobretudo as do pai de Donald (avô de Mary) e do próprio Donald Trump – percorre todo o livro. Mary continua a assegurar que o tio terá pago a um colega para “fazer por ele os exames de acesso à universidade, por saber que assim teria melhor nota”. Esses resultados escolares terão ajudado o agora Presidente a entrar posteriormente na Wharton, a prestigiada faculdade de Gestão da Universidade da Pensilvânia.
Hoje, Trump “continua a precisar de provar ao seu pai que é um tipo duro, que é
o melhor, que está sempre a ganhar e, acima de tudo, que não é fraco”. É por
isso tem, diz a autora, tem uma fotografia do pai, Fred, na Sala Oval.
Mary
L. Trump, a psicóloga, diz, repete, insiste e não tem dúvida alguma: “Donald é
um narcisista — cumpre todos os nove critérios tal como eles estão definidos no
Manual de Diagnóstico e Estatísticas da Desordem Mental (DSM-5)”.
“As
patologias de Donald são tão complexas e os seus comportamentos tantas vezes
inexplicáveis que fazer um diagnóstico exato e abrangente requereria uma
bateria completa de testes psicológicos e neuropsicológicos que ele nunca
aceitará fazer”. E, assim sendo, não se consegue avaliar o seu funcionamento no
dia a dia, “porque ele está, na Ala Oeste (da Casa Branca), essencialmente num
casulo”. “Donald tem vivido num casulo na maior parte da sua vida adulta, pelo
que não há maneira de saber como é que ele prosperaria – ou sobreviveria, até –
se tivesse de se desenrascar sozinho no mundo real”.
Se
o tio é assim, e se o é essencialmente pelo “molde familiar”, que Mary L. Trump
conhece há muito tempo, porque é que o livro surge agora, na altura
(Há
quem diga que o contrato, certamente de muitos milhões, com a poderosa editora
Simon & Schuster terá sido um forte impulsionador para um livro que no primeiro
dia vendeu um milhão de exemplares…)
Possíveis
ressabiamentos à parte (há alguns anos Donald contratou a sobrinha para ela ser
a escritora-fantasma de um dos seus livros e a meio despediu-a por interposta
pessoa; e Mary nunca perdoou ao tio a sua insensibilidade nas relações com o
irmão mais velho Freddy, pai da escritora, que morreu novo, de problemas
ligados ao alcoolismo), a autora justifica-se:
“Quando
Donald anunciou que ia concorrer à presidência, no dia 16 de junho de 2015, não
o levei a sério. E penso que Donald não o levou a sério” (…) “Ele é um palhaço,
disse a minha tia Marianne num dos almoços que tínhamos regularmente na
altura”. Donald Presidente? “Isso nunca acontecerá”.
Mas,
para surpresa de Mary, da tia Marianne, da maior parte da família e de meio
mundo, aconteceu. Por isso, agora, que Donald Trump tenta a reeleição, a
sobrinha única do Presidente dos Estados Unidos da América decide “despejar o
saco todo”:
Mesmo
que os meus tios e as minhas tias pensem de outra maneira, não escrevo este
livro por dinheiro ou por vingança. Se isso fosse a minha intenção, teria
escrito um livro sobre a nossa família há anos, quando não podíamos prever que
Donald trocaria a sua reputação de empresário com falências em série e
anfitrião de um reality show irrelevante para ascender à Casa Branca. (…)
Mas
os acontecimentos dos últimos três anos forçaram a minha mão - e não posso
continuar
É por isso, segundo Mary, que decidiu publicar “Too Much and Never Enough”, que
vem acrescentar-se a uma lista crescente da nova subespécie literária de
“livros-de-malhar-em-Trump” – pelo menos seis nos últimos dois anos:
“Unhinged,
relato de um insider na Casa Branca de Trump”, do antigo diretor de comunicação Omarosa
Manigault Newman
“Fogo e Fúria — Por Dentro da Casa Branca de Trump”, do jornalista Michael
Wolff
“A
Higher Loyalty”, do ex-diretor do FBI James Comey
"The
Threat", do ex-diretor do FBI Andrew McCabe
“The
Room Where It Happened”, do ex-conselheiro nacional de segurança John Bolton
“Too Much and Never Enough”, de Mary L. Trump
Quanto a leituras, fico-me por aqui, penitenciando-me por aquilo que tenho
apontado a alguns dos meus camaradas escrevedores de Expressos Curtos - serem
textos longos de mais – e prometendo ser mais comedido quando for a minha vez
de servir o próximo café.
O
QUE ANDO A OUVIR
É
um dos CD que tenho no carro e que ouço ciclicamente. Chama-se “Mujeres de
Agua” e foi um projeto único, do compositor e produtor espanhol Javier Limón:
fazer um disco que fizesse ecoar os sons da bacia mediterrânica (daí a “Agua”
do título). E apenas com vozes femininas (daí o “Mujeres”).
Por
isso convidou 12 cantoras dos países das orlas do Mediterrâneo. De Portugal
está lá a nossa Mariza, que pode ouvir AQUI. De Espanha estão
E força para este novo dia,
ouvindo músicas e outras coisas boas, por exemplo por AQUI, e mantendo-se a par do que se passa em Portugal e no resto do mundo no Expresso Online, na Tribuna Expresso, na Blitz – e, claro, sobretudo neste tempos de férias, no Boa Cama Boa Mesa, com boas e diversificadas propostas para se estar “de papo para o ar”, a fazer nada.
Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a
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