quarta-feira, 5 de agosto de 2020

AVANTE CAMARADAS, AVANTE!

Quase sem preâmbulo, lá voltamos a roubar o Curto ao tio Balsemão (hoje sem Bilderberg). O trabalhador do texto foi José Cardoso, definido por editor-adjunto lá do burgo… Todos jornalistas, queremos acreditar, mas com cargos de categorias reluzentes. Boa. Estamos a tentar perceber como classificarão as senhoras da limpeza a laborar no Expresso e restante grupo balsemista. “Pérolas da Higiene”. Será também uma boa. Parabéns, senhoras… Mas, nem por isso ganham mais, antes pelo contrário. É a vida, não só de marinheiros, mas de todos que neste país se estão a afogar. Somos os náufragos dos tais um por cento que nos exploram selvaticamente e que passam por nós navegando nos seus iates de luxo, indiferentes, sem sequer nos laçarem umas bóias.

Acerca das abordagens  por que o autor envereda diremos que “é uma questão de ler” – parafraseando parcialmente António Gueterres acerca de números e contas, não de letras.

Por isso remetemos todos vós para o Expresso Curto. Leiam, para ficarem mais atualizados sobre o que trata o Expresso e também acerca dos tratantes que abundam por este mundo cercado de oceanos poluídos e cada vez mais destruído devido à ação humana e febre do lucro de gentes que nem se pode dizer que na nossa escala estejam abaixo de cão porque os animais neste caso até merecem medalhas de bom comportamento e bom trato, ao invés dos referidos tratantes.

Bom dia e uma carteira recheada… de sonhos, que é algo semelhante ao Xanax para os que estão em baixo, ressacados por via da atual sociedade do esclavagismo moderno e do planeta pestilento em que somos obrigados a sobreviver.

Em tempos salazaristas (anos 60), depois do assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, obra de Palma Inácio e outros anti-fascistas, disse Luís Filipe Costa aos microfones do Rádio Clube Português: "Felizmente há LUAR".  Agora dizemos nós: Felizmente há Avante! Porque não?!!

Vá no Curto. A seguir.

MM | PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

A Avante! que vai avante e a Beirute que regressa ao passado

José Cardoso | Expresso

De repente, receou-se que a História estivesse a rebobinar 30 anos e voltou a pairar o espetro do regresso à guerra naquele que é o país do Médio Oriente mais martirizado por ela nos tempos recentes, o Líbano: duas grandes explosões praticamente seguidas arrasaram boa parte do porto da capital, Beirute, e uma vasta área adjacente.

Para se ter uma ideia da violência da segunda explosão, fique a saber que provocou ondas sísmicas equivalentes às de um abalo de 3,3 graus na escala de Richter e que foi ouvida na ilha de Chipre, a mais de 200 kms. O balanço vai já, à hora de envio desta newsletter, em pelo menos 100 mortos e 4 mil feridos – e aumentará certamente ao longo das próximas horas e dias, porque há numerosos desaparecidos.

Tem AQUI um texto que reúne toda a informação pertinente. E AQUI um minuto de vídeo que condensa gravações feitas por vários telemóveis imediatamente antes, durante e logo após as explosões.

As deflagrações e suas causas (as primeiras informações apontam que terão sido acidentais) e primeiras consequências têm sido desde a tarde de ontem o tema dominante nos noticiários em todo o mundo.

Perdoe-se-me a soberba da militância em ca(u)sa própria, mas o Expresso tem feito um excelente trabalho, pela quantidade, qualidade e rapidez da informação que fez chegar aos seus leitores, nomeadamente com várias reportagens e relatos.

Como ESTE RELATO do português José Cortez, que tinha chegado a Beirute 24 horas antes. Ou o de Joachim, que andou quatro quilómetros por cima de vidros partidos . Ou o que conta Ahmad, que diz não ter percebido se estava vivo ou não. Porque a explosão foi 10 vezes maior do que a do bombardeamento de depósitos de combustível por Israel, como nos contou Ihab Kraidly

Ao que se sabe até agora, há apenas um português ferido. Mas há portugueses que vivem em Beirute que só escaparam porque não estavam em casa.

A FESTA QUE VAI AVANTE

Tem sido, e promete continuar a ser durante pelo menos mais um mês - pelo que é mas também por ser organizada por quem é - a discussão política (e de café) mais apaixonada sobre os limites das restrições na luta contra a covid-19: deve a Festa do Avante! deste ano realizar-se? Não deveria o Governo impedi-la? Por que motivo não estão autorizados até fim de setembro festivais e iniciativas que congregam milhares de pessoas e a Festa do Avante! é permitida?

As discussões em torno do assunto vão certamente continuar. Mas da parte do organizador, o PCP, que esta terça-feira apresentou formalmente a iniciativa, já veio a resposta: “Estamos preparados para tudo”.

E o preparados para tudo é-o sobretudo para fazer a festa magna dos comunistas portugueses, que marca a rentrée política do partido, no cumprimento rigoroso das regras sanitárias anticovid-19, a condição que António Costa tinha posto para que o Governo a autorizasse. Isto embora haja quem não acredite muito que isso seja possível, como o nosso cronista residente Daniel Oliveira, que no passado esteve envolvido na organização de várias delas.

Mas a deste ano, a 44ª edição, vai mesmo avante, pelo que em 45 anos apenas uma vez não se realizou a Festa do Avante!. Foi em 1987, por causa de uma "decisão reacionária do governo Cavaco/PSD".

Se quiser saber como decorreu a primeira e qual o contexto político e social da altura (1976) pode espreitar ESTE ARTIGO dos nossos camaradas do Observador.

OUTRAS NOTÍCIAS

ONDE PÁRA O REI?

Uma das notícias que tem marcado os últimos dias é o autoexílio do Rei emérito de Espanha. Onde está? Onde vai passar a viver? É mesmo exílio? Virá para Portugal, onde já viveu no passado durante vários anos? Marcelo, que tudo sabe, diz que não sabe.

Um dos vários textos que publicámos é sobre uma das grandes preocupações de Juan Carlos: como o julgará a História? É precisamente sobre isto que escreve hoje Henrique Monteiro, na sua crónica habitual das quartas-feiras. (Ontem, Henrique Raposo deixava uma pergunta: haverá Espanha?)

CALOR ABRASADOR, TEMPO DE INCÊNDIOS. MALDIÇÃO DOS BOMBEIROS?

Há sete anos que não morriam tantos bombeiros – e a época de combate aos incêndios ainda mal começou. É sobre isto – que “não é uma inevitabilidade” – outro dos artigos exclusivos para o qual chamo a atenção. Tem lá os dados dos bombeiros mortos nos últimos anos e respetivas causas.

COVID-19. DEVEM AS DISCOTECAS REABRIR? E EM QUE CONDIÇÕES?

Devem, mas não nas condições em vigor desde esta segunda-feira, defendem responsáveis do sector, que vaticinam que 60% a 80% dos clubes noturnos vão desaparecer até ao fim do ano. E no sector da restauração e das bebidas o cenário também não é animador.

AINDA A COVID-19. OS AÇORES VIOLARAM A CONSTITUIÇÃO?

O Tribunal Constitucional diz que sim, defendendo que o Governo regional não podia ter decidido sozinho a imposição de quarentena obrigatória de 14 dias a quem aterrasse no arquipélago. É a manchete do Público desta quarta-feira.

E A "QUOTA" SILLY SEASON?

Como estamos em agosto e não quero dar cabo da velha tradição chamada silly season, aqui deixo duas referências.

A primeira é sobre a descoberta de novas colónias de pinguins e como ela foi feita: a partir do espaço, pelos astronautas, ao observarem que a brancura da neve da Antártida se tinha alterado – por causa dos dejetos dos bichos.

A segunda é sobre uma situação que se vê amiúde em filmes de aventuras: gente que fica isolada numa ilha desabitada algures e que é resgatada depois de ter escrito um gigantesco SOS na areia da praia. Agora aconteceu mesmo.

FRASES

“Estamos preparados para tudo”, Alexandre Araújo, diretor da festa do Avante!

"É o meu dia a dia, e isto é racismo”, Danny Rose, defesa negro do clube britânico Tottenham, contando estar farto de que a polícia o mande parar para saber se o carro é roubado

“Todos me chamam Jose. Eu não sou Jose, sou José!", José Mourinho

O QUE ANDO A LER

Chegada ao seu quarto de hotel, Mary ficou espantada. Do sabonete ao roupão, da touca aos chinelos ou à escova de polir os sapatos, a marca de tudo – até a garrafa de vinho que estava dentro no minibar – tinha o seu apelido. E não era em sua honra, porque era assim em todos os quartos do hotel – era por causa do dono.

Mary, de apelido Trump, tinha acabado de chegar nesse dia 4 de abril de 2017 ao Internacional Trump Hotel, em Washington, a convite do tio Donald, proprietário do estabelecimento e há três meses Presidente dos Estados Unidos. Tinha convidado a sobrinha única Mary, os irmãos e outros parentes para um jantar de família na Casa Branca no dia seguinte, pelos anos de duas irmãs, tias de Mary, que faziam 80 e 75 anos.

A segunda coisa que Mary estranhou surgiria no dia seguinte, durante o jantar de aniversário na Casa Branca, quando ouviu do tio um comentário completamente a despropósito, tanto mais que as relações com muitos dos familiares presentes, Mary incluída, eram muito distantes – em alguns casos não se viam nem se contactavam há anos. Donald abriu a boca, apontou com o dedo, e como o interlocutor não conseguia alcançar o que ele pretendia, comentou algo como: “Fiz branqueamento dos dentes. Que tal?”.

Estes dois episódios estão no início do livro que Mary acaba de lançar – e que mão amiga me fez chegar (ainda não há edição portuguesa). E, embora a leitura só vá no primeiro terço da obra, as duas situações acima descritas são apenas dois dos muitos exemplos usados por Mary para a tese que é a essência do livro: demonstrar que o tio é um narcisista, mentiroso, prepotente e misógino, cujo caráter foi moldado pela família disfuncional em que cresceu, sobretudo pelo pai, apresentado como um “sociopata” que destruiu a família.

Intitulado “Much and Never Enough: How My Family Created the World’s Most Dangerous Man (que poderia ser traduzido em português como “Demasiado e Nunca Suficiente: Como a Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo”), o livro é o exemplar mais recente daquilo que parece ser um novo subgénero literário, surgido há três anos (depois da eleição de Trump) e que já vai em seis obras (já lá irei mais à frente): a espécie-de-biografia-de-malhar-em-Trump.

A diferença de "Too Much and Never Enough" em relação aos cinco anteriores (já lá vamos) é o facto de a autora ser quem é, saber o que sabe e ter as qualificações que tem – Mary, de 55 anos, é licenciada em psicologia.

A sobrinha de Donald conta, por exemplo, como o ambiente familiar no clã era desbragado, sendo “frequentes os insultos racistas, antissemitas e misóginos”, sobre os quais nenhum membro da família fazia reparos.

“Tendo sido abandonado pela mãe (que esteve muito doente) pelo menos durante um ano e tendo o pai falhado não apenas na resposta às suas necessidades como para o fazer sentir seguro ou amado, Donald sofreu privações que o marcaram para a vida”. Os traços de personalidade daí resultantes são, entre outros, as manifestações de narcisismo, a falta de compaixão de uma pessoa que não consegue ter empatia por outros seres humanos, afirma a autora.

O “despejar do saco” – sobre as “disfuncionalidades” da família e, sobretudo as do pai de Donald (avô de Mary) e do próprio Donald Trump – percorre todo o livro. Mary continua a assegurar que o tio terá pago a um colega para “fazer por ele os exames de acesso à universidade, por saber que assim teria melhor nota”. Esses resultados escolares terão ajudado o agora Presidente a entrar posteriormente na Wharton, a prestigiada faculdade de Gestão da Universidade da Pensilvânia.

Hoje, Trump “continua a precisar de provar ao seu pai que é um tipo duro, que é o melhor, que está sempre a ganhar e, acima de tudo, que não é fraco”. É por isso tem, diz a autora, tem uma fotografia do pai, Fred, na Sala Oval.

Mary L. Trump, a psicóloga, diz, repete, insiste e não tem dúvida alguma: “Donald é um narcisista — cumpre todos os nove critérios tal como eles estão definidos no Manual de Diagnóstico e Estatísticas da Desordem Mental (DSM-5)”.

“As patologias de Donald são tão complexas e os seus comportamentos tantas vezes inexplicáveis que fazer um diagnóstico exato e abrangente requereria uma bateria completa de testes psicológicos e neuropsicológicos que ele nunca aceitará fazer”. E, assim sendo, não se consegue avaliar o seu funcionamento no dia a dia, “porque ele está, na Ala Oeste (da Casa Branca), essencialmente num casulo”. “Donald tem vivido num casulo na maior parte da sua vida adulta, pelo que não há maneira de saber como é que ele prosperaria – ou sobreviveria, até – se tivesse de se desenrascar sozinho no mundo real”.

Se o tio é assim, e se o é essencialmente pelo “molde familiar”, que Mary L. Trump conhece há muito tempo, porque é que o livro surge agora, na altura em que Donald Trump já está no último ano do seu mandato?

(Há quem diga que o contrato, certamente de muitos milhões, com a poderosa editora Simon & Schuster terá sido um forte impulsionador para um livro que no primeiro dia vendeu um milhão de exemplares…)

Possíveis ressabiamentos à parte (há alguns anos Donald contratou a sobrinha para ela ser a escritora-fantasma de um dos seus livros e a meio despediu-a por interposta pessoa; e Mary nunca perdoou ao tio a sua insensibilidade nas relações com o irmão mais velho Freddy, pai da escritora, que morreu novo, de problemas ligados ao alcoolismo), a autora justifica-se:

“Quando Donald anunciou que ia concorrer à presidência, no dia 16 de junho de 2015, não o levei a sério. E penso que Donald não o levou a sério” (…) “Ele é um palhaço, disse a minha tia Marianne num dos almoços que tínhamos regularmente na altura”. Donald Presidente? “Isso nunca acontecerá”.

Mas, para surpresa de Mary, da tia Marianne, da maior parte da família e de meio mundo, aconteceu. Por isso, agora, que Donald Trump tenta a reeleição, a sobrinha única do Presidente dos Estados Unidos da América decide “despejar o saco todo”:

Mesmo que os meus tios e as minhas tias pensem de outra maneira, não escrevo este livro por dinheiro ou por vingança. Se isso fosse a minha intenção, teria escrito um livro sobre a nossa família há anos, quando não podíamos prever que Donald trocaria a sua reputação de empresário com falências em série e anfitrião de um reality show irrelevante para ascender à Casa Branca. (…)

Mas os acontecimentos dos últimos três anos forçaram a minha mão - e não posso continuar em silêncio. Na altura em que este livro é publicado, centenas de milhares de vidas americanas terão sido sacrificadas no altar da arrogância e da obstinada ignorância de Donald. Se lhe for concedido um segundo mandato, será o fim da democracia americana”.

É por isso, segundo Mary, que decidiu publicar “Too Much and Never Enough”, que vem acrescentar-se a uma lista crescente da nova subespécie literária de “livros-de-malhar-em-Trump” – pelo menos seis nos últimos dois anos:

Unhinged, relato de um insider na Casa Branca de Trump”, do antigo diretor de comunicação Omarosa Manigault Newman
“Fogo e Fúria — Por Dentro da Casa Branca de Trump”, do jornalista Michael Wolff
A Higher Loyalty”, do ex-diretor do FBI James Comey
"The Threat", do ex-diretor do FBI Andrew McCabe
The Room Where It Happened”, do ex-conselheiro nacional de segurança John Bolton
“Too Much and Never Enough”, de Mary L. Trump

Quanto a leituras, fico-me por aqui, penitenciando-me por aquilo que tenho apontado a alguns dos meus camaradas escrevedores de Expressos Curtos - serem textos longos de mais – e prometendo ser mais comedido quando for a minha vez de servir o próximo café.

O QUE ANDO A OUVIR

É um dos CD que tenho no carro e que ouço ciclicamente. Chama-se “Mujeres de Agua” e foi um projeto único, do compositor e produtor espanhol Javier Limón: fazer um disco que fizesse ecoar os sons da bacia mediterrânica (daí a “Agua” do título). E apenas com vozes femininas (daí o “Mujeres”).

Por isso convidou 12 cantoras dos países das orlas do Mediterrâneo. De Portugal está lá a nossa Mariza, que pode ouvir AQUI. De Espanha estão La Shica (ouça-a AQUI em "Agua Misteriosa") e Genara Cortes ("Un lugar casi vacio"), de Israel Yasmin Levy, da Turquia Aynur Dogan, da Grécia Eleftheria Arvanitaki, com "Milo mou ke mantarini"). Se gosta de flamenco e de toadas com arabescos… força.

E força para este novo dia,

ouvindo músicas e outras coisas boas, por exemplo por AQUI, e mantendo-se a par do que se passa em Portugal e no resto do mundo no Expresso Online, na Tribuna Expresso, na Blitz – e, claro, sobretudo neste tempos de férias, no Boa Cama Boa Mesa, com boas e diversificadas propostas para se estar “de papo para o ar”, a fazer nada.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

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