quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Bombas, explosões, estupidez, cogumelos e milhões de vítimas


De forma serena o Curto aborda o que aproveitamos para título acima. A violência abraçada em texto por Ricardo Costa, diretor de informação da SIC com lugar no Expresso da Impresa do senhor-tio Balsemão. Bom dia para eles, lá do burgo balsemado.

Um companheiro/amigo da escrita dizia, entre umas caracoletas assadas caprichadas na tasca ao lado da editora Forja, no lisboeta Largo da Misericórdia: “Mais vale ser balsamado do que embalsamado”. Daí se sentir “razoável” a trabalhar para o Expresso de então.

Para embalsamar e jamais esquecermos temos Hiroxima e Nagazaki, capitais das bombas nucleares servidas aos japoneses pelos EUA. Pereceram milhões num arrasto de leva-vidas durante décadas. Os sofrimentos dos que sobraram estão por contabilizar. Um imperador japonês maluco-desumano e um crescente império do terror foram os obreiros principais da hecatombe nuclear que saiu na rifa aos nipónicos. Hitler, o nazismo, esteve na charneira de tudo que de mal ocorreu naqueles anos de tão más recordações. Por isso mesmo não devemos esquecê-los mas sim aproveitá-los como lição da desumanidade extrema que queremos abolida deste planeta. Compete aos povos controlar os políticos e os militares, a democracia é valiosa principalmente por isso. Não só, mas também. Principalmente também. Pano para mangas, é o que daria esta 'converseta' exposta. Adiante.

Outra explosão: Beirute. Como naquela região do mundo não faltam, ontem aconteceu mais uma, enorme. Foi assim como que uma homenagem à estupidez – no caso, libanesa. O menu foi preparado com o armazenamento de toneladas de nitrato de amónio junto ao porto de Beirute. Sem consciência do perigo que representava tal acumulação do produto, ainda mais por falta das condições em que o acondicionaram… Estupidez da grossa que levou mais de uma centena de seres humanos inconscientes de que estavam a obedecer a chefes estúpidos. Os trabalhadores são assim (nem todos), não contestam os chefes, têm medo de ser óbvios e inteligentes ou, ao menos, esclarecidos. Devido a isso é que deparamos com tantos ditadores, tantos fascistas, tantos que sob a capa de democratas vão minando a democracia, deturpando-a e vigarizando os povos. Daí às explosões que vitimam esses mesmos trabalhadores, esses mesmos povos, vai um passo de passarinho. Acautelem-se, as democracias estão repletas de agentes políticos e outros preponderantes, mascarados de democratas e de humanistas, que afinal perseguem a obtenção de lucros hipersonicos, só lucros, sem humanidade. E cada vez mais, tornando-se um vício como a droga, indiferentes à miséria que causam, à mortandade que é inerente às suas atitudes desumanas…

Pano para mangas também haveria neste tema. Adiante.

Rumo ao final desta entrada  no Curto do Expresso. Com interesse, como quase sempre. Devemos agradecer.

Gratos, muito gratos, tio Balsemão e colaboradores – trabalhadores, os do topo… Mas, principalmente, os precários, iludidos e mal pagos. Isso.

O Curto, a seguir. Bom dia, se conseguirem.

MM | PG



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Uma explosão nunca vista, um rasto de destruição inimaginável

Ricardo Costa | Expresso

Há poucos dias assim, em que o mesmo título dá para duas coisas. Nenhum deles merece ser alvo de comparações. Hoje, a notícia mais importante do dia continua a decorrer daquele brutal instante em que uma explosão varreu Beirute e mudou a capital do Líbano para sempre. E hoje, sim, passam exatamente 75 anos sobre a manhã em que o Enola Gay sobrevoou Hiroshima e lançou sobre a cidade japonesa a primeira bomba atómica da história.

Foi às 8h15 de 6 de agosto de 1945 que o piloto norte-americano Paul Tibbets largou uma bomba de 50 kg de urânio que levou 43 segundos a tocar o chão e a literalmente mudar o mundo. As ondas de choque dessa longínqua explosão já foram todas contadas, num horror coletivo que serviu para levar o Japão imperial a aceitar uma rendição que não fazia parte do seu léxico. A II Guerra Mundial acabaria pouco tempo depois, já com nova bomba lançada sobre Nagasaki.

Provavelmente ninguém se lembrava da aproximação deste aniversário quando viu aquele cogumelo erguer-se e tomar conta da capital libanesa, a cidade que já foi palco de quase tudo e que soma desgraças e desastres nos últimos anos. O horror agora é outro e as perguntas também: como foi possível ter aquele material, potencialmente explosivo, tantos anos num armazém portuário em plena cidade?

O que é o nitrato de amónio? “É um fertilizante, mas quando explode tem um poder catastrófico”. Neste artigo, publicado no Expresso, Manuel João Monte, professor associado convidado do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, explica o que é o nitrato de amónio e porque é que armazenar uma tal quantidade numa zona portuária é “uma asneira colossal”.

Veja este parágrafo do mesmo artigo: “O nitrato de amónio é um fertilizante muito usado na agricultura. Não é volátil (…) e com precauções mínimas não explode. (…). Se explodir quando armazenado em grandes quantidades, as consequências podem ser catastróficas. A onda de choque pode estender-se até 10, 15 quilómetros num caso como este, que envolve quase três mil toneladas”.

As imagens que chegam são cada vez mais desoladoras. Os números de mortos, feridos, desalojados e desaparecidos nos escombros crescem. O espanto pela dimensão da tragédia persiste.

Hoje, Macron aterra em Beirute numa reminiscência do mandato francês para aquele território quando o Império Otomano desapareceu. Foi há cerca de cem anos que o Líbano começou a caminhar para ser um país independente e próspero. Agora, volta uma vez mais ao ponto de partida.

OUTRAS NOTÍCIAS

Procurar Juan Carlos I, Rei emérito de Espanha, é como folhear um catálogo de uma agência de viagens: República Dominicana, Estoril, Marrocos, Suiça, Azeitão, Arábia Saudita… Ninguém sabe onde está Juan Carlos I, depois do monárquico ABC ter garantido que tinha rumado à República Dominicana e o El Confidencial jurar que estava em Azeitão, na quinta da família Brito e Cunha.

Enquanto se tenta descobrir o paradeiro, o governo espanhol abana, com o PSOE a defender a monarquia constitucional e o Podemos a tentar aproveitar o momento para uma viragem republicana. Os independentistas, vários, tentam a sua sorte. O El Español divulgou esta manhã uma sondagem onde se vê que o exílio robusteceu a imagem da monarquia, que é agora defendida por 54,9% dos espanhóis, contra 40,8% que preferiam uma república. Há duas semanas, a mesma sondagem dava um empate técnico.

Já o nosso Presidente vai ser fácil de encontrar. Nos próximos três dias, Marcelo Rebelo de Sousa estará no Porto Santo. As férias do PR serão por Portugal, em vários sítios, conforme prometido durante a fase mais dura do confinamento. Serão mesmo férias?

A pandemia já fez 700 mil mortos. Os núemros são da Universidade de Johns Hopkins, que segue os dados oficiais de todo o mundo. Os EUA estão no topo da lista com 157 mil mortes e o Brasil ocupa o Segundo lugar com 95 mil mortos.

Donald Trump viu pela primeira vez um post seu ser retirado pelo Facebook. No twitter essa “ousadia” já tinha vários exemplos, mas foi a primeira vez que a maior rede social do mundo apagou uma publicação do Presidente dos EUA. O que dizia Trump desta vez? Numa entrevista à Fox News, defendia que as crianças são praticamente imunes à Covid-19.

Estatisticamente, no estrito sentido de doentes graves ou mortes, a frase de Trump não é uma enormidade. Mas cientificamente é falsa e o Facebook tem-se comprometido a apagar posts que veiculam informação falsa sobre a pandemia ou repetem teorias não comprovadas. Perante isso, havia pouco a fazer. Durante a madrugada o Twitter congelou a conta oficial da campanha de Trump (@TeamTrump) por causa da mesma publicação.

A rede de que se fala, agora, é outra. Não é a maior do mundo, mas a que mais cresce, com 2 mil milhões de downloads até maio. Os chineses donos do TikTok estão a tentar vender a operação americana, canadiana, australiana e neo-zelandesa à gigante Microsoft, numa corrida contra o tempo, perante a ameaça de proibição de Trump. Enquanto isso não acontece, o Instagram lançou uma funcionalidade que copia o TikTok e surgem redes alternativas. Fixe estes nomes: Triller e Byte.

As provas europeias de futebol retomaram ontem, com quatro jogos da Liga Europa. Hoje há mais quatro para encerrar os oitavos de final. A partir de segunda começa um carrossel com os quartos-de-final desta prova e também da Champions, a tal que se joga em Portugal. Termina tudo dia 23.

FRASES

"O fundo de recuperação é mais do que uma pipa de massa, é uma orgia financeira". José Manuel Durão Barroso, em entrevista ao Observador

“As crianças são quase imunes à Covid-19”. Donald Trump em entrevista à Fox News, o que levou o Facebook a apagar esta publicação

"Foi uma explosão enorme. Enorme. Enorme. Mas há fé. Há fé.". Marta Abrantes Mendes, portuguesa a viver em Beirute, em entrevista à SIC Notícias

O QUE EU ANDO A LER

Patrícia Campos Mello é uma das mais conhecidas repórteres da Folha de São Paulo e encima uma lista de jornalistas, quase sempre mulheres, que são os alvos do chamado gabinete de ódio que protege Jair Bolsonaro e o Palácio do Planalto: Talita Fernandes, Vera Magalhães, Marina Dias, Constança Rezende, Juliana dal Pavia, Miriam Leitão…

Todas elas podiam ter escrito um livro parecido. Mas foi Patrícia a lançar este - A Máquina de Ódio, Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital (Companhia das Letras) - e contar como sofre ataques quase diários de misoginia e descredibilização do seu trabalho, a ponto de quase não se conseguir defender ou trabalhar.

O tema da violência digital – em que máquinas organizadas de propaganda escolhem alvos a abater e inundam as redes com material distorcido, manipulado ou pura e simplesmente falso – é muito pouco abordado em Portugal. Mas quem ler este livro ficará esmagado pela facilidade com que se consegue destruir anos de trabalho, lançando hordas de fanáticos contra alguém que se quer remover do espaço público.

Patrícia Campos Mello nem sequer é jornalista de política. Mas teve o mérito (e ao azar) de escrever o célebre artigo sobre as empresas privadas que encomendaram uma campanha massiva (e ilegal) de disparos de WhatsApp para ajudar a eleger Jair Bolsonaro. O artigo abalou o WhatsApp - que veio a mudar as suas regras depois deste episódio eleitoral -, expôs os financiadores ilegais de uma campanha e mudou a vida da autora para sempre, obrigada a explicar ao filho porque é que na internet ela é a “putinha do PT”, a “vagabunda comunista”, e por aí fora.

Todo esse lixo ficará para sempre na net. Uma jornalista que esteve na Síria, no Afeganistão, Iraque e na Líbia acaba quase esmagada em São Paulo por uma máquina de ódio impossível de parar, que continua ativa e cujo modelo é seguido mundo fora por partidos, clubes de futebol, movimentos sociais e tudo o que vive da polarização e divisão.

Tenha uma boa quinta-feira.

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