Filinto Lima* | TSF | opinião
Apesar dos curtos prazos
impostos, o mês de julho, época de intenso labor nas direções executivas face
às demandas do Ministério da Educação (ME), foi superado com esforço
inexcedível pelos líderes das escolas e suas equipas.
Previsivelmente, em meados de
agosto, à semelhança do sucedido no ano transato, serão publicadas as listas
definitivas de colocação inicial dos professores. É de saudar esta medida
histórica, uma vez que no ano anterior foi a primeira vez atingido esse
patamar, ao contrário de sempre, já que os professores só nos últimos dias do
mês tomavam conhecimento dos estabelecimentos de ensino onde iriam exercer as
suas funções. Em um ou dois dias impunha-se arrendar um quarto ou partilhar uma
casa a preços quantas vezes exorbitantes, para além das despesas inerentes à
situação vivida. Em alguns casos, o acréscimo do cumprimento do pagamento do
crédito à habitação é mais um encargo a considerar.
A perspetiva do anúncio
antecipado das listas de colocação inicial é de louvar, pois marca uma atitude
de consideração para com os professores. Contudo, é hora de prosseguir, dando
continuidade a esta ação valorativa, com a implementação de novas deliberações
que evidenciem respeito por quem se entrega à Educação.
Os professores contratados vivem
anualmente um período de sentimentos imerecidos, aguardando boas notícias,
quantas vezes brindados com horários incompletos, longe de casa e da sua
família.
Faz sentido professores com mais
de 15/20 anos de experiência correrem o risco de desemprego no dia 1 de
setembro? É justo manter estes profissionais na eterna precariedade numa altura
em que a escassez de professores é uma preocupante realidade? Há condições para
prescindir anualmente dos excelentes serviços de docentes com bastante
preparação? É correto colocá-los perante a angústia e a incerteza ano após ano?
É deontológico explorar os professores contratados aproveitando a sua condição,
acenando-lhes com uma injusta norma travão, criadora de desigualdade,
iniquidade e desrespeito? Os políticos estarão efetivamente atentos ao drama
anual vivido por quem deveria ser considerado, reconhecido e estimado?
Urge que os gestores do dinheiro
público interiorizem esta inquietante realidade e passem à ação com medidas
apropriadas e congruentes em prol de um estatuto marcado pela igualdade de
oportunidades.
Na verdade, não se pretende (mas
caminhamos a passos largos para aí...) regressar ao século passado (anos 80 e
90), altura em que alguns professores apresentavam somente habilitação
suficiente ou mínima, isto é, inferior à exigida. Todavia, afere-se no presente
que não são tomadas diligências concretas para valorizar e dignificar a
profissão e, como referi, conceder estabilidade a docentes muito habilitados
(mestrados/doutoramentos), com larga experiência de ensino, enriquecendo o
sistema educativo.
É incoerente e inaceitável a
contratação, ano após ano, de professores, a troco de um vencimento muito aquém
das suas responsabilidades e importância das funções, contrariando a segurança
almejada e, quantas vezes, pagando para trabalhar, com a intenção de somar na
contagem do tempo de serviço.
Este drama deverá merecer a
atenção dos responsáveis e dirigentes governativos!
A Educação de Portugal carece de
atuações proativas nas políticas a implementar, muito para além do sabor das
marés e de um navegar à vista, próprios de um país que não estima nem estimula
os profissionais que, na primeira linha, desenvolvem trabalho de excelência no
aumento do sucesso escolar, contribuindo assim para o decréscimo sustentado do
abandono escolar.
Os eternos professores
contratados são dignos de um lugar de efetividade, principalmente para gáudio
das nossas escolas e de um sistema que reclama por justiça.
*Professor; diretor
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