Miguel Luís | O País | opinião
Fazia já algum tempo que a noite
tinha caído sobre a capital do país. É verão; a escuridão que dorme sobre
Maputo por estes dias não tem sido demasiado pesada. É uma ninharia se
compararmos com a escuridão dos dias de Inverno. Em contrapartida, durante o dia
a cidade tem aquecido demais, não há quem não reclame. Tem sido uma espécie de
estágio para o inferno. À noite sobram alguns resquícios desse calor que os
mais sabidos dizem que se deve aos efeitos das mudanças climáticas. A situação
está grave, contudo ainda vamos a tempo de evitar o pior.
Enquanto uma parte da cidade já
dormia, Sua Excelência estava acordado. Desde que o ano iniciou não tem
conseguido dormir como deve ser. Nada disto tem que ver com o calor que tem
assolado a capital. Mesmo se tivesse, a sua casa tem ar condicionado. Para Sua
Excelência, calor só mesmo fora de casa e do seu carro no qual no confortável
assento do motorista o seu corpo pesado estava sentado. Um carro preto no meio
de uma noite coberta por uma leve escuridão. Enquanto não saía do carro as suas
mãos grossas estavam sobre o volante. O carro estava estacionado algures num
dos bairros da periferia da cidade.
Sua Excelência não sabia como
tinha chegado ali, mas sabia que estava indeciso se saía ou não do carro.
A Escuridão e ansiedade nunca
foram bons aliados e Sua Excelência sabia perfeitamente disso. No mandato
anterior tinha desempenhado a função de ministro de uma pasta muito importante
na máquina governativa do país. Na profissão que ele tinha desempenhara muito
antes de ser ministro controle emocional é uma arma muito poderosa e lá tinha
aprendido aquilo que naquele momento ecoava na sua mente – Escuridão e
ansiedade nunca foram bons aliados.