Os conflitos entre deputados
estão a desonrar a história de libertação nacional e os seus mártires. O
impasse político que se arrasta há anos e as imagens tristes de violência
dentro do Parlamento Nacional reflectem infantilismo político e ausência de civismo.
O mundo olha para Timor-Leste pelas piores razões.
M. Azancot de
Menezes* | Jornal Tornado
Os interesses económicos diversos
têm sido determinantes para a formação da estrutura de pensamento de uma franja
muito significativa da classe política instalada no poder em Timor-Leste. Agora ,
no Parlamento Nacional de Timor-Leste, há uma disputa pelo poder.
De um lado está a Frente
Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN), o Partido de Libertação
Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), que
alegam legitimidade por somarem 36 dos 65 deputados, acusando Arão Noé do CNRT,
presidente do Parlamento Nacional, de abuso de poder.
Na outra “barricada” está o
Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), cujo presidente é Kay Rala
Xanana Gusmão, o líder histórico da Resistência Timorense.
A causa aparente do conflito
relaciona-se com o facto de se desejar destituir o actual presidente do
Parlamento Nacional com base numa votação protagonizada pela “nova maioria”,
considerada ilegal pelo mesmo.
O presidente Arão recusa-se a
agendar um debate exigido pela outra parte parlamentar porque alega que a
destituição por via regimental é inconstitucional, defendendo que o Presidente
da República, também da FRETILIN, já devia ter dissolvido o Parlamento Nacional
porque não há Orçamento Geral do Estado (OGE) há mais de 60 dias.
Défice democrático e ausência de
civismo da classe política
Uma análise diacrónica e
imparcial permite concluir que tem havido incongruências de todos os partidos,
uns mais do que outros, porque há desvios e violações da Constituição da
República Democrática de Timor-Leste de alguns anos a esta parte.
Contudo, no caso em análise, é
bom ter presente que o mandato do Presidente do Parlamento Nacional de
Timor-Leste é de legislatura, que são 5 anos. Para se destituir o Presidente do
Parlamento Nacional – para além da agenda ter de ser previamente aprovada, e o
Presidente ter de saber do que é acusado e ter direito a um tempo para se poder
defender e organizar a sua defesa, mandam os princípios da legalidade
democrática que após a acusação e a defesa, a destituição do Presidente tenha
de ser feita pelo sagrado voto secreto, o que não aconteceu.
Esta situação de “Parlamento
Nacional paralisado” e de luta pelo poder sem regras revela, acima de tudo,
o significativo défice democrático e a ausência de civismo da classe
política. Uma situação muito grave porque o povo continua a passar graves
dificuldades de âmbito social e económico.
O episódio com o envolvimento de
deputados em situações de violência, ocorrido no dia 19 de Maio de 2020 no
Parlamento Nacional de Timor-Leste, transmitido pela televisão pública do país
(RTTL), para além de ser muito triste e tornar-se mau precedente, desonra a
história da luta de libertação da Pátria e os seus mártires.