terça-feira, 25 de agosto de 2020

EUA | Estado Profundo esmaga jornalista por dizer a verdade


Shadow Gate, o vídeo censurado (recomendo que assista e que o guarde)

Paul Craig Roberts [*]

Nota PG: Considerando a intensiva ação de censura nos EUA, em vigor, o vídeo acima anunciado, no Youtube, foi banido, o que não impede que o possamos visionar em Bit Chute - veja aqui, se a censura EUA não o banir.

Está em pleno curso uma tentativa da imprensa de manter o documentário afastado do público. O Youtube mentiu ao dizer que o documentário violava a sua política sobre o discurso do ódio. Não há ódio no documentário. O que o filme violou foi a política dos media de ocultar a verdade ao povo.

O documentário apresenta dois denunciantes que estiveram envolvidos na recolha e utilização de informações obtidas ilicitamente. Este tipo de informação foi utilizado na tentativa de descarrilar a presidência de Trump.

O documentário mostra que o Estado Profundo (Deep State) inclui empresas de segurança privadas as quais têm acesso à informação que a NSA recolhe alegadamente para fins de segurança nacional, mas realmente a fim de controlar as nossas percepções e o nosso comportamento. Quando os presidentes da Chefia do Estado-Maior Conjunto e os membros do alto escalão do aparelho de segurança nacional deixam a sua posição, tornam-se chefes de empresas de segurança privada para as quais são desviados os dados da NSA. O documentário dar-lhe-á uma ideia da dimensão e profundidade do Estado Profundo. Poderá ver os pormenores da Matriz (The Matrix) dentro da qual eles nos colocaram.

A jornalista que produziu o vídeo e o seu marido foram presos sob falsas acusações. Ao contrário de Julian Assange, eles não divulgaram qualquer informação classificada. Ambos os denunciantes são claramente identificados. O Estado Profundo está simplesmente a esconder qualquer informação sobre si mesmo. Seja o que for que os Estados Unidos sejam, não são certamente uma democracia com um governo responsável.

18/Agosto/2020

[NR] O vídeo também pode ser descarregado aqui: shadow_gate.mp4 (1,34 GB, clique com o botão direito do rato e faça Save As...). Se algum dos leitores puder legendá-lo, resistir.info agradece o envio de uma cópia.

O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/...

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

Juiz manda deter ministro dos Transportes da Guiné-Bissau


Um juiz da Guiné-Bissau mandou deter o ministro dos Transportes por suspeita de obstrução à aplicação da lei num caso relativo à apreensão de um navio. Jorge Mandinga só se deverá pronunciar sobre o sucedido amanhã.

No despacho, com data de segunda-feira (24.08) e hoje confirmado pelo Ministério Público à Lusa, o juiz Alberto Leão Carlos salienta que "impendem sobre a pessoa do ministro fortes indícios da prática de um crime de obstrução à atividade jurisdicional, sendo ainda o autor moral pela sua atitude deliberada de um outro crime de desobediência". 

O caso remonta a 10 de agosto, quando o juiz mandou apreender o navio "As Pamira", da Maersk Line. Segundo o juiz, o chefe de gabinete do ministro, Júlio Azevedo, foi ter consigo para o informar que a decisão de apreender o navio já tinha chegado ao conhecimento do ministro e da "cúpula do poder", depois de o advogado da empresa os ter esclarecido sobre os acontecimentos.

No despacho, o juiz refere também que o chefe de gabinete lhe terá dito que "quando assim acontecem as coisas pode haver lugar a ondas de perseguições". "Em resposta fiz entender ao senhor Júlio Azevedo que, sendo eu, um juiz de pleno exercício da judicatura e titular do processo, a minha decisão, que ordenou a apreensão do património da empresa requerida é para ser cumprida à letra, porque não carece de fundamentação legal", salienta. 

O juiz explica que recebeu, entretanto, uma carta do Instituto Marítimo Portuário na qual é referido que aquele organismo recebeu uma ordem direta do ministro para libertar o navio, na sequência de uma ordem "supostamente" dada pelo chefe do Governo, Nuno Nabiam. 

A referida ordem, continua o juiz, tinha "por fim zelar pelos superiores interesses do país em matéria de cooperação e colaboração com os tradicionais parceiros da Guiné-Bissau".

Será a CEDEAO uma organização falhada e descredibilizada?


A CEDEAO tem-se revelado uma organização incoerente na tomada de posições em relação aos Estados membros. É acusada de defender apenas os interesses dos Presidentes e dos países mais fortes na região.

Depois da situação política mal resolvida na Guiné-Bissau, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) volta a estar debaixo de fortes críticas pela forma como tem mediado as crises no Mali, na Costa do Marfim ou mesmo na Guiné-Conacri. A organização sub-regional, integrada por 15 Estados, é acusada de desviar-se dos seus propósitos para servir aos interesses de chefes do Estado. 

A antiga governante da Guiné-Bissau, Nelvina Barreto, considera que a CEDEAO - criada há 45 anos para facilitar as relações entre os Estados e os povos - deveria ser uma organização que promovesse a livre circulação de pessoas e bens, a integração e o desenvolvimento regional, e a participação democrática. Mas, segundo a ministra da agricultura do Governo deposto em fevereiro, infelizmente, com o passar do tempo a CEDEAO deixou-se enredar numa teia em que protege principalmente os governantes que não conseguem corresponder aos anseios das suas populações.

"A CEDEAO não tem sido coerente com os princípios que ela inúmera. Quando diz que há tolerância zero em relação aos golpes de Estado, depois, ao avaliar os golpes de Estado, utiliza diferentes medidas conforme o peso. [Prevalecem] os interesses que não são os interesses das populações, mas sim os interesses de quem está nesse momento no poder. E isso é inadmissível”, nota.

Na Guiné-Bissau, os opositores do atual regime político no poder acusaram a CEDEAO de legitimar o golpe de Estado no país e de não respeitar a Constituição. Isso porque a organização da África Ocidental reconheceu Umaro Sissoco Embaló como Presidente da República, mesmo havendo um recurso do contencioso eleitoral por decidir no Supremo Tribunal de Justiça.

Moçambique | Dívidas ocultas: Guebuza poderá depor em Londres


Tribunal arrola ex-Presidente no processo como uma das pessoas que podem "ajudar a esclarecer" o caso e chumba pedido da Privinvest para não ser julgada pela justiça britânica. Empresário Iskandar Safa vira réu.

O juiz da Seção Comercial do Tribunal Superior de Justiça em Londres, Justice Waksman, rejeitou a solicitação da Privinvest para que a empresa não respondesse sobre o caso das dívidas ocultas na justiça britânica. Além de indeferir as apelações da empresa, a justiça britânica arrolou o ex-Presidente Armando Guebuza para ter esclarecimentos sobre a fraude.

A próxima audiência sobre o escândalo das dívidas Ocultas na justiça britânica está marcada para janeiro de 2021. Segundo informação veiculada pelo Centro de Integridade Pública (CIP), Armando Guebuza, seu filho Armando Ndambi Guebuza e o ex-ministro das Finanças, Manuel Chang, serão chamados para apresentar as suas versões sobre os fatos.

O Estado moçambicano moveu uma queixa na justiça britânica contra a Privinvet e dez de suas subsidiárias envolvidas no escândalo das dívidas ocultas.

Incêndio no Canal de Moçambique: "Atentado à liberdade de imprensa"


Esta é a reação do Sindicato Nacional dos Jornalistas moçambicanos ao incêndio que deflagrou, no domingo, os escritórios do semanário Canal de Moçambique, em Maputo. Sociedade civil e a oposição também se manifestaram.

O editor do jornal Canal de Moçambique não tem duvidas: o incêndio que destruiu os escritórios do Canal de Moçambique, na noite deste domingo (23.08), em Maputo, é mão criminosa.

Em entrevista à DW África, esta segunda-feira, Matias Guente relatou que os autores deste incidente arrombaram as portas e, com recurso a uma bomba artesanal, incendiaram a redação e outros compartimentos.

"Após terem arrombado a porta, introduziram lá bombas artesanais e recipientes de combustíveis. Ou seja, regaram todo o escritório com combustível e quando entras lá dentro tudo exala a combustível", contou.

Relatório revela brutalidade da polícia angolana durante estado de emergência


ONG angolana OMUNGA e Amnistia Internacional denunciam o assassinato de adolescentes como consequência da violência policial durante o estado de emergência. À DW, OMUNGA diz que polícia angolana precisa de reforma.

A 4 de julho, Clinton Dongala Carlos, de 16 anos, foi alvejado nas costas pela polícia quando regressava da casa da tia, no município de Cacuaco, província de Luanda. Depois dos agentes lhe despejarem água no rosto, o adolescente ferido levou um segundo tiro, desta vez mortal, na cara. 

Segundo testemunhas, Carlos foi perseguido por um grupo de agentes das forças de segurança, dois das Forças Armadas Angolanas (FAA) e três da Polícia Nacional de Angola (PNA).

Este é apenas um de sete casos de adolescentes e jovens mortos pelas forças de segurança angolanas, entre maio e julho, identificados e registados numa investigação da Amnistia Internacional e da organização angolana de direitos humanos OMUNGA, através de entrevistas com amigos e familiares das vítimas, bem como com testemunhas oculares.

Angola | Recuperação e utilização dos bens do Estado


Víctor Silva | Jornal de Angola | opinião

O Estado, através da Procuradoria-Geral da República (PGR), tem feito uma série de apreensões de bens e património, no âmbito da recuperação de activos do Estado que estão ou foram parar indevidamente às mãos de interesses privados ou de grupos.

São actos que se enquadram na cruzada contra a corrupção e a impunidade, num combate que se firma como irreversível face à dimensão, influência e perversidade do fenómeno na sociedade. Um caminho que partiu do reconhecimento do próprio partido no poder, o MPLA, de que a corrupção é um dos nossos principais males e que sem a moralização da sociedade e o fim da impunidade dificilmente poderão ser materializados os programas de governação que visam o bem-estar dos angolanos.

Dessa tomada de consciência partiu o programa que muitos têm confundido como sendo uma luta pessoal do actual Presidente da República, especialmente contra o ex-Presidente José Eduardo dos Santos, sua família e colaboradores mais próximos.

É preciso dizer que desde sempre se soube que o MPLA poderia ser a força política mais afectada por essa cruzada, por ser o partido no poder desde a independência e, sobretudo, pela existência de notórios indícios de que alguns dos seus militantes e dirigentes estavam implicados nos descaminhos das verbas públicas. E isso foi dito, olho nos olhos, no discurso de eleição de João Lourenço como presidente do MPLA, perante todos os seus camaradas de partido, reunidos em congresso. Cada vez que um caso mais ou menos mediático chega à justiça, aumenta, pois, o número de “inimigos” internos e seus aliados externos do Presidente.

Forças externas querem «banho de sangue» na Bielorrússia, alerta Lavrov


O ministro russo dos Negócios Estrangeiros disse ver indícios de «normalização» da situação no país vizinho, mas alertou para as intenções de forças externas, que pretendem repetir o «cenário ucraniano».

Ao intervir, este domingo, num encontro celebrado na cidade russa de Solnechnogorsk, Sergei Lavrov disse que «há quem queira que a situação que se pacifica na Bielorrússia se torne violenta, provocar um banho de sangue e repetir o cenário ucraniano», em alusão ao golpe de Estado em Kiev de Fevereiro de 2014.

Lavrov acusou o Ocidente de «procurar desenhar» a Bielorrússia de acordo com os seus próprios padrões, tendo acrescentado que a oposição, ao exigir a saída do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, segue o «guião venezuelano», informa a TeleSur.

«O opositores propõem negociar com as autoridades apenas na condição da saída do presidente da Bielorrússia (…). É semelhante ao que se passa na Venezuela quando a oposição pede a renúncia do presidente legítimo (Nicolás Maduro)», disse Lavrov, citado pela mesma fonte.

Merkel insta Rússia a julgar responsáveis pelo envenenamento de Navalny


A chanceler alemã pede o envolvimento "urgente" das autoridades russas

A chanceler alemã, Angela Merkel, instou esta segunda-feira as autoridades russas a encontrarem e julgar os responsáveis pelo envenenamento do líder da oposição na Rússia Alexei Navalny, depois da descoberta de indícios que corroboram a hipótese de envenenamento.

"As autoridades [da Rússia] são chamadas urgentemente a resolver este caso, nos mínimos detalhes e com total transparência", disse Merkel em comunicado, citado pela agência France-Presse (AFP).

A chanceler alemã também pediu que os responsáveis pelo envenenamento de Navalny "sejam levados à Justiça" para responder pelos seus atos.

Alexei Navalny, hospitalizado em coma em Berlim, apresenta "indícios de envenenamento", divulgou hoje o hospital na capital alemã que está a acompanhar o opositor russo, com os médicos a acreditarem, porém, que o ativista político estará fora de perigo.

UE - Bielorrússia | De boas intenções está o inferno repleto...


"União Europeia não tem intenção de transformar Bielorrússia numa segunda Ucrânia"

Josep Borrel diz que o objetivo da União Europeia é que o povo bielorrusso se possa expressar livremente.

Josep Borrel diz que o problema da Bielorrússia é conseguir a liberdade e a democracia. O alto representante da União Europeia (UE) para a política externa recusa que o país viva uma situação idêntica à da Ucrânia e lembra que é necessária uma reforma política no país.

Em entrevista ao jornal espanhol El País, Borrel recordou as manifestações na Ucrânia, em 2013, para exigir a integração na UE e um afastamento com o poder russo. Hoje, a posição da UE na Bielorrússia é apenas em prol da democracia.

"Os bielorrussos exigem um regime de liberdades e direitos civis. Não há bandeiras europeias nas manifestações. A UE também não tem intenção de transformar a Bielorrússia numa segunda Ucrânia. Temos de evitar fatores de distorção, que é como podemos ser vistos do lado russo", afirma.

Farinha do mesmo saco


Costa vai encontrar-se com Guimarães - PM e Ordem dos Médicos

Bom dia Curto. Toca a curtir o Curto, do Expresso. Germano Oliveira, o autor desta matina, inclui na prosa guerra e mísseis. Tudo figurativamente. Sim, porque esta guerra é para distrair os “levados, levados, sim” que andam por aí “pela Pátria e pela Grei”, gritando “às armas, às armas”, falando em lutar, mas batendo com os calcanhares nos rabiosques. Cena de cobardes, palavra que agora parece muito ofensiva mesmo quando se constata a mole imensa desses tais. O costume. Já no Cais do Sodré de antigamente as prostitutas ofendiam-se se assim as chamassem e negavam sê-lo. Compreende-se. Importa exigir respeito. Está certo. Além disso a verdade é coisa que quase sempre sai muito cara para quem a aplica e dela faz doutrina. Ufa!

Bem, não vamos dar muito mais para este peditório fabricado por Costa e pelo Expresso – que até usou gravações em off – jornalismo? Pois. Sim, sim. Vale tudo… para servir alguém que não o coletivo. Políticas de vómitos em que certos e incertos jornalistas também se pelam por ser protagonistas quase sem dar a cara, pela surra. Sabem como é…

Por aqui, no PG, queremos convidar-vos para ler o Curto e façam as vossas apreciações. Nós gostamos de vos proporcionar estas tricas. Mas avisando que tudo isto tem por função distrair os mais distraídos, os quase vãos de miolos, e para vender jornais… Boa, o dinheirinho importa. O tio Balsemão que o diga. Ora, não!

Temos de toda esta dita polémica com guerra e mísseis uma ideia que nem é novidade. Define-se por “farinha do mesmo saco”. É o que é. Doutores e impostores em exercícios para aliviar dores. Entretanto os velhos que se lixem, como já tanto aqui afirmámos e está à vista por todo o planeta. Porque não em Portugal?

Adiante.

No Curto temos internacional. Trump parece ser a grande vedeta, a um passo de ser eleito para consagração da estupidez dos norte-americanos seus eleitores. Até lá muita tinta vai correr, muitos negros vão sendo abatidos pelos racistas e xenófobos gringos. Muita merda vai transbordar das sentinas (agora WCs) da política porca dos EUA. E o mundo neoliberal, na antecâmara do fascismo, vai acompanhando o ritmo do império do mal para muitos milhões, explorados, oprimidos, violentados e tantas vezes assassinados pela guarda pretoriana com o seu braço armado mandante da NATO, apoiados pelas SS da modernidade, a CIA e organizações associadas daquém e além Atlântico. Haverá os que discordam deste ponto de vista. Pois. É a democracia… A quê?

Bom dia. Vai estar um dia de calor em Portugal… e de fome e desemprego para “consolar”.

Siga para o Curto. Mergulhe e leia nas entrelinhas. Pense. Não dói nadinha.

Bom dia.

MM | PG

Portugal | Aumentam os doentes sem dinheiro para comprar medicação


Beneficiários da Abem subiram 50% entre 2019 e 2020. Rede fornece remédios gratuitos a mais de 16 mil pessoas e aos novos carenciados por causa da covid-19.

Quando o dinheiro falta para quase tudo, abandonar o tratamento que pode salvar a vida é o recurso de quem já não tem mais onde cortar. O programa Abem, da associação Dignitude em parceria com autarquias e instituições sociais, permite que mais de 16 mil pessoas de todo o país, incluindo da Madeira e dos Açores, possam adquirir a medicação sem gastar um cêntimo. Atualmente, tem 16 vezes mais beneficiários do que no ano de estreia, em 2016, e registou um aumento de cerca de 50% de julho de 2019 para este ano.

E as necessidades não estão a abrandar. Os relatos dramáticos de quem se viu subitamente empobrecido ou destituído de qualquer rendimento (por causa de lay-off, de despedimentos ou de insolvências desencadeadas pela pandemia) motivaram uma resposta imediata da Dignitude, que criou um fundo de emergência para ajudar estes novos pobres, que não cumprem os requisitos para entrarem no programa titular.

Portugal | Toda a confusão é possível


Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias | opinião

Não me parece que seja necessário um QI muito elevado para distinguir entre informação obtida ilicitamente que tem relevância criminal e que não tem relevância de espécie alguma.

Serve esta introdução para deixar claro que não vejo a menor relevância na forma como o primeiro-ministro se referiu aos médicos que terão recusado trabalhar em condições de risco elevado.

Na verdade, tirando a expressão pouco elegante, utilizada por António Costa para classificar a decisão dos médicos que estavam destacados para trabalhar no lar de Reguengos, nem sequer há o mínimo de novidade em relação ao que o chefe do Governo pensa da Ordem dos Médicos e aos médicos com que entra em conflito. É, aliás, muito fácil imaginar o que dirá o primeiro-ministro, em conversas privadas, sobre a bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Fica entre eles e os amigos dele. O contrário deve ser igualmente verdade.

De igual forma, sendo obtida ilicitamente nunca faz prova, mas havendo indícios criminais, essa informação deve dar origem a um inquérito. Considerar, como muitos fizeram, que a conversa do primeiro-ministro com jornalistas deve ser considerada em igualdade com a informação obtida por Rui Pinto a propósito de alegados crimes cometidos no mundo do futebol ou na criação da fortuna de Isabel dos Santos pretende apenas lançar a confusão. Uns porque pretendem desvalorizar a informação conhecida sobre os crimes de colarinho branco e outros porque entendem que no combate político vale tudo.

A verdade é que ficamos presos a uma discussão sem sentido feita a propósito de um tom desagradável usado por António Costa, a propósito de uma polémica que estava a causar mossa na imagem da ministra da Solidariedade, em particular, e na imagem do Governo, de uma forma geral. Gastamos sempre menos tempo a discutir o essencial que a discutir o acessório.

Medimos tudo pelo grau de polémica que o debate pode ter. Até os que atacam António Costa pela expressão que utilizou para se referir a médicos lhe estão, afinal, a fazer um favor. Não houve tempo, nem qualidade de debate para tentar saber com mais certeza se o relatório da Ordem dos Médicos, apontando falhas graves no Lar e na ação do Governo, era apenas o relato de factos ou um acerto de contas com o Executivo. Voamos rápido para a guerra das claques, o que facilita a vida a quem tem o poder. Nunca há responsabilidade pelos erros cometidos. Há apenas uma eterna confusão em que ninguém se entende e se procura, apenas, contar os likes de um lado e do outro.

*Jornalista

Nota: Paulo Baldaia cessa hoje a sua colaboração no JN. A Direção agradece a dedicação que ao longo destes anos demonstrou para com o Jornal.

A brigada dos filantropos


Durante três meses de pandemia os bilionários norte-americanos registaram um aumento da sua riqueza em 20%, enquanto 45,5 milhões de trabalhadores dos EUA ficavam desempregados e milhões de outros caíam num estado de extrema pobreza

José Goulão | AbrilAbril | opinião | Imagem de Brendan McDermid / Reuters

A filantropia está na moda. Não se trata apenas da tradicional caridadezinha, os que podem aos que precisam, mas de qualquer coisa muito mais grandiosa e assegurada por nomes sonantes da elite que nos governa à escala global, dir-se-ia que compadecidos das desigualdades gritantes, compungidos com as injustiças avassaladoras. Mergulham as mãos nos seus biliões e espalham uns trocos no apoio a causas fracturantes e que mobilizam a consciência de grande parte da humanidade. É certo que isso não os impede de serem cada vez mais ricos, antes pelo contrário, mas quem pode levar-lhes a mal? O mundo é assim!...

Personalidades como Al Gore, George Soros, Mark Zuckemberg, Richard Branson, Jeff Bezos, Bill Gates, fundações emanando de poderosos grupos como Ford, Rockefeller, Bloomberg, Walmart, Heinz, Kellog, Lockheed Martin, empresas como a Shell, o fundo Black Rock, os bancos JP Morgan Chase ou Goldman Sachs distribuem os seus fartos lucros não apenas pelos accionistas mas também por indivíduos e organizações envolvidos em activismo por grandes causas, sejam elas a revolução social, o combate às alterações climáticas, a luta contra o racismo e outras de equivalente generosidade. São, na aparência, corajosas e desinteressadas acções filantrópicas cuja importância não escapa à comunicação social privada e global, rendida a tão singular fenómeno como é o de os principais responsáveis pelo estado degradado em que se encontra o planeta e pela situação humilhante a que é submetida a humanidade serem os mesmos que colocam as fortunas ao serviço da erradicação dessas anomalias. Assim como alguém que mata a sua própria galinha dos ovos de ouro.

Existe, portanto, qualquer coisa de invulgar nestes arroubos filantrópicos dos que gerem a plutocracia global. Tão invulgar como o facto de as legiões de profissionais da comunicação de gestão corporativa não se interrogarem sobre o que estará por detrás dessas ostensivas exibições de generosidade.

Por exemplo, poderiam fazer perguntas como: por que razão membros da casta ultraminoritária que embolsa milhares de dólares por segundo, 24 horas por dia e 365 dias por ano, graças ao capitalismo, sobretudo nas suas versões mais selvagens, financia «revoluções» para supostamente instaurar a justiça social? Ou então, por que motivo, sendo a discriminação social e o racismo inerentes ao capitalismo, os mais poderosos entre os poderosos do capitalismo patrocinam acções alegadamente anti-discriminatórias que minam o capitalismo? Ou ainda, quais as razões que movem os principais destruidores do planeta a sustentar actividades que têm como fim declarado o de regenerar o planeta?

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