quarta-feira, 6 de abril de 2022

Angola | O ALTO PREÇO DA PAZ

Artur Queiroz*, Luanda

O pesadelo da guerra terminou com a morte de Jonas Savimbi. Por isso o país inteiro faz do 4 de Abril a grande festa. Para milhões de angolanos é como se fosse o dia do seu aniversário. Ontem como hoje há entre nós uma minoria pouco esclarecida que tem saudades do colonialismo, que serviu convictamente. Como serviu o apartheid e está pronta a servir tudo e todos desde que estejam contra Angola e o seu povo. 

O mesmo se passa com alguns Media portugueses, com destaque para a RTP África. Ou elites incultas e ignorantes daquele país em agonia, estrebuchando nas mãos dos credores e ao mesmo tempo exibindo tiques imperiais profundamente ridículos. Uma parte significativa das elites políticas e intelectuais portuguesas fez tudo para que Angola não fosse um país independente. Durante décadas apoiaram os crimes da UNITA. Já a ONU tinha aprovado pesadas sanções contra a organização de Savimbi e os seus dirigentes e Portugal era um paraíso para os sancionados. A maioria dos Media portugueses apresentava Savimbi como um herói nacional. Cada povo tem os heróis que merece.

Nunca a imprensa portuguesa referiu que Savimbi foi um dos carcereiros de Nelson Mandela. E pôs as suas armas ao serviço da sangrenta guerra colonial. Os dirigentes da UNITA andaram décadas por Lisboa a traficar e tratar das suas negociatas. Nunca a Procuradoria-Geral da República Portuguesa investigou os traficantes. Muito menos os raptores e assassinos de portugueses que viviam em Angola. 

O império falido do senhor Pinto Balsemão tratava essa escória humana como seus heróis. Nós temos a lista dos jornalistas portugueses a quem Savimbi pagava os seus serviços, com os diamantes de sangue. São uns desgraçados que não merecem mais do que esta referência. Os seus patrões, também não. 

Alguns arranjaram parceiros angolanos para os seus negócios. Ou vieram para Angola com a missão de encher os cofres enquanto nos dão palmadinhas de falsa amizade. É o festim do costume: Servem-se dos angolanos nos seus negócios e por trás estimulam ataques violentos contra quem lhes dá a mão e oferece amizade desinteressada. Começa a cansar tanta perfídia e tão chocante falta de carácter.

O dinheiro dos diamantes de sangue roubados pela UNITA em Angola ordena silêncios e cumplicidades no espaço da União Europeia e no estado terrorista mais perigosos do mundo (EUA). Esta cobardia, em situação normal, devia merecer uma profunda indignação em Angola. Mas as elites portuguesas corruptas e analfabetas (só estas...) e a sua imprensa estão em anormalidade permanente, pelo menos desde que vivem da caridade europeia disfarçada de “fundos comunitários”. 

Por isso, o 4 de Abril é um dia de luto para todos os savimbistas. Para a nós, é o Dia da Paz. Depois de décadas de agressões armadas, os angolanos conquistaram o direito a uma vida normal. Isso tem um valor inestimável. Embora para os belicistas seja uma data que desperta mais raiva e mais rancor. Chegou a hora de separar as águas.

Os liberais dizem que a democracia é tão generosa que até aceita no seu seio aqueles que querem destruí-la. Falam do alto dos seus tachos bem recheados e melhor pagos. Têm polícias à porta protegendo-os e protegendo as suas famílias. Deslocam-se sempre guardados por homens armados até aos dentes, para que nada lhes aconteça. Quando são apeados do poder pela força, têm sempre à espera um exílio dourado. Assim é fácil aceitar os que são contra a democracia, os seus inimigos jurados.

A História Contemporânea está cheia de ditadores sanguinários que assassinaram quem se lhes opôs. Exterminaram seres humanos porque se sentiam superiores às suas vítimas. Em Angola, os mártires desses monstros confiaram na democracia. Votaram na democracia. Escolheram em eleições livre e justas, os partidos da sua preferência. E quando esperavam uma vida melhor, foram vítimas de uma rebelião criminosa.

Não, definitivamente não. Os democratas não podem aceitar os inimigos do regime democrático. Não podem, porque põem em risco milhões de seres humanos indefesos que pouco mais têm do que o poder do voto.

Um operário que trabalha numa serração, se cometer um erro pode ficar sem as mãos ou os braços. Até sem a vida. Não há eleições que lhe valham. Não há democracia que lhe devolva os órgãos amputados. Um motorista se cometer um erro pode morrer, matar outros ou destruir o camião e a carga. Não há democracia que lhe devolva a vida, o camião ou a carga. Os demoliberais podem dar a outra face quando levam um borno. Podem dar a outra nádega quando levam um bico no traseiro. Podem conviver com os inimigos da democracia porque ficam sempre bem. Mas os povos estão indefesos ante os inimigos da democracia, como são os belicistas da UNITA, devidamente representados por Adalberto Costa Júnior.

Em 1992, os partidos que concorreram às eleições eram todos democráticos. Todos defendiam a democracia. Mas mal foram conhecidos os resultados eleitorais, a UNITA regressou à guerra, tentou matar a democracia no ovo, matou mesmo milhares de angolanos, causou multidões de refugiados e deslocados, partiu o país todo. Todos sabiam que Jonas Savimbi era um colaboracionista. Alugou as suas armas aos colonialistas e disparou contra o seu povo, na Frente Leste. Todos sabiam que Jonas Savimbi alugou as suas armas ao regime de apartheid, de raiz nazi. Chefiou a unidade especial dos racistas nas invasões a Angola e disparou contra o seu povo. Matou milhares de angolanos, causou um milhão de refugiados e deslocados. 

As vítimas dos inimigos da democracia reclamam dos democratas de hoje, sobretudo dos que se vão apresentar a votos em Agosto, que cortem o mal pela raiz. A UNITA está a dar sinais muito evidentes de que não quer eleições livres e justas. E se perder nas assembleias de voto, vai matar, torturar, escorraçar, perseguir, partir, destruir tudo o que puder para chegar ao poder pela força. Ainda agora descarrilou um comboio do CFB. Sabotagem dos operacionais que apostam tudo na destruição da democracia. Durante cinco dias os comboios ficam parados. Graves prejuízos para os angolanos e países vizinhos.

Neste 4 de Abril todos os democratas são chamados a assumir o compromisso de extirpar, de uma vez por todas, os inimigos da democracia. Antes que eles voltem a disparar contra o Povo Angolano e a destruir Angola. A UNITA fez isso entre 1966 e 2002. Volta a fazê-lo quando registar mais uma derrota eleitoral em Agosto. Já estão a afiar as facas e a carregar as armas.

* Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana