João Miguel Salvador, jornalista | Expressso (curto)
Olá,
E obrigado por começar o dia
connosco.
Têm sido dias grandes para quem acompanha (e vive) a política nacional. A maioria
absoluta conquistada por António Costa não está a ser um passeio no
parque como se julgava (ontem, um grupo de jovens respondeu-lhes ao habitual otimismo com cartas)
e tem sido marcada por um conjunto de polémicas internas que parecem florescer
no jardim socialista.
Choveu demasiado no canteiro ministerial e, antes que este transbordasse e as
flores morressem - Marcelo Rebelo de Sousa não poupou em avisos e comentários, -, houve uma rosa que
decidiu cortar a sua ligação com o governo. Pedro Nuno Santos pediu a
demissão, Costa aceitou e deu posse aos sucessores. E sim, são ‘pedronunistas’.
À primeira vista, seria expectável que a escolha destes ministros (que “dão
garantia que não haverá perturbação”) agradasse a quem apoia Pedro
Nuno, mas não foi o caso. Consideram a decisão um “erro grave” de Costa. Então em
que ficamos? Veremos, que os próximos tempos prometem.
O seu nome parece ter espinhos, não só fora do partido como dentro dos muros
socialistas, mas desde que Pedro Nuno Santos tomou a decisão de
abandonar o executivo só ganhou protagonismo (mesmo num dia que seria de Galamba e Marina Gonçalves).
“Agora deem-me descanso”, pediu aos jornalistas, após “bons
sete anos” no governo, mas o que se fala é na preparação da corrida à sucessão
de Costa: agora é PS contra PS. Por enquanto, é certo que sai da direção do PS e que só vai para o
Parlamento daqui a um mês. Terá tempo para tudo, incluindo para atualizar todas
as redes sociais. É que, à hora de envio desta newsletter, já tinha
alterado a página no Facebook mas ainda se apresentava no Instagram como
ministro das infraestruturas e habitação. A imagem é (quase) tudo neste
jogo de perceções que é a política e a Comissão Nacional do PS sabe disso.
E quanto ao jogador Marcelo, ficou o PR descansado com este novo retrato? Nem por isso. “Se funcionar é uma boa ideia, se não
funcionar tiraremos daí as conclusões”, disse, uma vez que há correções que queria ver e que
António Costa não fez. Presunção e água de São Bento, cada Presidente toma
a que quer? Nem sempre. O copo de Marcelo até pode estar demasiado cheio,
mas os analistas políticos são unânimes: neste momento não estão reunidas condições para fazer cair o
governo. Ontem houve debate de urgência, com a “artista” Ana Catarina Mendes a defender o
governo a solo. Hoje, o executivo enfrenta uma moção de censura chumbada à
partida. São benefícios de uma maioria, que também permitiu ao PS ‘chumbar’ as audições requeridas pela oposição a
Pedro Nuno Santos, Fernando Medina e Alexandra Reis.
A única coisa certa é que o Expresso continuará a acompanhar tudo ao minuto, neste dia
especial que antecede um dia excecional. É que nesta quinta-feira, tal como a 5
de janeiro de 1973, o Expresso está a fechar a sua edição semanal - num país muito diferente daquele que existia na década de 1970. Há
50 anos, e ainda em ditadura, preparava-se o primeiro jornal a sair para
as bancas, Já hoje, o fecho é feito em total liberdade. E o que estamos a
preparar é uma edição comemorativa que marca os 50 anos do semanário fundado
por Francisco Pinto Balsemão (que ao longo das últimas 50 semanas lançou em podcast
uma série de entrevistas intituladas “Deixar o Mundo Melhor”).
Sim, amanhã voltamos ao formato broadsheet original mas
prometemos não esquecer o digital - cuja assinatura é possível garantir já por 50 semanas ou mesmo 50 anos - nem a importância de estarmos juntos. O
aniversário é comemorado ao vivo com uma grande conferência, na Fundação Champalimaud.
OUTRAS NOTÍCIAS
Adeus, Papa. A morte de
Bento XVI não tomou o mundo de surpresa, mas a comoção que provocou surpreendeu
o próprio Vaticano, que não esperava tal afluência ao velório do Papa emérito, acompanhado em
Portugal por missas em sua memória. Ontem, o Presidente da
República assinou um decreto de luto nacional para esta quinta-feira.
Hoje, Marcelo estará presente nas cerimónias fúnebres no Vaticano, “em
representação do Estado português”.
Até já, eutanásia? Marcelo anunciou ontem que pediu ao Tribunal
Constitucional a fiscalização da lei que legaliza a eutanásia, um diploma
“substancialmente alterado” desde a sua anterior versão. “Exige-se a maior certeza jurídica possível”, disse,
justificando que “a certeza e a segurança jurídica são essenciais no domínio
central dos direitos, liberdades e garantias”.
Salesforce subtrai. A tecnológica norte-americana, especializada no
desenvolvimento de aplicações de gestão de clientes (CRM), anunciou que planeia
reduzir em cerca de 10% a sua força de trabalho, despedindo trabalhadores. É um
passo que outras grandes empresas, como a Amazon (que anunciou o despedimento de cerca de 10 mil funcionários e
que pretende continuá-los em 2023) a Meta (que vai despedir mais de 11 mil trabalhadores), também já
deram, seguindo o que o Twitter e a Netflix fizeram no ano passado. No caso da
Salesforce, o plano de reestruturação deverá custar 2,1 mil milhões de
dólares.
E a TAP, prestará contas? O Tribunal de Contas lembrou esta quarta-feira
que poderá realizar fiscalizações na TAP “a todo o momento”. Embora o Governo tenha pedido a intervenção da Inspeção-Geral das Finanças e da CMVM -
no caso da indemnização à agora ex-secretária de Estado Alexandra Reis -, o
Tribunal de Contas também assume que pode fazer avaliações sobre a matéria.
Detetando irregularidades ou ilegalidades, pode enviar para o Ministério
Público (que já abriu um inquérito judicial sobre a matéria) as suas
conclusões.
FRASES
"Agarrou-me pelo colarinho
(...) e deitou-me ao chão. Aterrei na tigela do cão, que se partiu nas minhas
costas”
Príncipe Harry, acusando o irmão William de o ter agredido em 2019. As
revelações são feitas no livro “Na Sombra”, que chega às livrarias na próxima
semana.
“Um filme como ‘A Lagoa Azul’ nunca seria feito hoje. Não seria permitido”
Brooke Shields, atriz, recorda o filme onde interpreta uma náufraga
adolescente de 14 anos, que fica a viver numa ilha deserta com o primo, por
quem se apaixona e com quem tem um filho.
“Ronaldo vai ter de cuidar-se, o futebol aqui é mais exigente do que se pensa”
Vicente Moreno, treinador do Al-Shabab da Arábia Saudita, avisando que no país “há um nível de futebol superior”
ao que se possa pensar.
PODCASTS A NÃO PERDER
“Cada
maestro é um maestro; quero dirigir como eu própria.” Rita Castro Blanco
iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música da Metropolitana de
Lisboa e depois na Academia Nacional Superior de Orquestra, onde obteve a
Licenciatura em Música de Direção de Orquestra. A jovem maestrina é a convidada desta semana de Carla Quevedo e Matilde
Torres Pereira em As Mulheres Não Existem.
Obesidade infantil e alimentação. Em 40
anos a obesidade aumentou 10 vezes a incidência em idade pediátrica. Em
Portugal, quase 30% das crianças entre os 6 e os 9 anos têm excesso de peso. A
Drª. Marta Ezequiel elabora este assunto e sugere várias opções alimentares para combater este
flagelo neste episódio de Querida Pediatra apresentado por Sofia
Fernandes.
Como
reagem os portugueses aos sinais de crise? PIB a crescer e desemprego
baixo com inflação alta e juros a subir. Uma mistura difícil de perceber e que pode levar a decisões bastante erradas dos agentes
económicos. Uma conversa no Money Money Money com moderação de João
Silvestre, editor de Economia do Expresso, e a participação de João Vieira
Pereira, diretor do Expresso, e Sandra Maximiano, professora do ISEG e
colunista do Expresso.
O QUE EU ANDO A OUVIR
O ano ainda agora começou e a
lista de álbuns previstos para os próximos 11 meses e 26 dias já vai longa. Há
títulos para todos os gostos, é certo, mas a Blitz deu esta quarta-feira uma
ajuda para que não se perdessem de vista os álbuns internacionais mais aguardados de 2023.
Já correm informações sobre "72 Reasons" dos Metalica, que vão apresentar o álbum em digressão mundial, mas quem
não seguir o grupo também tem razões para sorrir. De Depeche Mode a Gorillaz,
passando por Iggy Pop ou Ryuichi Sakamoto, a lista de novas entradas é longa e
também inclui Lana del Rey, PJ Harvey, Travis Scott ou os italianos
Maneskin. O melhor é garantir que não perde pitada sobre o mundo da música.
O QUE EU ANDO A VER
“Tabu”, criado na Bélgica e
nomeado para um Emmy, ganhou no ano passado uma versão portuguesa e o
sucesso dos primeiros capítulos levou à renovação para uma segunda temporada
(T2). Os meses passaram e o regresso da série de Bruno Nogueira à
televisão teimava em demorar, mas janeiro trouxe consigo novos episódios
do projeto liderado pelo humorista, que esteve a viver com Noémia,
Fernanda, Silvestre e Alice para perceber como se enfrenta a velhice.
O primeiro episódio da T2 de “Tabu”, dedicado ao envelhecimento, já está
disponível em streaming na Opto (assim como todos os
que compuseram a T1) e posso garantir que o resultado é ainda melhor do que nos
anteriores. Quem subscreve a plataforma vê mais cedo, mas neste caso quem
apenas segue a televisão linear também não fica de fora. No sábado,
a série humorístico-documental chega à SIC para mostrar como não é
preciso haver tabus sobre tema algum (e que até é possível fazer stand up
comedy com eles).
Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha uma ótima quinta-feira, acompanhe os nossos Exclusivos, vá preparando os dias de descanso com a ajuda das sugestões Boa Cama Boa Mesa e divirta-se com os nossos jogos (palavras cruzadas, sudoku e sopas de letras). Quanto a nós, já sabe que estaremos sempre por cá: no Expresso e na SIC, na Tribuna e na Blitz.
Sem comentários:
Enviar um comentário