sábado, 25 de fevereiro de 2023

Angola | A SEITA DOS SUICIDAS MORIBUNDOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Francisco Queiroz, cumprindo ordens de João Lourenço, transformou os assassinos golpistas de 27 de Maio de 1977 em vítimas e as vítimas em assassinos. Ousaram falsificar a História Contemporânea de Angola porque já garantiram que as provas documentais existentes nos arquivos do MPLA e do Ministério da Defesa, onde funcionaram os tribunais marciais que julgaram os líderes do golpe de estado militar, já foram apagadas. Rasgadas. Queimadas. Só ficou mesmo o depoimento de Nito Alves. Autêntico. Verdadeiro. Impossível adulterá-lo.

O ministro da Defesa antes da saída de cena do Presidente José Eduardo dos Santos foi João Lourenço. Depois de eleito Presidente da República em 2017 conseguiu que alguns notáveis do MPLA abaixo assinassem para o líder sair antes do congresso do partido, como mandam as regras. Com a faca e todos os queijos na mão, tudo foi apagado para que avançasse a operação “perdoar às vítimas e abraçar bandidos golpistas”. 

A LUSA, agência oficiosa da UNITA e câmara de ressonância do Miala, revelou que o memorial em homenagem “às vítimas dos conflitos políticos em Angola” custa 33 milhões de euros. Mais muitos milhões, para uma empresa que garante “a assistência técnica especializada”. Está tudo explicado num Decreto Presidencial.

A “notícia” plantada pelos mentores do negócio e facilitada pelo Miala garante que o monumento vai ser altíssimo e construído ao lado do Memorial Agostinho Neto, na Praia do Bispo. Os escribas a soldo chamam ao local Cidade Alta. Porque não conhecem Luanda mesmo vivendo na capital. Que eu saiba, a única praia que existe no alto de Luanda, a colina que vai do Hospital Josina Machel (Maria Pia) e a Fortaleza passando pela depressão do Hotel Boavista, até à Fortaleza, é o palácio onde anda muita gente à boa vida e ostenta doutoramentos de lazer.

Angola é muito grande. Do Maiombe a Namacunde e do Lobito ao Luau há seguramente milhões de lugares onde os malabaristas que transformaram assassinos golpistas em vítimas e as vítimas em assassinos podem erguer o “memorial”. Mas se assim fosse, não abandalhavam a figura de Agostinho Neto. Se trataram o Presidente José Eduardo como se fosse um angolano indigente que precisou de um favor do Estado para regressar à Pátria num caixote e encafuado no porão do avião, imagino o que vão fazer ao Fundador da Nação. 

A tumba da filha Leda é permanentemente vandalizada pelos “visitantes” às campas dos golpistas transformados em vítimas. O Memorial Agostinho Neto será demolido quando estiver concluído o negócio do abraço aos assassinos e perdão aos golpeados. Pelos vistos ninguém está preocupado com isso. 

A situação é grave. Pode estar a nascer em Angola uma seita satânica, tipo Templo Popular, fundada por Jim Jones, um pastor pentecostal cristão. O líder levava os seguidores ao suicídio colectivo. Criou um espaço gigantesco e uma “cidade capital”, a Jonestown, onde só de uma vez, em 18 de Novembro de 1978, mil pessoas suicidaram-se num ambiente de loucura e fanatismo.  

E Charles Manson, que fundou uma seita chamada “Família Manson”. Criou uma fazenda na Califórnia para onde foram os seguidores fugindo de um mundo de pecado. Matavam-se uns aos outros enquanto entoavam louvores ao chefe da seita. Em Angola já tínhamos uma factura pesada de grupos satânicos. A associação de malfeitores UNITA é uma perigosa seita satânica que está a poluir criminosamente o ambiente político e a provocar graves problemas sociais. Os seguidores andam à solta reforçaram a sua presença na Assembleia Nacional.

Agora temos um deus que é o criador de tudo o que acontece de positivo em Angola. Iluminado por essa auréola vai cometendo erros crassos. E um dos mais graves é seguramente esse insulto soez aos Heróis Nacionais que corajosamente enfrentaram os golpistas de 27 de Maio de 1977. Infelizmente, não impediram a decapitação do Estado-Maior Geral das FAPLA. 

Os golpistas tomaram de assalto a IX Brigada que era na altura a maior unidade militar de África. Tomaram de assalto a Rádio Nacional de Angola. Mataram nas ruas de Luanda quem se recusou participar nas “manifestações populares”. Assaltaram a prisão de São Paulo e assassinaram Hélder Neto um patriota julgado no Processo dos 50 e que tinha um papel importantíssimo no Ministério da Defesa. Assassinaram o Comandante Veríssimo da Costa (Nzagi) figura imprescindível na equipa que dirigia a guerra contra os invasores racistas sul-africanos. João Lourenço e Francisco Queiroz fizeram dos golpistas assassinos vítimas. E das vítimas assassinos. Isto é digno de uma perigosa seita satânica!

Agora a dupla maravilha quer fazer um memorial de homenagem aos assassinos ao lado do Memorial Agostinho Neto. Aqueles notáveis que escorraçaram o Presidente José Eduardo dos Santos da liderança do MPLA depois das eleições de 2017 nada têm a dizer sobre isto? Eu tenho.

O Memorial aos assassinos do 27 de Maio de 1977 pode ser erigido na Fazenda Mato Grosso, seja no Kikuxi ou na Quibala. Podem transformar a parte agroindustrial em câmaras de gás e crematórios para exterminar os marimbondos, os netistas e os eduardistas. Podem transformar um campo de milho num grande curral onde metem os seguidores infiéis, para se suicidarem à maneira do Jim Jones. Graças ao Presidente João Lourenço alguém vai escapar.   

O ministro português dos negócios com os estrangeiros, Gomes Cravinho, é um filhote do papai desmiolado e atrevido. Chamou “alucinado” ao Presidente Putin que é líder de um país com o qual Portugal tem relações diplomáticas. Portou-se como um rufia. E só fala de guerra, como todos os políticos da União Europeia, do Reino Undo e dos EUA. Querem festa. 

Se a coisa dá para o torto o memorial aos assassinos do 27 de Maio nem leva a primeira pedra. O Presidente João Lourenço vai na enxurrada da guerra nuclear, como vamos todos. Na hora da morte ninguém é mais do que os outros. O cadáver de um rico e poderoso vale tanto como o meu. Pó, cinza e nada.

*Jornalista

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