Artur Queiroz*, Luanda
Gaza retrocedeu 70 anos em 15 meses de bombardeamentos israelitas. O genocídio foi interrompido com mais de 46.000 mortos contados, mais milhares de desaparecidos. O embaixador de Israel em Portugal diz que é tudo mentira. Não há destruições, não há fome, não há mortes, sobretudo de crianças e mulheres, na Faixa de Gaza. Israel tem um governo de extrema-direita. Israel tem em vigor leis de apartheid como tinha o regime racista de Pretória. O sionismo é uma forma grave de racismo. Os nazis de Telavive querem impor essa marca a todos os israelitas e a todos os judeus. O mundo não pode aceitar esses crimes contra a Humanidade.
A TPA passa uma propaganda que exalta “os 400 anos de história que ligam Angola aos EUA”. Se a estupidez pagasse imposto, nos ecrãs do canal público só passavam carimbos da Autoridade Tributária. Não existia qualquer relação entre os dois países antes de 19 de Maio de 1993, quando Bill Clinton reconheceu a existência de Angola. Antes tínhamos a Casa Americana e a Cabinda Golf. Marcas do século XX que nada tinham a ver com relações de Estado. Há quem pense que a Robert Hudson, representante dos carros Ford, também era uma empresa norte-americana. Nada disso. O senhor era inglês e casou com Madame Berman, uma grande empresária alemã dos anos 50.
Os laços históricos dos EUA com Angola passavam pelo regime colonialista e fascista de Lisboa. A Casa dos Brancos apoiou militarmente, politicamente e financeiramente a Guerra Colonial. A troco do petróleo de Cabinda! Na Guerra da Transição Nixon combinou com o presidente português Spínola e com o presidente do Zaire (RDC) Mobutu, a exclusão do MPLA do processo de descolonização. Como não com conseguiram, os EUA apoiaram a FNLA, a UNITA, o regime racista de Pretória e o ditador Mobutu na guerra contra Angola.
Abertamente ou de forma camuflada os sucessivos inquilinos da Casa dos Brancos participaram na guerra contra Angola até 22 de Fevereiro de 2002. Apresentar os EUA como amigos de longa data (400 anos!) é uma estupidez sem nome. Nenhum dos países existia e nessa altura ainda não tinha acontecido o genocídio dos índios. Um dia destes dizem que graças aos 400 anos de história comum e ao Presidente João Lourenço, Angola tornou-se independente em 11 de Novembro de 1975.
Chegou-me às mãos uma espécie de biografia de Francisco Simons onde ele é apresentado como “a voz da independência”. A opinião é livre mas o texto contém algumas incorrecções que aproveito para corrigir. Francisco Simons nunca foi formador no gabinete de formação permanente que criei na Emissora Oficial de Angola (RNA) em Junho de 1974. Nessa altura um grupo radical queria sanear, em plenário de trabalhadores, vários funcionários da estação, um deles, Francisco Simons. Fui contra! E anunciei que o tinha escolhido para chefe da reportagem. Eu tinha um gabinete que nunca usei. Para afrontar ainda mais os saneadores, ele ficou lá instalado com os seus jovens repórteres. Grande chefe!Esse foi o único cargo de chefia que Francisco Simons desempenhou na Emissora Oficial de Angola até 11 de Novembro de 1975. Mas sim, era a voz do Jornal das 13 horas. Então qual é a voz da Independência Nacional? Se só contasse a voz, Manuel Berenguel. Militante incansável, artista espectacular, voz moldada às palavras da notícia.
A Emissora Oficial (RNA) fez a cobertura integral da Cimeira de Alvor até à assinatura do acordo. O artista do edifício sonoro foi Humberto Jorge. O arquitecto, Horácio da Fonseca. A voz âncora, Francisco Simons. Eu era o servente dos três. Comparado com eles não passava de pessoal menor mas eles chamavam-me chefe. Os jornalistas estavam instalados no Hotel D. João II. Mesmo ao lado, no Hotel da Penina, estavam as delegações do MPLA, FNLA, UNITA e Governo Português. O jornalista Rui de Carvalho era da delegação oficial do MPLA.
Este sim é a Voz da Independência Nacional. Foi inovador na narração desportiva. Era o nosso líder político. Chico Simons chegou a adido de imprensa numa embaixada. Rui de Carvalho foi o melhor e mais completo ministro da Comunicação Social. Sem desprimor para Carolina Cerqueira e José Luís de Matos.
Na Emissora Oficial de Angola (RNA) existiam muitas vozes femininas e masculinas que entre 25 de Abril,1974 e 11 de Novembro, 1975, deram força à Independência Nacional. Uma dessas vozes foi igualmente o esteio do Departament6o Técnico, Concha de Mascarenhas. Voz e muita técnica. Se escrevesse sobre a Voz da Independência escrevia duas palavras: Emissora Oficial. Assim incluo todas as vozes, todos os realizadores e arquitectos de edifícios sonoros, todos os produtores de notícias e reportagens. Bem merecem um reconhecimento público, no meio século do nascimento da República Popular de Angola.
Um dos candidatos derrotados à Presidência da República de Moçambique, Venâncio Mondlane, é o grande herói da comunicação social portuguesa. Os canais de televisão amplificaram este apelo do novo herói do mar: “Por cada manifestante morto, matem um polícia!”
Este pastor evangélico fanático vai salvar Moçambique. A Casa dos Brancos um dia destes manda-o apelar à morte de um jornalista por cada manifestante morto. A morte de um médico por cada manifestante morto. A morte de um político por cada manifestante morto. E de morte em morte só fica mesmo o gás e o petróleo de Cabo Delgado, a verdadeira causa de quem está por trás das quadrilhas de manifestantes.
A imprensa oficial destaca que o Presidente João Lourenço foi agraciado com “a mais valiosa condecoração francesa”. Calma aí. Falsa notícia. O penduricalho só tem valor lá para as bandas da Cidade Alta. Em Bamako, Niamei ou Uagadugu é lixo. Mesmo assim gostava de saber quanto Angola vai pagar pela condecoração.
* Jornalistas
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