sábado, 2 de junho de 2018

Questões chave para entender a situação venezuelana (I)


Maria Páez Victor [*] - entrevistada por Mohsen Abdelmoumen

Mohsen Abdelmoumen: Pode dizer-nos qual é a situação atualmente existente na Venezuela? 

María Páez Victor: Existem seis questões-chave para entender a situação na Venezuela.

1) O petróleo: a primeira coisa a entender é que tudo gira em torno do petróleo. A Venezuela tem as maiores reservas petrolíferas conhecidas do mundo inteiro num local altamente estratégico. Um navio-tanque do Médio Oriente demora 43 dias numa viagem para as refinarias do Texas, enquanto leva apenas quatro dias da Venezuela. As empresas petrolíferas e os governos que as apoiam, cobiçam o petróleo venezuelano. Se o país produzisse mangas, ninguém queria saber o que acontecia. O governo venezuelano assumiu o controlo da sua companhia de petróleo (PDVSA), abriu contratos de parceria de exploração de petróleo com empresas privadas, mas em que o Estado detém a maioria das ações, faz-lhes pagar impostos, que tinham estado em 1% durante 60 anos. O rendimento em vez de ser distribuído para a elite dos negócios do petróleo tem sido usado para financiar os serviços públicos que, durante décadas, não tiveram capacidade de responder às necessidades da população.

2) A soberania: um governo que não segue a linha dos Estados Unidos, não se verga às ditaduras neoliberais do FMI e do Banco Mundial, insistindo em que o seu povo é soberano e vai decidir sobre seu próprio futuro e se esforça para construir uma sociedade humanista e socialista, não será tolerado pela superpotência existente. Acima de tudo, um país da região, que os Estados Unidos consideram o seu "quintal". Como o governo venezuelano ousou nacionalizar seus recursos naturais, retirar o seu exército da infame Escola Militar das Américas e vender o seu petróleo outros países e não exclusivamente aos Estados Unidos!

3) A guerra económica: Há um plano sistemático e estratégico, concebido por Washington para privar o povo venezuelano de alimentos e medicamentos. Seus executores são as grandes empresas, a elite empresarial e a banca. Isto não poderia ser mais evidente. Em 1972-1973, os Estados Unidos, indignados com o fato de Dr. Salvador Allende, um comunista [NR] , ter ganho as eleições no Chile, prometeram a si próprio derrubá-lo. O Presidente Nixon disse: vamos fazer gemer a economia do Chile. E aconteceu. Antes do golpe terrível que ceifou a vida de Allende, a economia chilena foi objecto de açambarcamento, escassez induzida, inflação, manipulação monetária, sabotagem e contrabando. É o mesmo cenário na Venezuela, mas ainda pior. Há cinco anos que existe uma guerra económica; as elites económicas venezuelanas, os lacaios de potências estrangeiras, são de tal forma apoiados financeiramente que podem por em prática o açambarcamento, a sabotagem, o armazenamento, a manipulação monetária, exclusão financeira e o contrabando.

4) Uma elite corrupta e racista: A elite da Venezuela controlou o governo durante anos – eles eram os beneficiários de todas as receitas do petróleo. Durante 40 anos, apropriaram-se e gastaram o equivalente a 12 planos Marshall. Em 1999, quando o presidente Hugo Chávez foi eleito, a pobreza situava-se entre 60 e 80 por cento da população, a extrema pobreza e desnutrição afetava um terço da nação. A Revolução Bolivariana da Venezuela reduziu drasticamente a pobreza, a desnutrição e a marginalidade, forneceu cuidados de saúde universais e educação gratuita do jardim-de-infância à Universidade. Construiu dois milhões de habitações sociais nos últimos anos.

A elite venezuelana tem demonstrado pela sua horrorosa violência na oposição que é egoísta, vil e racista, ao ponto de pagar a criminosos para atear fogo em edifícios públicos, matar transeuntes, atacar uma maternidade, atirar granadas de um helicóptero sobre o Supremo Tribunal, destruir transportes públicos, e o mais horrível incendiar jovens "que tinham ar de chavistas". Por outras palavras, que tinham a pele escura. Esta elite não se importa com o sofrimento do seu próprio povo desde que potências estrangeiras lhe dêem o governo que é incapaz de ganhar nas urnas. Os principais dirigentes da oposição têm viajado pelo mundo pedindo aos países poderosos para sancionar e isolar seu próprio país, diplomática e financeiramente sem se preocupar que alimentos e medicamentos escasseiem.

5) Um excelente processo de eleição: É escandaloso, mesmo com este clima político de mentiras e desinformação, que se possa considerar que o governo venezuelano não é democrático e que o Presidente Maduro é um ditador. Em 19 anos, houve 23 eleições diferentes, todas supervisionadas por testemunhas nacionais e internacionais e o governo ganhou a maioria, mas também perdeu algumas. Lembremos o que o ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, declarou em 2012:   "Com efeito, em 92 eleições que acompanhámos, eu diria que o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo".

A proteção antifraude do sistema é muito eficaz, pois cada voto tem três garantias: uma impressão digital, uma votação electrónica e um recibo em papel. Além disso, há uma forte presença de observadores nacionais e internacionais. Ironicamente, nem os Estados Unidos, o Canadá ou a maioria dos países europeus aceitam observadores internacionais nas suas eleições.

6) Eleições presidenciais de 20 de maio de 2018: Os Estados Unidos e seus aliados estão envolvidos na subversão e na desqualificação da democracia venezuelana desacreditando às eleições presidenciais, de 20 de maio. Depois de terem agressivamente exigido estas eleições, agora condenam-nas e exigem que não sejam realizadas porque sabem que a maioria dos venezuelanos apoia o seu governo.

Num incrível exemplo de hipocrisia e mentalidade colonial, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução em 3 de maio (492 votos a favor, 87, contra e 77 abstenções) exigindo que a Venezuela suspendesse as eleições presidenciais. Claramente, a arrogância europeia tende a exigir que outro país (mesmo fora da Europa!) não respeite sua própria lei, regulamentos eleitorais e acordos negociados com os líderes de sua oposição.

O Canadá, Estados Unidos, União Europeia, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o auto proclamado Grupo de Lima dos lacaios da ala direita dos governos da região, atacam as eleições que haviam reclamado há um ano. As leis venezuelanas estipulam que deveriam ter lugar em dezembro de 2018, mas eles queriam eleições no ano passado. O governo negociou com a oposição na Republica Dominicana e uma data em abril foi acordada. A oposição pediu mais tempo e a data de 20 de maio foi acordada.

Agora, a União Europeia disse que "não aceita" a eleição porque não há "garantias", sem especificar o que com isso pretendem significar e pedem um "retorno à ordem constitucional" sem alusão ou tentar conhecer e compreender as leis e a Constituição venezuelana.

Na realidade, é a política da abstenção dos Estados Unidos que os principais líderes da oposição seguem para que as eleições possam ser desqualificadas. Eles recusaram apresentar-se às eleições e exortaram as pessoas a não votar.

O governo pediu repetidamente a estes partidos da oposição para concorrerem às eleições. Tentam diabolizar um eficiente sistema eleitoral. Em suma, é uma montagem, um cenário para continuar a diabolizar, contrariar e sancionar um governo que querem derrubar. Felizmente, a oposição está dividida e alguns líderes estão presentes nas eleições, apesar das críticas dos seus próprios camaradas adversários.

Enquanto isso, a mais conceituada empresa de pesquisas da Venezuela apresentou os resultados interessantes de uma sondagem relativamente às eleições presidenciais 20 de maio: 

86% dos venezuelanos rejeita qualquer intervenção internacional no país 
70% dos venezuelanos dizem que participarão nas eleições – é mais uma derrota para a sector da oposição, apoiado por Washington, que apela à abstenção 
55% dizem que vão votar Maduro 
11% dizem que votarão Henri Falcon 
2% que irão votar para Javier Bertucci 
50% afirmaram que consideram a ação da Assembleia Nacional Constituinte: "muito boa, boa ou normalmente boa. ' 
71% consideram que Maduro vai ganhar as eleições (2 de maio de 2018, Telesur)

Há uma forte confiança de que a democracia na Venezuela está viva e bem, e é por isso que os Estados Unidos, Canadá, União Europeia e seus aliados têm medo.

Em resumo, os Estados Unidos e seus aliados no Canadá e na Europa estão envolvidos numa conspiração para derrubar o governo democrático e popular de Nicolas Maduro porque querem controlar as mais ricas jazidas petrolíferas do mundo localizadas na Venezuela e querem um governo servil e obediente que aceite subornos e permitirá que os Estados Unidos e suas transnacionais governem e oprimam o povo venezuelano, como fizeram nos últimos 40 anos antes do Presidente Hugo Chávez.

Como explica a determinação do imperialismo dos EUA em querer desestabilizar todos os governos progressistas da América Latina? 

Haverá uma explicação adequada para a ganância, o preconceito e o orgulho de querer dominar o mundo?

Há a questão dos recursos naturais dos quais os Estados Unidos necessitam para o seu capitalismo voraz. Eles esgotaram ou perderam recursos devido à falta de proteção ambiental e consumismo desenfreado. A região latino-americana brilha com suas riquezas incalculáveis como um outro El Dorado para este "capitalismo selvagem" como Chavez o designou.

A procura de poder dos EUA é escondida pela ideia de seu "excecionalísmo", semelhante à adopção pelo Império britânico do "fardo do homem branco " como pretexto para oprimir outras nações. Há um histórico, uma evidência clara de que os Estados Unidos se têm oposto, desestabilizado, derrubado ou assassinado cada reformador progressista que apareceu na cena política da região desde há um século.

As suas políticas agressivas remontam ao século XIX, quando roubaram ao México, por guerras e duplicidade, 50% de suas terras atuais do sudoeste, incluindo Califórnia, Texas, Novo México, Arizona, Nevada, Utah, Colorado, Wyoming, Kansas e Oklahoma. A doutrina Monroe é um colonialismo flagrante em que os Estados Unidos se atribuem a "proteção" da região.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) é o instrumento através do qual os Estados Unidos manobram para impor as suas políticas na região e a sua criação deu à sinistra Escola das Américas os meios pelos quais controlavam as forças armadas de diferentes países. O FMI e o Banco Mundial tornaram-se a isca venenosa pela qual as suas economias foram colocadas como reféns da armadilha da usura.

A obstinação dos Estados Unidos é uma mistura de ganância – por recursos naturais e expansão para suas sociedades capitalistas – e também de preconceito. A sua tendência racista radica profundamente na cultura e na história dos Estados Unidos. Os restos de sua sangrenta guerra civil ainda são visíveis hoje no tratamento de cidadãos negros, que são de forma desproporcionada presos e mortos pela polícia. Pessoas negras e morenas da América Latina e do Caribe parecem ser consideradas inferiores. Recentemente, o Presidente Trump chamou aos mexicanos de criminosos e violadores e as Nações Africanas de "tocas de ratos".

Qual é a sua análise sobre a demissão de Dilma Roussef e a detenção do ex-presidente Lula? Na sua opinião, é uma coincidência que se aprisione o ex-presidente Lula que todas as sondagens davam como vencedor nas futuras eleições brasileiras? Não acha que é uma manipulação vulgar e uma conspiração? 

Assistimos à corrupção do próprio quadro da democracia, como o entendíamos até agora. É o que chamamos de uma batalha jurídica pela qual o Parlamento e o sistema de justiça são manipulados para eliminar opositores políticos, desprezando as preferências eleitorais de um povo. Foi assim que Dilma Rousseff, Lula e Cristina Fernandez foram demitidos. Eles tentam fazer o mesmo com Rafael Correa que, mesmo fora do poder, é considerado uma ameaça. Eles tentam fazer o mesmo ao Presidente Maduro organizando processos extraterritoriais ridículos tentando manipular o direito internacional.

Nada disto tem a ver com justiça ou democracia, mas sim com eliminar poderosos adversários políticos de outras maneiras que não eleições porque a direita é incapaz de obter o voto popular. Sua intolerância, sua mentalidade tacanha, as suas "medidas de austeridade" para reduzir o Estado de bem-estar social são questões que não levam as pessoas a votar para eles, a não ser, é claro, mentindo sobre o que pretendem fazer (como Macri e Lenin Moreno).

A guerra jurídica torce e distorce o primado do direito, o que é algo muito perigoso. Estes adeptos do direito não respeitam as regras da democracia representativa. A fim de controlarem o governo, eles estão prontos a atacar os pilares do próprio Estado. Na sua corrupção, de acordo com as suas ambições, eles desacreditam o poder da justiça e o poder legislativo. Isto conduzirá inevitavelmente a ala esquerda e governos progressistas (e eles vão voltar ao poder) a reescreverem as regras da democracia, reforçando a democracia participativa, democratizando os bancos e os meios de comunicação, que são prostitutas na o altar da servidão desenfreada perante os poderosos, e implementarem novas leis criativas para proteger os direitos humanos e a vontade do povo.

Como explica o facto da extrema-direita ter voltado em força na América Latina, nomeadamente no Brasil e na Argentina, depois de ter governos progressistas? 

Alguns governos progressistas, incluindo o Brasil, a Argentina e até o Equador, pensavam que a vitória eleitoral política era suficiente. Eles jogaram com um baralho de cartas, não se dando conta que estava marcado contra eles. Foi subestimado o poder da ala direita (e seus apoiantes estrangeiros), e não foi controlada a influência estrangeira. Por exemplo, apesar de os funcionários da embaixada dos Estados Unidos terem encontros com a oposição, recompensando-a e financiando-a, poucas coisas foram feitas durante muitos anos. Consultores estrangeiros e fundos estrangeiros foram encaminhados por ONGs para a oposição. Nada disto seria tolerado nos Estados Unidos, no Canadá ou na Europa. No Brasil, a mudança política sob Lula não se refletiu em mudanças estruturais e legais, como na Venezuela, e uma forte aliança com os movimentos sociais pecou por defeito.

Uma das primeiras coisas que o Presidente Chávez fez foi pedir uma nova Constituição, que foi crucial para conseguir o tipo de mudança que o país precisava. Da mesma forma, na Venezuela, os movimentos sociais de todos os tipos (agrário, indígena, cultural, estudantil, focado em gênero, trabalhadores, etc) foram incorporados como atores na cena política, o que levou a uma profunda "consciência" (como diria o famoso educador brasileiro Paulo Freire) em que um povo se torna consciente de sua opressão, sua situação no campo político e começa a agir como uma classe unidos entre si (como Marx teria dito). Isto concretizou-se menos noutros países onde a direita chegou ao poder. Mas a experiência e a necessidade são grandes mestres, e as pessoas em países onde a direita tem agora o controlo irão em breve tomar outra direção.

A verdade é que são os governos de esquerda que frequentemente restabelecem os direitos humanos e protegem a democracia na região. Os governos de direita na América Latina são incapazes de controlar o voto popular e chegam ao poder pela corrupção (Peru, Colômbia, Panamá), fraude (cidade do México), golpe de Estado (Honduras) golpes de Estado parlamentares e jurídicos (Brasil, Paraguai). Macri na Argentina e Moreno no Equador são as únicas exceções, porque eles claramente venceram as eleições, mas, diriam alguns, escondendo suas reais intenções. Nós veremos uma nova "maré vermelha" na região e mais cedo do que mais tarde, porque uma vez, as pessoas tenham tomado o gosto pela soberania, provavelmente não voltarão a deixarem-se acorrentar. 

(NR) Allende foi membro do Partido Socialista chileno, não do Partido Comunista.

Continua

Ver também: 
  Tribuna Popular, edição de 24/Maio/2108 

[*] Socióloga, venezuelana, doutorada em sociologia pela Universidade de York, Toronto, Canadá. Lecionou sociologia da saúde e da medicina bem como políticas de saúde e ambiente na Universidade de Toronto. É membro ativo da comunidade latino-americana no Canadá.

O original encontra-se em mohsenabdelmoumen.wordpress.com/...

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/
 

Iraque: a presença dos EUA em questão


Thierry Meyssan*

O Iraque jamais teve paz após a invasão norte-americana, há quinze anos atrás, de tal maneira que os eleitores perderam a confiança nas diferentes instituições políticas que se sucederam. Seja como for, os que participaram no escrutínio legislativo de 12 de Maio escolheram listas anti-EUA, sancionando assim a do Primeiro-ministro que, no entanto, não havia governado mal. Conseguirão os Estados Unidos manter a desordem? Ou serão realmente forçados a partir?

A 12 de Maio, desenrolaram-se eleições parlamentares no Iraque. Elas deviam consagrar a “Aliança para a Vitória” do Primeiro-ministro, Haider al-Abadi, ou seja, a partilha do país entre os Estados Unidos e o Irão.

Ora, não foi nada disso o que se passou. Em qualquer caso, as duas coligações (coalizões-br) vencedoras são a «Aliança dos Revolucionários para a Reforma» e a «Aliança da Conquista»: duas formações anti-EUA.

Talvez os iraquianos tenham sido influenciados pelo anúncio, no próprio dia das eleições, da retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irão (JCPoA). É possível. Seja como for, apenas um terço dos eleitores se deslocou às urnas e votou esmagadoramente contra os Estados Unidos.

Observe-se, de passagem, que o acordo de não-agressão EUA-Irão [1], posto em causa por Donald Trump, não se aplicava unicamente ao Iraque, mas também ao Líbano. O que explica a ausência de reacção dos EUA à eleição do Presidente Michel Aoun, em 2016.

Após um momento de silêncio, inúmeros ex-deputados Iraquianos denunciaram fraudes e reclamaram a anulação do escrutínio. Se a princípio se tratava apenas de contestações em circunscrições particulares, o movimento exige, agora, um novo escrutínio nacional.

Surpreendendo, o líder da Aliança dos Revolucionários para a Reforma (na frente da contagem), Moqtada al-Sadr, declarou que não veria qualquer objecção a isso. Significa, segundo ele, que mesmo que tenha havido fraudes aqui e ali, elas apenas podem ter como consequência a eliminação desta ou daquela personalidade, não do total do resultado: a maré anti-EUA.

O programa do clérigo xiita Moqtada al-Sadr é simples: retirada de toda a presença estrangeira (salvo diplomática), seja norte-americana, turca ou iraniana. Sem preconceber o que acontecerá com as tropas Turcas ilegalmente estacionadas em Bachiqa, e sabendo que os Iranianos não precisam de enviar tropas para o Iraque para aí estarem representados, esta mensagem dirige-se, prioritariamente, aos 100.000 Norte-americanos ainda presentes, entre os quais um quinto de soldados regulares.

A outra mensagem de Moqtada al-Sadr —apoiado pelo Partido Comunista— é o fim do sectarismo. Parece que os Iraquianos assimilaram que, na ausência de um regime despótico como o de Saddam Hussein, apenas a unidade nacional permite defender o país. Foi por isso que Moqtada al-Sadr se voltou, antes das eleições, para a Arábia Saudita e para as outras potências sunitas do Golfo Pérsico. Ele define-se como um nacionalista, no sentido do baasismo original: não como um nacionalista iraquiano, antes como um nacionalista árabe.

Foi também por isso que os eleitores não deram apoio maciço à “Aliança da Vitória” do Primeiro-ministro : ao fazer referência à sua vitória sobre o Daesh (E.I.), Haider al-Abadi rejeitava os antigos baasistas que apoiaram, por “default”, a organização terrorista [2].

A propaganda da Administração Bush assimilara os baathistas de Saddam Hussein aos nazistas. Washington tinha qualificado o Partido Baath iraquiano de «organização criminosa» e interdito aos seus membros actuação na política. Quinze anos mais tarde, esta decisão ainda é a causa principal dos problemas que atingem o país. A isso, deve acrescentar-se a Constituição sectária, redigida pelo Israelo-Ianque Noah Feltman e imposta pelo Pentágono, que faz pairar permanentemente o espectro de divisão do país em três Estados distintos (xiitas, sunitas e curdos). Seja como for, foi-se o tempo em que a CIA poderia orquestrar, por baixo da mesa, a guerra civil e desviar a raiva anti-EUA para perseguições inter-comunitárias.

No Irão, os partidários do Presidente Hassan Rohani decidiram interpretar o escrutínio iraquiano como uma erupção populista contra a corrupção. Enquanto os partidários dos Guardiões da Revolução salientam mais o carácter unificador da Aliança de Moqtada al-Sadr.

Se o Irão procurar impor a sua vontade aos Iraquianos, será igualmente rejeitado por eles. Muito embora trabalhe nos bastidores para unir os opositores de Moqtada al-Sadr, Teerão nada diz em público. Obviamente, os acontecimentos evoluem a seu favor: é certo, os Estados Unidos rejeitam o acordo nuclear, mas deverão perder a sua influência no Iraque e a sua capacidade de agir a partir deste país, tanto na Síria como na Turquia.

A Turquia também está calada : Moqtada al-Sadr terá que gastar muita energia face aos Estados Unidos e não poderá atacar simultaneamente as tropas turcas, aliás, muito menos numerosas. Não chegou ainda o momento em que ele terá que se posicionar perante as questões regionais e a rivalidade irano-saudita.

Thierry Meyssan* | Voltaire.net.org | Tradução Alva

Foto: O líder nacionalista Iraquiano, Moqtada al-Sadr

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

REDE VOLTAIRE | DAMASCO (SÍRIA) | 1 DE JUNHO DE 2018 
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[1] Os Estados Unidos e o Irão concluíram um acordo bilateral, secreto, paralelamente ao JCPoA. Ele parece instituir entre eles uma espécie de pacto de não-agressão no Médio-Oriente.
[2] Opondo-se ao Baas (ou Bath- ndT) sírio, o Baas iraquiano apoiou a tentativa de golpe de Estado dos Irmãos Muçulmanos contra Hafez al-Assad, em 1982. Rompendo com o laicismo, promoveu o «regresso à Fé». Nesta onda, o Iraque retirou as três estrelas da bandeira iraquiana, que haviam sucessivamente significado a união com a Síria e o Egipto, depois a divisa «Unidade, Liberdade, Socialismo», e substitui-as, em 2008, pela divisa «Allah Akbar !». Aquando da invasão dos EUA, os membros do Baas voltaram-se para o seio da confraria sufi dos Naqchbandis, dos quais o antigo Vice-presidente Ezzat Ibrahim Al-Douri era o grão-mestre. Em 2014, eles juntaram-se maciçamente às fileiras do Daesh.

Angola | A HISTÓRIA NÃO PODE SER ESQUECIDA

MPLA ACOVARDA-SE COM MEDO DA VERDADE SOBRE O 27 DE MAIO

William Tonet | Folha 8 (digital)

No final de mais um Maio, um mês diferenciado, dos 12 do ano, não visualizo, pese a mudança nominal de liderança, a esperança e a crença numa política integradora, cidadã e de justiça.

A justiça de que a maioria dos angolanos carece, merece e lhe foi prometida, desde que um partido, privatizou, colonizando todas as instituições, e órgãos do Estado, colocando-se mesmo acima destes.

A maioria dos autóctones augura uma “justiça-cidadã”, que torne desnecessária a condenação de alguém, sem que seja julgado, num justo processo legal, alavancado em provas irrefutáveis.

Neste Maio, alguns, ingenuamente, acreditaram no lançar das sementes da reconciliação, tão desejada para a harmonia e reencontro de todos quantos ostracizados ao longo de 41 anos, no seio ou fora do MPLA, clamando, cabisbaixos, uns, e outros libertando-se das amarras mantém o facho da memória acesa.

Mais uma vez, neste “Maio 2018”, por incompetência da liderança e apego a ditames ditatoriais, se adia uma solução à mão de semear. Por esta razão, fui levado a navegar, até 1920, a bordo do leme da filosofa russa, Ayn Rand, que emigrou para os Estados Unidos e ao justificar a sua opção e visão, afirmou:

“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negoceia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais do que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.

Com a distância das margens deste rio, a Angola dirigida pelo MPLA se identifica, orgulhosamente, em 2018, no atrás vertido: “sociedade condenada”. Condenada quando a incompetência trafega os corredores do poder, numa espúria aliança institucional com a corrupção, fartamente denunciada por Nito Alves em 1976/77. O MPLA/Estado tivesse, com a saída da Presidência da República de José Eduardo dos Santos, intelectuais comprometidos com o torrão nacional e não com a corrupção, optaria por uma autêntica revolução interna, para o alcance da sua verdadeira independência...

Um partido com 42 anos de poder, maioria parlamentar, face aos reveses de uma política, socioeconómica desastrosa, levada a cabo pelo executivo e face os resultados eleitorais e crescente descontentamento popular, faria “mea culpa”, desligando- -se da subserviência ao poder do Titular do Poder Executivo.

Esse sinal de maturidade e pragmatismo, seria uma pressão positiva ao Executivo para melhor desempenho, sabendo haver um “contra - poder ou “check and balance” (política de freios e contra pesos), que a qualquer momento avocaria o papel de força e suporte ao TPE (Titular do Poder Executivo).

A concentração na mesma pessoa (caso de Angola/ JLo), partido político/Estado, com o poder legislativo unido e submisso ao Titular do Poder Executivo, não existe separação de poderes, tão pouco há liberdade. Isto porque ao longo de 42 anos de poder ininterrupto, o país tem sido governado por um Presidente da Repú- blica, partidocrata, com supra poderes e domínio absoluto do parlamento, que, por via disso, produz leis discriminatórias e absolutistas. Situação que se agrava, pela inexistência de liberdade do cidadão, por o poder judicial não estar separado do poder legislativo e do Titular do Poder Executivo.

Desta união reside, um poder abjecto e arbitrário, sobre a vida e a liberdade dos cidadãos (recorde-se a carga da Polícia Nacional do MPLA, sobre os manifestantes no 27 de Maio de 2018). Um cenário onde a Polícia espezinha a lei e o juiz assume o papel e a força de opressor.

Por esta razão, não restam dúvidas, à maioria dos angolanos, que a “bicefalia jurídico- constitucional”: Presidência da República versus presidente do MPLA, no corpo de um homem só, significa poder autocrático e ditatorial, ao não separar os poderes.

Neste 27.05.18, o regime, demonstrou, vaidade umbilical de poder, falta de soluções nacionalistas e capacidade de governar todos angolanos, com transparência, rigor governativo, imparcialidade institucional, sem fraude eleitoral.

Daí a concentração num mesmo corpo (homem ou partido político) dos três poderes: faz leis, executa as decisões públicas (sem controlo e vigilância) e julga os crimes a seu belo prazer, penalizando todos cidadãos que lhe forem contrários. Isso, porque, se rememorarmos, Charles - Louis de Secondat, mais conhecido por barão de Montesquieu, na sua obra “O Espírito das Leis”: “É preciso que o povo tome conhecimento da acção, e que tome conhecimento dela no momento em que ela foi executada; em um tempo em que tudo fala: o ar, o rosto, as paixões, o silêncio, e em que cada palavra condena ou justifica”.

Aqui chegamos!

E, assiste- se à contínua descaracterização do MPLA, que assim, carimba, também, as suas mãos no crescendo de pobreza, doenças e analfabetismo, em muitas facetas, piores que no período colonial, devido às actuais políticas governamentais

Os cidadãos têm cada vez mais ciência disso, mas como tal como o shampoo, o MPLA quer ser dois em um, mesmo quando a sua veia partidocrata, caminha cada vez mais no pantanal, onde, um dia, os povos tudo farão para de lá não mais sair.

É verdade que todo o poder, neste momento, não assenta na soberania do povo, mas na ponta do fuzil e dos canhões, mas a história tem demonstrado que existe um tempo, que as baionetas são impotentes, ante a força e vontade dos povos, numa verdadeira mudança.

O MPLA, infelizmente, neste Maio 2018, continua a acovardar-se, demonstrando não ter consciência, sentido de responsabilidade e capacidade de organização, para sem a muleta dos benefícios do governo, caminhar por si só.

É a clara demonstração de ser um gigante de pés de barro, apostado, tal como o fez, no 27 de Maio de 1977, a apunhalar a cidadania, os direitos fundamentais e a LIBERDADE. Por tudo isso saio, de mais um Maio, angustiado, descontente, descrente e revoltado com a política governamental que não tem para dar ao povo, mas os actuais secretários do Presidente da República e até simples directores de gabinete, continuam a viajar em primeira classe (cerca de 2 milhões de Kwanzas o bilhete), com dinheiro público, que faz falta aos hospitais, por exemplo.

O próprio Titular do Poder Executivo, em total desrespeito pelos mártires do 27 de Maio, negando- -se em dar- lhes pensão, esbanja mais de 2 milhões de dólares, no frete de uma aeronave de luxo, para ficar menos de 72 horas, em Paris, quando esse dinheiro, seria bastante, para ajudar escolas, postos médicos e ou mesmo a TAAG, companhia aérea nacional. Por tudo isso, em memória dos meus camaradas barbaramente assassinados, injustamente presos e votados ao abandono, sou impelido a revigorar, a esperança, a luta, visando o derrube dos malefícios de políticas corruptas e de roubalheira institucional que nos (des)governam. Maio PRESENTE!

Luanda: Execução de suspeito pela polícia deve ser punida


O Ministério do Interior determinou a "responsabilização criminal e disciplinar" do agente do Serviço de Investigação Criminal acusado de executar um suspeito de roubo. Governo classifica o ato como "ignóbil".

O caso, que ocorreu na capital angolana na sexta-feira (01.06), está a ser descrito como uma "execução sumária" por parte do agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e foi filmado por uma cidadã, tendo rapidamente sido denunciado e partilhado nas redes sociais, com internautas a apoiar e outros a desaprovar a atuação do agente de segurança, conforme noticiaram os meios de comunicação social angolanos neste sábado (02.06).

No vídeo é possível ver o alegado meliante deitado no chão, visivelmente ferido e a tentar levantar-se, perante o olhar de agentes do SIC. Ao fim de alguns minutos, e com a população a assistir, um elemento do SIC aproxima-se e realiza vários disparos na direção do jovem, que acaba por morrer no local, na rua.

Ato "ignóbil"

Em comunicado, o Ministério do Interior esclarece que, no âmbito das operações realizadas pelas forças de segurança "no combate ao crime violento", uma brigada do SIC de Luanda esteve sexta-feira em perseguição a um grupo de meliantes armados, que circulavam a bordo de uma viatura roubada no dia anterior.

Os agentes do SIC, acrescenta o comunicado citado pela agência de notícias Lusa, entraram "em confronto" com os meliantes, tendo um dos policiais "atingido mortalmente um marginal em circunstâncias injustificadas, uma vez que a vítima se encontrava já sob completo domínio".

"Pelo ato ignóbil praticado pelo referido agente, orientou-se o diretor-geral do SIC a tomar imediatamente todas as medidas que se impõem no sentido de proceder à responsabilização criminal e disciplinar", refere o comunicado do Ministério do Interior.

"Esquadrões da morte"

Entretanto, o SIC rejeitou em novembro passado a existência de "esquadrões da morte", elementos daquela polícia que percorrem Luanda com uma lista de alegados criminosos a abater, mas garantiu na altura que iria encaminhar as denúncias à Procuradoria-Geral da República. Em causa estava uma denúncia do jornalista angolano Rafael Marques, que divulgou alegados casos desta prática extrajudicial e que já teria provocado mais de 90 mortos.

"Os esquadrões de morte, em Angola, nunca existiram. Portanto, nós também tivemos acesso a esta informação, dizer aqui que vamos solicitar junto da Procuradoria para que essas pessoas venham aos autos e deem a informação em concreto, de forma a facilitar todos esses processos que ainda estão pendentes", afirmou na altura o diretor provincial de Luanda do SIC, Amaro Neto.

O jornalista Rafael Marques, que divulgou um relatório completo sobre estes casos, garantiu que já tinha levado o assunto ao ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares, a 29 de maio de 2017. "Disse-me que já tinha pedido à Procuradoria-Geral da República [PGR] para investigar com base no relatório preliminar que lhe tinha encaminhado. O SIC estará a duplicar o pedido já feito pelo ministro? Não houve tal pedido por parte do ministro? Ou a PGR ignorou a diligência do ministro", questiona Rafael Marques.

A investigação, feita desde abril de 2016, avança que estes alegados agentes do SIC atuam, sobretudo, nos municípios de Viana e Cacuaco, os mais populosos e inseguros da província de Luanda. O relatório de Rafael Marques aponta para 50 casos suspeitos de execução sumária, num total de 92 jovens vítimas, alegadamente delinquentes, abatidos pelos agentes do SIC. O último dos casos teria ocorrido a 06 de novembro, com três jovens mortos.

Em entrevista ao portal de notícias Euronews, o Presidente da República de Angola, João Lourenço, disse que o seu Governo está a trabalhar para que casos que violação dos direitos humanos não aconteçam no país. Entretanto, Lourenço afirmou desconhecer a existência de violações como estas desde que assumiu o cargo há oito meses. "Estarei atento para que isso não aconteça", disse.

Agência Lusa, tms | Deutsche Welle

Suspeitos de ataques no norte de Moçambique abatidos pelas autoridades


As forças de defesa e segurança de Moçambique abateram alguns dos supostos membros dos grupos armados que têm atacado a população no norte do país, afirmaram fontes neste sábado (02.06).

Segundo informação veiculada canal de televisão STV, oito suspeitos terão sido mortos pelas autoridades durante uma operação nas matas da província de Cabo Delgado, junto a uma das aldeias onde, no domingo passado, foram decapitadas dez pessoas.

De acordo com a STV, os supostos agressores terão sido abatidos na sexta-feira (01.06), depois de mais uma pessoa ter sido decapitada, na quinta-feira, na povoação de Muti, no mesmo distrito. Juntamente com os suspeitos terão sido descobertas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e de um passaporte tanzaniano, acrescentou o canal.

Os agressores estariam junto a um rio quando foram descobertos e abatidos, sendo que já noutras ocasiões terão sido detetados junto a cursos de água, adiantou ainda a STV, que disse ter obtido a informação junto de membros das forças de defesa e segurança.

Outras fontes contactadas pela agência de notícias Lusa, no distrito de Palma, também falam de um contra-ataque das autoridades, mas não especificaram quantos terão sido abatidos. De acordo com estas fontes, os suspeitos foram encontrados enquanto preparavam comida, no meio de uma floresta em Quissengue, posto administrativo de Olumbi. As mesmas fontes também garantiram que os membros das forças de defesa e segurança terão sido apoiados nas operações por residentes.

Mesquitas reabertas

Entretanto, o Governo provincial de Cabo Delgado permitiu a reabertura de três mesquitas em Pemba, capital da província, depois de terem sido encerradas no final de 2017 por indícios de ligação aos grupos armados que atacam a região.

A reabertura foi permitida depois de os líderes das respetivas mesquitas se terem distanciado dos movimentos radicais suspeitos, de acordo com a edição de hoje do jornal Notícias.

Ataques

A vila de Mocímboa da Praia e povoações do meio rural da província de Cabo Delgado têm sido alvo de ataques de grupos armados desde outubro de 2017, causando um número indeterminado de mortes e deslocados.

Um estudo divulgado em maio, em Maputo, aponta a existência de redes de comércio ilegal na região e a movimentação de grupos radicais islâmicos, oriundos de países a norte, como algumas das raízes da violência.

Diversos investimentos estão a avançar na província para exploração de gás natural dentro de cinco a seis anos, no mar e em terra, com o envolvimento de algumas das grandes petrolíferas mundiais.

Agência Lusa, tms | em Deutsche Welle

Taxas de importação põem EUA e europeus em pé de guerra


Presidente americano, Donald Trump, cumpre ameaça e retira isenções para aço e alumínio. União Europeia tentou até o fim contornar o confronto. Agora especialistas temem um acirramento do conflito comercial.

Nenhum tuíte, nem uma declaração feita pessoalmente: o presidente dos EUA, Donald Trump, deixou o anúncio da decisão para seu secretário de Comércio, Wilbur Ross: nesta sexta-feira (01/06) começam a vigorar para a UE as taxas de importação de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio. A isenção, que desde março vinha poupando os europeus das sobretaxas impostas em março, expirou neste 1° de junho.

Isso não surpreende os europeus. Eles tentaram até o fim contornar um conflito comercial com os EUA, mas sem sucesso. As posições recíprocas são rígidas demais. Enquanto os EUA apostam em acordos bilaterais, a UE não quer se deixar dividir e insiste no cumprimento das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Durante reunião ministerial da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris, o ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, ressaltou a importância de os europeus se manterem coesos na defesa dos princípios do livre-comércio e dos acordos mútuos. "Nas últimas semanas, temos agido de forma muito intensa, muito sólida, muito solidária em nível europeu", frisou, defendendo que essa atitude seja mantida.

Uísque, motocicletas e jeans ficarão caros

A UE ofereceu negociar vantagens comerciais para empresas dos EUA, reivindicando a isenção permanente das novas tarifas dos EUA sobre importação de aço e alumínio como requisito prévio para essas negociações, mas os EUA não aceitaram a oferta.

Entretanto o bloco europeu se preparou intensamente também para este caso. A comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmström, anunciou que entrará com uma queixa junto à OMC, além de determinar medidas de proteção para a economia europeia e tarifas de retaliação sobre produtos dos EUA.

A UE tem agora 90 dias, segundo as regras da OMC, para tomar medidas de retaliação, denominadas como "re-balancing": as importações dos EUA podem ser sobretaxadas num nível necessário para compensar os danos financeiros causados à indústria europeia.

Na Comissão Europeia é importante a constatação de que as medidas compensatórias não sejam uma punição, e sim tenham um fundo político. Com uísque, motocicletas Harley-Davidson e jeans, foram escolhidas mercadorias produzidas em estados americanos governados por republicanos, cujos governadores devem exercer pressão sobre o presidente e levá-lo de volta "ao caminho certo".

Será que isso vai funcionar? O presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), Dieter Kempf, teme um acirramento da disputa. "Temos que contar com a possibilidade de o presidente americano lançar novas medidas, e isso é realmente preocupante", disse em entrevista à emissora de rádio alemã Deutschlandfunk. De fato, o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, declarou na reunião da OCDE que, se houver uma escalada, será porque a UE decidiu revidar.

Sobretaxação de carros europeus?

Donald Trump já anunciou que está também considerando o aumento dos impostos sobre importações de carros europeus. "Indústrias importantes, como carros e autopeças, são cruciais para a força da nação”, comentou recentemente. O Departamento de Comércio dos EUA estaria, portanto, avaliando uma base legal que permita taxas de importação sobre certas mercadorias, no caso de a segurança nacional ser ameaçada.

O ministro alemão da Justiça, Heiko Maas, soube da novidade no fim de maio, durante uma visita aos EUA. "É óbvio que isso pode ser especialmente direcionado contra carros alemães", disse na terça-feira, no Global Solutions Forum, uma reunião preparatória em Berlim para o G20.

Na oportunidade, ele disse a seu colega Mike Pompeo: "Mike, vocês não podem estar falando sério, que carros alemães afetam seus interesses de segurança nacional. Pelo contrário: carros alemães tornam as estradas americanas mais seguras."

Sem brincadeira

Ainda que a observação tenha sido feita em tom jocoso, o Ministro alemão do Exterior está pouco disposto a brincar sobre o tema. Atualmente, o protecionismo molda quase todas as discussões com Washington, segundo Maas. "A balança comercial parece se tornar a nova referência nas relações políticas", queixou-se.

No entanto o comércio global, segundo ele, não é um jogo global de soma zero para a Alemanha, mas um importante impulsionador do crescimento, que promove a inovação e cria empregos. "Mas isso também requer um sistema de negócios funcional, baseado em regras", ressaltou.

No entanto é exatamente isso o que os EUA questionam. Os fabricantes de automóveis alemães já estão preocupados. Por último eles venderam 480 mil veículos por ano para os Estados Unidos. De acordo com relatos da imprensa, a tarifa sobre carros, caminhões e peças de carros cogitada por Trump pode chegar a 25%. Até o momento, a taxa de importação de carros nos Estados Unidos é de 3%, enquanto a UE cobra10% pelos carros americanos importados.

Várias vezes Trump se disse incomodado pelas importações de carros alemães em particular. Segundo a revista alemã de economia Wirtschaftswoche, citando fontes anônimas da diplomacia europeia e americana, o presidente americano teria mencionado em abril, durante a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, que manteria sua política comercial até que não haja mais modelos da Mercedes circulando pela Quinta Avenida de Nova York.

Sabine Kinkartz (md) | Deutsche Welle

Foto: Carros aguardam embarque no porto de Bremen: ameaça de tarifas sobre automóveis preocupa alemães

Puidgemont afirma que novo Governo da Catalunha está "em boas mãos"


O ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, afirmou este sábado, após a tomada de posse do novo Governo catalão, que está "em boas mãos", celebrando que o executivo se comprometa com o "mandato popular" que é "base da democracia".

Numa mensagem publicada na sua conta de Twitter, Puigdemont celebra a tomada de posse do Governo de Quim Torra, 218 dias depois de ter terminado o seu devido à aplicação do artigo 155 da Constituição como resposta à declaração unilateral de independência.

"O caminho continua, e em boas mãos. Um Governo de mulheres e homens comprometidos com a liberdade: a do país, que quer dizer necessariamente a das pessoas que o conformam", escreveu o líder da coligação Junts per Catalunya.

Puigdemont aplaudiu o respeito do novo Governo pelas "ideologias, línguas, culturas e crenças" e que este se comprometa a ser "fiel ao mandato popular" que é a "base da democracia".

O primeiro vice-preidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, apelou hoje, em Barcelona a "mais diálogo" entre o Governo pesanhol e a Generalitat (governo da Catalunha) para resolver o conflito catalão.

O representante europeu, que participava na sessã de encerramento das jornadas do Círculo de Economía de Sitges, mostrou-se convito de que os políticos espanhóis são "suficientemente capazes" de resolver esta questão através da negociação e do diálogo.

Lusa

Pedro Sánchez tomou posse como chefe do Governo Espanhol


O socialista Pedro Sánchez prestou este sábado, no Palácio Real da Zarzuela, juramento como primeiro-ministro do Governo espanhol perante o rei, Felipe VI, tornando-se o sétimo chefe do executivo da democracia espanhola, depois do sucesso de uma moção de censura.

Sem bíblia nem crucifixo, pela primeira vez um líder de um governo espanhol tomou posse sem os símbolos católicos, jurando somente seguir a Constituição, algo que só é possível a partir de 2014, ano em que os elementos católicos na cerimónia de tomada de posse deixaram de ser obrigatórios.

"Prometo por minha consciência e honra cumprir fielmente as obrigações do cargo de presidente do governo com lealdade ao rei e fazer respeitar a Constituição como norma fundamental do Estado", afirmou.

O líder o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) tem agora de apresentar a composição do seu executivo e quando os nomes forem publicados no jornal oficial, o que deverá acontecer nos próximos dias.

Pedro Sánchez, um economista de 46 anos, é o primeiro chefe de Governo que chega ao poder depois ter ganho uma moção de censura, que neste caso afastou o líder do Partido Popular (PP, direita), Mariano Rajoy.

O Congresso dos Deputados (parlamento) aprovou na sexta-feira por 180 votos a favor e 169 contra a moção de censura que afastou o Governo de direita liderado por Rajoy e, ao mesmo tempo, investiu o novo primeiro-ministro e líder do PSOE.

Apesar de apenas ter 84 dos 350 deputados do parlamento espanhol, os socialistas conseguiram reunir o apoio de um total de 180 votos, que incluem os representantes do Unidos Podemos (Extrema-esquerda, 67), a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, separatistas, nove), o Partido Democrático e Europeu da Catalunha (PDeCAT, separatistas, oito), o Partido Nacionalista Basco (PNV, cinco),o Compromís (nacionalistas valencianos, quatro), o EH Bildu (separatista basco, dois), e a Nueva Canarias (nacionalista, um).

Pedro Sánchez vai formar um Governo minoritário com ministros socialistas e independentes e o apoio parlamentar das restantes sete forças políticos, com muitos observadores a terem dúvidas sobre a estabilidade do novo executivo.

A atual legislatura iniciou-se com as eleições de 26 de junho de 2016 e terminará quatro anos depois, em 2018.

Lusa | Foto: Pierre Philippe Marcou/AFP

Portugal apontado como mau exemplo no Parlamento Europeu devido aos Vistos Gold


Ana Moreno * | opinião


Não é novidade nenhuma, há 5 anos que Ana Gomes alerta para que esses esquemas incentivam a corrupção e ameaçam a integridade do sistema financeiro e a segurança dos cidadãos. Alguns nomes até são conhecidos. Isto para não falar na falta de moralidade decorrente do simples facto de que basta ser rico para se entrar e continuar os negócios como membro no clube europeu, enfim.

Já os eurodeputados Paulo Rangel e Nuno Melo acham muito bem que a elite dos super abastados tenha direitos especiais e oportunidade de fazer o que lhe convém com os montantes obtidos de modo ilícito ou não; Para defender a pouca vergonha dos vistos gold de Portugal, Paulo Rangel aponta – e com razão – o dedo à pouca vergonha de países como a Holanda, com a baixeza das suas taxas fiscais; ou seja, a UE é um chiqueiro em matéria de regulamentação financeira e fiscal e as hipocrisias são estridentes. Mas a Comissão diz que não tem competências nesta matéria. Pois era o que faltava, as competências que tem utiliza-as para investir em projectos destinados a subjugar os cidadãos ao capital global (acordos de livre comércio, tribunal multilateral de investimento). Isso é que vale a pena e obtém o apoio dos estados-membros no Conselho.

E é assim que os governos competem entre si para engraxar os sapatos às grandes empresas com paleio seboso e à custa do suor dos cidadãos europeus, desapropriando-os de valores e direitos.

Depois façam-se de admirados pelas facturas “populistas” que andam a receber…

*Aventar

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Jornal de Notícias | 130 anos a contar o Mundo

Em 130 anos cabe muita mudança. Crises e revoluções, avanços tecnológicos, conquistas sociais, acontecimentos que ganham lugar na história. E uma nova forma de comunicar, mais imediata e sem barreiras em qualquer canto do globo. Os desafios digitais são tão vastos que nos órgãos de Comunicação Social se discute, há décadas, o risco que a mudança pode trazer aos jornais em papel.

No "Jornal de Notícias" não tememos a mudança. Celebramos 130 anos carregados de história olhando com confiança para o futuro. Sem medo de arriscar, vestindo já a partir de amanhã uma nova roupagem, que se sente desde logo no cabeçalho do jornal. "Mudou o Mundo e o "Jornal de Notícias" não envelheceu", como tão apropriadamente referiu o presidente da República na Conferência dos 130 anos.

No essencial, continuamos iguais. Próximos das pessoas e dos diferentes territórios que fazem de nós o que nós somos, que fazem do JN um jornal de causas. Dos leitores e para os leitores, atentos às notícias, empenhados em tratá-las com rigor e em contá-las bem, evitando o facilitismo a que a voragem do imediatismo nos impele.

Os leitores são a nossa vocação e o nosso destino.

O caminho que percorremos ensinou-nos há muito que um bom jornal é a cidade, a região e o país a dialogar consigo mesmos e com o Mundo. Ao longo dos últimos 130 anos, foram os laços de proximidade, de confiança e de credibilidade que fizeram do JN um grande jornal nacional, orgulhoso da sua pronúncia.

Não é um acaso a escolha da língua portuguesa como tema para a nossa edição de aniversário. O português é falado nos cinco continentes, partilhado por 260 milhões de pessoas e um património afetivo com potencial económico. Os leitores do JN estão em qualquer geografia em que se fale português. Estamos há 130 anos a dar notícias em português, mas cada vez mais as espalhamos por todo o Mundo.

Quando queremos definir a portugalidade, dificilmente escapamos às marcas deixadas pelas epopeias dos navegadores. Foi a primeira semente que espalhou uma história de expansão da língua posteriormente impulsionada pela literatura e pela música. Uma língua multifacetada, quer tenha um sotaque carioca ou as sonoridades específicas dos arquipélagos dos Açores e Madeira.

Essa ponte que cruza oceanos fez nascer um projeto que em breve iremos lançar, JN Comunidades. Porque queremos continuar a ganhar mundo, sem nunca perder a ligação territorial que é genuinamente nossa.

Jornal de Notícias | editorial

Futebol | Novela de terror, futebol dos milhões, Benfica, Sporting e outros


Mário Motta, Lisboa

O Sporting continua em crise, lamentável. Parece um filme de terror, se quiserem consideremos que é uma novela de terror. Bruno de Carvalho faria bem em se demitir se não fosse como é, um guerreiro. Mas ele sabe o que sabe e ainda não disse: aqui há marosca. Há marosca e para alguns, se não para todos dos mais preponderantes na novela, o negócio são milhões e estão-se nas tintas para o clube centenário.

São esses que falam, falam, envenenam ainda mais a toda a hora e em todas as palavras que pronunciam. Até quando dizem que estão a querer pacificar estão a envenenar e a pôr mais cianeto no caldeirão da crise. Quanto aos jogadores… Ofereçam-lhes dinheiro extra (milhões) que tudo se compõe. Salvo raras e honrosas excepções os jogadores o que querem é somar milhões naquele futebol disso mesmo, dos milhões. A baixa consideração que Bruno de Carvalho possa merecer é extensiva a muitos dos protagonistas daquela novela de terror. Quem está a perder tudo é o Sporting, por ter facultado a entrada nos seus órgãos e influências primordiais bandos de gentes portadoras de maus caráteres, de golpistas que aqui e ali debicam interesses pessoais, de promoção e de negociatas.

Rui Patrício abandonou o Sporting, Podence idem, esses são certos. Patrício, um Sportinguista do peito abandona o Sporting? Um sportinguista do peito nunca faria isso. A não ser que o mais importante sejam os milhões, a carreira e etc. Em qualquer plantel dos grandes clubes existem muitíssimos como Patrício. Aquelas vedetas fazem parte de uma classe estranha de seres humanos. Temos de admitir. Só aduladores de tontarias têm consideração por gentes daquela espécie. Porém, cada um é como quer e se sente confortável. Toca a todos. Certo é que o futebol dos milhões é doentio e revela-se um circo de feras que elimina o que ou quem se lhe opuser na marcha.

O engraçado daqueles desportos dos milhões, particularmente o futebol (ópio do povo) são os golos e as artes de domínio do esférico. Mas daí a aceitarmos a alienação que lhe é adjacente, a violência e as imoralidades dos milhões que ali abundam e passam de mão em mão torna-se criminoso e superiormente imoral. Montra escancarada de para onde caminhamos enquanto homens e mulheres, enquanto povos-adeptos, povos-eleitores ou dominados por ditadores, em sociedades com sintomatologias de doenças agravadas e que se resumem a clubites, partidarites, adulações do cifrão sob a forma de fortunas, ganâncias, avarezas. É este futebol doentio que irá estourar com ele próprio por via de uma implosão espetacular, para dar o lugar merecido ao desporto saudável e amigo das sociedades, dos povos, do saudável.

A crise no Sporting tem por par, na segunda circular de Lisboa, a crise no Benfica. A do FC Porto também aparecerá. E por aí adiante. A corrupção, as vigarices, as gulas pelos milhões e a crise nas estruturas das bordas e ganâncias de tantos milhões (federação, arbitragem, a própria FIFA, UEFA, etc.) é o conteúdo explosivo dessa tal implosão que já está à vista há muito e cada vez mais. O dia B do bum! acontecerá, para estilhaçar e aniquilar a podridão das mentes deste futebol do “desporto rei”, assim como o próprio “rei”. E então surgirá a república no futebol, a democracia, a transparência. Só então o desporto no seu todo poderá ser vivificado e merecedor de fazer parte de sociedades e povos saudáveis. É o que se deseja. Era o que devia ser. É o que deve ser o futebol, todo o desporto.

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