segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Paradoxo na economia: "a gente sabe o que funciona e estamos fazendo exatamente o contrário"



Confira entrevista do professor titular de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Ladislau Dowbor, ao Sul21

Marco Weissheimer - Sul21

"Estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria, enquanto os recursos necessários ao desenvolvimento sustentável e equilibrado são esterilizados pelo sistema financeiro mundial. (...) Quando oito indivíduos são donos de mais riqueza do que a metade da população mundial, enquanto 800 milhões de pessoas passam fome, achar que o sistema está dando certo é prova de cegueira mental avançada". Essa é uma das teses centrais do novo livro do economista Ladislau Dowbor, "A era do capital improdutivo. A nova arquitetura do poder: dominação financeira, seqüestro da democracia e destruição do planeta" (Outras Palavras/Autonomia Literária), que analisa a captura dos processos produtivos e políticos da sociedade mundial pelo capital financeiro.

Na avaliação do professor titular de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o neoliberalismo repousa sobre "balelas" e a concentração de renda e de riqueza no planeta atingiu níveis obscenos. Em entrevista ao Sul21, Dowbor fala sobre o seu novo livro e sobre os desdobramentos dessa hegemonia do capital especulativo no Brasil. O déficit no Brasil, defende o economista, não foi criado por gastos públicos, mas sim pelo desvio dos gastos públicos para os bancos no serviço da dívida pública:

"Muito curiosamente, o teto de gastos paralisa as atividades próprias do Estado em educação, saúde, segurança, etc., mas libera a continuidade da transferência de recursos públicos para os bancos. O Brasil tem, hoje, cerca de 60 milhões de adultos que estão negativados. Essas pessoas não conseguem pagar suas contas relativas a comprar anteriores e, muito menos, efetuar novas compras. E as empresas também estão endividadas. Esse sistema é absolutamente inviável".

SÉRIAS COWBOIADAS | Ameaças militares dos EUA são provocações para a guerra nuclear



A situação na Coreia do Norte é terrífica 

– A carta urgente da RDPC ao secretário-geral da ONU

 Carla Stea [*]

A situação em relação à Coreia do Norte é terrífica. Assisto à acumulação furtiva de pressão sobre o Conselho de Segurança, semelhante àquela que antecedeu as invasões do Iraque e da Líbia. O veto russo-chinês impediu um ataque à Síria com aval da ONU, mas a Rússia e a China não estão a vetar estas sanções odiosas sobre a Coreia do Norte e estão a permitir este cerco militar incrivelmente provocatório à RDPC. Que negociações estão a ser feitas?

No dia 13 de Outubro a RDPC enviou uma carta urgente ao secretário-geral das Nações Unidas, Guterres. Esta foi a terceira carta enviada à ONU desde 20 de Novembro, três cartas em 23 dias tentando alerta as Nações Unidas para a situação de crise no Nordeste da Ásia que põe em risco a paz e a segurança internacional, uma crise que poderia precipitar uma guerra nuclear a qualquer momento. Todas as três cartas foram ignoradas, levantando questões alarmantes acerca do compromisso da ONU de "salvar a humanidade do flagelo da guerra".

Qualquer tentativa de acusar a RDPC de "provocação" é um embuste flagrante, pois as provocações e ameaças à sobrevivência da Coreia do Norte descritas neste apelo ao secretário-geral revelam a preparação estado-unidense-sul-coreana para um ataque iminente e extermínio da Coreia do Norte.

ESCRAVOS É NEGÓCIO NA LÍBIA | África reage ao comércio ilegal de migrantes na Líbia


Há Guineenses a serem vendidos como escravos

O Ruanda anunciou que vai acolher 30 mil migrantes. Há guineenses entre as vítimas. A Liga Guineense dos Direitos Humanos pediu às autoridades que "acionem mecanismos de repatriação".

As denúncias sobre a existência de leilões de escravos na Líbia gerou reações no continente africano contra as práticas desumanas que estão a vitimar jovens subsaarianos que tentam chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo.

O Ruanda vai acolher 30 mil migrantes retidos na Líbia. As negociações sobre o acolhimento estão a ser discutidas com a União Africana (UA).

A porta-voz do Governo do Ruanda, Louise Mushikiwabo, afirmou que o país não pode ficar em silêncio "quando seres humanos estão a ser maltratados e vendidos como gado", e pediu que os ruandeses acolham os migrantes.

A decisão do Ruanda, anunciada esta quinta-feira (23.11), é uma resposta ao pedido do presidente em exercício da União Africana, Alpha Condé, para que os estados-membros ofereçam apoio e ajudem as vítimas a regressar aos países de origem.

ZIMBÁBUE | Emmerson Mnangagwa não é diferente de Mugabe



Milhares saúdam na capital Harare o novo presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa. Mas "o Crocodilo" não é melhor do que seu antecessor, e está longe de significar mudança, opina o jornalista Ludger Schadomsky.

No Zimbábue, os coloridos kitenges – vestimenta semelhante ao sarong, típica do Centro e Oeste da África – sempre refletem um pouco a paisagem política do país. Assim, nos últimos 37 anos, seus estampados geralmente traziam o retrato do presidente Robert Mugabe.

Depois de o idoso autocrata ter sido definitivamente varrido do cargo, porém, últimas semanas de novembro já se vê, aqui e ali, o rosto do novo homem forte em Harare: o ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa, de 75 anos. No entanto, por mais sedutor que seja o simbolismo, o novo rosto do Zimbábue está longe de ser um emblema de liberação, e muito menos de reconciliação nacional.

Não é acaso o apelido de Mnangagwa ser "o Crocodilo". Fiel a Mugabe, ele sempre se encarregou do trabalho sujo para seu mestre; primeiro como seu guarda-costas, nos anos 70, depois como chefe do serviço secreto, e por último como brutal vice. O assassinato de milhares de oposicionistas e ativistas pesa nas costas da suposta nova esperança zimbabuense – da mesma forma que o massacre de fazendeiros brancos.

domingo, 26 de novembro de 2017

MOÇAMBIQUE | Menos discursos e politiquices



@Verdade | Editorial

Desde a Independência Nacional, a governação da Frelimo tem sido marcada por actos que não têm estado a contribuir para o bem-estar dos moçambicanos, mas sim para um punhado de indivíduos ligados ao partido. A governação de Filipe Nyusi não é uma excepção. Ela é marcada de discursos vazios. Os moçambicanos querem ver acções ou obras políticas, e não discursos e politiquice. Mas não quaisquer acções.

É que estamos, como sociedade, numa altura em que os moçambicanos esperam obras por parte do Chefe de Estado, mas este limita-se em politiquices e, devido a essa situação, o país continua a ver a sua reputação mergulhada na lama. A título de exemplo, no índice de Governação Africana (IIAG) de 2017, Moçambique caiu duas posições, o que quer dizer que a governação de Filipe Nyusi não está a ser melhor do que a do seu antecessor, que empurrou este país para a sarjeta.

É deveras preocupante quando recebemos esse tipo de notícias. O pior de tudo é que a evidente degradação da governação de Nyusi ao longo destes dois anos em que é Presidente de Moçambique também aparece reflectida nas avaliações internacionais. Recentemente, o país apresentou um mau desempenho no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, caiu no ranking de Competitividade do Fórum Económico Mundial, para além da queda no Doing Business do Banco Mundial.

Estas as evidências são mais do que suficientes para o Presidente da República colocar a mão na consciência e começar a agir de facto como Chefe de Estado, e não um mero menino de recados. É preciso que Filipe Nyusi se lembre de que ele é o Presidente da República de Moçambique e comece a agir para que o país não continue a estar em declínio.

O Chefe de Estado tem a obrigação de mostrar acções concretas, e não apenas limitar- se a exonerar e nomear este e aquele indivíduo. Devido a sua inércia, os moçambicanos vivem na condição de escravizados, num mundo convertido em casa de opressão. É preciso sairmos da situação de infame e declínio em que o país se encontra. Temos de sair. Sem mais adiamentos.

Como povo, também temos o dever moral de exigir acções e obras políticas ao Presidente da República. Temos de ousar exigir que se crie uma nova situação que nos proporcione uma vida de bem-estar e de qualidade para todos. Precisamos que o Chefe de Estado se comporte como servidor do povo moçambicano, e não um Chefe de Estado de discursos vazios e politiquices.

"Natal antecipado" para o casal português que fugiu de Timor-Leste



O Natal chegou mais cedo para o casal português que estava proibido de sair de Timor-Leste pela Justiça do país, desde 2014. Tiago e Fong Fong Guerra, os dois portugueses que fugiram para a Austrália depois de terem sido condenados por peculato em Díli, já regressaram a Portugal.

À chegada ao aeroporto Humberto Delgado (Lisboa), este sábado de manhã, o casal foi recebido com emoção por alguns familiares, incluindo os dois filhos, que estão à guarda dos avôs paternos e que não abraçavam os pais há três anos.

Tiago Guerra escusou-se a falar aos jornalistas, posição também assumida ao JN pelo pai, Carlos Guerra, que, ainda assim, não escondeu a emoção do reencontro, vivido entre família e "dois ou três amigos chegados".

"Está tudo bem. (O Tiago) Chegou bem. Está felicíssimo. Isto é um Natal antecipado. É dia 25", desabafou, aliviado. "Basta olhar para a cara dos filhos, dos meus netos", continuou.

O casal foi detido na semana passada, em Darwin (Austrália), onde entrou ilegalmente de barco, no início do mês, com passaportes portugueses. Os Guerra pediram a extradição para Portugal, tendo o requerimento, que visava o acionamento da convenção existente entre Portugal e Austrália, dado entrada na Procuradoria-Geral da República dia 17 de novembro.

Dois dias depois, os pais de Tiago, responsáveis pela petição que solicitava a extradição do casal e que foi entregue no Parlamento, foram recebidos pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, de acordo com informação disponível no site da instituição.

Tiago e Fong Fong foram condenados em Díli, em agosto, a oito anos de prisão por peculato (uso fraudulento de dinheiros públicos) e ao pagamento do valor em que, segundo o acórdão, terão defraudado do Estado de Timor-Leste (cerca de 859 mil dólares).

Os portugueses recorreram da sentença tendo em conta um processo "cheio de inconsistências e contradições", como descreveu ao JN Tiago Guerra, em outubro. O casal fugiu para Austrália antes de sair a decisão do Tribunal de Recurso.


Rui Salcedas | Jornal de Notícias

Foto José Sena Goulão/lusa


ANGOLA | Caminhos movediços



Caetano Júnior* | Jornal De Angola | opinião

As medidas tomadas, nos últimos tempos, pelo Presidente da República, soam, para muitos, a revanche ou retaliação contra figuras que, eventualmente, estejam, de alguma forma, ligadas a José Eduardo dos Santos, o Presidente cessante.

A esses, pouco importa avaliar que ideias movem o actual Chefe de Estado, quando,  por exemplo, faz alterações no aparelho de Estado, na administração de empresas públicas ou nas chefias militares. Sequer lhes interessa absorver que, enquanto mais alto mandatário do País, João Lourenço tem uma agenda, cujo preenchimento obedece a ideias que tem para a governação de Angola.

É preciso vincar que João Lourenço dificilmente governaria em consciência, enquanto estivesse rodeado de profissionais que lhe fossem impostos; de técnicos que o não ajudassem a materializar o ideal que abraça, alicerçado no axioma “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”. 

Assim, as lágrimas vertidas por quem vê nas acções do Presidente da República simples perseguições estão longe de representar o choro de uma Nação inteira. Não passam de cínicos gemidos de quem contribuiu para que a anterior liderança incorresse em erros, como qualquer mortal, alguns dos quais se têm vindo a revelar de graves consequências para este tempo novo, que alguns procuram conspurcar, unidos ou isoladamente.

Nos anos que antecederam à assinatura dos  acordos para a paz definitiva em Angola, José Eduardo dos Santos marcou a sua governação com a seriedade que se impunha, fruto, também, da experiência que lhe conferiu a gestão do período de conflito armado que dilacerou o País. A imagem de “Arquitecto da Paz”, de que chegou a ser rotulado, vingou com alguma naturalidade e angolano algum, com o mínimo senso de justiça, ousaria questionar.

Parece, contudo, que muitos desses esforços foram sobrevalorizados, de tal sorte que se abriu um caminho no sentido inverso ao discurso, no qual foram atribuídas faculdades que permitiram a liderança e a pessoas próximas, gerir, como bem entenderam, um espaço geográfico de quase dois milhões de quilómetros quadrados e uma população estimada em cerca trinta milhões.

FIDEL MORREU HÁ UM ANO



O mundo despediu-se há um ano de Fidel Castro, o carismático líder cubano que deixou um legado que ficou para a história, onde se encontram traços como libertador, Estadista e humanista.

Fidel Castro auto-afastou-se do poder, para recuperar de uma doença, tendo se dedicado nos seus últimos dez anos de vida a escrever sobre assuntos políticos de carácter internacional, onde fez vários pronunciamentos sobre a ordem mundial, o desempenho das Nações Unidas e a postura dos Estados Unidos na política internacional, em particular à relação com Cuba.

O líder cubano, Fidel Castro ou ‘El comandante’, que morreu no dia 25 de Novembro de 2016, é um ícone da política mundial do século XX. O nome incontornável foi o ‘herói’ da revolução cubana em 1959, ficou associado à Guerra Fria com a crise dos mísseis de Cuba, em 1962 e, embora para muitos a sua influência ainda se fizesse sentir, para outros aquele já não era o seu tempo. Fidel era e será amado por muitos cubanos, como o era e será odiado por tantos outros. Dividiu opiniões e ideologias, mas também exerceu o seu poder mobilizador em torno de ideais na ilha que comandava. Liderou Cuba entre 1959 e 2008, esteve no poder durante 49 anos. Foi primeiro-ministro durante 17 anos, até 1976, ano em que se tornou Presidente.

Jornal de Angola | Foto: AFP

Angola | 11 DE NOVEMBRO DE 1975 – UMA EPOPEIA DECISIVA - III



 Martinho Júnior | Luanda 

Em saudação ao 11 de Novembro de 2017, 42º aniversário da independência de Angola, com uma atenção especial em relação a Cabinda.

Nota prévia:

As fontes angolanas e cubanas estão a ser relativamente desprezadas na apreciação histórica sobre muitos dos acontecimentos relativos à história contemporânea de Angola (desde 1950 até nossos dias), ou em alguns casos são fontes vistas “sob suspeita”, alegadamente “por que não preenchem os quesitos objectivos do estudo dos acontecimentos”?...

Desse modo as narrativas que tendem a surgir na primeira linha das atenções são as de alguns historiadores portugueses (os que na esteira spinolista dos 25 de Novembro de 1975 tenho apontado como continuadores da “mentalidade não descolonizada”) e sul-africanos identificados antes com o próprio “apartheid”, ou de correntes que fazem aproveitamentos delas (inclusive com intervenientes que se dizem angolanos), havendo casos das narrativas serem produzidas por autores que são parte integrante da própria história.

Isso reflecte também a capacidade e poder de difusão das editoras, assim como a previsão do espaço humano a que se destinam os livros, os leitores e registe-se que as edições cubanas são as que mais dificilmente estão disponíveis em Portugal, em Angola, pior ainda na África do Sul e, em muitos casos, há em relação a elas medidas que são autêntica contrapropaganda sustentada sobretudo nos e a partir dos Estados Unidos, ou África do Sul.

Assim as fontes em Portugal reportam “reflexos condicionados” em relação aos processos coloniais, escapando quantas vezes ao contraditório, tal como acontece no que à África do Sul diz respeito, agravadas pelo facto do “apartheid” ter sido mais longevo que o colonialismo português e os autores estarem de algum modo ligados aos instrumentos do poder do “apartheid” e das suas sequelas, entre elas as sequelas “mentais” de referência opcional.

Desse modo, enquanto num espaço (Portugal e África do Sul), as narrativas são feitas muitas vezes por apreciações e focos dos temas em função das doutrina e ideologias que compõem a “civilização judaico-cristã ocidental”, o que implica uma“instrumentalização” da observação histórica, a que estão muito atentos, por exemplo, os que compõem as fileiras de correntes como as do “Le Cercle”, (exemplo: Jogos Africanos de Jaime Nogueira Pinto), já no espaço de Angola e de Cuba as posições de observação e aproximação aos fenómenos históricos são outros, ligados a correntes afins à revolução (em Cuba) ou mais ao patriotismo identificado com Agostinho Neto (em Angola).

Portugal | AS INCOERÊNCIAS DA DIREITA



Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

O debate político em torno do Orçamento do Estado (OE), dominado nos meios de Comunicação Social pela Direita, trouxe consigo inúmeras perplexidades. Ouvimos repetidas vezes que o OE para o próximo ano é despesista e que os ganhos fiscais do atual crescimento económico, que reforçam as receitas do Estado, deveriam estar consagrados ao pagamento da dívida pública. Para enganar o povo, a Direita compara de forma simplista o OE a um orçamento familiar, esquecendo que, ao contrário do que acontece com as famílias, as decisões de despesa e de investimento dos OE influenciam as receitas que serão obtidas e, logo, o saldo final.

Observa-se um enorme esforço argumentativo no sentido de voltarem a convencer os portugueses de que as causas da crise que explodiu em 2007/2008 foram os gastos do Estado com políticas sociais e pensões de reforma, com educação e saúde, com salários da Administração Pública (AP), quando está provado até à exaustão que ela emergiu de uma crise financeira internacional - demolidora para países como o nosso - e se agravou por efeito da podridão do nosso sistema bancário, dos negócios promíscuos entre o Estado e grandes interesses privados e pela falta de uma estratégia de desenvolvimento articulada e sustentada. A austeridade e os cortes a ela associados foram injustos e indignos para a esmagadora maioria dos portugueses e só trouxeram recessão, falências, desemprego, regressão social e um aumento do peso da dívida no PIB.

Nos últimos três anos, tem sido graças à reposição de rendimentos e direitos das pessoas que o consumo interno cresce, ajudado também pelo bom comportamento do turismo. Este crescimento, que se traduz em mais receita fiscal, pode gerar um crescimento económico nominal suficiente para colocar a dívida pública numa trajetória descendente. Por outro lado, não esqueçamos que quando o Estado corta na despesa com saúde, ensino ou proteção social está a retirar rendimentos às pessoas.

Portugal | OS PROFESSORES MERECEM RESPEITO



As “exigências” dos professores neste processo de luta nada tiveram de extraordinário.

Mário Nogueira | Público | opinião

A Declaração de Compromisso, assinada entre o Governo e os sindicatos de professores, tem dado origem às mais variadas apreciações. Pelo que se tem ouvido, boa parte dos que têm comentado não leram o documento; uns quantos terão lido, mas não leram o Estatuto da Carreira Docente e o que este estabelece para que se progrida na carreira; há ainda um grupo que leu tudo, mas, independentemente do que conseguiu perceber, o discurso que pretendia tornar público estava, a priori, decidido, sendo indiferente se correspondia, ou não, à conclusão após a leitura. É também justo referir aqueles que, com seriedade, têm abordado a matéria, independentemente do que entendem sobre o tema.

Reações curiosas e, por vezes, absurdas, não faltaram. Dos mesmos políticos que manifestavam apoio à luta dos professores quando estes, em 15 de novembro, fizeram greve e vieram para a rua, chegava a crítica ao compromisso que foi assinado, que, segundo eles, significava a capitulação do Governo. Eu sei que à direita é difícil compreender o significado de negociação e também é difícil respeitar os sindicatos. Mas conviria que, na gestão dessas suas dificuldades, não tentassem apanhar boleia para, com a luta dos outros e os resultados que desta se obtêm, procurarem superar as suas insuficiências no plano político.

O que tem movido muitos comentadores é questão diferente. Está-lhes no sangue dizer mal dos professores, seja lá por que razão for. São incapazes de deixar de denegrir os profissionais que a OCDE considera como dos mais competentes, a ponto de lhes ser reconhecido o mérito pelos cada vez melhores resultados obtidos pelos alunos portugueses no PISA. São incapazes de não morder os calcanhares dos profissionais que, no conjunto de países da mesma OCDE, mais eliminaram os maus resultados dos alunos.

Pensarão, uns e outros, que a maledicência sobre os professores dá votos e recolhe simpatias. Enganam-se. E enganam-se porque os pais conhecem os professores, não por aquilo que deles ouvem dizer, mas pelo contacto que têm com os professores dos seus filhos. E é por isso que, mesmo quando as campanhas contra os professores são fortes, estes, nos estudos de opinião, nunca deixam de ocupar os lugares cimeiros da simpatia, do respeito e da confiança dos portugueses. Por muito que se esforcem alguns para obter o contrário.

HERÓIS / BANDIDOS



Zillah Branco* | opinião

A história da humanidade passa por fases que acrescentam, vagarosamente expandidas, conquistas pessoais dos indivíduos que fortuitamente puderam conjugar a percepção sentimental e racional às condições de realização de actos de efeito social. Assim, foi fruto de uma época denominada do "romantismo", a figura de Robin Hood (que teria vivido no século XII e descrito como herói mítico na Inglaterra em meados do século XIX) como o esperto rebelde de uma classe poderosa que "roubava para dar aos pobres".

A comunicação social, ha quase dois séculos, divulga e promove este modelo, adaptando a sua imagem às modas mais prestigiadas nas sociedades modernas. Dessa maneira a cultura social do sistema capitalista mundial elogia a "coragem individual de quem contraria os princípios que fundamentam a estrutura jurídica institucional, para proteger os cidadãos marginalizados na sociedade".

É de notar o fomento do "individualismo" e da "protecção caridosa" dos "heróis defensores" dos que constituem os "marginais" da sociedade, ao contrário dos conceitos de "solidariedade humana e social" que justificam o "valor ético da luta colectiva em defesa dos direitos democráticos de uma classe social explorada por uma elite financeira politicamente poderosa".

Com as várias crises, próprias ao desenvolvimento do sistema capitalista como previsto por Marx e economistas de diversas tendências teóricas, e com as crescentes conquistas no âmbito da democracia e da justiça social alcançadas pelos trabalhadores unidos em sindicatos, no segundo milénio surgem alterações na forma de imposição do domínio imperialista no moderno processo de "colonização" de nações menos desenvolvidas por aquelas que participam da elite do poder financeiro e militar. Aos poucos desvenda-se a "utilidade do individualismo" para uma afirmação do poder elitista contra a realidade em que sobrevivem os povos.

Os habituais "golpes" para derrubar governos que, de alguma maneira defendem a soberania das suas nações frente às exigências dos "donos do mundo", dão-se através da corrupção de agentes destacados dentro da estrutura dos Estados e da formação mental de membros do sistema judicial, militar, policial. São os agentes golpistas que se sobrepõem aos seus colegas profissionais, com capacidade financeira e política vindas do exterior para anular critérios democráticos instituídos e adotarem medidas de exceção. Dessa forma, aparentemente legal, validam um efectivo golpe sobre os governantes que recusam as formas de corrupção oferecidas para atraiçoar a pátria. Evitam a violência das  anteriores acções armadas dirigidas pelas forças armadas do país visado.

O Mundo tenta apagar os Genocídios e os Ditadores



Assistimos nas últimas semanas a uma nova tentativa de suavização da História mediante a celebração do Centenário da Revolução de Outubro e da ascensão de Lenin ao poder.

Nelson Oliveira* | Jornal Tornado

Esta é apenas uma das várias tentativas de menorização de genocídios ou sacralização de ditadores que temos vindo a assistir paulatinamente ao longo dos tempos, precisamente quando temos cada vez mais informação e de forma muito acessível.

“Fotografem, façam filmes, reúnam testemunhos. A certa altura da História um idiota vai erguer-se e dizer que isto nunca aconteceu” – General Dwight D. Eisenhower (1945), após libertar um campo de concentração Nazi.

O “Negacionismo do Holocausto” é talvez a face mais visível e absurda de uma tentativa recorrente de hoje em dia se menosprezar, mascarar ou diminuir propositadamente as implicações, os crimes e o horror praticado por diversos tipos de pessoas ao longo da História Mundial.

Talvez já conhecendo este comportamento, o General Americano Dwight D. Eisenhower, após libertar um campo de concentração nazi solicitou que os países aliados enviassem uma série de jornalistas e fotógrafos para noticiarem todas aquelas atrocidades nazis e reunissem provas documentais, porque algum dia, alguém iria contestar e afirmar que aquelas barbaridades nunca existiram – Mahmoud Ahmadinejad, ex-presidente do Irão foi um dos vários líderes mundiais que recentemente negaram a existência do Holocausto. O historiador britânico David Irving e o campeão mundial de Xadrez Bobby Fisher são outras individualidades que postulam o negacionismo ou revisionismo do Holocausto.

BARCELONA, OCUPAÇÕES E RESISTÊNCIA



Mais de 300 espaços ocupados redesenham a capital da Catalunha e expressam outra lógica urbana, não regida pela propriedade. Eis a história e o sentido de três delas 

Reportagem Vitor Taveira, na revista Cidadanista,  parceira editorial de Outras Palavras

Descemos do metrô na periferia de Barcelona, perto das montanhas e longe das praias e do centro abarrotado de turistas da capital catalã. Com cerca de dez minutos de caminhada entre asfalto, passarela e caminho de terra, podemos visualizar Can Masdeu.

Uma edificação grande, cor de terra, onde se celebram quinze anos de uma resistência histórica. O local foi uma casa de campo e sede de um leprosário administrado pela Igreja até 1960. O edifício abandonado por décadas foi ocupado no fim de 2001 por moradores de Barcelona, que começaram ali a construção de um espaço autogestionado que hoje é reconhecido como exemplo e inspiração. Se autodefine como “um ato de desobediência criativa ao mundo do dinheiro, da fumaça e regulamentos, do ruído e da velocidade”. O conceito é o do “rurbano”, o rural junto e misturado com o urbano.

O vale onde está instalado possui 35 hectares que hoje fazem parte de uma zona de parque natural. Desses, três hectares são parte cultivável do sítio ocupado. 

Uma das atividades ali desenvolvida é a horta comunitária, que envolve não só os moradores da ocupação, mas também muitos vizinhos do bairro. Além da horta, em Can Masdeu também se busca implementar outras tecnologias ecológicas, como banheiro seco, energias renováveis, captação de água da chuva, compostagem, reciclagem e outras práticas ligadas à permacultura. Assim, o espaço também serve de base para um projeto de educação agroecológica, que desde 2003 já recebeu inúmeras escolas e outras instituições e grupos interessados.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

CUIDADO COM AS ARMADILHAS!



Martinho Júnior | Luanda 

Há demasiada interferência externa em relação a Angola neste momento, de que se está a aproveitar alguma "oposição" interna e por essa razão, em função dos interesses do MPLA, parece-me que é justo a ter muito mais sensibilidade em relação aos riscos, em especial àqueles provenientes dos Estados Unidos e das vias dos seus vassalos!...

Esse cuidado aconselha a que no MPLA, as medidas em curso sejam pesadas e balanceadas com outra acuidade, pois ao satisfazermos interesses de fora, pode-se não estar a encontrar soluções dentro e para dentro, algo que se pode reflectir negativamente no MPLA, mais do que já no passado desde 1985 e de Bicesse (31 de Maio de 1991) a esta parte!

Por outro lado, os interesses ligados à UNITA, (que também têm envolvências no CASA-CE), têm tido em paz livre curso a partir sobretudo da África do Sul (há outros circuitos em África e fora dela que concorrem para os mesmos objectivos), estando agora a ganhar força económica dentro de Angola, sem qualquer tipo de travão externo ou interno!

Dado o tipo dos enredos que as afectam (filosofias, doutrinas e ideologias), não serão (ainda) os interesses económicos ligados aos carcamanos que nos estão a entrar com guia às ordens e tudo, portas adentro?

Por que razão os Estados Unidos e seus vassalos não alertam sobre esses enredos?

A paz entre todas as sensibilidades sócio-políticas angolanas continua a ser uma plataforma saudável que permite consensos e diálogos que todos devemos cultivar de forma saudável e comprometida.

Aconselho com toda a humildade, se dão licença a este modesto soldado do MPLA, nossos camaradas dirigentes José Eduardo dos Santos e João Lourenço a, entre si e em nome da paz e do futuro, em nome das gerações que nos seguem de quem somos responsáveis vitais, a fazerem um balanço saudável e patriótico, em função dos interesses do MPLA e de todo o povo angolano, face à corrente situação, levando em especial atenção os riscos criados pelos “estímulos” externos (palavras suaves que significam na verdade “oportunas”, senão oportunistas ingerências e manipulações)!

O camarada João Lourenço não deve ser aconselhado, a meu ver, a estar a tomar decisões a reboque do que a conta-gotas vai chegando a partir do exterior (com a aparência de mensagens saudáveis) e a transmissão das pastas entre o camarada José Eduardo dos Santos e o camarada João Lourenço, é algo que tem que ver antes do mais e imperiosamente, entre os dois, no quadro da Presidência do MPLA, da Presidência do estado angolano e da presidência de todos nós, algo que merece o incondicional respeito, apoio e incentivo de todos os angolanos.

Há muitas tendências e sensibilidades fora do MPLA, que já se estão a aproveitar das iniciativas públicas, ou por via dos circuitos fechados, emanadas a partir dos Estados Unidos e dos que lhes prestam vassalagem, duma forma ou de outra e os patriotas (não os mercenários que houverem e possam continuar a haver) têm a obrigação de reforçar o papel do camarada Presidente João Lourenço nos encargos das decisões que pesam e beneficiam os interesses do MPLA, do estado angolano e de todo o povo angolano!

Tenho tido a experiência nos oito anos em que tento encontrar soluções para a reinserção social da comunidade da Acção Social Para Apoio e Reinserção, ASPAR, cujos membros estiveram ligados à Segurança do Estado, integrando-a nas estratégias saudáveis de paz que nos devem animar até ao fim de nossas vidas e em proveito das futuras gerações de angolanas e angolanos.

A comunidade de ex-membros tem sido deliberadamente vulnerabilizada, se não marginalizada, o que reforça o conselho: não queiramos assistir a mais sectores de angolanos justos a tomar um caminho idêntico, quaisquer que sejam os motivos, ou as motivações, ou as sensibilidades!

Podemos até andar depressa, mas seria indesculpável deixarmos os justos para trás e, quanto aos “pecadores” que embarcaram nas ilusões capitalistas neoliberais, em tantas armadilhas estendidas a partir do exterior ao longo das últimas três décadas, há que cuidar deles com as responsabilidades patrióticas inerentes aos supremos interesses de nosso povo, do estado angolano e do MPLA, pois as armadilhas que nos estão sendo estendidas em relação ao nosso futuro comum, assim o obrigam!

Reforce-se a cultura de inteligência em relação ao papel de Presidente de todos os angolanos, do camarada João Lourenço, por que o futuro nos contempla e nós todos, uns mais que outros por que as responsabilidades sócio-políticas assim o determinam, devemos ser patrioticamente parte integrante da solução indígena e não de problemas que estão a ser herdados por causa de qualquer tipo de assimilação!

Na parte insignificante que me toca enquanto soldado do MPLA, sou por UM SOCIALISMO QUE NOS UNE, por que jamais fui por um CAPITALISMO QUE NOS DIVIDE!

Martinho Júnior - Luanda, 20 de Novembro de 2017

(Nota pessoal, por que confesso que vivi e a história me absolverá: em saudação ao meu 2º filho que faz hoje 42 anos, já nascido numa Angola independente, nos Dembos e me acompanhou na travessia do deserto em Bentiaba com outros dois filhos, coisa que jamais se deveria recomendar às crianças do meu país).

Será que a América sobreviverá a Washington?



Paul Craig Roberts

Em colunas recentes publicadas no meu sítio web chamei a atenção para dois desenvolvimentos dramáticos e perigosos entre as duas principais potências nucleares.

Um foi a declaração pública do vice-comandante da Operação Comando dos militares russos numa recente conferência de segurança em Moscovo. O Ten. Gen. Viktor Poznihir, Vice-Chefe do Directório Principal de Operações das Forças Armadas Russas, declarou na Conferência Internacional de Segurança de Moscovo que o Comando de Operações do Comando Geral Russo concluiu que Washington está a preparar um primeiro ataque nuclear à Rússia. www.paulcraigroberts.org/2017/05/11/are-you-ready-to-die/

O outro é a informação de que os EUA estão a coleccionar DNA russo para o laboratório de armas da US Air Force, com a implicação de que os EUA pretendem investigar se pode ser criada uma bio-arma que só atinja russos. www.paulcraigroberts.org/2017/11/01/washingtons-barbarity-reaches-new-heights/

Tanto quanto posso verificar, estes espantosos desenvolvimentos nunca foram relatados nos media dos EUA. Alguém poderia pensar que a Casa Branca teria telefonado a Putin para dar garantais de que os EUA não estão a planear um ataque nuclear de surpresa à Rússia. Também se poderia pensar que a publicação de contratos dos EUA para [obter] DNA russo teria resultado imediatamente numa ordem do presidente Trump para interromper o referido projecto.

Mas nada disso. 

PORTUGAL | Infarmed? É fazer as contas



Ferreira Fernandes | Diário de Notícias | opinião


A decisão da sede do Infarmed ir de Lisboa para o Porto pareceu-me bem, para começo de conversa. No demasiado centralizado Portugal haver um movimento que contrarie o vício das prioridades - "que remédio, outra vez Lisboa..." - à partida leva vantagem. Foi isso que escrevi, ontem: regionalizar fortalece o todo. Mas dizê-lo não encerra a questão. Depois do inicial "dou de barato...", há que saber se a decisão não custa de mais em relação às vantagens, já com a regionalização incluída. Prós e contras, enfim. Ir para Viseu, por exemplo, também seria regionalização mas uma das funções do Infarmed é que especialistas seus possam ir com facilidade a Amesterdão, para contactos frequentes com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Ora, só uma cidade com aeroportos como a Portela ou Pedras Rubras podem garantir essa condição. Um pró para o Porto, pois regionaliza e liga-se à EMA com facilidade. Por outro lado, o caríssimo e moderno laboratório do Infarmed em Lisboa não é, dizem-me, transferível. Ponderou-se na decisão o custo adicional de outro laboratório, quando já temos um? Um contra, talvez, para o Porto... E assim por diante. O que eu quero dizer é que os interesses públicos têm de prevalecer numa escolha política. Entre eles, sim, também, o interesse dos 385 trabalhadores do Infarmed, com o grave incómodo de mudar. Mas, embora a ter em conta, os 385 não podem, nunca, ser o argumento prioritário. Porquê? Porque o Infarmed é do povo (cerca de dez milhões).

PORTUGAL | "O PCP não apoia o Governo. Viabiliza-o porque não o deita abaixo"- Miguel Tiago



Miguel Tiago, deputado do Partido Comunista Português, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

No Parlamento há cerca de 12 anos, Miguel Tiago tornou-se um dos nomes mais conhecidos no seio do PCP.  Os primeiros anos da sua juventude aproximaram-no de causas estudantis e, daí até à Juventude Comunista Portuguesa, foi um passo pequeno, tendo em conta a educação que teve.

O deputado, de 38 anos, cedeu uma entrevista ao Notícias ao Minuto onde falou sobre o início da sua vida enquanto militante do PCP, da atualidade, da 'Geringonça', do Bloco de Esquerda e do Presidente da República. 

Miguel Tiago recorda que a solução governativa à Esquerda, à qual não chamaria maioria parlamentar, surgiu num momento em que a Esquerda sentiu que tinha de 'travar' as políticas de Direita. 

Para que tal continue a ser possível, o deputado enfatiza que o PCP é essencial. E, embora os comunistas queiram fazer mais, não deixam de dar valor ao caminho de reposição que está a ser seguido.

Apesar disso, a ideia de 'juntos somos mais fortes' é contrariada por Miguel Tiago, convicto de que se a Esquerda estivesse, de facto, junta em apenas um partido, chegaria a menos franjas da sociedade. O Bloco de Esquerda merece-lhe ainda alguns comentários, por acreditar que tem muito mais atenção mediática do que o PCP.

Quanto ao Presidente da República, o deputado acusa a comunicação social de fazer de Marcelo Rebelo de Sousa uma figura religiosa, frisando que a busca por popularidade é um dos maiores objetivos do chefe de Estado.

domingo, 19 de novembro de 2017

Angola | 11 DE NOVEMBRO DE 1975 – UMA EPOPEIA DECISIVA - II



Martinho Júnior | Luanda

Em saudação ao 11 de Novembro de 2017, 42º aniversário da independência de Angola, com uma atenção especial em relação a Cabinda.

Nota prévia:

Há questões que os historiadores, que se debruçam sobre os fenómenos da colonização e da descolonização, parece deixar deliberadamente em aberto, ou abordar “de-ânimo-leve”, por que elas respondem às sensibilidades no sul, quando eles, no mínimo por que prevalece uma “lei do menor esforço” (e não é só isso, são questões doutrinárias e ideológicas que estão em jogo), se limitam à focagem que vai interessando, ou é da conveniência ao norte!

Perguntas sobre a mesa:

Há também aí o impacto da preocupação sobre o “mercado”?... só se vendem novidades quando elas se coadunam com as sensibilidades correntes a norte?

A visão sustentada pelos argumentos a sul “não dão lucro”?

Estaremos nós a sul atentos a esse fenómeno que coloca em tensão os renitentes estruturalistas face a face àqueles que perfilham as fórmulas dialécticas de abordar as questões históricas?

Teremos capacidade crítica para tocar nessas “feridas”?

Há em relação a Cabinda coisas deliberadamente escondidas que possibilitam a mentalidade sistematizada de ingerência e manipulação na tentativa de inibirem as capacidades do movimento de libertação em África e apoiarem a subversão em torno da(s) Flec(s)?

Quando a este nível se está presente em debate de ideias no âmbito do interminável diálogo norte – sul, por que razão os historiadores a norte se têm sentido inibidos ao retrair o leque de suas fontes, num ambiente cada vez mais disponivelmente globalizado?

Estarão ou não esses historiadores a produzir obra que é uma sequência contemporânea da linha panfletária da “a-psic” colonial?

Até que ponto se passou da descolonização físico-geográfica para a descolonização mental?

Por que razão, apesar de tanto manancial informativo, os historiadores a norte estão a esquecer que as autoridades coloniais portuguesas ao assumirem “a africanização da guerra” têm que ver com a orientação dos etno-nacionalismos (no caso angolano têm que ver com a FNLA, com a UNITA e com a FLEC), contra o movimento de libertação em África e, em Angola, deliberadamente contra o MPLA?

Por que razão os historiadores portugueses de contingência, esquecem-se da abordagem do historiador René Pélissier que destrinçou movimento de libertação dos etno-nacionalismos?

Porquê tanta auto-censura, ainda hoje, a norte, no Portugal do 25 de Novembro de 1975?

Não será a questão de Cabinda um constante e disponível “cavalo de tróia” semeado pelo mais obscurantista e conservador colonialismo, na tentativa do náufrago Diogo Cão das caravelas sobreviver à tona de qualquer líquido até hoje?

Por quê e para quê a persistência deste contencioso sempre latente

Prova contemporânea do saudosismo colonial que é cultivado pela mentalidade não descolonizada e filtrada a partir dos Estados Unidos – “SANZALANGOLA” – https://www.facebook.com/groups/96499976034/


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ANGOLA | Em defesa dos mais altos interesses da Nação



Victor Silva* | Jornal de Angola | opinião

A substituição da Administração da Empresa Nacional de Combustíveis, Sonangol, permanece assunto central em diversos círculos e o será ainda por muito tempo.

São várias e diferentes as razões que mantêm os temas relacionados à petrolífera nacional na condição de incontornáveis. A começar pela nomeação, em Junho do ano passado, de Isabel dos Santos, para o mais alto cargo da instituição e pela polémica que se seguiu, muitos eventos ocorreram que, à guisa de consequência, tiveram influência no desfecho que se conhece. 
 
Na quarta-feira, 15 de Novembro, o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, exonerou Isabel dos Santos, do cargo de Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, substituindo-a por Carlos Saturnino. A medida, longe de ser avaliada à luz de uma demonstração de força, como algumas mentes o fazem, deve ser analisada na perspectiva de se pensar e oferecer o melhor à gestão de uma empresa de cujas receitas o País depende, substancialmente.

Portanto, João Lourenço não faria recurso a um sentimento tão baixo, como o de revanche, para sustentar a substituição de Isabel dos Santos; nunca se socorreria de um expediente reles, como os atiçados pela vingança, para retirar “a nossa galinha dos ovos de ouro”, como lhe chama, da “quase paralisia” que caracteriza a “indústria petrolífera”. 

A atitude do Titular do Poder Executivo foi inspirada pelo relatório que “descreve um conjunto de constrangimentos e práticas que prejudicaram, de modo assinalável, as operações do sector petrolífero, o mais penoso de todos eles o facto de a extrema burocracia imputada à gestão da Sonangol ter elevado à cifra de cinco mil milhões de dólares os processos que esperam aprovação na concessionária nacional”. 

As palavras acima vêm no relatório da comissão encarregada de apresentar soluções para o sector no qual se incluem as empresas petrolíferas que operam em Angola. Portanto, amparado pelos poderes que lhe confere a Constituição, João Lourenço escolheu substituir o Conselho de Administração da Sonangol. É legítimo. Não há mal algum. O Titular do Poder Executivo tem todo o direito de o fazer, em defesa dos mais altos interesses da Nação. 

Entretanto, em declarações tornadas públicas, na quinta-feira, e grande parte delas retomadas, ontem, em entrevista a um canal privado de televisão, Isabel dos Santos enumerou uma série de realizações, ao longo do período em que segurou o leme do “petroleiro”. Se correspondem à verdade, poucos reúnem os elementos que o confirmam. De qualquer forma, é natural que, enquanto cidadã angolana e pessoa interessada em que o País melhore, a empresária se esforçasse por fazer que o seu trabalho correspondesse às expectativas.

Na verdade, é desses esforços que se espera dos verdadeiros filhos da Pátria, que devem, também, estar preparados para consentir sacrifícios e ceder o lugar ao compatriota, quando quem decide pela troca opta por fazê-la. Isabel dos Santos agradece, na declaração que faz, o Executivo angolano, pela confiança que depositou ao Conselho de Administração cessante e testemunha, “com sentido de missão, o trabalho desenvolvido, desde o ponto em que encontrámos a empresa, quando nela ingressámos, até à situação em que deixámos a mesma, à data da nossa saída”.

De certeza que o Executivo actual também reconhece a entrega da empresária - que até seguiu por caminhos certos, até dada altura - à causa da Sonangol. Porém, porque os tempos são de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”, a troca de Isabel dos Santos por Carlos Saturnino deve ser lida como uma alteração que se impõe,  em defesa dos mais altos interesses da Nação.

*Victor Silva é o novo diretor do Jornal de Angola, o anterior foi exonerado.

Portugal | PRIVATIZAÇÕES, O ESTADO DA ARTE



Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Privatizações, desde a revisão constitucional que as facilitou, tem havido muitas: as visíveis, que em vários casos começaram por ser parciais para depois passarem a totais, e as invisíveis. As visíveis parecem ter acabado de momento, desde logo porque já não há muito a privatizar e porque a agenda privatizadora da Direita foi travada a tempo pelos acordos entre os partidos que sustentam o Governo atual.

Façamos uma observação atenta ao que se tem passado, começando por identificar o rasto que as privatizações visíveis deixaram. Algumas das empresas privatizadas em vários setores já nem sequer existem. A banca pública foi entregue a grupos e capitalistas portugueses, que em muitos casos fizeram chorudas negociatas a favor de interesses particulares, e está hoje na mão de bancos estrangeiros no contexto de um processo europeu de concentração da banca e de prosseguimento da financeirização da economia. No conjunto das privatizações visíveis até temos a EDP e a REN entregues a um grupo empresarial público chinês. Outras foram parar a capitais de origem ou sustentabilidade duvidosa, como são os casos da Fidelidade-Fosun, Cimpor-Camargo Correia, PT-Altice, BES-Lone Star, TAP-Atlantic Gateway. Os problemas com estes novos donos de antigas empresas públicas portuguesas começam agora a emergir e podem tornar-se muito perigosos.

Quanto às privatizações menos visíveis ou invisíveis, todas passam por processos em que o Estado compra a privados bens e serviços que anteriormente ele próprio produzia, ou poderia vir a produzir. Vejamos alguns exemplos. i) Estradas. Encomenda-se a privados uma estrada chave na mão. Depois o Estado e os automobilistas ficam a pagar renda, cumprindo contratos altamente favoráveis aos privados. ii) Saúde. Os serviços vão sendo exauridos, não se faz investimento em nome da redução da despesa, os profissionais são sobrecarregados e maltratados e, direta e indiretamente, encaminham-se os doentes para laboratórios, hospitais e consultórios privados. Depois o Estado comparticipa. iii) Educação. Na escola pública, reduz-se o número de professores e de pessoal não docente, desprestigiam-se e sobrecarregam-se professores com tarefas burocráticas, formata-se a direção das escolas para lógicas de gestão economicista, aumenta-se o número de alunos por turma, eliminam-se atividades de enriquecimento curricular, colocam-se alunos em escolas privadas. Depois o Estado paga. iv) Cantinas escolares e refeitórios. Contrata-se o fornecimento a empresas. Depois o Estado faz contas, mas, entretanto, não dá atenção à qualidade.

Já todos ouvimos a Direita falar das vantagens do Estado mínimo. Mas, será que já todos nos interrogamos acerca das razões pelas quais apesar de tanta conversa sobre o estado mínimo, o Estado nunca encolhe mesmo com governos de Direita? A razão é simples: o Estado mínimo de que a Direita fala na realidade é Estado máximo quanto à socialização das faturas que os privados lhe apresentam. Os portugueses acabam por pagar elevados preços por bens e serviços fundamentais agora entregues a negócios privados que o Estado tem de garantir.

Na Constituição de 1976 podia ler-se: Para assegurar o direito à proteção da saúde, incumbe prioritariamente ao Estado... Orientar a sua ação para a socialização da medicina e dos setores médico-medicamentosos. A partir da revisão de 1989 a frase em itálico foi substituída por "Orientar a sua ação para a socialização dos custos dos cuidados médicos e medicamentosos". Na altura, porventura não se deu a atenção devida. Mas quem impôs a emenda sabia muito bem o que estava a fazer: estava a socializar os custos, isto é, a criar condições para que os serviços de saúde privados se expandissem, à custa da subsidiação pública.

Ficamos melhor assim porque os privados são mais eficientes? Não brinquem. Os êxitos das empresas que atuam na provisão de bens e serviços que incubem ao Estado resultam acima de tudo da existência de um "mercado" cativo garantido pelo mesmo Estado.

Se alguma coisa é preciso fazer na segunda parte do mandato do atual Governo é exatamente dar passos na direção do fim desta socialização dos custos. A começar pelo setor da saúde.

*Investigador e professor universitário

"Evita-se estudar Fátima para sustentar uma mentira histórica" – Licínio Lima





O centenário das aparições em Fátima tem gerado um dos principais momentos da investigação sobre a maior questão religiosa de Portugal. Após os livros em que os autores eram crentes e elaboravam obras piedosas sobre os acontecimentos da Cova da Iria em 1917 sem qualquer distanciamento, ou num período seguinte, em que sendo fervorosos detratores tiveram igual procedimento, a mais recente vaga de estudos - superior a meia centena de publicações - traz novas leituras sobre o fenómeno. O mais recente intitula-se Senhora da República, de autoria do especialista em religião Licínio Lima. Uma investigação que deverá ter continuação porque, como diz o autor, "é fundamental perceber como é que Lúcia, pastorinha de Aljustrel, se transforma de repente na mulher mais influente no Vaticano".

O título Senhora da República é um contrassenso. É uma provocação?

Parece um título provocatório. Mas não é. A Igreja quis que a Senhora de Fátima fosse Republicana. E declarou-o através de Salazar, em 1917, quando os monárquicos viam nas aparições de Fátima a salvação da coroa. O homem governante disse que a Igreja não discutia regimes políticos, fossem eles quais fossem. O mais importante seria lutar pela liberdade da igreja do que pela substituição de um regime por outro. Os bispos aplaudiram, pois tais palavras eram sustentadas pelo princípio do Ralliement, de Leão XIII, que havia dito exatamente o mesmo. A Igreja tinha ordens do Vaticano para obedecer ao regime republicano, embora anticlerical e disposto a acabar com a religião. Por isso a Senhora teria de ser Republicana.

Inicia o livro com a afirmação de que Fátima conta com o apoio do Vaticano. O que quer dizer?

Bento XV, o papa que em 1917 comandava a Igreja, teve dois gestos de génio: restaurou a diocese de Leiria em 1918, colocando um bispo a pensar só nas aparições, e beatificou Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável do século XIV. Com esta beatificação, enviava um sinal agradável aos republicanos, ateus, mostrando que a Igreja elevava aos altares os crentes defensores da identidade de uma nação, restauradores da soberania do povo; por outro lado, enviava uma mensagem à Igreja apelando a que os crentes deveriam estar empenhados na defesa dos valores nacionais. Ora, para o povo, a religião estava inscrita no ADN. A Igreja viu naquele gesto o apelo à luta, pela identidade nacional que os livres-pensadores, na sua maioria afetos a lojas maçónicas, queriam aniquilar. A beatificação é o sinal do Vaticano para que a batalha de Aljubarrota se deslocasse para a Cova da Iria.

Considera o 13 de agosto de 1917 uma data fundamental para a afirmação de Fátima por reunir fiéis sem a presença dos pastorinhos. É o momento em que a construção do milagre fica sem retorno?

Fátima começa a afirmar-se a 13 de agosto, dia em que a Senhora não apareceu. O administrador de Ourém, pensando que sem os videntes o povo deixaria de se deslocar à Cova da Iria, pegou nas crianças e levou-as para sua casa. Apesar da ausência das crianças, ninguém arredou pé e cerca de cinco mil pessoas saíram de lá satisfeitas, dizendo que tinham visto qualquer coisa. O 13 de agosto é a afirmação de que o fenómeno acontece sem depender de três crianças.

Esta investigação é um manifesto contra a maçonaria?

A maçonaria hoje é um movimento filosófico diferente daquele que se apresentou no século XIX e princípios do século XX. Já ninguém pede a um povo para se transvestir mentalmente do dia para a noite. A maçonaria detinha desde 1834 os meandros do poder político em Portugal. Mas se até 1910 admitia o catolicismo como religião oficial do Estado, a partir da revolução de 5 de Outubro adotou uma postura anticlerical, de perseguição à religião. Este livro é, sim, um manifesto contra os políticos que ignoram o sentir do povo. Porque Fátima é um grito do povo contra políticas sem história ou alma. Fátima foi um acontecimento político.

A intervenção do cónego Formigão foi no sentido de esclarecer os acontecimentos ou de os "corrigir"?

Formigão percebeu que Fátima era uma oportunidade para restaurar a Igreja e a sua influência. Era uma guerra contra a maçonaria. Nas primeiras crónicas no jornal A Guarda praticamente abafa os pastorinhos e refere-se às curas milagrosas na Cova da Iria por causa das suas descrições pobres e, por vezes, contraditórias. Prefere demonstrar que Fátima se ergue a partir do que o povo sentiu e não pelos pastorinhos.

A Igreja não aceitou de bom grado as aparições ao início. Porquê?

A Igreja teve receio de ser enxovalhada pelos intelectuais do tempo. Mas o padre Formigão e o bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, viram que valia a pena apostar no fenómeno para restaurar a Igreja. O fenómeno de Fátima seria impossível sem a coragem destes dois homens.

"Lúcia cometeu um erro", diz à p. 115. Um século depois qual é o perfil que fica para a história dessa pastorinha?

Acho que o maior milagre de Fátima é a sua própria mensagem. Uma mensagem que mostra a história em duas colunas: se numa se escreve a palavra crime é porque noutra foi escrita a palavra erro, ou, se quisermos, pecado. Ou seja, para haver paz a história tem de estar livre de pecado. Fátima terá de se centrar na sua mensagem e não nos videntes. Seria melhor deixar Lúcia em silêncio...

A teologia portuguesa não tem dado pouca importância ao estudo dos acontecimentos de 1917?

Os vários congressos sobre as aparições, sobretudo o de 1993 e os de 2010 dedicados a Francisco e Jacinta, aprofundam a teologia em volta de Fátima. Mas o olhar que fica por aprofundar é o olhar político. Continuamos com medo de estudar a Primeira República e preferimos manter a ideia de que a ditadura iniciada em 1926 se deveu a Salazar. Evita-se estudar Fátima para sustentar uma mentira histórica.

Acredita no "fenómeno" de Fátima?

Acredito que Salazar e Fátima foram gerados no ventre da irresponsabilidade da I República e amamentados pelo povo que desesperadamente gritava por mudança de rumo. Acredito que esse povo foi movido pela fé de três crianças, povo que estava com fome e via os seus filhos morrer na I Guerra Mundial. Em Fátima juntaram-se fé e razão de viver. Não quero saber se houve visões ou aparições.

João Céu e Silva | Diário de Notícias

TESTES PARA CONTROLE DOS PADRES… E TAMBÉM AOS POLÍTICOS COM RESPONSABILIDADES




Mário Motta, Lisboa

Tanto quanto corre na comunicação social de Portugal o papa Francisco quer que sejam analisados psicologicamente os que concorrem às fileiras de igreja católica apostólica romana para apurar o perfil de eventuais pedófilos e tendenciosos invertidos sexuais (agora é gays?). Claro que é abundantemente contestado por impor esta medida. 

Dizem os entendidos que será impossível detetar em testes as tendências sexuais dos indivíduos concorrentes à fé cristã. Além do mais a sociedade avança na não discriminação dos invertidos e tem as suas razões plausíveis, ainda para mais reforçadas pelos direitos humanos. O que eles têm é de saber respeitar as crianças. Depois de adultos cada um leva onde quer desde que com decoro e respeito pelos restantes companheiros terráqueos. A saber, tudo indica que ninguém sai prejudicado lá por isso. É invertido, é invertido. Ponto.

O mesmo não se passa com os tarados do assédio, ainda mais se forem das fileiras taradas dos do assédio sexual. Esses anormalóides com tais taras são uma praga a extinguir. Sim, porque é uma grande tara um tipo fotografar a pila e enviar para o seu alvo a perguntar se gosta, se quer aproveitar… “Ah, e nem sabes o que perdes se desprezares esta minha linda e grande pila”, talvez se possa ler na legenda da foto.

Ao que se lê no Jornal de Notícias havia destes tarados no governo de Passos Coelho, podemos ler em “Ex-secretário de Estado acusado por jornalista de assédio sexual”. O tarado tem por nome Bruno Maçães (na foto), “antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus de Passos Coelho”, esclarece o JN.

Consumidores de combustíveis pagam em Portugal preços superiores aos da UE



Eugénio Rosa [*]

No estudo da semana anterior analisamos os lucros exorbitantes, e mesmo escandalosos, obtidos para a EDP através da cobrança de preços de eletricidade aos consumidores portugueses sistematicamente superiores ao preço medio dos países da União Europeia (28 países).

Neste estudo, vamos analisar o que sucede no mercado dos combustíveis em Portugal (gasolina 95 e gasóleo) utilizando os dados divulgados pela Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) do Ministério da Economia.

PREÇOS DA GASOLINA 95 E DO GASÓLEO EM PORTUGAL NO ANO DE 2017 (inclui impostos) SISTEMATICAMENTE SUPERIORES AO PREÇO MÉDIO DA UNIÃO EUROPEIA 

O gráfico 1, com os últimos dados divulgados pela Direção Geral de Energia e Geologia do Ministério da Economia, mostra que os preços da gasolina 95 e do gasóleo pagos pelos consumidores portugueses foram, em 2017, sempre superiores aos da União Europeia.

Gráfico 1 - Preço pago a mais pelos consumidores portugueses em comparação com o preço médio da UE (inclui impostos), 2017, Euros/litro 


Como revelam os dados da Direção Geral de Energia, nos primeiros nove meses de 2017, o preço de venda (inclui impostos) da gasolina aos consumidores portugueses foi, em média, superior em 7,6% (+ 0,1021€/litro) ao preço médio da União Europeia, e o gasóleo foi vendido aos consumidores portugueses, em média, a um preço 2,1% (+ 0,0254€/litro) superior ao preço médio da União Europeia.

Se se tiver presente que nos primeiros oito meses de 2017, o consumo de gasolina atingiu 880,3 milhões de litros e o de gasóleo 3.552,1 milhões litros, é fácil concluir que os consumidores portugueses pagaram por este volume de gasolina e gasóleo mais 180,3 milhões € do que os consumidores da União Europeia. E se esta situação de descontrolo continuar, o que permite às petrolíferas impor os preços que querem, e se fizermos uma estimativa para o ano, concluiremos que pagarão a mais 270,4 milhões € em 2017 .

Uma mentira espalhada pelas petrolíferas e pelos seus defensores na comunicação social, com o objetivo de enganar e manipular a opinião pública, é que este valor pago a mais pelos consumidores portugueses se deve a que os impostos em Portugal sobre os combustíveis são superiores aos impostos nos outros países. Interessa por isso desmontar mais esta mentira. E para isso vamos utilizar também os dados oficiais da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) do Ministério da Economia.

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