Hoje é dia grande? Talvez… Dia da
abertura do Parlamento. Tempos atrás dir-se-ia: “A lavandaria abriu hoje e começou a
funcionar”. A ligeireza significava que era (é) por ali que existia (existe) um
incessante lavar de roupa suja. A língua portuguesa é uma delícia, é gulosa,
muito saborosa nas palavras que nos leva na ânsia de comunicarmos. Melhor que a língua de vaca - que é de boi tantas vezes.
O diretor da SIC assina o Curto
de hoje. Quem melhor que Ricardo Costa para este exercício? Se for o caso nem o
primeiro-ministro Costa, prestes a tomar posse (amanhã) se salva. Pão-pão-queijo-queijo…
Mas no caso o António Costa está incólume, é transparente, é honesto… Pena que
não governe mesmo como um socialista. Ai os Saraivas, os Salgados, os Insonsos,
as pandilhas de “rapazes & raparigas” estavam “lixados”. Era o tal dito: “Não
há pão para malucos”! Adiante, que esta conversa não interessa nadinha.
Da abertura do Curto respigámos a
abertura do Parlamento. Olha que giro. Boas decisões para a maioria, os
trabalhadores, o povoléu que tantas vezes esquecem… Sejam bem-vindos (aos poleiros),
principalmente os deputados mais novos naquelas andanças. Todos menos o neofascista/xenófobo/racista que acha que Chega. Mas que “não Chega para nada”,
como afirmou Costa PM, alegadamente socialista.
O Curto tem muita matéria que o
vai interessar. Vá ler. Ficamos por aqui e até interviemos só para desopilar.
Boa.
Siga para Curto e bom dia se
conseguir. É difícil mas temos sempre de lutar, de fazer por que assim
aconteça. Inté!
MM | PG
 |
O CDS sentiu-se muito bem a cumprimentar o neofascista do Chega... Naturalmente. |
Bom dia este é o seu Expresso
Curto
Os Nove vão a São Bento
Ricardo Costa | Expresso
A abertura do Parlamento não
costuma ser um tema muito interessante. É muito protocolar, já sabemos que umas
quantas mãos cheias de deputados vão tomar posse no dia seguinte como membros
do governo e que outros se sentarão depois nos seus lugares.
É, assim, uma espécie de dia de transição, em que a realidade formal toma
conta da atualidade, posto o que a realidade propriamente dita toma conta da
ocorrência. Estamos, assim, entre as eleições e a tomada de posse do
governo (o mais numeroso desde 1976), marcada para amanhã na Ajuda. Mas
hoje está tudo junto em São Bento.
Já houve dias destes que ficaram para a história parlamentar. O mais visível
terá sido o da dupla eleição falhada de Fernando Nobre para
Presidente da Assembleia; um caso menor, mas que vale a pena recordar, foi o da teimosia
dos deputados do Bloco de Esquerda em 1999 que não se sentaram enquanto
não lhes deram os lugares que queriam.
Só recordo este caso porque hoje vai ser um dos temas do dia. A Iniciativa
Liberal não gostou do sítio onde sentaram o seu deputado, o Chega já
deu para grandes confusões sobre a convivência com o CDS, o Livre vai
querer mostrar que é uma força diferente e o PAN cresceu para quatro
deputados.
É mesmo um Parlamento diferente, com nove forças políticas, coisa nunca
vista naquelas bandas. Se contarmos com os Verdes são mesmo dez partidos. Quem
ache que isto não tem relevância especial está provavelmente enganado. Apesar
da enorme resistência do nosso Bloco Central (PS e PSD somam um
número de votos que não tem par na Europa ocidental), o nosso sistema
partidário mudou mesmo.
Hoje é o primeiro dia dessa nova realidade parlamentar e é mesmo o que não vai
mudar. Amanhã muitos deputados do PS passam a ministros e a secretários de
Estado. Mas o que hoje vamos ver de novo no Parlamento veio para ficar.
OUTRAS NOTÍCIAS
Tomás Correia deixou a Associação Mutualista Montepio. Ora aqui está uma
daquelas notícias que parece atrasada, tantas foram as situações em que isso
parecia iminente. Mas o líder histórico do Montepio e da Associação sempre
disse que só sairia pelo seu pé e que ninguém o condicionaria.
A verdade é que acaba por sair antes do desejado por si, porque percebeu
que a Autoridade de Supervisão de Seguros e de Fundos de Pensões (ASF)
não
ia avaliar positivamente o seu nome, dado estar envolvido em vários
processos com o Banco de Portugal e o Ministério Público.
A Associação Mutualista Montepio tem um estatuto especial que a coloca fora da
supervisão bancária, mas que, à boa maneira portuguesa, também não a colocava
sob a supervisão da área seguradora. Foi preciso um esclarecimento legislativo a
dizer que a ASF podia avaliar os dirigentes da mutualista.
E assim, a saída agendada de Tomás Correia foi acelerada pelo próprio,
antes de receber formalmente a má notícia de que não tem idoneidade para estar
à frente de uma instituição tão relevante para o setor segurador e financeiro.
Caso não se lembrem, estamos em 2019. Pelos vistos, há quem ainda não perceba
que o mundo da banca mudou nos últimos anos.
As escolas dos Açores foram obrigadas a lançar concursos urgentes, garante
o DN em manchete da sua edição digital. A falta de professores é grande e o
último recurso é recorrer à Bolsa de Emprego Público. Em anos anteriores terá
havido no arquipélago educadores de infância a lecionar no segundo ciclo.
Os casos de violência nas escolas continuam. Agora, diz o JN, terá sido
uma aluna a insultar e empurrar uma professora na Maia. Os casos têm-se somado
nestes primeiros tempos do ano letivo, chamando a atenção para um problema
sério.
Tem um cão, um gato ou um furão? A pergunta é feita pelo Público, que lembra
que a partir de hoje há novas regras para os chamados animais de companhia.
Para começar, terão todos que te rum chip.
Mas
há mais coisas e o melhor é informar-se.
O Grupo José de Mello vai perder o controlo histórico da Brisa. Segundo a
manchete do Jornal de Negócios, o fundo australiano Arcus vai sair do capital
e, no processo, os Mello abdicam do controlo. Os bancos já estarão a contactar
investidores.
Boris Johnson quer forçar eleições antecipadas mas, como sempre, ainda não
se percebeu se o Parlamento aprova a sua ideia. Os Trabalhistas estão divididos
porque, apesar de sempre terem defendido ir a votos quanto antes, acham que
podem estar a cair numa armadilha. Para já vão aguardar o que Bruxelas diz
sobre o adiamento e logo decidem.
A exumação de Franco está concluída, encerrando um dos temas mais
difíceis da sociedade espanhola. A cerimónia ocorreu sem incidentes políticos
de relevo, apesar da dificuldade do tema, pondo fim a um processo longo que
andou por vários tribunais e dependeu de uma decisão política final do governo
socialista. Francisco Franco saiu do Vale dos Caídos, um símbolo da ditadura
que perdurou todos estes anos de democracia.
O tema não fica encerrado porque se calcula que no Vale dos Caídos estejam
os
restos mortais de 34 mil republicanos espanhóis. Tentar, como alguns querem,
que aquele passe a ser um lugar de reconciliação histórica, não vai ser coisa
fácil.
Evo Morales parece ter ganho as suas quartas presidenciais. Mas a tensão
na Bolívia vai continuar alta, porque a vitória (que evitou uma segunda
volta por ter uma margem de 10% face ao segundo candidato) foi por uma unha
negra. Os protestos são muitos e
a
pressão internacional para que houvesse uma segunda volta não teve efeito.
O valor de mercado da Amazon caiu ontem, numa questão de horas, uns
impressionantes 80 mil milhões de dólares.
A queda
de 9% do valor bolsista representa uma reação negativa dos mercados
aos resultados da empresa, que, sendo gigantes, caíram face ao ano anterior. O
principal fator foi o aumento de custos provocado por muitas entregas no
próprio dia, o que representa um grande esforço logístico.
Falta-lhe um tema para discutir ao almoço ou no fim de semana? Pois tem
aqui um, que é como os livros do Tintim, vai dos 7 aos 77 anos: é verdade que
as batatas fritas em azeite virgem fazem melhor à saúde que as cozidas? Ui, já
vi guerras, zangas épicas ou divórcios começarem por menos.
Atento ao tema que tem varrido a internet, o Expresso ajuda a explicar a
polémica que por aí anda:
Se
leu que as batatas fritas são mais saudáveis do que as cozidas, o melhor é
consultar este artigo em nome da “saúde pública”. Tudo começou com um estudo
que parecia dizer isso mesmo (vitória da batata frita em azeite), mas quando a
batata cozida parecia destinada ao ostracismo eis que se percebe que a coisa,
claro, não é bem assim.
Se o assunto das batatas fritas chegar ao Parlamento, já sabemos o seguinte:
o PAN vai defender a
batata cozida, embora admita a frita em dias de festa, na boa tradição das
comunidades vegan de Monchique;
André Ventura vai contar que
ficou indisposto quando comeu batatas fritas que um cigano lhe vendeu à porta
do Estádio da Luz;
João Cotrim Figueiredo levará
consigo folhetos de supermercado que demonstram o superior valor da batata
frita num regime de concorrência perfeita, defendendo uma flat tax imediata
para as Pringle;
o Livre recordará uma
tese de Rui Tavares sobre a importância da batata cozida nas migrações
irlandesas e uma recensão do mesmo sobre o papel da batata frita no sincretismo
cultural de Arroios. Bom tema, está visto.
Até houve lenços brancos em Alvalade, mas desta vez o Sporting ganhou e
está bem posicionado na liga Europa, no segundo lugar do grupo, com 6 pontos. O F.C.
Porto não fez melhor, empatou em casa com o Glasgow Rangers e também está
no segundo lugar do seu grupo.
Já o Braga, fez um resultado espetacular em Istambul, vencendo o Besiktas
por 1-2, estando no primeiro lugar do grupo. O Vitória de Guimarães esteve
muito tempo a vencer e quase a trazer pontos de Londres, mas um golo do Arsenal
aos 90 minutos inverteu o resultado para 3-2. Foi um grande jogo, mas o Vitória
continua com zero pontos no grupo.
A I Liga, que esteve parada umas semanas, regressa hoje, mas a maioria dos
jogos são sábado e os dos chamados grandes no domingo. Já me esquecia que o
grande dos grandes, o Flamengo do Mister Jesus, também joga domingo à
noite.
FRASES
Hoje vou quebrar duplamente as regras desta secção: ponho uma só frase e
ainda por cima com 7 anos. Mas acho que é caso para isso, porque foi frase que
salvou o Euro num período de enorme incerteza. O homem que a proferiu deixa
agora o seu cargo.
“Dentro do nosso mandato, o BCE está preparado a fazer tudo o que for preciso
para preservar o euro. E, acreditem em mim, vai ser o suficiente”. Mario
Draghi, Presidente do BCE, Londres 2012
O QUE EU ANDO A LER
Augustus, de John Williams. O romance mais conhecido do autor americano
continua a ser Stoner, que já foi muito (e bem) recomendado no Expresso
Curto. Não conhecia mais nada de Williams, até que vi esta edição de Augustus
em casa de um amigo. Trouxe-o emprestado e está a valer muito a leitura.
Augustus é
um romance epistolar minucioso, que conta de forma inteligente e
arrebatadora a vida do Imperador Augusto.
“Quando receberes esta carta, meu filho, já terás chegado a Brindisi e sabido
da notícia. É como eu receava: o testamento é agora público e foste nomeado
filho e herdeiro de César. (…) A tua mãe suplica-te que renuncies aos termos do
testamento; podes fazê-lo sem trair o nome do teu tio, e ninguém pensará mal de
ti por isso.”
A carta de Ácia para o filho Octávio, em abril de 44 a.C. não teve efeito, como
se sabe, mas era um sábio aviso sobre o que o podia esperar em Roma.
Saltando agora 2060 anos, não sei se já deram por isso, mas a segunda
década deste século está a acabar. Quem me chamou a atenção para a efeméride
foi o site musical Pitchfork que quer já arrumar a lista das melhores
canções destes 10 anos.
Há uma coisa em que a redação da Pitchfork tem razão: esta é a primeira década
em que música dispôs (e dependeu) do streaming e das redes sociais em
simultâneo. E isso mudou muita coisa.
A
lista é reflexo desse novo mundo e é de um gosto altamente discutível,
mas merece ser ouvida. Kendrick Lamar leva a medalha de ouro, a minha
primeira grande canção chega no 11º lugar com Bill Callahan, embora Frank
Ocean esteja bem nos primeiros lugares da tabela.
Aquela não é a minha década musical, longe disso, mas é um bom ponto de partida
para que cada um faça a sua. E espero que o Blitz faça a escolha
definitiva, claro.
Enquanto a década não acaba, o melhor é continuar informado. Amanhã há
Expresso nas bancas e até lá estamos sempre por perto. Como dizia o outro,
é ir pelos seus dedos. Boa sexta-feira.
Sugira o Expresso Curto a
um/a amigo/a