Em Minneapolis, uma equipe da CNN
foi presa ao noticiar sobre os protestos populares. Uma prática autoritária
inaceitável, sobretudo num país que tanto ostenta sua preocupação com a
liberdade, opina Carla Bleiker.
É pouco antes das 5h desta
sexta-feira (29/05). Omar Jimenez e sua equipe noticiam para o canal de TV CNN
sobre os protestos contra a violência policial em Minneapolis. Atrás
dos repórteres, veem-se agentes da State Patrol, portando equipamento de
proteção, capacetes e cassetetes; fumaça negra paira no ar. Durante a noite
houvera distúrbios em que os cidadãos manifestaram sua cólera e luto por George
Floyd, mais um afro-americano morto por um policial branco.
Portanto o clima é tenso quando
Jimenez, cuja mãe também é afro-americana, filma num cruzamento da cidade no
centro-norte dos Estados Unidos. Contudo ele certamente não contara ser preso
diante das câmeras. Seus colegas no estúdio também se mostram chocados.
O que os espectadores veem é um
jornalista perguntando respeitosamente onde sua equipe poderia se postar para
não atrapalhar os policiais, ao que estes respondem colocando-lhe algemas. Não
há reação quando ele repetidamente indaga a razão da detenção. Jimenez porta
sua credencial de jornalista, que claramente o identifica como membro da
imprensa, e ele e seus colegas explicam insistentemente que só estão fazendo
seu trabalho. A prisão ao vivo evoca cenas de um regime autoritário.
No entanto o repórter foi preso
num país que em seu hino nacional se gaba de ser "land of the free". O presidente dessa nação tão preocupada com a liberdade, Donald Trump, não
esconde que considera a maioria dos jornalistas, e em especial a CNN, inimigos
de Estado. Com suas tiradas contra a imprensa, ele acirra os ânimos no país e
cuida para que o livre noticiário se torne cada vez mais difícil. Isso é
inaceitável.
Num país que, para fora, tanto
valor dá aos direitos individuais e à livre opinião, repórteres têm que poder
trabalhar livremente. Em protestos e operações policiais, a situação é tensa e
pode virar de um momento para o outro. No entanto isso não é desculpa para se
prenderem jornalistas que de repente se encontram do lado errado de uma tropa
policial.
Desde que existem jornalistas,
tem havido diferenças de opinião entre imprensa e polícia. Afinal de contas, o
trabalho dos repórteres é levar a público imagens e histórias, mesmo que os
agentes da lei nem sempre façam boa figura. Mas se os EUA querem ser reconhecidos
como um brilhante exemplo de liberdade de imprensa sob um governo democrático,
a polícia não pode levar algemados os profissionais que estejam em seu caminho.
Carla Bleiker | Deutsche Welle |
opinião