sábado, 30 de maio de 2020

Onde está a liberdade de imprensa nos EUA?


Em Minneapolis, uma equipe da CNN foi presa ao noticiar sobre os protestos populares. Uma prática autoritária inaceitável, sobretudo num país que tanto ostenta sua preocupação com a liberdade, opina Carla Bleiker.

É pouco antes das 5h desta sexta-feira (29/05). Omar Jimenez e sua equipe noticiam para o canal de TV CNN sobre os protestos contra a violência policial em Minneapolis. Atrás dos repórteres, veem-se agentes da State Patrol, portando equipamento de proteção, capacetes e cassetetes; fumaça negra paira no ar. Durante a noite houvera distúrbios em que os cidadãos manifestaram sua cólera e luto por George Floyd, mais um afro-americano morto por um policial branco.

Portanto o clima é tenso quando Jimenez, cuja mãe também é afro-americana, filma num cruzamento da cidade no centro-norte dos Estados Unidos. Contudo ele certamente não contara ser preso diante das câmeras. Seus colegas no estúdio também se mostram chocados.

O que os espectadores veem é um jornalista perguntando respeitosamente onde sua equipe poderia se postar para não atrapalhar os policiais, ao que estes respondem colocando-lhe algemas. Não há reação quando ele repetidamente indaga a razão da detenção. Jimenez porta sua credencial de jornalista, que claramente o identifica como membro da imprensa, e ele e seus colegas explicam insistentemente que só estão fazendo seu trabalho. A prisão ao vivo evoca cenas de um regime autoritário.

No entanto o repórter foi preso num país que em seu hino nacional se gaba de ser "land of the free". O presidente dessa nação tão preocupada com a liberdade, Donald Trump, não esconde que considera a maioria dos jornalistas, e em especial a CNN, inimigos de Estado. Com suas tiradas contra a imprensa, ele acirra os ânimos no país e cuida para que o livre noticiário se torne cada vez mais difícil. Isso é inaceitável.

Num país que, para fora, tanto valor dá aos direitos individuais e à livre opinião, repórteres têm que poder trabalhar livremente. Em protestos e operações policiais, a situação é tensa e pode virar de um momento para o outro. No entanto isso não é desculpa para se prenderem jornalistas que de repente se encontram do lado errado de uma tropa policial.

Desde que existem jornalistas, tem havido diferenças de opinião entre imprensa e polícia. Afinal de contas, o trabalho dos repórteres é levar a público imagens e histórias, mesmo que os agentes da lei nem sempre façam boa figura. Mas se os EUA querem ser reconhecidos como um brilhante exemplo de liberdade de imprensa sob um governo democrático, a polícia não pode levar algemados os profissionais que estejam em seu caminho.

Carla Bleiker | Deutsche Welle | opinião

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