segunda-feira, 21 de março de 2016

O REINO DAS DUNAS



Rui Peralta, Luanda 

Diferentes sinais e significados são perceptíveis na relação entre Riade e Moscovo. Os ministros do petróleo russos e sauditas encontraram-se, a 16 de Fevereiro em Doba, Qatar. Conjuntamente com o Qatar e com a Venezuela acordaram em congelar o aumento da produção petrolífera, mantendo os níveis de Janeiro deste ano. Esta foi uma decisão cuidadosa, devidamente calibrada, que permitiu – pela primeira vez em 18 meses – mostrar que a Arábia Saudita e a Rússia, ou seja os dois maiores produtores (sendo os sauditas os maiores no seio da OPEC e os russos fora da OPEC), preocupavam-se com a situação, dando inicio a um processo de gestão dos níveis de produção, tentando controlar a queda do preço do barril aplicando medidas do lado da oferta. 

Apesar deste diálogo no sector petrolífero, russos e sauditas na Síria mantiveram-se em posições opostas. A Rússia procurou uma solução politica, negociou e negocia as tréguas e um acordo alargado entre as diversas forças sírias que coloque um fim á guerra, ao mesmo tempo que foi decisiva no terreno ao atacar as posições do Daesh e ao auxiliar o reforço das forças governamentais sírias no território. Em contrapartida a Arábia Saudita ameaçou por diversas vezes enviar forças milites para território sírio, com o objectivo de combater o Daesh (sem nunca o fazer), apostou nos grupos armados da oposição (principalmente nos grupos sunitas) financiando-os, equipando-os e dando-lhes formação militar, a sua actuação em relação ao Daesh foi dúbia e acabou por tornar-se parte do problema na Síria.

Pouco antes da cimeira com os russos sobre o petróleo, o ministro saudita dos negócios estrangeiros, Adel Jubeir referiu o envio de forças militares sauditas para combater o Daesh, mas logo após a cimeira referiu que o governo saudita iria enviar misseis terra-ar para os grupos da oposição armada. O mais provável é os misseis serem usados contra a força aérea síria (uma vez que os russos cessaram as operações militares no território). Os sauditas acusaram os russos de terem bombardeado de forma indiscriminada o Daesh e os grupos oposicionistas sírios que combatiam o Daesh, mas um facto é que as tréguas continuam a vigorar, sem que o combate contra o Daeh tenha cessado. E isto constitui uma pesada derrota para os interesses sauditas.

Uma opinião comum nos meios oficiais da Arábia Saudita e no Qatar considera que os Estados do Golfo são ameaçados por uma aliança russa/iraniana e consideram que USA e U.E capitularam ao permitirem a “nuclearização” do Irão. Perante isto propõem o apoio a grupos que possam combater a “ameaça iraniana”, muitas vezes subentendida como “ameaça xiita”. Foi assim que 55 clérigos sauditas editaram uma “fatwa” (um apelo á jihad, ou seja, á guerra santa) contra o governo sírio (diabolizando o presidente sírio, Bashar al-Assad), os seus aliados russos (considerados cruzados, pelos clérigos) e iranianos (considerados apóstatas).

Recentemente alguns diplomatas e académicos sauditas conceberam a ideia de divulgar o país na Rússia. Os laços históricos entre ambos os países são escassos. Putin, em 2007, foi o primeiro líder russo a visitar a Arábia Saudita. O ex-chefe da inteligência saudita, Bandar bin Sultan visitou a Rússia e o ministro saudita da defesa, Mohammed bin Salman encontrou-se com Putin em 2015. Existem, efectivamente, potenciais áreas de comum interesse no aprofundar do relacionamento entre ambos. Os sauditas exploram áreas de interesse comum com a Rússia. A preocupação com o Irão é um dos pontos principais dos sauditas, para além das relações económicas. Os sauditas observaram atentamente como os israelitas iniciaram a aproximação com a Rússia e estão dispostos a avançar com entendimentos mais consistentes com os russos.

Mas a diplomacia saudita continua a persistir nas suas políticas erróneas. E isto é o que acontece com a política saudita em relação ao Líbano. As tensões latentes entre os dois países tomam proporções de ruptura de relações, processo causada pela rivalidade entre Riade e Teerão e que no Líbano reflecte-se na crescente influência xiita. A 19 de Fevereiro os sauditas anunciaram o cancelamento de 3 mil milhões de USD em ajuda ao exército libanês e cerca de mil milhões de USD para a polícia. Alguns dias depois o ministro dos negócios estrangeiros saudita pediu aos cidadãos para não viajarem ao Líbano, Em breve o Kuwait, os Emiratos Árabes Unidos (EUA), o Qatar e o Bahrein apoiaram a decisão saudita e juntaram-se á campanha.

Existem cerca de 300 mil trabalhadores libaneses nos Estados do Golfo, principalmente no pequeno comércio, hotelaria, turismo e construção. As relações económicas entre ambos os Estados são profundas. O investimento saudita no Líbano é importante e existe desde sempre. Na década de 60 o Líbano tornou-se uma zona tampão entre as hegemonias regionais. Na luta entre os regimes nacionalistas progressistas e as monarquias tradicionais as tensões internas libanesas desdobraram-se, tornando o país foi utilizado como um escudo saudita contra as tendências nacionalistas árabes. Os comerciantes libaneses de Beirute e de Sídon, maioritariamente sunitas reforçaram os seus laços comerciais com os sauditas e acabaram por promover os interesses da Arábia Saudita nas suas comunidades. Uma relação de subserviência acabou por submeter o Líbano aos interesses sauditas. 

O peso deste relacionamento não foi quebrado pelas guerras civis libanesas, nem pelas invasões sionistas ou sírias, mas sim pelo assassinato do primeiro-ministro libanês (descendente de famílias sauditas) Rafik Hariri em 2005. Desde aí o Irão e a Síria tomaram o lugar comercial da Arábia Saudita no país. A destruição da infra-estrutura libanesa, provocada pela guerra de 34 dias com Israel, foi o segundo golpe decisivo para o fim da hegemonia saudita no país. O Hezbollah tornou-se uma força política dominante no Líbano, ao encabeçar a resistência nacional contra a invasão israelita. Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah tornou-se um “Herói da Resistência”, reconhecido pelo Iraque, Jordânia, Síria, Irão e pelos Estados do Magrebe, isolando a posição saudita que acusava o Hezbollah de ter provocado a invasão israelita e de servir os interesses do Irão e da Síria. Ao invés de ajudarem a resistência libanesa contra Israel, os sauditas alimentaram o sectarismo sunita.

O novo monarca saudita, Salman bin Abdul-Aziz Al Saud e o seu filho o príncipe Mohammed bin Salman, radicalizaram as posições sauditas nas relações com os restantes estados da região e estabeleceu uma “diplomacia sunita”, suportada pelos seus aliados do Golfo e pela Turquia. Esta abordagem típica dos “falcões” da região (abordagem oposta á tradicional e delicada diplomacia árabe, tendente á resolução pacifica e dialogada dos conflitos) acabará por isolar os sauditas e seus aliados da região. Para um Poder regional como a Arábia Saudita a política de “disciplina e punição” utilizada nas relações com um pequeno Estado como o do Líbano, é contraproducente e trará consequências imprevisíveis nos equilíbrios da região.

Na sua ânsia de controlar a influência iraniana e de esmagar o Hezbollah no Líbano, os sauditas recorrem aos seus aliados na região mobilizam forças para a intensificação do conflito. Rabbo Mansour Hadi, o presidente iemenita suportado pelos sauditas, acusou o Hezbollah de apoiar os Houthis, seus rivais políticos, de origem xiita. Alguns dias depois o ministro saudita da defesa, Ahmad Assiri reforçou a acusação do presidente iemenita ao afirmar que os serviços de inteligência saudita tinham gravações e filmagens que comprovavam o envolvimento do Hezbollah na revolta Houthi. No mesmo dia surge um vídeo nas cadeias informativas internacionais, que apresenta imagens de um miliciano libanês do Hezbollah a dar instrução militar a um grupo de rebeldes houthis.

Os governantes sauditas e do Estados do Golfo pretendem alterar o Poder político no Líbano, seja através de uma força política emergente, seja através do enfraquecimento do Hezbollah, que antecipou-se às medidas dos Estados do Golfo enviando uma delegação ao Cairo. Esta delegação encontrou-se com oficiais egípcios que aceitaram servir de mediadores entre os sauditas e o Hezbollah. O problema é que os sauditas rejeitaram a mediação egípcia e consideraram que o Egipto é um Estado que suporta os Houthis (muitos destes fizeram a sua formação em universidades egípcias).

As retaliações sauditas contra o Líbano surpreenderam muitos observadores e são parte de uma série de medidas de segurança que Riade tomou contra figuras e partidos que operam, directa ou indirectamente, na Arábia Saudita a favor do Irão e do Hezbollah. Estas medidas incluem as restrições bancárias e controlo das contas bancárias, os investimentos e propriedades de 44 libaneses residentes na Arábia Saudita e considerados simpatizantes e afiliados do Hezbollah.

As autoridades sauditas também perseguem os clérigos xiitas nas províncias de Qatif e Ihsaa por estes efectuarem campanhas de recolhas de fundos nas comunidades xiitas da Arábia Saudita com o objectivo de criarem redes comunitárias de assistência social, educação e saúde. Alguns clérigos foram detidos nas operações contra “lavagem de dinheiro”, como o caso do Sheik Kaled Seif, julgado em Outubro do ano passado e condenado a uma pena de 5 anos.  As autoridades sauditas acusam o Hezbollah de ser uma “quinta coluna” do Irão que teria como missão penetrar no Golfo e paralisar os planos da Arábia Saudita para liderar a região, ao nível militar e de segurança.

Estas acusações radicalizaram-se quando o rei Salman bin Abdul-Aziz Al Saud ascendeu ao Poder e foram ampliados pelo seu ambicioso filho Mohammad bin Salman que lançou as operações de combate á “lavagem de dinheiro” (Operação Tempestade Decisiva). Os planos de combate ao Hezbollah e á “influência” iraniana continuaram quando os sauditas formaram a aliança para combater os houthis no Iémen, mais tarde ampliada em Dezembro com uma aliança de 34 Estados islâmicos para combate ao “terrorismo”.

O embaixador saudita em Beirute, Awad Assiri, lançou em Abril de 2013 uma campanha diplomática contra o Hezbollah. A campanha falhou, uma vez que o governo libanês não consegue controlar o Hezbollah. Agora Riade vai além da campanha diplomática e passou á “guerra económica”. Para já é visível uma situação que joga contra Riade: O principal afectado é o governo libanês, enquanto o Hezbollah não dá sinais de ser afectado pelas sanções sauditas.

Mas o combate ao Hezbollah, no Líbano e aos houthis no Iémen, não é a única preocupação saudita no seu braço de ferro contra o Irão. No Iraque desenrola-se uma nova campanha para os governantes sauditas, preocupados com as milícias xiitas no país, que trabalham coordenadas nas Unidades de Mobilização Popular do Iraque (UMPI), organização criada e suportada pelo Irão, em meados de 2014, com o objectivo de combater o Daesh no Iraque.

Esta organização engloba mais de 40 grupos e milícias xiitas iraquianas (os principais são o Asa`ib Ahl al-Haq, o Kata`ib Hezbollah e a Organização Badr). Os sauditas e as milícias sunitas iraquianas acusam o UMPI de albergar milícias xiitas causadoras de massacres entre as comunidades sunitas. O próprio UMPI é considerado, pelos sauditas e seus aliados no terreno, uma organização sectária xiita que tem como objectivo realizar uma revolução xiita no Iraque, ao estilo iraniano.

Preparando-se para efectuar um ataque a estas milícias num futuro próximo, está a ser efectuado no Norte da Arábia Saudita, junto á fronteira com o Iraque, um exercício militar massivo, sob o nome de código “Trovão do Norte”, que engloba combatentes dos grupos sunitas iraquianos aliados da coligação antiterrorista. No exercício militar participam forças terrestres, aéreas e navais, conduzidas pela Guarda Nacional Saudita, sendo as forças terrestres constituídas por cerca de 75 mil elementos, incluindo forças especiais, infantaria, artilharia e cavalaria às quais se juntam forças aérea e navais de 20 países, incluindo o Paquistão, Egipto, Malásia, Sudão, Jordânia, Marrocos, Tunísia, Senegal, Mauritânia, Chade e os Estados do Golfo, num total de aproximadamente 200 mil elementos.

Esta coligação liderada pela Arábia Saudita justifica o exercício devido ao que considera ser a negligência dos USA e da NATO perante as milícias xiitas iraquianas, constituídas por mais de 100 mil combatentes e equipadas pelo Irão. Algumas destas milícias (caso da Asa´ib Ahl al-Haq e da Organização Badr) estão activas desde a sublevação xiita iraquiana em 2004. Por sua vez a Kata´ib Hezbollah, cujos militantes combateram na Síria, ao lado das forças governamentais de Bashir al-Assad e no Líbano ao lado do Hezbollah, consta na lista de organizações terroristas do Departamento de Defesa dos USA, uma vez que o grupo combateu contra a invasão norte-americana no Iraque, sendo responsável por diversas acções e atentados contra as forças norte-americanas e aliadas. Quanto á Organização Badr, formada no Irão em 1982, como ala militar do Supremo Conselho para a Revolução Islâmica no Iraque (SCRII), é conhecida pelos seus grupos especiais (estilo esquadrões da morte) e pela sua capacidade logística (infantaria ligeira e artilharia antiaérea) sendo conhecidas as suas acções militares e atentados contra o governo de Sadam Hussein e mais tarde contra as forças de ocupação, além de serem acusadas de massacres perpetrados contra as comunidades sunitas iraquianas.

No início do ano o embaixador saudita em Bagdade acusou as forças xiitas iraquianas de estarem a intensificar as tensões sectárias na região, considerando “exacerbado” o seu número de combatentes na coligação contra o Daesh. O embaixador acusou as milícias xiitas iraquianas de executarem cerca de 40 líderes comunitários sunitas e de incendiarem 9 mesquitas sunitas em retaliação pelos atentados que matarem cerca de 25 milicianos xiitas em princípios de Janeiro.
O “Reino”, temendo um eventual isolamento (devido á posição russa, que retirou-lhe a iniciativa na região) e frustrado com a derrota diplomática dos seus aliados ocidentais, tenta manter a sua influência na região. Nem que para isso tenha de recorrer á ameaça, á extorsão e á guerra, arrastando o Ocidente e toda a região para o caos e para o “Inferno do deserto”…

Alami, M. Meet one of Hezbollah's teen fighters http://www.al-monitor.com
Al-Desoukie, O. Displaced Yemenis suffer in silence in Egypt http://www.al-monitor.com
Al-Hatlani, I. Saudis increasingly frustrated with Lebanon http://www.al-monitor.com
Al-Rasheed, M. Why did Riyadh cancel $4 billion in aid to Lebanon? http://www.al-monitor.com
Aziz, J. Lebanon feels aftershocks of Saudi-Iran crisis http://www.al-monitor.com
Cafiero, G.Can Oman help Saudis save face in Yemen? http://www.al-monitor.com
Dehghanpishe, B. Special Report: The fighters of Iraq who answer to Iran http://www.reuters.com
Kinninmont, J. In dealing with Russia, Saudi is keeping its options open http://europe.newsweek.com
Mamouri, A. How to rein in Iraq's Popular Mobilization Units http://www.al-monitor.com
McDowall, A. Saudi opposition clerics make sectarian call to jihad in Syria http://www.reuters.com
Nazer, F. Is Saudi Arabia building an 'Islamic NATO? http://www.al-monitor.com
Obaid, N. Why Saudis may take on Iraq’s Shiite militias http://www.al-monitor.com
Rizk, A.What Hezbollah stands to gain from Iran's nuclear deal http://www.al-monitor.com
Slavin, B. Hariri: Late Syrian security chief tried to speak out http://www.al-monitor.com
Tastekin, F. Three faiths, three commanders http://www.al-monitor.com
Chulov, M. Controlled by Iran, the deadly militia recruiting Iraq's men to die in Syria The Guardian, 2014/03/12

PORTUGAL ENFRAQUECIDO, DE NOVO, NA CPLP



Paulo Guilherme – África Monitor, opinião

Bem se esforçou Augusto Santos Silva por relevar a “solução de consenso” sobre o próximo secretário executivo da CPLP - que não será indicado por Portugal, como os estatutos da organização claramente preveem – o que o bloco africano, com Angola à cabeça, rejeita. E, em boa verdade, a posição em que estava não era fácil, Mas depois do embaraçoss “atropelo” de Portugal na adesão da Guiné Equatorial à CPLP, em Julho de 2014, XIV reunião extraordinária do conselho de ministros da CPLP foi mais um sinal de fraqueza de Portugal.

Os estatutos são claros. E o argumento invocado por Angola era débil – um “acordo verbal” antigo para que o país-sede prescindisse do seu direito de nomear o secretário executivo, quando o sistema de rotação ditasse que era a sua vez. Brandindo um “princípio não escrito” de que não se recordava nenhum dos “cavalheiros” que presidiram à criação da organização (Marcolino Moco, Luís Fonseca…), a diplomacia angolana assumiu um duro o tom – como bem sabe fazer – basicamente acusando Portugal de usurpação. E Lisboa deixouse intimidar.

A propósito, o que seria se as organizações internacionais se passassem a reger por “acordos verbais” nunca antes invocados, em vez de pelo que está, de facto, escrito e assinado? E se os Estados Unidos invocassem um “acordo verbal” para que a partir de agora os secretários-gerais da ONU fossem escolhidos pelo seu Departamento de Estado?

Depois de Angola “partir a loiça”, o MNE Augusto Santos Silva foi contemporizando, desvalorizando, e agarrando-se a um “direito estatutário” - de que realmente dispunha. Direito esse de que afinal, a 17 de março de 2016 em Lisboa, acabou por prescindir. Portugal não vai indicar o próximo secretário executivo. Cede a vez a São Tomé, que por sua vez reparte o mandato (em 2018-2020) com Portugal.

Mas é pior do que isso: o meio-mandato com que Portugal saiu da reunião de Lisboa será o primeiro – e pode ser também o único. Porque ficou acordado que os estatutos terão de ser revistos no que diz respeito à rotação – e Portugal não parece ter quaisquer apoios à sua pretensão.

"O que ficará para o futuro - é outro termo do nosso acordo de hoje - é a necessidade, conveniência, de se rever o acervo normativo da CPLP, com o objetivo de eliminar quaisquer futuras divergências" de interpretação, disse Augusto Santos Silva. “Depois vamos acertar as regras para que, depois, isso seja resolvido para o futuro”, adiantou Georges Chikoty).

Só faltou Portugal assumir a existência do tal “acordo verbal”. Sai desta cimeira isolado, incapaz de reagir à postura agressiva de Angola, destituído de apoios. Angola, que curiosamente vive um período de fragilidade interna e externa, sai forte, à cabeça de um “bloco” africano coeso.

É bom de ver que a importância diplomática da CPLP para Portugal é mais simbólica (o poder do “bloco lusófono”) do que prática. E a situação foi-se encaminhando para um ponto em que um bloqueio institucional na nomeação do sucessor de Murade Murargy era a única alternativa à posição de força assumida por Angola. Porque a decisão teria sempre de ser tomada por consenso. 

Um bloqueio seria ainda mais prejudicial para a imagem de coesão do “bloco” da CPLP e, logo, para Portugal – cujo poder de influência externa se resumiria, ainda que simbolicamente, ao de uma Eslovénia ou Ilhas Quiribati. Se alguma coisa conseguiu assegurar neste processo foi que a CPLP continue a funcionar. Agora, só é preciso que CPLP seja mais do que um palco para consensos de última hora.

Guiné Equatorial. Nove partidos da oposição da Guiné Equatorial apoiam recandidatura de Obiang



A recandidatura do Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, às eleições presidenciais de 24 de abril recebeu o apoio de nove das 15 forças políticas da oposição, divulgou hoje o Gabinete de Informação e Imprensa do Governo. 

A recandidatura de Teodoro Obiang, de 74 anos, no poder desde 1979 pelo Partido Democrático da Guiné Equatorial, é apoiada pela Convenção Liberal Democrática, Convergência Social Democrática e Popular, Aliança Democrata Progressista, União Popular e Partido Socialista da Guiné Equatorial. Apoiam também Teodoro Obiang, a União Democrática Nacional, Partido Liberal, Partido Social Democrata e União Democrática Social.

Lusa, em Correio da Manha

Moçambique. COMUNIDADES CONIVENTES NO ABATE ILEGAL DE MADEIRA



OPERADORES florestais sedeados na província de Sofala afirmam estar a ser prejudicados por alguns líderes tradicionais e outros membros das comunidades que têm facilitado o abate ilegal de madeira a estrangeiros, na sua maioria de nacionalidade chinesa.

Esta opinião é partilhada por alguns madeireiros que falaram ao “Noticias” e que apontam também a desflorestação e concorrência desleal como alguns dos factores que  lesam os moçambicanos.

Por exemplo, o director deral da empresa EDN, Aldo Achaca, conta que, para além dos 20 por cento da taxa sobre a exploração florestal definida por lei a favor das comunidades, os operadores florestais têm se deparado com situações de cobrança de valores monetários por parte de algumas autoridades tradicionais.

“Por causa da conivência das comunidades, já tive casos de corte ilegal de madeira na minha área de exploração e fiquei a saber que isso foi com  a complicidade de alguém”, disse.

A fonte acrescenta que se todos cumprissem com o que está plasmado na lei não haveria esse tipo de problemas. “Não podemos optar sempre pela penalização, tem que haver prevenção, e para isso é preciso identificar o problema”, considera.

Aldo Achaca conta que no passado, as comunidades faziam denúncias sobre os desmandos, mas de há um tempo a esta parte, elas foram corrompidas pelos operadores estrangeiros, que oferecem dinheiro em troca do seu silêncio.

“Construí escolas e centros de saúde em algumas comunidades e em nenhum momento elas pediam dinheiro. Entretanto, hoje em dia, para além dos 20 por cento do que têm direito por lei, exigem um pagamento por cada camião com madeira. Já não exigem carteiras para apetrechar as escolas ou chapas de zinco para a cobertura das suas infra-estruturas sociais”, lamenta.

Por sua vez, o director adjunto da Indústria Madeireira de Moçambique, Mahomed Magid, considera que o corte ilegal de madeira está a causar graves problemas ambientais e o desaparecimento de algumas espécies, uma vez que não há reflorestamento.

“As nossas florestas estão a acabar e para estancar esta onda de destruição é necessário que haja uma boa colaboração entre as partes. É uma realidade que como poder financeiro que os chineses têm, conseguem corromper as comunidades, visto que estas ganham mais com eles do que a trabalhar com operadores moçambicanos”, referiu.

Entretanto, apesar de concorrência desleal por parte dos operadores florestais estrangeiros, Mahomed Magid desdramatiza a situação, afirmando que o mais importante é fazer com que se cumpra com o que está plasmado na lei.

REFORÇAR A FISCALIZAÇÃO

PARA melhorar a inspecção dos madeireiros, os Serviços Provinciais de Floresta e Fauna Bravia de Sofala têm como um dos objectivos traçados para os próximos meses a capacitação de mais fiscais florestais, segundo avançou o chefe do sector, Paz Costino Martinho.

“Neste momento, estamos a tentar potenciar a capacidade técnica dos nossos fiscais, porque temos alguns formados e outros sem formação profissional. Portanto, o que pretendemos é unificar a metodologia de trabalho no que diz respeito ao conhecimento da lei”, disse.

Segundo ele, o conhecimento do quadro legal e das boas práticas florestais são cruciais para a sua preservação, na medida em que contribuem para uma participação construtiva e efectiva dos envolvidos no processo.

Questionado se as autoridades da área de florestas teriam outra forma de repreender aos transgressores da lei, para além da atribuição de multas, Paz Costino Martionho disse que têm optado por uma “fiscalização e educativa e não reprensiva”.

Contudo, considera que “não se justifica que um operador florestal não tenha conhecimento de que é proibido transitar com madeira com diâmetro de corte inferior àquele que é permitido por lei. Nestes casos, a fiscalização educativa já não é aplicável”.   

Moçambique é um país com uma grande diversidade de recursos florestais, cobrindo uma área de cerca de 40,1 milhões de hectares, o que corresponde a 51 por cento do território nacional.

Estes recursos revestem-se de grande importância social, cultural, ambiental, científica e económica, para a ctual e futura geração, como fonte de geração de emprego e renda.

Valdimiro Saquene – Jornal Notícias

Moçambique. DOIS MORTOS NUM SEQUESTRO ABORTADO



Duas pessoas morreram sexta-feira à noite no bairro Patrice Lumumba, no Município da Matola, durante uma troca de titros entre um grupo de sequestradorres e a Polícia, apoiada por agentes ligados à recuperação de viaturas da Cartrack.

Uma das vítimas é membro do grupo de raptores. A outra é um transeunte que acabava de desembarcar de um “chapa” no terminal do bairro Patrice Lumumba, alvejado por uma bala perdida. Na circunstância, outros dois cidadãos que se encontravam nas proximidades do local do tiroteio ficaram feridos, tendo sido transportados para o hospital, de onde viriam a receber alta.

Segundo informações avançadas ao nosso Jornal pela Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível do Comando provincial de Maputo, o sequestrador foi alvejado mortalmente na altura em que conduzia a viatura de uma mulher que os malfeitores acabavam de sequestrar. Um outro elemento do grupo ficou gravemente ferido.

Juarce Martins, porta-voz da PRM na província de Maputo, explicou ao nosso Jornal que tudo começou por volta das 20.30 horas da sexta-feira, após um grupo de seis indivíduos sequestrar uma cidadã que responde pelo nome de Felizarda Cohote, quando esta abria o portão da sua casa no bairro das Mahotas, na cidade de Maputo. Dois dos sequestradores tomaram a viatura da vítima, de marca Hyundai, tendo-a forçado a passar para o banco de trás. Os restantes quatro membros da quadtilha permaneceram numa viatura Honda Fit, escoltando a viatura da vítima raptada em direcção ao bairro Patrice Lumumba.

No entanto, segundo a nossa fonte, os criminosos não se aperceberam que o carro da vítima tinha o sistema de alarme da Cartrack. Os familiares comunicaram a esta companhia de segurança de viaturas e à Polícia que de imediato iniciaram uma perseguição aos criminosos.

Quando os raptores chegaram ao terminal de “chapas” do bairro Patrice Lumumba, junto ao mercado local, e apercebendo-se da perseguição policial e dos agentes de recuperação de viaturas da Cartrack, abriu fogo contra as duas forças.

Fonte da Polícia garantiu que a mulher raptdada, que não sofreu qualquer ferimento durante a troca de tiros, goza de boa saúde e já regressou ao convívio familiar. 
    
Dos sequestradores, a Polícia recuperou duas pistolas de marca Walter com 14 munições. Uma das armas tinha um número de registo correcto, sendo que o da outra era viciada.

Entretanto, Juarce Martins explicou que o raptor ferido já está sob alçada do Comando da Polícia na cidade de Maputo, onde a ocorrência teve lugar, de modo a prosseguir com as investigações que possam conduzir à captura dos restantes integrantes do grupo ainda a monte.

Apelou para  uma maior vigilância e denúncia de qualquer movimentação estranha, pois para o caso concreto pode ser que alguns dos sequestradores procurem cuidados médicos nalguma unidade sanitária.

Jornal Notícias

S. Tomé e Príncipe. UM LADRÃO E DOIS PODERES



Brany Cunha Lisbo*, opinião

Tornou-se notícia mais um episódio das querelas pessoais de Patrice Trovoada e Manuel Pinto da Costa, desta vez em forma de crise institucional motivada por um suposto ladrão.

É público o sentimento mútuo de repulsa que tanto o primeiro-ministro como o Presidente da República alimentam. Há quem diga que as divergências foram mesmo herdadas do diferendo Pinto da Costa/Miguel Trovoadaue se iniciou após a queda do regime português em 1975 e com a indigitação do primeiro para chefe de Estado, passando depois pela perseguição e prisão do segundo, ainda durante a primeira República. A situação agudizou-se ainda mais na relação Pinto da Costa/Patrice Trovoada durante os últimos governos do ADI.

Entretanto, o aumento de tensão entre estes dois órgãos de soberania trás também para cima da mesa questões como o assumir de querelas pessoais enquanto instituições e não como pessoas individuais, mas, e sobretudo, o aumento da insegurança social no seio das populações. Estará São Tomé e Príncipe perante uma mudança do paradigma? Será que a imagem de um país friendly que o arquipélago vem cultivando ao longo dos tempos está agora a ser substituída por um novo quadro de criminalidade desenfreada? São questões que julgo pertinentes para análise dos leitores. No entanto, eu, que já tirei as minhas conclusões, estou convicto que sim. Os tempos são outros, as artimanhas e a astúcia dos aspirantes a delinquentes também estão cada vez mais apuradas.

As autoridades deverão encontrar em conjunto, cada uma na sua área de atuação, condições para fazer frente a essa nova face do país, indo, por exemplo, às causas. Fazer estudos psicossociais sobre as potenciais causas deste aumento da criminalidade poderia ser um passo na luta contra este fenómeno.

O facto de um suposto ladrão estar entre dois poderes não deveria ser suficiente para uma novela, sobretudouando estamos todos fartos dos capítulos em reposição. Um ladrão e dois poderes podia até ser o título de uma nova novela, mas todos já sabemos que em causa não estão nem a instituição governo nem a instituição Presidente da República, mas sim mágoas antigas e pessoais entre Patrice Trovoada e Pinto da Costa, que aproveitando o palco mediático apresentam de parte a parte os seus show-off`s.

O país, em 40 de independência, continua a produzir apenas 10% do seu PIB, dependendo dessa forma quase que exclusivamente os parceiros internacionais para mais de 90% dos seus orçamentos de Estado. É altura de cada um assumir os seus conflitos pessoais e dirimi-los em sede própria. Enquanto instituições, começar a trabalhar com afinco e com interesse estratégico para um verdadeiro bem de São Tomé e Príncipe.

*Téla Nón

STP vai apresentar uma “candidata” para o cargo de Secretária Executiva da CPLP




Salvador Ramos, Ministro dos Negócios Estrangeiros de São Tomé e Príncipe revelou o sexo da figura que vai assumir a liderança da CPLP em Julho próximo. Segundo as palavras do ministro será uma mulher. «O desafio que São Tomé e Príncipe tem agora é fazer com que nossa “CANDIDATA” ao cargo possa desempenhar com zelo e competência essas funções e escrever o nome de São Tomé e Príncipe, na história do desenvolvimento e do aprofundamento das acções da CPLP no mundo», afirmou o ministro.

Téla Nón

Angola. “PAI" DA PAZ E DA LIBERDADE



José Ribeiro, opinião

A decisão do Presidente José Eduardo dos Santos de abandonar a vida política activa em 2018 é daqueles acontecimentos da dimensão dos grandes líderes mundiais. São importantes porque têm um grande significado e um efeito transformador. O maior significado deste acontecimento é que Angola consolidou o caminho da estabilidade. Melhor do que ninguém, o Presidente sabe disso e essa foi a razão por que decidiu que é altura de entregar o lugar a outro.

A abertura e as reformas do sistema político e económico que o país desenvolveu a partir da segunda metade dos anos 80 foram uma necessidade absoluta e condição determinante para o alcance da paz e da reconciliação nacional. Sem essa mudança, conduzida com grande coragem e perspicácia pelo MPLA, que dela saiu mais forte e invejado pelos adversários, a estabilidade de hoje continuaria a ser um sonho atravessado por muitos pesadelos. 

De nada serve lamentar os efeitos óbvios dessa opção histórica, aplaudida pela grande maioria do povo angolano e pela comunidade internacional. As críticas feitas hoje a esse passo indispensável para a unidade e o futuro de Angola como Nação resultam de raciocínios políticos, ideológicos ou de crença religiosa “a posteriori” que soam a parcialidade, desonestidade, vingança ou hipocrisia.  

Para se conseguir a paz e a reconciliação nacional, independentemente da negociação que se desenrolou entre o Governo e a rebelião armada de Jonas Savimbi, foi fundamental libertar o país das amarras que refreavam o aproveitamento total das capacidades de crescimento nacional.

O fim do sistema centralizado de gestão e a abertura da economia à iniciativa individual, familiar e privada, criaram uma sociedade mais inclusiva, aprofundaram o processo de reconciliação e democratização e fizeram o país respirar melhor. Da educação à saúde, dos transportes às telecomunicações, da cultura e os audiovisuais à imprensa, o empresariado nacional passou a ter uma presença crescente. A responsabilidade na condução dos destinos do país passou a ser partilhada entre o Estado, as famílias e as empresas, estas entendidas como o universo das organizações sociais.

Angola faz hoje parte dos países de economia livre e de sistema democrático, em que prevalece a lei da concorrência dos mercados e a eleição dos dirigentes por voto popular. Agora a tarefa política essencial consiste em assegurar a presença no poder de políticos maduros que percebam que, uma vez resolvido o problema da guerra e reabilitada a infra-estrutura económica do país, é preciso enfrentar as questões da fome, da pobreza, da doença, do analfabetismo e das desigualdades sociais originadas pelo tipo de sociedade concorrencial.

Mais útil do que chorar sobre o leite derramado ou adoptar a posição quixotesca de luta contra moinhos de vento, parece ser a necessidade de reorientar, em cada momento, o rumo do país em função dos novos problemas emergentes e dos grandes ideais da democracia, da economia de mercado e do humanismo consensualmente aceite por todos os quadrantes ideológicos caracterizados pela sensatez, à frente dos quais surge o MPLA.

Essa tem sido a lição dos anos de governação do Presidente José Eduardo dos Santos. Sem ceder à demagogia e ao populismo e às modas do momento, o Presidente José Eduardo dos Santos tem reflectido o sentir nacional. Essa é uma das explicações para a sua grande popularidade. Uma leitura atenta da acção e do discurso do Presidente mostra essa característica própria e natural que lhe vem do seu percurso de vida desde que entregou a sua juventude à libertação dos povos do jugo colonial, a sua modéstia e notável atitude de realismo, ponderação e moderação nos cargos de direcção partidária e governativa que ocupou, e a sua elevada experiência política como estadista.

As habituais centrais da mentira e da desinformação e alguns meios que falharam nas suas responsabilidades históricas já estão a recorrer à crítica injusta, ao insulto baixo e à difamação torpe para desvalorizarem o significado da decisão do Presidente como marco na fase importante de conquista definitiva da estabilidade para Angola. Como sempre, começaram a explorar os mais baixos efeitos perversos do caminho consensualmente escolhido para a construção nacional – como se esta terra, que é de todos, fosse apenas de alguns quando se trata de assumir os erros do passado.  Com isso, desacreditam o exemplo de toda a Nação. Para esses,  cito uma das mais duras repreensões do Papa Francisco: “não há necessidade de consultar um psicólogo para saber que quando alguém denigre o outro é porque não consegue crescer e precisa que o outro seja humilhado para se sentir alguém”. 

Em Angola, o povo sabe quem diz a verdade e quem mente descaradamente. Mas em Angola o pecado da mentira e do insulto apenas ajudam a reforçar aqueles “melhores soldados de Deus” a quem “Ele dá as batalhas mais difíceis”, porque esses soldados não se importam de oferecer a sua face cristã em nome dos nobres ideais por que lutam. O Presidente José Eduardo dos Santos prometeu que daria estabilidade ao país, e fê-lo. Foi difícil conseguir realizar uma tarefa na qual já muito poucos acreditavam, os sacrifícios foram enormes, mas o objectivo está concretizado. Não é propaganda. O Presidente acabou com a guerra e tornou-se para sempre no “pai” da paz, da reconciliação nacional e da estabilidade em Angola. Quando o povo precisou dele, foi o primeiro a dizer presente e estar pronto a lutar. Um homem assim sabe que a Nação continua a contar com ele.

ATIVISTAS ANGOLANOS CONHECEM SENTENÇA A 28 DE MARÇO




O tribunal de Luanda agendou para 28 de março a leitura da sentença do caso dos 17 ativistas angolanos, com a defesa a pedir a absolvição por falta de provas.

Na sessão de hoje, de leitura das alegações finais, que se prolongaram por todo o dia, o Ministério Público deixou cair a acusação de preparação de um atentado contra o Presidente da República, mas pedindo a condenação dos réus pela prática, em coautoria, do crime de atos preparatórios para uma rebelião.

PVJ/NME // EL - Lusa

Unicef estima que mais de 1,4 milhões de angolanos sofrem com mudanças climáticas



A Unicef estima que mais de 1,4 milhões de pessoas sofrem atualmente com os efeitos das mudanças climáticas em seis províncias do sul de Angola, justificando a inclusão do tema nas agendas de trabalho internacionais.

A posição é expressa pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância em comunicado enviado hoje à Lusa, em Luanda, a propósito do dia mundial da água, que se assinala terça-feira, e que motiva uma campanha nas redes sociais de alerta para os efeitos das mudanças climáticas e da falta de saneamento na qualidade da água consumida por milhões de pessoas em todo o mundo.

Entre os efeitos identificados pela Unicef em Angola e que carecem de análise e de medidas concretas estão as secas prolongadas, mas também as fortes chuvas que se fazem sentir no país, levando a organização e outros parceiros "a incluir o tema nas suas agendas de trabalho".

"Quando a água se torna escassa durante as secas, as populações recorrem a água de superfície que muitas vezes é insegura, colocando em risco a vida de muitas crianças e as suas famílias", recorda ainda a Unicef.

Igualmente sobre Angola, a organização das Nações Unidas sublinha a importância do investimento em curso, em parceria com a União Europeia, Banco Mundial e o Governo angolano, na construção em curso de um centro de formação profissional para o setor das Águas, em Onga Zanga, a 15 quilómetros de Catete, arredores de Luanda.

O centro deverá estar concluído em 2017 e permitirá formar os atuais e novos trabalhadores do setor, como forma de contribuir para sistemas de abastecimento de água potável e de tratamento das águas residuais "sustentado por técnicos devidamente qualificados e capazes de dar resposta as necessidades mais urgentes do país".

A Lusa noticiou em fevereiro passado que as secas em Angola afetaram desde 1981 mais de seis milhões de pessoas, segundo a atualização do plano de prevenção e redução do risco de desastres.

De acordo com o documento, entre 1981 e 2015 registaram-se 12 anos de cheias ou seca, esta última especialmente grave nos anos de 1989, com 1,9 milhões de pessoas afetadas, e de 2012, quando mais de 1,8 milhões de pessoas sofreram as consequências da falta de chuva, essencialmente no sul de Angola.

"Em termos de impacto dos desastres, o país continua a apresentar uma situação marcada pela ausência ou excesso de água, com secas e inundações que causam danos substanciais anualmente", lê-se no documento.

No período entre janeiro de 2013 e maio de 2014, a província do Bié sofreu especialmente o efeito das chuvas, com quase 15.000 famílias afetadas, logo seguida do Uíge, com perto de 14.000 famílias atingidas.

No plano inverso, Angola vive "com alguma regularidade" ciclos de seca nas províncias do Namibe, Cuanza Sul, Huíla, Cuando Cubango e Cunene, afetando as culturas de massango, massambala, milho e feijão.

"Esta situação leva a que as colheitas nestas áreas sejam negativas. Os pontos de água de escorrimentos superficiais não têm recebido quantidades suficientes de chuvas, antevendo-se uma grande escassez de água nos próximos anos", aponta a revisão do Plano Estratégico de Prevenção e Redução do Risco de Desastres em Angola.

PVJ//APN - Lusa

CERCA DE 3,8 MILHÕES DE EUROS DESVIADOS DO COMBATE À MALÁRIA EM ANGOLA



A Organização Não-Governamental (ONG) internacional The Global Fund concluiu que cerca de 4,3 milhões de dólares (3,8 milhões de euros) em fundos destinados ao programa de combate à malária em Angola foram desviados por dois responsáveis locais.

A conclusão consta do relatório de investigação daquela ONG, que "confirmou as preocupações" anteriores, responsabilizando uma coordenadora das Finanças e o coordenador-adjunto do Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM) pelo desvio, em 2013, para empresas que ambos "detinham ou às quais estavam afiliados de forma próxima".

"Ocultaram os desvios com documentação forjada e informação falsificada para dar às transações uma aparência de legitimidade", aponta-se no relatório da investigação da The Global Fund, com data de 01 de março e ao qual a Lusa teve hoje acesso.

A malária é a principal causa de morte em Angola e até ao momento, aquela ONG, com sede em Genebra, Suíça, já investiu no país, só para combater a doença, 95,4 milhões de dólares (84,6 milhões de euros), fornecendo "aos cidadãos angolanos um acesso universal à prevenção e tratamento", diz a instituição.

Envolvendo ainda o combate à tuberculose e o reforço do sistema de saúde angolano, aquela organização internacional investiu no total 189,2 milhões de dólares (168 milhões de euros), com seis subvenções atribuídas a Angola desde 2005.

No total, esta investigação identificou 4,32 milhões de dólares em utilizações não conformes de fundos de programas financiados por subvenções em Angola, propondo 4,27 milhões de dólares "para possível recuperação".

No documento refere-se ainda que se "trataram de atos desonestos por dois agentes com responsabilidades fiduciárias, para desviar fundos e enganar" o Ministério da Saúde de Angola (MINSA) e aquela ONG "para seu próprio benefício pessoal".

"Durante pouco mais de um ano, conseguiram, sem ser detetados, evitar os controlos internos e externos, manipular os processos internos e roubar uma quantidade significativa de fundos", lê-se.

As verbas em causa foram desviadas, segundo o relatório, para as empresas Gestinfortec, NC&NN e Soccopress, propriedade dos dois responsáveis suspeitos e já ouvidos pelas autoridades angolanas, envolvendo "pagamentos fraudulentos" de materiais de comunicação, equipamentos técnicos e produtos de saúde.

A ONG exige diretamente do Governo angolano a recuperação, até final deste ano, de 3,6 milhões de dólares, tendo recebido já 2,9 milhões de dólares americanos.

"Até à data, o MINSA reembolsou a maioria dos fundos desviados, os indivíduos envolvidos foram retirados dos programas e foi iniciada ação legal. Foram implementadas medidas e sistemas de gestão financeira e controlo interno novas e mais rígidas, e estas serão exigidas para as subvenções novas do MINSA", aponta o relatório.

PVJ// APN - Lusa

MpD venceu. Ulisses: "Agora é o momento de por mãos à obra e mostrar que Cabo Verde tem solução"



Ulisses Correia e Siva festejou em Quebra Canela, na cidade da Praia, a maioria absoluta que recebeu do povo cabo-verdianos. À multidão prometeu que o seu maior combate será contra a pobreza, afirmou, garantindo que "agora é o momento de se por mãos à obra e mostrar que Cabo Verde tem solução".

Durante cerca de 10 minutos fez um discurso efusivo e que contou logo de seguida com praticamente o mesmo tempo em fogo-de-artifício.

A multidão se deslocou à sede nacional do MPD, na Achada Santo António, após o cair da noite para festejar a vitória que se desenhava desceu logo depois para Quebra Canela. Festejou aos berros com Ulisses Correia e Silva a mudança do Governo.

Efusivo mas contido em palavras, Ulisses Correia e Silva agradeceu a expressiva vitória para logo de seguida garantir muito trabalhar. “Agora é o momento de se por mãos à obra e mostrar que Cabo Verde tem solução”, realçou reforçando que o seu maior combate será contra a pobreza.

Prometeu um futuro com segurança e redução da pobreza em todas as ilhas. Aos jovens reafirmou “o que estão à espera”: emprego, educação de qualidade e condições para ter habitação própria.

Agora é o momento de se por mãos à obra e mostrar que Cabo Verde tem solução. E a solução será construída dia após dia, com “visão, liderança e com boas políticas dirigidas à vida das pessoas”, garantiu.

Correia e Silva prometeu à multidão que vai continuar a ser o Ulisses de sempre com “a mesma humildade, generosidade e entrega”.

A Semana

Brasil. POLÍTICA SE RADICALIZA E HÁ PEDIDO PARA LULA SE ABRIGAR EM EMBAIXADA



O acirramento dos ânimos, nas ruas, aponta para momentos ainda mais radicais na vida política brasileira, à medida que as classes trabalhadoras passam a se contrapor ao avanço das forças da extrema-direita na tentativa de prender o ex-presidente Lula

Correio do Brasil, de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo

Parte dos setores progressistas, que luta contra o pedido de impedimento da presidenta Dilma Rousseff e tenta evitar a prisão do ministro-chefe da Casa Civil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a publicar, nas redes sociais durante o fim de semana, que o líder petista deveria buscar abrigo em uma embaixada, na capital federal. A medida serviria para ele não ser alcançado por alguma medida extrema originada na 13ª Vara Federal, conduzida por Sergio Moro, o juiz que determinou a divulgação de escutas após a quebra de sigilos telefônicos nas três esferas de poder da República, sem autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). A presidenta Dilma foi a principal atingida.

Segundo roteiro dos acontecimentos que circulava nas principais redações dos meios de comunicação conservadores, no eixo Rio-São Paulo, nas últimas horas, “Lula será preso nesta semana. Aécio também. Sua carreira política será destruída para dar a ideia de ‘isenção”. Ainda segundo a análise que circula, nas redes sociais:

• O processo de impeachment será rápido se consumindo em menos de 20 dias;

• Armínio Fraga seguirá para o Fazenda e Gilmar ocuparia o Ministério da Justiça. (O juiz) Moro seria indicado para o STF.

• Serra é o grande avalista. E já vem acertando o novo “governo” há pelo menos um mês;

• A lei anti-terrorismo será usada para impedir maiores contestações. Possivelmente os vetos aos aspectos mais autoritários da lei sejam derrubados por esses dias;

• Cunha somente será retirado após o impeachment. ‘Rifado’, em seguida, para passar a imagem de ‘limpeza’.

“Que os deuses tenham piedade do que acontecerá com esse país”, acrescenta o jornalista que divulgou a linha editorial em que trabalham os meios de comunicação ligados à tentativa de golpe, em curso, no Brasil.

O acirramento dos ânimos, nas ruas, aponta para momentos ainda mais radicais na vida política brasileira, à medida que as classes trabalhadoras passam a se contrapor ao avanço das forças da extrema-direita, patrocinadas por interesses internacionais e seus satélites na vida econômica do país, a exemplo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entre outras. Professores, alunos secundaristas e trabalhadores ligados à Educação divulgaram nota, na noite passada, em que apontam para a necessidade de se promover uma greve geral no setor para que possam, em grupo, comparecer às manifestações pela democracia e em favor do mandato presidencial.

Lula é o alvo

Mesmo os organismos internacionais ligados às diretrizes mais conservadoras, no continente, expressam preocupação quanto aos destinos políticos do Brasil. Ciente do extremismo que tenta dominar a sociedade brasileira, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, defendeu a continuação da Operação Lava Jato, mas alerta que nenhum magistrado está acima da lei que deve aplicar e da Constituição, que dá garantias ao seu trabalho. Ele não cita um juiz, especificamente, mas afirma ser “imperativo” o avanço das investigações, dentro dos princípios legais. A OEA é uma das instâncias diplomáticas que reúne representantes de todos os países da região, à exceção de Cuba, e mantém-se alinhado, historicamente, aos interesses de Washington.

Segundo Almagro, o Estado de Direito requer que todos sejam “responsáveis e iguais perante a lei”.

— A democracia não pode ser vítima do oportunismo, mas deve ser sustentada pelo poder das ideias e da ética — afirmou.

O representante da OEA também saiu em defesa da presidenta Dilma Rousseff e criticou as tentativas de tirá-la do cargo sem fundamento jurídico, como o processo de impedimento iniciado na Câmara dos Deputados. Almagro afirma que o mandato deve ser garantido, de acordo com a Constituição e as leis, por todos os poderes do governo e todas as instituições do país.

— Qualquer deterioração da sua autoridade deve ser evitada, de onde quer que venha — disse, em outra alusão ao grampo no telefone da Presidência da República e do ex-presidente Lula.

Almagro reiterou, durante a conversa com jornalistas, que mantém “grande respeito” pela presidenta Dilma e assegura que ela demonstra um claro compromisso com a transparência institucional e a defesa dos ganhos sociais alcançados pelo país.

— Neste momento, a sua coragem e honestidade são ferramentas essenciais para a preservação e o fortalecimento do Estado de Direito — concluiu.

EUA – Cuba. OBAMA E RAÚL ESTABELECEM DIÁLOGO SOBRE PONTOS POLÉMICOS



Uma visita de um presidente dos Estados Unidos ao coração do poder cubano seria impensável antes da reaproximação operada por Obama e Raúl 15 meses atrás

Correio do Brasil, com Reuters – de Havana/Moscou

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, trocará os passeios turísticos pelos assuntos de Estado nesta segunda-feira, segundo dia de sua visita histórica a Cuba, e irá pressionar o presidente cubano, Raúl Castro, a realizar reformas econômicas e democráticas, mas também irá ouvir queixas sobre a manutenção das sanções econômicas norte-americanas.

Obama e Raúl farão sua quarta reunião, provavelmente a mais substancial, no Palácio da Revolução, onde Raúl e seu irmão mais velho e antecessor, Fidel Castro, mantiveram viva a resistência de Havana à pressão dos EUA durante décadas.

Uma visita de um presidente dos Estados Unidos ao coração do poder cubano seria impensável antes da reaproximação operada por Obama e Raúl 15 meses atrás, quando concordaram em encerrar uma disputa nascida na Guerra Fria que durou cinco décadas e continuou mesmo após o fim da União Soviética.

Os dois líderes têm diferenças profundas para debater enquanto tentam reconstruir a relação bilateral.

Em casa, críticos de Obama querem que ele pressione o governo comunista de Raúl a permitir a dissidência política e abrir mais sua economia estatal de perfil soviético.

Seus assessores disseram que Obama irá incentivar a adoção de mais reformas econômicas e de mais acesso à Internet para os cubanos.

– Uma das coisas que estaremos anunciando aqui é que o Google tem um acordo para começar a disponibilizar mais acesso a Wi-Fi e Internet de banda larga na ilha – disse Obama à rede de televisão ABC News em uma entrevista exibida nesta segunda-feira. Ele não deu maiores detalhes, e não foi possível falar com representantes do Google de imediato.

O governo Obama espera ver mudanças também no congresso do Partido Comunista no mês que vem, mas duvida de qualquer abertura política.

Mesmo assim, Obama prometeu conversar sobre liberdade de expressão e de reunião em Cuba. “Irei abordar estes temas diretamente com o presidente Raúl”, afirmou o mandatário ao grupo dissidente Damas de Branco em uma carta de 10 de março.

Raúl já afirmou que Cuba não irá romper com sua revolução de 57 anos, e autoridades governamentais disseram que os EUA precisam encerrar seu embargo econômico e devolver a base naval da Baía de Guantánamo a Cuba para que as duas nações possam usufruir de relações normais.

Rússia

O Kremlin comentou nesta segunda-feira sobre a histórica visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a Cuba, dizendo que é do interesse da Rússia que Havana, sua aliada há muitos anos, tenha boas relações com os EUA.

– Décadas de relações amigáveis ligam Rússia e Cuba – disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, durante teleconferência com repórteres. “Temos interesse que Cuba, amigável a nós, mantenha boas relações com seus vizinhos e acima de tudo com os Estados Unidos”.

Obama foi recebido por uma pequena, mas animada, multidão no domingo, durante o início de uma visita história a Cuba que abriu um novo capítulo de engajamento norte-americano com a ilha, após décadas de hostilidade entre ex-rivais da Guerra Fria.

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