A líder do Bloco de Esquerda vai
avançar para as negociações da aprovação do Orçamento do Estado com a política
fiscal na mira e o IVA da eletricidade de novo para colocar em cima da mesa.
Nesta entrevista TSF-Diário de Notícias, Catarina Martins assume abertura para apoiar o
governo, mas algumas dúvidas das suas intenções.
Esta semana o Bloco de Esquerda
(BE) começou a negociar o Orçamento. Ou também rejeita o termo negociar, como o
PCP?
Não, nós negociamos o Orçamento
do Estado (OE), naturalmente. Dissemos sempre que teríamos abertura para
negociar o Orçamento. O sentido de voto do Bloco de Esquerda depende dessa
mesma negociação. Tivemos uma primeira reunião em que o Governo nos deu conta
daquilo que considera que são os grandes números e a sua visão para o OE. Nós
também demos conta ao Governo daquilo que são as prioridades do BE e as áreas
onde nós achamos que é preciso haver um olhar mais atento, que é preciso haver
mais investimento, medidas de fiscalidade que podem criar alguma justiça na
economia do país. Mostrámos, setor a setor, algumas soluções em que as nossas
posições de partida são muito diferentes. Veremos onde é que este caminho nos
leva.
O BE nesta próxima legislatura
vai assumir que papel? Vai estar mais na oposição ou prefere situar-se agora
também, como na anterior legislatura, numa solução de governo ou de influenciar
a governação?
O Partido Socialista (PS) decidiu
não ter uma solução de maioria parlamentar. O BE estaria disponível para ela,
claro que com um caderno de encargos que, como sempre, teria de ser necessário
discutir. O PS preferiu não ter uma solução de maioria parlamentar e pôr-se na
posição de depois negociar com a oposição, tendo dito sempre que quereria
negociar preferencialmente com a oposição à esquerda. Nós, no BE, também
tivemos sempre essa disponibilidade para negociar. Com a força que temos
faremos um caminho naquilo que possa melhorar a vida do país, e temos muito por
fazer.
Como?
Eu acho que nós estamos a entrar
num período diferente e precisamos de o analisar. Nos últimos quatro anos houve
um acordo, que foi bom termos feito. No BE fazemos uma avaliação muito positiva
desse caminho. Foi um acordo que parou os cortes. Havia a ideia de que não
havia nenhum caminho para a economia e para o país que não passasse por cortar
- nos salários, nas pensões, nos serviços públicos, privatizar, privatizar. Era
um país que ia ficando vazio, vazio de possibilidades económicas, vazio de
gente, e nós fizemos um acordo para travar isso. Foi muito importante, porque
havia mesmo quem acreditasse que os salários e as pensões eram o problema da
economia do país, e provou-se que estavam completamente errados. O problema era
o contrário, é que um país não sobrevive sem a sua própria procura interna, não
sobrevive sem salários, sem pensões. Portanto, a recuperação que se conseguiu,
sobretudo porque se pararam cortes e se recuperou alguma coisa, ainda que
timidamente, foi muito importante não pelo que mudou na vida concreta das
pessoas - quem tem hoje mais do que tinha, quem encontrou o emprego que não
tinha, isso faz uma diferença muito grande -, mas pela economia como um todo.
Ficámos um país mais forte, ainda com muitas fragilidades mas mais forte. Ora
isso já foi feito. Na verdade, nos últimos quatro anos, tendo nós feito esse
caminho de parar os cortes e começar uma recuperação, não fizemos alterações
estruturais na economia portuguesa para termos um país mais equilibrado, mais
justo, e para termos até serviços públicos mais fortes, mais robustos, de que o
país precisa muito. Portanto, do nosso ponto de vista, nestes quatro anos o
nosso debate é sobre como é que temos uma economia mais justa, como é que temos
um país mais robusto. Não estamos já a discutir como é que se param cortes.