sábado, 14 de outubro de 2023

Tiros Mortais no Jornalismo -- Artur Queiroz

Shireen Abu Akleh e Issam Abdallah, jornalistas recentemente assassinados por Israel

Artur Queiroz*, Luanda

A aldeia fronteiriça de Aalma ech Chaab, no sul do Líbano, é uma espécie de sala da imprensa internacional que cobre a guerra. Já foi caserna de tropas ocupantes israelitas em várias ocasiões desde os anos 70. Muitos ataques de artilharia e aviação, muitos mortos e feridos. A fronteira tem 80 quilómetros e nem a inteligência artificial consegue torná-la segura para as populações dos dois lados. O ódio é um factor de insegurança até na sede da Mossad ou da CIA. Nenhum ser humano está seguro quando a política de Estado é odiar.

Ontem os jornalistas foram atacados pelas tropas de Israel apoiadas pelo ocidente alargado até onde for preciso. A equipa da agência noticiosa Reuters foi atingida e Issam Abdallah, repórter de imagem, foi morto. Os jornalistas do mesmo órgão de comunicação social Thaer Al-Sudani e Maher Nazeh ficaram feridos com gravidade.

A viatura do canal de televisão Al-Jazeera também foi atingida deliberadamente. Karmen Bakhindar e o repórter de imagem Eli Brakhia ficaram feridos. Conseguiram falar e foram claros: O local onde estávamos era aberto, com boa visibilidade, as viaturas estavam sinalizadas com a tarja “PRESS” e nós tínhamos os coletes que nos identificavam como jornalistas. O ataque foi deliberado”. 

Ninguém sabe, ninguém fala, ninguém dá esta notícia porque parece mal: Dez jornalistas palestinos foram mortos por Israel durante os seis dias de bombardeamentos à Faixa de Gaza. Mais dois estão desaparecidos. Podem estar soterrados sob os escombros do prédio onde se encontravam. Os Media do ocidente alargado, inclusive a própria Reuters, ignoraram estes crimes hediondos contra a Humanidade. O porta-voz das tropas israelitas diz que “lamenta muito” mas rejeita responsabilidades. Como sempre.

A Human Rights Watch (HRW) estava na zona fronteiriça bombardeada no sul do Líbano e confirmou o ataque deliberado. Também revelou que o bombardeamento incluiu bombas de fósforo branco. A mesma arma está a ser usada na Faixa de Gaza. Mas usar fósforo branco contra qualquer pessoa, civil ou militar, é ilegal. O Direito Internacional diz que as armas incendiárias não podem ser usadas onde os civis estão concentrados.

Israel desmentiu a Human Rights Watch mas as imagens confirmam a utilização das bombas de fósforo branco. Os hospitais recebem muitos civis queimados. Até crianças. O ocidente alargado apoia estes crimes contra a Humanidade. Eu, velho repórter a cair da tripeça, repudio com todas as forças que me restam, os crimes de Israel contra jornalistas. Os matadores não querem testemunhas. Mas não podem exterminar o Jornalismo com a mesma facilidade com que exterminam palestinos.

O regime nazi de Hitler deportou para o campo de concentração de Auschwitz, entre 1940 e 1945, um milhão e 300 mil judeus. Cinco anos de horror e terror. Os seus seguidores sionistas em Israel estão a deportar o mesmo número de palestinos, do norte para sul do campo de concentração da Faixa de Gaza, em 24 horas. Estão a esvaziar a cidade de Gaza. Mas como são bons meninos, deram mais meio-dia. O prazo está quase a terminar à hora que escrevo.  

Para que a Terra não esqueça, lembro mais uma vez: Os nazis mataram um milhão de judeus naquele campo. Vamos ver quantos palestinos vão ser exterminados no final da “operação terrestre” na prisão a céu aberto onde os sionistas enjaularam os palestinos há mais de dez anos. O primeiro ministro sionista Benjamin Netanyahu disse impante e orgulhoso: “Isto é só o início”. Estava a referir-se à limpeza étnica que Israel leva a cabo na Faixa de Gaza, desde o passado domingo. 

O trio assassino Biden, Blinken e Austin foram a Telavive apoiar o extermínio de palestinos. As nazis Úrsula von der Leyen e Roberta Metsola foram a correr, por ordem do estado terrorista mais perigoso do mundo, implorar aos sionistas que matem todos os palestinos. Até onde for preciso! Política oficial da União Europeia.

O rato de sacristia António Guterres, em nome da ONU, disse aos sionistas de Telavive que cercar a prisão da Faixa de Gaza é ilegal. Não podem cortar a água, luz, combustíveis, comida e medicamentos. Vejam lá, podem ser multados! Uma multa de estacionamento. Ou atraso na entrega da declaração dos impostos. Coisa leve. Estão todos conluiados na limpeza étnica que os sionistas estrão a fazer na Faixa de Gaza. Todos unidos no extermínio de palestinos. Já nem sequer disfarçam. É até onde for preciso. 

Sabem o que dá esta política oficial do ocidente alargado sobre a Palestina? Vingança. Ódio. Rios de sangue. Morte de inocentes. Ressentimento até à eternidade. Malcolm X dizia que o maior milagre de Jesus Cristo foi os negros aceitarem conviver com os brancos nos EUA, depois de tantos crimes de ódio, tanto racismo, tanta injustiça contra a comunidade negra. Conheço a região desde o início dos anos 80. Sei que esse milagre não vai acontecer no Médio Oriente e Norte de África. 

O ocidente alargado já matou mais palestinos, líbios, egípcios, tunisinos, iraquianos ou sírios do que Hitler matou judeus. Os refugiados das guerras do estado terrorista mais perigoso do mundo e seus aliados são aos milhões. Os deslocados (pela força das armas) são ainda mais. Quem pensava que o Holocausto nunca mais se repetia, enganou-se redondamente. 

O Holocausto causado pelas bombas atómicas dos EUA sobre Hiroxima de Nagasaki causou 266 mil mortos de imediato. Mais os que morreram ao longo dos anos contaminados pelas radiações nucleares. Holocausto na Palestina. Está em marcha. Os sionistas e o ocidente alargado vão matar até onde for preciso: O extermínio. O mundo assiste, no conforto dos sofás, através dos canais de televisão, a uma limpeza étnica que já não se via desde as Cruzadas. A palavra Paz agora é pornográfica. A Humanidade perdeu para sempre a honra.

Guterres da ONU e Borrell da União Europeia entram no jogo da forma mais repugnante possível. Ambos condenam Israel por apenas dar 24 horas à deportação de palestinos do norte para o sul de Gaza. Os dois exterminadores engravatados dizem que é pouco tempo para esvaziar a cidade de Gaza, onde estão 1,2 milhões de habitantes. Pior é impossível. Eles não condenam a limpeza étnica, o extermínio, a deportação. Apenas acham que os deportados precisam de mais tempo. Os países da União Europeia, os Estados da ONU são coniventes porque ficam em silêncio ante tão graves crimes contra a Humanidade.

Notícia do Jornal de Angola: “Ministro convida embaixador israelita para analisar situação no Médio Oriente”. Que ternura convida! O representante de Israel em Luanda insultou o Chefe de Estado João Lourenço. Ingeriu nos assuntos internos de Angola. O ministro Tete António tinha que reagir. O Ministério das Relações Exteriores anunciou: “O embaixador de Israel foi convocado pelo chefe da diplomacia angolana na sequência de declarações proferidas à imprensa, relacionadas com o estado actual da situação reinante no Médio Oriente, com particular destaque para o conflito israelo-palestiniano”. 

O abusador levou um puxão de orelhas. Mas tinha que ser imediatamente expulso. Angola não é a Faixa de Gaza ou a Cisjordânia. Os sionistas, seus chefes do estado terrorista mais perigoso do mundo, britânicos, grandes potências europeias, foram todos derrotados em Angola pelas gloriosas FAPLA. Apesar do apagão geral, lamento informar os “acomodados” que milhares de angolanas e angolanos participaram na Luta Armada de Libertação Nacional e nas guerras pela Soberania e a Integridade Territorial. Elas e eles andam por aí. O embaixador de Israel e outros abusadores que se cuidem.

A pornografia anda à solta. O pudor acabou. A Procuradoria-Geral da República deu uma notícia sensacional: Ganhou o prémio de recuperação de activos Financeiros nas Ilhas Maurícias! Essas e esses do Tribunal Constitucional são mesmo matumbos. Os outros dão-nos prémios. Os nossos tiraram-nos a gasosa de dez por cento. Venha daí de novo a mama!

Pensar faz bem. Se a PGR não recebesse gasosa de dez por cento dos “activos recuperados” provavelmente o Estado Angolano ainda tinha que pagar a quem desvia o kumbu. Agora que acabou a gasosa de dez por cento, vamos ver quantos activos Pita Grós e sua turma vão recuperar. Abaixo de zero. E os “activos recuperados” que ainda estão nos Tribunais podem voltar aos seus proprietários. Juízes sem gasosa podem absolver em vez de condenar.

Isto vai acabar mal. Os amigos do Procurador-Geral da República e da senhora da recuperação de activos podem começar a juntar volumes de cigarros, garrafas de uísque e outros “activos” viciosos para lhes levarem à prisão de Viana.

*Jornalista

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