quinta-feira, 6 de agosto de 2015

GUERRAS E RECESSÃO: AS PROMESSAS DA PAX NORTE-AMERICANA




Os países que resistem aos imperativos do capital é que estão no começo de um novo ciclo, de construção de um mundo baseado na solidariedade.

Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir

O mundo sofreu sua virada mais radical em muito tempo com a passagem da bipolaridade à hegemonia unipolar norteamericana. Poucas décadas foram suficientes para que saibamos que o fim da “guerra fria” não foi o fim das guerras mas, ao contrário, sua multiplicação, sob vorazes ofensivas imperiais norte-americanas. Civilizações inteiras foram destruídas – como as do Iraque, do Afeganistão, da Síria -, enquanto os EUA se reivindicam a responsabilidade de ser a polícia do mundo e guerras sem fim, focos de conflitos, se multiplicam

Mas a hegemonia imperial norteamericana e o fim do mundo bipolar tampouco levaram a que a globalização do sistema capitalista conduzisse o mundo à estabilidade e à expansão econômica. Não bastasse o desempenho frágil da economia capitalista nas últimas décadas do século XX, desde 2008 o centro do sistema se encontra em profunda e prolongada crise recessiva, da que não se sabe quando poderá sair, levando à destruição do que ainda existia do sistema de bem estar social na Europa e a níveis recordes de desemprego.

Essa é a utopia que o sistema capitalista e imperial propõe ao mundo? Foi em nome desses cenários de guerra e de crise econômica que se propõe a destruição de tudo o que se lhe opunha? Para isso foi imposto o reinado do mercado e da superioridade bélica dos EUA? É com esses objetivos que a Europa se propõe a destruir seu passado fundado nos direitos sociais? É a isso que os EUA convidam a que países participem de seus tratados de livre comércio?

Esse mundo miserável, fundado no poder do dinheiro e das armas, sim, que é um fim de ciclo. Os países que resistem é que estão no começo de um novo ciclo, de construção de um mundo baseado nos direitos para todos e na solidariedade.

Por tudo isso é que a lua-de-mel da hegemonia unipolar norteamericana durou pouco. Os Brics, a China, a Rússia, os governos progressistas da América Latina – são elos de um mundo economicamente multipolar e que começou a instalar uma geopolítica baseada de novo na bipolaridade mundial.

A recessão no centro do capitalismo pressiona a todos os países, mas o resto do mundo não entrou em recessão profunda e prolongada como acontecia no passado. Os EUA não puderam invadir a Síria e atacar militarmente o Irã. Os EUA continuam como a maior potência no mundo atual, mas já encontra limites que já não pesnava ter quando triunfou na guerra fria.

O mundo marcado pela hegemonia imperial norteamericana é um mundo de guerras e de recessão. Faz falta que a Europa se dê conta disso e, como faz o novo candidato a líder do Partido Trabalhista britânico, de que deve deixar de seguir a política externa dos EUA para, aísim, se sentir mais segura. Faz falta que outro modelo econômico que não o da austeridade, seja assumido por países europeus. Os Brics apontam para outra geometria política, econômica e militar no mundo. Com quem estará a Europa?

A América Latina já contribui a esse mundo multipolar, com o Mercosul, Unasul, Celac, com a participação direta do Brasil nos Brics e com os acordos assinados por países da região com os Brics, com a China e com a Russia. Os EUA já não contam com seu antigo pátio traseiro. O México sangra por todos os seus poros ao pagar o preço da reiterada submissão ao vizinho do norte. A Europa retrocede, com a austeridade. O Iraque e o Afeganistão foram destruídos pela ocupação militar dos EUA.


O século XXI é o cenário de luta por uma nova hegemonia mundial, compartilhada, democrática, consensual, de negociações para as soluções dos conflitos, de uma economia baseada nas necessidades de todos e não nos imperativos do capital especulativo.

GUINEENSES MANIFESTAM-SE JUNTO À PRESIDÊNCIA EM APOIO À PAZ E AO GOVERNO (fotos)




Como dizia a voz que animava o carrocel nas feiras: Mais uma voltinha, mais uma viagem. Seguindo  a voz do carrocel das feiras em Portugal, damos mais uma voltinha na página de António Aly Silva em Bissau. Mais concretamente no Ditadura do Consenso, da Guiné-Bissau.

E então como vai o carrocel e a feira das vaidades presidenciais da Guiné-Bissau? Perguntamos. A resposta foi dada pelo primeiro-ministro Simões Pereira e é também dada pelos guineenses que esta noite se estão a manifestar a favor da estabilidade do país com o atual governo. Em baixo o testemunho apresentado numa fotografia de António Aly Silva no Ditadura do Consenso. Pode ler~se:




O povo, militares e civis, parece não estar pelos ajustes com a instabilidade que o atual PR tem vindo a semear no país. num claro - mas hipocritamente desmentido - exacerbado antagonismo para com o atual chefe do governo, Simões Pereira.

Militares estão a participar na manifestação silenciosa com os civis, junto ao Palácio da República, em Bissau. A foto em baixo repete o testemunho anterior, do mesmo autor. “Acaba de chegar mais um grupo de tropas…” - informa Aly Silva no Ditadura do Consenso. 

O objetivo é ver concretizado o desejo de que a paz seja preservada na Guiné-Bissau. Basta de tanta criminalidade por parte das elites políticas e militares. Basta de tanto roubo a um país e um povo que desde a independência anseia pela estabilidade que só a paz pode proporcionar. Sem conseguir.

Os guineenses vêm demonstrando que querem este governo, este primeiro-ministro. Assim afirmaram nas eleições. Quanto ao PR… provavelmente em Bissau há mais um terrorista na Presidência da República. Se não é… parece.




Acompanhe no Ditadura do Consenso (curto e grosso) o evoluir da perigosa situação que o PR guineense engendrou. Falta ainda perceber com clareza por quê. 

Fotos de Aly Silva - Redação PG

Preto no branco. PM guineense vai lutar contra "intenção deliberada" do PR derrubar o Governo




O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, anunciou hoje que vai recorrer a todos os mecanismos legais para lutar contra a "intenção deliberada" do Presidente da República, José Mário Vaz, de derrubar o Governo.

"Há uma intenção deliberada de provocar uma crise para justificar a decisão de destituição do Governo", referiu Simões Pereira numa declaração ao país feita no Palácio do Governo após reuniões com diplomatas e líderes partidários com assento no parlamento.

O primeiro-ministro classificou a ação do Presidente como "uma falta grosseira de ponderação sobre as implicações e o alcance de tal medida para ordem interna e estabilidade", após as eleições gerais de 2014, "além de ser um rude e traiçoeiro golpe à esperança que a todos tem animado".

"Todos os mecanismos e dispositivos legais e democráticos serão mobilizados para preservar a ordem e evitar a interrupção desta caminhada do país rumo à paz e ao desenvolvimento", referiu, numa alusão à estabilidade política conquistada no último ano com o apoio da comunidade internacional.

De acordo com o primeiro-ministro, os temas alegados pelo Presidente para o desentendimento têm a ver com uma remodelação governamental, gestão de fundos da mesa redonda de doadores e regresso ao país do contra-almirante Zamora Induta, antigo chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas.

Simões Pereira pormenorizou cada tema, explicando que o Governo foi até onde podia ir para se encontrar com a vontade de José Mário Vaz, queixando-se ainda de haver desinformação no Palácio da Presidência.

O primeiro-ministro garante que procurará "a responsabilização política e judicial do autor de atos que ponham em causa a ordem interna e a estabilidade do país".

Ao mesmo tempo, no Palácio da Presidência, Vaz continua esta tarde a realizar audições com líderes partidários.

Lusa, em RTP

Angola. Diamantífera australiana alarga concessão para 1.500 quilómetros quadrados




Na mesma área geológica dos diamantes de Catoca, a parceira da Endiama terá uma área "significativamente alargada".

A diamantífera australiana Lucapa anunciou hoje que a área de exploração que lhe está atribuída pelo Estado angolano na concessão do Lulo, no interior do país, foi "significativamente alargada", para 1.500 quilómetros quadrados.

De acordo com um comunicado divulgado por aquela multinacional, a informação foi transmitida à empresa, que detém desde Novembro de 2014 a concessão para a actividade de exploração diamantífera, por 35 anos, ao longo de 218 quilómetros quadrados no aluvião do Lulo, pelo Ministério da Geologia e Minas.

A Lucapa integra a Sociedade Mineira do Lulo e explica que área de exploração agora alargada (para 1.500 quilómetros quadrados) representa metade de toda a concessão do aluvião do Lulo, na província angolana da Lunda Norte.

A prospecção artesanal já realizada localmente aponta para o "alto" potencial desta área na produção de diamantes, refere ainda a Lucapa, acrescentando que a concessão agora alargada é válida por "pelo menos dez anos".

"Foi atribuída [a concessão adicional, pelo Governo angolano] à Lucapa e aos seus parceiros sem nenhum custo adicional", refere a mesma informação, com a multinacional australiana a esperar "resultados positivos" desta extensão.

Após seis anos de prospecção na zona, a exploração no Lulo arrancou este ano, no âmbito de um contrato para a concessão da produção naquela área (238 quilómetros quadrados) válido por 35 anos. Na fase anterior, a Lucapa tinha já anunciado a descoberta de diamantes de grandes de dimensões.

Esta nova mina diamantífera no aluvião do Lulo produziu 1.317 diamantes entre Janeiro e Março, tendo a empresa como parceiros angolanos neste projecto a estatal Endiama e o grupo privado Rosas & Pétalas.

Anteriormente, na fase de prospecção que se prolongou durante seis anos, a empresa extraiu da área do Lulo 876,5 quilates, trabalhos que renderam, por si só, seis milhões de dólares (5,5 milhões de euros).

A concessão do Lulo dista 150 quilómetros da mina de diamantes de Catoca, a maior de Angola e quarta maior do género em todo o mundo, estando ambas localizadas na mesma área geológica. Envolve uma área específica de 218 quilómetros quadrados, incluindo mais de 50 quilómetros ao longo do rio Cacuilo.

Os diamantes constituem o segundo principal produto de exportação por Angola, a seguir ao petróleo.

Lusa, em Económico

Angola. “SOU CONTRA A POLÍTICA DOS INTERESSES” – Ana Gomes em entrevista




Durante a visita a Luanda, Ana Gomes lançou fortes críticas ao MPLA mas também a alguns dos seus congéneres europeus.

Miguel Gomes (texto) e João Ana (fotos) - Rede Angola

A eurodeputada Ana Gomes (representante eleita pelos cidadãos portugueses para os representar no Parlamento Europeu, que congrega representantes dos 24 países-membros) esteve a visitar o país durante a última semana. O objectivo principal, como conta a militante do Partido Socialista português ao Rede Angola, era avaliar a situação em termos de direitos humanos e sentir o pulsar do país em ano de contenção orçamental.

A estadia ficou envolta em polémica. Alguns membros do governo, como por exemplo Ângelo Tavares (ministro do Interior), chegaram mesmo a falar em ingerência da eurodeputada nos assuntos internos de um país soberano. Analistas políticos atacaram em rede nacional (rádio e televisão) a visita da diplomata portuguesa.

A prisão, há mais de um mês, de 15 activistas, em Luanda, aqueceu os ânimos. Já nas últimas horas em Luanda, Ana Gomes aceitou sentar-se com o Rede Angola e lançou fortes críticas ao MPLA mas também a alguns dos seus congéneres europeus.

Gostaria que nos explicasse as razões que a trouxeram, durante uma semana, a Luanda.

Ao longo da minha vida nunca vivi em Angola. Mas tenho um marido que viveu, como diplomata (duas vezes), e que é muito amigo de Angola. Tenho muitos amigos angolanos que já vêm do tempo da luta contra a ditadura colonial-fascista. A minha militância vem dos comités de luta anti-colonial antes do 25 de Abril. Sempre tive um particular empenho no processo de construção das democracias dos países independentes que saíram do 25 de Abril. Por isso, Angola foi sempre um país central, até pela ligação pessoal.

Em que altura o seu marido viveu em Angola?

O meu marido foi Cônsul-Geral de Portugal, em Luanda, entre 1986 e 1989 e depois foi membro da Comissão Conjunta Político-Militar no processo de paz (1991-1992). Quer por via das ligações pessoais, como por via da militância política, e enquanto responsável do Partido Socialista (PS) português pelas Relações Internacionais, escolhi Angola como primeiro país a visitar. Era uma oportunidade extraordinária porque começava a paz e abriam-se caminhos de construção democrática extraordinários. Portanto, como responsável do PS propus que apoiássemos a entrada do MPLA na Internacional Socialista (facto que veio a acontecer em Novembro de 2003). Apoiar Angola naquela fase foi uma escolha política pessoal. Depois, já como eurodeputada, vim ao país como observadora nas eleições de 2008. Vim também a uma assembleia parlamentar conjunta África, Caraíbas e Pacífico (ACP)-UE e acompanhei o processo angolano. No Parlamento Europeu é natural que outros países se voltem para nós porque temos muita informação sobre Angola. Há dois anos fiz um relatório sobre Corrupção e Direitos Humanos e o caso de Angola foi um dos casos que deu forma ao relatório (não foi o único exemplo, naturalmente). Dada a importância que Angola vem assumindo, em Portugal, por via do controlo económico, naturalmente que me fui sempre interessando por Angola. Há muitos anos que não vinha cá, desde 2009, e pensei que agora era a oportunidade de voltar.

“Quis conhecer vários aspectos da realidade angolana e falar com os meus amigos, de todos os quadrantes, sobretudo do MPLA.”

Qual foi a organização que a convidou e quais foram os motivos que a levaram a marcar a estadia para os últimos dias de Julho?

Recebi um convite da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD). Considerei e fiquei a ver quando poderia vir. Não se vem a Angola por três dias. Vim por uma semana e estou a utilizar as minhas férias para esta visita. Entretanto, aconteceram outros factos que me levaram a pensar que era importante vir o quanto antes: falo das informações que fui tendo sobre o caso Kalupeteka e da própria prisão dos “revús” – que aconteceu já depois do convite me ter sido formulado.

Ou seja, temos aqui um conjunto de pretextos que validam a sua visita.

Sei que houve um governo que me acusou de ter vindo para a manifestação [de quarta-feira, 29, em Luanda].

E o que tem a dizer sobre essa acusação?

Soube que estava marcada uma manifestação quanto me sentei no avião a caminho de Angola, ao ler a imprensa portuguesa. Nunca faria esse favor aos sectores que gostariam de “deslegitimar” a manifestação dizendo que era uma orquestração externa. Mas, por acaso, passei pelo Largo do 1º. de Maio quando vinha do encontro com o ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa, e vi a contra-manifestação organizada pelo MPLA. Fotografei e tudo. Fiquei furiosa… Furiosa não é o termo: fiquei incomodada. Porque é uma manifestação de arrogância, é uma manifestação de um comportamento flagrantemente anti-democrático (ao ocupar o espaço requisitado por um grupo de cidadãos para se manifestar) e de aceno com o papão do regresso à guerra, como vi os dirigentes do MPLA fazer. E que me deixou realmente muito incomodada.

Teve oportunidade de falar com o ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa, sobre estes assuntos?

Sim.

A conversa será naturalmente reservada mas que pormenores nos pode contar?

Bornito de Sousa e Rui Mangueira (ministro da Justiça e Direitos Humanos) são personalidades que conheço e de quem sou amiga. Convivi bastante com Bornito de Sousa no quadro da assembleia parlamentar ACP-UE. O ministro Rui Mangueira foi meu colega, enquanto diplomata, em Genebra (Suíça) e em Londres (Inglaterra). Trabalhámos muito. Foram conversas úteis, francas, em que debatemos todas as questões que foram abordadas. Houve outros encontros que não se concretizaram (com os titulares das Relações Exteriores e do Interior) porque os ministros estão fora do país. Eu sou muito franca naquilo que discuto com os ministros e os meus argumentos não são muito diferentes daqueles que utilizo cá fora. Oiço as explicações e faço uma leitura sobre o que me é dito, naturalmente. O meu objectivo nesta visita é, além dos contactos com o governo, falar também com membros da sociedade civil e activistas de direitos humanos, estudiosos da situação económica e outras organizações envolvidas em projectos patrocinados pela UE – ontem à noite [a conversa foi gravada dia 31 de Julho, sexta-feira] fui fazer uma ronda de apoio às crianças de rua e hoje visitei o centro do Padre Arnaldo Janssen. Quis conhecer vários aspectos da realidade angolana e falar com os meus amigos, de todos os quadrantes, sobretudo do MPLA. Estive também com Isaías Samakuva (UNITA) e Justino Pinto de Andrade e Filomeno Vieira Lopes (dirigentes do Bloco Democrático). Fiz o que acho que é possível fazer numa semana.

Chegou a visitar algumas zonas fora da capital?

Infelizmente, não deu para sair de Luanda mas a estadia deu-me uma boa medida da percepção das pessoas, em Angola, em relação à actual situação, quer no plano dos direitos humanos, quer no plano económico. Tudo isto me interessa. Porque cada vez mais, ao trabalhar na área dos direitos humanos, entendo que a forma adequada de prosseguir este combate tem de estar interligada com as questões económicas e com o combate à corrupção e à criminalidade económica. No Parlamento Europeu o trabalho é feito na Comissão de Liberdades Públicas, Justiça e Assuntos Internos. Estou também na comissão de inquérito sobre a fiscalidade, que foi levantada pelo escândalo “LuxLeaks”e fui co-redactora da nova directiva europeia contra o branqueamento de capitais. Todos estes aspectos são muito importantes para a acção que eu entendo desenvolver no combate à corrupção e contra o branqueamento de capitais a nível europeu.  Em tudo isto há óbvias implicações com Angola, dado o relevo que o país tem em Portugal.

“Pelas conversas que tive com os membros do governo posso concluir que há um grande desfasamento entre o discurso oficial, até nas justificações que são dadas sobre os diversos casos, e a realidade.”

Teve a oportunidade de lidar e conversar com uma panóplia alargada de angolanos – partidos políticos, membros da sociedade civil, ministros, familiares dos 15 jovens detidos, jornalistas. Qual é o sentimento que leva?

É um sentimento de maior preocupação do que aquele com que cheguei. Porque agora tenho mais detalhes da deterioração no que diz respeito às liberdades e garantias democráticas. Também tenho uma melhor noção do impacto da crise económica na classe média angolana, que tem sido duramente afectada. E isso não pode deixar de se repercutir em termos democráticos. Sobretudo nas repercussões que tem no bloqueio do sistema político angolano. Penso que a situação está politicamente bloqueada sob vários aspectos. Vários angolanos, de vários quadrantes, incluindo do próprio MPLA, deram-me a entender isso.

Quais são os principais bloqueios, na sua opinião?

Pelas conversas que tive com os membros do governo posso concluir que há um grande desfasamento entre o discurso oficial, até nas justificações que são dadas sobre os diversos casos, e a realidade. Por exemplo, o discurso oficial é que os “revús” foram presos em actos preparatórios de uma subversão e de um golpe de estado. Não há ninguém, além dos governantes, que acredite que estes jovens estão envolvidos num golpe de estado. Pelo contrário, muitas pessoas dizem-me que os “revús” primam pela desorganização. Este desfasamento entre a versão oficial, a realidade e a percepção dos cidadãos é muito preocupante. Ouvir governantes a defender (já aconteceu em público e também já aconteceu comigo pessoalmente) a apropriação ilícita de capital devido a direitos divinos relacionados com o seu papel na luta armada parece-me revelar um grande alheamento da realidade. Porque, mais do que nunca, oiço vozes a pedir contas à governação angolana.

Confidenciou-nos que um dos ministros fez questão de lhe dizer que as redes sociais tinham sido palco de uma onda de grandes especulações sobre a visita do Presidente da República à China e respectivos compromissos. A especulação não será consequência da falta de informação concreta e fiável?

Essas especulações só existem porque o poder político não presta informações. Nem sequer o faz junto da Assembleia Nacional e muito menos da administração pública. Este desfasamento total entre o discurso oficial e a percepção dos cidadãos comuns, a diferentes níveis, leva-me a pensar que o sistema está bloqueado. O facto das pessoas não saberem se o Presidente da República se vai recandidatar, ou não, é outro exemplo da falta de sintonia dentro do sistema político.

Em primeira instância, pelo menos, essa será uma decisão interna do MPLA. Questionou os ministros e membros do partido com quem falou sobre esse tema?

Não, penso que não seria fácil abordar este assunto abertamente, sobretudo com a presença da equipa ministerial que os responsáveis tinham ao seu lado. Mas abordei o tema com outras pessoas. Abordar esse assunto abertamente e sem tabús, seja qual for o sector da sociedade, tem sido um grande problema. Senti que dentro do próprio MPLA muita gente considera que a situação está bloqueada. Até porque boa parte das vozes com autoridade dentro do partido está manietada. São, de alguma maneira, cúmplices do estado de coisas.

E quem não está acomodado também não tem peso institucional para liderar um debate deste género dentro do MPLA.

Exactamente. Ainda por cima o espaço para a oposição, por muito relevantes que sejam as suas chamadas de atenção, também está completamente cerceado. Vejo muita apreensão exactamente por este bloqueio. Incluindo a questão da sucessão de José Eduardo dos Santos – a lei da vida imporá essa sucessão a qualquer momento. Vejo as pessoas muito preocupadas sobre como se fará a transição.

“O fim da guerra e, por outro lado, o espaço de desenvolvimento pessoal e empresarial que a paz permite mostra a resiliência, a capacidade e o trabalho da sociedade angolana.”

Também é um facto que a sociedade angolana está a viver a passagem de uma sociedade marcada pela guerra e pela destruição social e económica para uma outra fase do país. Há uma série de dinâmicas sociais que nos levam a esta conclusão. Os jovens, sobretudo, começam a exigir e a confrontar a governação. 

Penso que houve uma euforia no tempo em que o preço do petróleo esteve elevado. Os recursos do Estado, apesar de serem grosseiramente apropriados por uns poucos, ao mesmo tempo iam deslizando para um amplo sector da classe média. E havia toda uma promessa de melhorias sociais. Acho é que, hoje, a crise económica bateu forte e a classe média é a mais fustigada, em particular pela crise de divisas numa sociedade que vive completamente da importação. É claro que todo o processo de diversificação e qualificação dos quadros angolanos nunca seria fácil. E também não poderia ser feito de um dia para o outro por muita força de vontade e estratégia política nesse sentido. O problema é que as pessoas dizem-me que se essa estratégia existiu nunca passou do papel.

Fizeram-se algumas coisas: há uma nova rede de estradas, novos aeroportos, muito mais alunos a frequentar o sistema de ensino, novas universidades.

Sim, mas toda a gente me diz que essas infra-estruturas têm problemas sérios de manutenção. Todos estes prédios faustosos que se vêem em Luanda estão vazios. E dizem-me que se criou uma bolha imobiliária e que o investimento principal na qualificação das pessoas não foi devidamente acautelado.

Também há muitas cidades, sobretudo no interior e em províncias menos habitadas, que estão bastante diferentes daquilo que eram há dez anos.

Sem dúvida. O fim da guerra e, por outro lado, o espaço de desenvolvimento pessoal e empresarial que a paz permite mostra a resiliência, a capacidade e o trabalho da sociedade angolana.

“Há aqui tremendos problemas de governação económica que estão a ser questionados pela classe média angolana.”

Já falámos das dinâmicas e das novas gerações que clamam por mudança. Isto choca com um governo do MPLA que, quer pela prática enraizada ao longo de décadas no poder, quer pela longa liderança, representa uma outra época? 

Por isso mesmo é que lhe digo que se isto continuasse em período de “vacas gordas” se calhar haveria menos incentivos ao questionamento. Os revús, que, agora são o assomo da sociedade pela falta de liberdade e contra uma sistema totalitário, ficariam confinados. Mas hoje os “revús”, pelo que percebo, representam muito mais para a sociedade devido aos problemas recentes – porque vêm a público dar a cara e mobilizar as pessoas para contestar o poder. Ainda não de forma organizada mas as pessoas já não têm medo de falar. E têm falado comigo.

E o que lhe têm dito?

Que no período de “vacas gordas” os rendimentos do petróleo foram enormes. Onde estão esses valores? Ninguém presta contas. Enquanto isto há uns nababos a viver na opulência e na ostentação. E há pessoas a passar fome na periferia de Luanda. E há centros, como o do Padre Arnaldo Janssen, que têm financiamento da UE mas não têm financiamento do Ministério da Assistência e Reinserção Social (MINARS), que no entanto manda para lá crianças. Há aqui tremendos problemas de governação económica que estão a ser questionados pela classe média angolana. É preocupante ver o governo com um discurso completamente desfasado da realidade, com teses que ninguém compra na opinião pública, de quem as pessoas se riem e escarnecem. O governo está inseguro e tem cometido erros. A prisão dos revús só pode ser um tremendo erro. Se houve uma estratégia da inteligência ou da segurança para prender os revús quem a delineou é muito tosco. Porque, obviamente, é um tremendo erro. Só transforma os revús em heróis de um sentimento popular muito forte e que cada vez mais exige prestação de contas.

“Há os vendidos aos interesses económicos, que vão a ditaduras dizer que elas são democráticas só para fazerem contratos de petróleo e outros negócios.”

Neste cenário, neste contexto que acabamos de analisar, qual é o papel da UE em Angola?

É muito limitado. Por um lado porque a UE, nos últimos dez anos, teve boa parte da sua intervenção em Angola liderada pelo ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que era o principal apoiante e desculpador do regime angolano na Europa. Basta ver que, quando veio a Angola, respaldou o regime dizendo que não era preciso fazer uma missão europeia de observação eleitoral (para as eleições de 2012) porque Angola já era uma democracia madura. Obviamente que era um insulto à inteligência das pessoas.

Mas não é só Durão Barroso. François Hollande, presidente francês, que não é propriamente da mesma família política de Durão Barroso (que é social-democrata enquanto Hollande é socialista) veio recentemente a Luanda e aceitou não responder a perguntas dos jornalistas e não fazer declarações sobre direitos humanos.

O senhor Durão Barroso é representativo de uma intervenção europeia que não toca apenas em Angola. Veja-se a crise das migrações. É um exemplo da falta de apego aos princípios europeus. É um exemplo da política sem princípios, que põe os interesses económicos e os negócios à frente de tudo o resto. E que se esquece das lições da História. É uma deriva que está a ser perigosa, não apenas para a credibilidade da UE aos olhos de cidadãos como os angolanos, mas aos olhos dos próprios cidadãos europeus. São estas pessoas que estão a comprometer o processo europeu, como a crise na Grécia tem demonstrado.

Angola vive basicamente do petróleo. Quem faz a extracção e a comercialização de crude (Angola apenas tem uma refinaria, em Luanda, ainda do tempo colonial) é a Sonangol. Mas sempre em parceria com grandes empresas americanas, francesas, italianas, portuguesas, chinesas. São as empresas ocidentais, na sua maioria, que operam os blocos petrolíferos angolanos. Tudo depende deles. Há muitos angolanos que se perguntam: afinal o que é a UE?

Assim como há gente corajosa e persistente em Angola, que não deixa o MPLA desvirtuar os direitos fundamentais consagrados na Constituição, também na UE há todo o tipo de gente. Há os vendidos aos interesses económicos, que vão a ditaduras dizer que elas são democráticas só para fazerem contratos de petróleo e outros negócios. E há aqueles que se batem pelos princípios, pelos valores e que utilizam todos os mecanismos para de facto fazerem valer esses princípios. Não só na UE como fora dela. Por exemplo, não é por acaso que nos últimos anos tenho vindo a trabalhar cada vez mais na área da segurança interna e externa e na área do combate ao terrorismo, branqueamento de capitais e ao crime económico. Garanto-lhe que por essa via vamos sanear o que é preciso ser saneado nos esquemas de branqueamento de capitais a que o sistema financeiro europeu se prestou. É por essa via que pretendemos influenciar o que se passa noutros países que se relacionam com a Europa, como por exemplo Angola. Não é por acaso que vocês chamam a Portugal “a lavandaria”. Ou não chamam?


Hoje em dia, a ideia que me fica (mesmo sendo uma consideração pessoal) é que o regime angolano é bastante querido junto das principais praças do poder internacional. Temos alguns exemplos: a Espanha (independentemente do partido no governo) é um aliado tradicional do MPLA desde os primeiros dias de independência, a Itália também (a ENI é um dos maiores investidores no sector petrolífero), Angola é dos principais, se não o principal, fornecedor africano de petróleo aos EUA e acabou de ser eleito membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A eleição aconteceu e não ouvimos uma única crítica negativa internacional, de qualquer governo, sobre o facto. Mas se recuássemos, por exemplo, 20 anos, os ataques internacionais teriam surgido de diversas origens. Estando o governo alinhado com o grande poder internacional, como está actualmente, os direitos humanos passam logo para a última das preocupações externas. Concorda?

Acho que isso está relacionado com a degeneração do poder na Europa. E tem repercussões. Há uma interligação. Mas, na Europa, temos cada vez mais posturas deste tipo à conta das teses neo-liberais, que têm dominado governos compostos por gente sem sentido de Estado. Fazem políticas de curto prazo para serem eleitos nas próximas eleições e estão, muitas vezes, ao serviço de interesses económicos. E não ao serviço do interesse público em geral. É contra isso que eu combato, em todo o lado. É por isso que faço as denúncias na Europa e é por isso que me empenho contra o branqueamento de capitais e contra a criminalidade económica. Faço-o por perceber as implicações na Europa e num país como Portugal. Não o faço apenas sobre Angola. Também queremos combater outros esquemas de lavagem de dinheiro que sejam altamente predadores de recursos, de países e de sociedades como a angolana. Eu não sou contra os negócios e o empreendedorismo – desde que feitos de forma leal e no total respeito pelas leis. E não na base da apropriação ilícita e do branqueamento de capitais. Há um saneamento a fazer em Portugal, como aliás o caso BESA e os restantes casos que ocorreram no sistema financeiro português (BPN, Banif, entre outros) demonstram.

Mas a UE continua a ter uma relação muito boa, de “portas abertas”, de protecção, com a Suíça (só para citar um exemplo concreto). A Suíça tem sido um país claramente conivente com o crime económico e com o branqueamento de capitais.

Já não é tanto como era e estamos a trabalhar no sentido de controlar isso.

A Suíça não tem um único comentário negativo sobre direitos humanos. É largamente considerado como um grande país.

Não conheço concretamente essa realidade. Mas posso dizer-lhe que, boa parte dos nossos trabalhos, vão no sentido de apertar a legislação e os mecanismos de controlo contra o branqueamento de capitais. E vão incidir fortemente sobre a Suíça. Mas há outros países da UE que funcionam como destino de fundos ilícitos, a começar por Portugal ou a Holanda. Há uma concorrência, uma selva fiscal, que favorece estes esquemas. Estamos a mobilizar-nos contra isto. Como lhe digo há um combate terrível entre os que querem fazer negócios de forma sã, com respeito pela concorrência leal e pelo cumprimento das leis e aqueles que vivem dos buracos escuros da criminalidade e da legalidade.

É diplomata de carreira. Actualmente, a teoria académica e mesmo o lugar comum na análise política, diz-nos que os países não têm relações de proximidade ou amizade mas relações assentes em supostos “interesses”. O conceito abre espaço para questionar a doutrina de valores e as relações inter-pessoais fraternas. Qual é a sua opinião sobre a “diplomacia dos interesses”?

Repugna-me. Sobre a academia não tenho opinião porque já sou de outro tempo. Sou de um tempo em que os valores e o sentido ético eram muito fortes. É por isso que faço dos direitos humanos uma orientação de vida. E uma orientação de vida política. Como diplomata pude fazer isso. Tive a sorte de ter estado directamente envolvida no apoio português à independência de Timor Leste. Foi representativo de uma política externa de princípios e que valorizou a ética e os direitos humanos. Timor Leste deu aos portugueses um capital de credibilidade. Mas estivemos sempre a combater com os interesses presentes na Indonésia. Mesmo dentro de Portugal havia vozes que defendiam uma certa neutralidade em relação à Indonésia porque é uma potência muito forte. E que o importante era não chatear a Indonésia e fazer negócios com eles. Havia portugueses com esta perspectiva. Esse combate agravou-se nos últimos anos graças às teses neo-liberais que imperam no sistema económico. E que nos trouxeram a crise económica global. Não sou apenas eu que o digo: o Papa tem denunciado o sistema económico voraz. Onde os princípios da dignidade humana estão esquecidos e os interesses predadores determinam tudo. Sou contra esse tipo de política. Sou contra a política dos interesses.

O RUÍDO DOS ARTISTAS



Jornal de Angola, editorial

Todos somos livres de exprimir as nossas opiniões, mas todos temos de ser suficientemente responsáveis para as assumir.


Em reacção à detenção pelas autoridades do grupo de indivíduos acusados do crime de subversão contra o regime democrático, alguns artistas, jornalistas e escritores difundiram um vídeo na Internet com apelos à sua libertação. A eurodeputada socialista portuguesa Ana Gomes veio a correr a Angola numa visita feita de mentiras. 

Entre Ana Gomes e o grupo do vídeo há a coincidência de ambos considerarem que os indivíduos detidos são presos políticos. Ambos negam os indícios avançados pela Procuradoria-Geral da República para a medida de prisão preventiva. Portanto, o grupo de artistas deve estar em posse de dados que o Ministério Público não tem para vir desmentir uma investigação tão séria como aquela que foi levada a cabo. 

O escritor José Eduardo Agualusa surge a liderar o grupo que pede “liberdade já” para os autodenominados revolucionários angolanos. Entre ele e Ana Gomes poucas coisas há em comum, a não ser que a eurodeputada surge agora na mesma barricada. A antiga militante de extrema-esquerda veio juntar-se a João Soares no apoio aos novos planos de desestabilização em Angola financiados pela Open Society, mas Agualusa é um opositor antigo. 

As derivas anti-democráticas de Agualusa vêm de longe. Agualusa é o que resta dos antigos servidores do “lobby” savimbista em Portugal e foi um dos promotores da continuação da guerra em Angola. O escritor até pode, um dia destes, vir a ganhar o prémio Nobel da literatura, mas não escapa ao triste título de ter sido um servidor da estratégia do apartheid contra Angola. Convidado de luxo de Jonas Savimbi na Jamba e no Andulo, só chegava aí quem colaborava com o regime racista, e Agualusa esteve lá.

Os favores de Agualusa ao apartheid evidenciam-se no final da década de 80 no jornal “Público”, o diário que sustentava a linha savimbista em Portugal. Agualusa foi recrutado como são todos os traidores. Acabava de escrever um livro de origem ética controversa. Em Portugal todos os que mostram algum talento têm um lugar reservado no “team” e Agualusa não foi excepção. Os traidores começam por receber pequenos prémios ou bolsas, convencem-se de que são artistas consagrados e passam a “históricos”, sem nunca terem feito nada para o merecer. 

No “Público”, Agualusa assinava textos sobre música e literatura angolana e acabou por integrar o núcleo duro do savimbismo no “Público”, chefiado por Adelino Gomes. Apoiados em Carlos Morgado, Adalberto da Costa Júnior e nalgumas figuras do Norte, dão sustentáculo à propaganda da UNITA. Ainda hoje, a linha editorial daquele jornal é anti-angolana.

Sendo quem foi no prolongamento criminoso da guerra em Angola, de José Eduardo Agualusa espera-se que continue a manter o seu comportamento face ao regime democrático de Angola, acusando-o de ditadura, e deleitando-se em ofender personalidades angolanas que até mostram por ele alguma compaixão. No fundo, o que ele faz é esconder o seu passado. A sua ligação à Jamba colocou-o, objectivamente, como alguém que trabalhou para satisfazer a ambição de um homem que traiu o seu próprio povo e os povos africanos. Fê-lo, também, por razões ideológicas, como faz agora em relação ao MPLA e aos seus dirigentes, mesmo sabendo que está a ser um intelectual inflexível, intolerante e injusto para com aqueles que se abriram à reconciliação, e a prejudicar Angola. 

O vídeo do grupo “liberdade já” é próprio dos métodos modernos da “agitprop” que era praticada na Jamba, mas ficou muito aquém das expectativas pretendidas pelos cérebros da operação. Mesmo com o “empurrão” de comentadores portugueses, o número de visualizações na Internet foi reduzidíssimo e a manifestação que o complementava um rotundo fracasso. Se alguma novidade tem o vídeo é que ao lado do antigo servidor do apartheid, surgem nas imagens outros artistas. A maior parte deles são indivíduos que conseguiram ganhar alguma visibilidade em Portugal e receberam prémios de valor pouco mais que simbólicos. Os prémios em Portugal não são mais do que isso, simbólicos, mas os portugueses adoram receber e oferecer prémios e há quem adore distraí-los com isso.

O valor do trabalho artístico do grupo “liberdade já” é questionável, mas eles estão convencidos do contrário. Ninguém os impede de pensarem livremente e terem a intervenção que lhes vier à cabeça. Mas a sua obra não pode deixar de passar pela crítica da opinião pública. Com o seu gesto, o que acabaram por fazer esses artistas foi tentar condicionar a actuação da justiça, e sabem que isso é inadmissível. Mais grave do que isso, deram uma pequena machadada na imagem de Angola, que tudo precisa neste momento menos que destruam o edifício de credibilidade nacional que tanto custou a erguer. Esses artistas ajudaram, com o seu gesto, a trazer novos medos ao país. Neste aspecto, o seu comportamento foi mau para o país. Um dia destes, até podem receber um “Grammy”, mas à memória de todos virá sempre essa sua posição política desastrosa.

Angola. POLÍCIA DESMENTE SEQUESTRO DE JOVENS




A Polícia Nacional rejeitou, na quarta-feira, em Luanda, informações postas a circular por alguma imprensa privada e por algumas redes sociais sobre o envolvimento da corporação no desaparecimento de nove activistas que participavam nas manifestações do dia 29 de Julho, em Luanda.

Em declarações à Angop, o porta-voz do Comando Geral da Polícia Nacional, comissário Aristófanes dos Santos, reiterou que em nenhuma unidade policial do país existe o registo do rapto de cidadãos. “Queremos informar de forma clara que nos nossos registos e a nível dos comandos provinciais, com destaque para Luanda, não constam quaisquer dados relativos a estes elementos supostamente desaparecidos”, assegurou.

Por se tratar de um crime de natureza pública, existe no Serviço de Investigação Criminal (SIC) um processo-crime com o número 9348/2015/VN e estão  a decorrer neste momento diligências no sentido de se apurar a veracidade dos factos, informou Aristófanes dos Santos, que acrescentou que a nível das forças de defesa e segurança não houve, no dia da manifestação, nenhum rapto, como foi divulgado por alguma imprensa privada e  redes sociais.   “As autoridades policiais pedem a qualquer cidadão ou aos supostos ofendidos ou familiares para contactarem o Serviço de Investigação Criminal de Luanda para ajudar nesta diligência. A prática da acção policial em democracia não é a referida por alguma imprensa privada e algumas redes sociais”, explicou o comissário Aristófanes dos Santos. 
“O rapto constitui um crime no país e a acção básica da polícia é o princípio da legalidade e em circunstância alguma este facto ocorreu da maneira como foi relatada”. Aristófanes dos Santos revelou que no dia da manifestação a Polícia Nacional havia retido alguns cidadãos que tentaram fazer uma contra-manifestação, mas no espaço de uma hora deixaram a unidade de Polícia para onde tinham sido encaminhados, por se tratar apenas de uma medida cautelar, devido à desordem que podiam criar. Os  cidadãos foram identificados e a seguir  mandados para casa. “Nem sequer passaram uma noite nas nossas celas”, assegurou.

Jornal de Angola

MAIS 10 MIL POLÍCIAS EM LUANDA




O Comandante-Geral da Polícia Nacional de Angola (quase sempre Polícia do regime), Ambrósio de Lemos, admitiu hoje a necessidade de recrutamento de mais 10.000 agentes para garantir o policiamento de Luanda, província que conta com 6,5 milhões de habitantes.

Segundo o comandante da Polícia, grande parte desse efectivo deverá ser integrado num prazo entre seis e dez meses, decorrendo já a respectiva formação dos primeiros contingentes, conforme estudo que concluiu pela necessidade de complementar o dispositivo actual de Luanda com mais “à roda de 10.000 homens”.

Luanda tem registado vários casos de criminalidade violenta e organizada nos últimos meses, nomeadamente assaltos à mão armada e homicídios.

“É necessário que o policiamento da polícia esteja 24 sobre 24 horas. Não está por diversas razões, primeiro pelo reduzido número de efectivos que nós temos em Luanda para a demanda. Já temos o estudo feito do número de efectivos que vai ser necessário”, disse Ambrósio de Lemos, em entrevista hoje à rádio pública angola.

Não foi apontado o número actual de efectivos ao serviço actualmente em Luanda.

Em paralelo, o Comandante-Geral da Polícia Nacional apontou também um investimento, que não quantificou, em “mais algumas unidades policiais” na grande Luanda, para “transmitir maior segurança” às populações.

Folha 8

FRENTE DE LIBERTAÇÃO DO ESTADO DE CABINDA PEDE ADESÃO À CPLP




A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) pediu a adesão do território à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) "como país Observador-Associado", divulgou hoje o movimento.

O pedido foi feito pelo comandante António Luís Lopes, presidente da FLEC e do "governo cabindês no exílio", numa carta dirigida ao secretário executivo da CPLP, Murade Isaac Murargy, datada de 03 de agosto.

"Nós, legítimos representantes do povo de Cabinda e de sua justa luta, queremos fazer parte da CPLP como país Observador-Associado esperando alcançar plenamente a nossa independência completa", refere a carta.

A FLEC é um movimento político que luta pela independência de Cabinda, um enclave e protetorado português que passou a ser uma das províncias de Angola em 1975, quando o país se tornou independente.

"A História atesta que o nosso território, atualmente ocupado, ainda é um estado com maioria católica romana e de expressão Portuguesa" e "todos os tratados assinados com a monarquia portuguesa e correspondências trocadas foram escritos em Português", assinala o comandante António Luís Lopes.

"Queremos contribuir para a promoção desta língua bonita e original que havemos adotado e privilegiado na nossa luta contra a injustiça e falsificações da História do nosso país Cabinda", argumenta no pedido de adesão à CPLP.

Criada em 1996, a CPLP tem como Estados membros Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

São observadores associados da organização a Geórgia, as Maurícias, o Japão, a Namíbia, o Senegal e a Turquia.

De acordo com informação divulgada no 'site' da CPLP, o estatuto de Observador Associado permite o "eventual ingresso de Estados ou regiões lusófonos que pertencem a Estados terceiros, mediante acordo com os Estados-membros".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. AZEDUMES DE VERÃO



Inês Cardoso – Jornal de Notícias, opinião

Afinal, parece que é tudo uma questão de azedume, como classifica o vice-presidente e porta-voz do PSD. Marco António Costa queixa-se que a Oposição fica particularmente ácida quando confrontada com as boas notícias na diminuição do desemprego. E o azedume, concorde-se, é um sentimento lixado que tolda o espírito na altura de fazer qualquer análise.

Recorrendo à linguagem de mercearia que tomou conta do tema, confesso que apesar da total inabilidade para a estatística consigo distinguir batatas de laranjas. Não é difícil perceber, pelas várias análises que se foram lendo nos últimos dias, que os números podem ser interpretados de muita maneira, mas nem com o mais dourado otimismo, temperado pelo sol de agosto, se pode ignorar que o emprego continua efetivamente a ser um problema. E não, não foi um lapso e não vou falar de desemprego. O problema está mesmo no emprego. É exatamente porque um condiciona o outro que se pode, na hora de fazer as contas, ser obrigado a pesar laranjas para decidir se a saca de batatas encolheu ou ficou mais cheia.

Há, a nível nacional, mais de 250 mil cidadãos em situação de subemprego - ou seja, que têm um part-time indesejado e não conseguem aceder a um horário completo. Quase idêntico número está em formação profissional ou em estágio. Perto de 500 mil pessoas emigraram durante esta legislatura e estão a trabalhar, mas no estrangeiro. E há ainda que ter em conta o emprego sazonal, precário, que tende a subir em ciclos de crescimento do turismo, como é este ano o caso.

Não é preciso ser brilhante a matemática para perceber que os motivos para celebrar as estatísticas do desemprego são curtos. E que é preciso fazer muito mais pela economia para que a criação de emprego seja real, sustentada e assente em relações contratuais estáveis. E, já agora, confirmada pela evolução dos salários médios praticados.

É certo que a silly season convida a sentimentos descontraídos, sol e mar com fartura, sugestões leves de verão e primeiras páginas embelezadas por biquínis. Discussões e temas sérios são para a rentrée, que ainda por cima este ano nos trará política até mais não. Mas já que há tantos cidadãos desempregados ou em part-times de verão, angustiados pela incerteza do amanhã, que nem sabem se hão de rir ou chorar com este descascar de cebolas, permitam-me o azedume. Em nome deles.

Portugal. PCP DIZ QUE TAXA DE DESEMPREGO NÃO REFLETE REALIDADE




O PCP considerou hoje que a taxa de desemprego agora anunciada de 11,9% no segundo trimestre não reflete a realidade do mercado de trabalho, falando em números "mascarados" que 'esquecem' os 500 mil portugueses que foram obrigados a emigrar.

"Os números do desemprego refletem cada vez menos a realidade do mercado de trabalho", afirmou Jorge Cordeiro, membro do Secretariado e da Comissão Política do PCP, numa declaração na sede do partido, em Lisboa.

Pois, acrescentou, não é possível olhar para estes números sem lembrar os "500 mil portugueses que foram obrigados a emigrar".

Jorge Cordeiro explicitou ainda que a este meio milhar há ainda que somar os 250 mil inativos que desejariam trabalhar e que não contam para a estatística, os 240 mil que estão em situação de subemprego.

"O Governo anuncia do ponto de vista de resultados uma redução de 108 mil desempregados no último ano, queríamos lembrar que os números da emigração foram de 140 mil. Poder-se-ia dizer que nem sequer corresponde ao número de portugueses que foram forçados a emigrar", referiu.

Falando numa "taxa mascarada", Jorge Cordeiro estimou que se todos estes portugueses fossem contabilizados, a taxa de desemprego seria "muito superior a 30%".

Segundo estimativas hoje divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego fixou-se nos 11,9% de abril a junho, menos 1,8 pontos percentuais do que no trimestre anterior e 2,0 pontos percentuais abaixo do trimestre homólogo de 2014.

No segundo trimestre deste ano, o INE aponta para uma diminuição trimestral de 13,0% e uma diminuição homóloga de 14,9% da população desempregada (menos 92,5 mil e menos 108,5 mil pessoas, respetivamente), para um total de 620,4 mil pessoas.

Lusa, em Notícias ao Minuto - ontem

Portugal. PRÓXIMO PRIMEIRO-MINISTRO TERÁ SALÁRIO MAIS ELEVADO




O salário do próximo primeiro-ministro vai sofrer alterações, dependendo do vencedor das legislativas.

Parte do corte nos salários dos funcionários públicos que ganham mais de 1.500 euros brutos será reposta no próximo ano e fará com que a remuneração do próximo primeiro-ministro seja afetada, positivamente.

Assim, no dia 4 de outubro, caso vença a coligação PSD/CDS ou o Partido socialista, o primeiro-ministro passará a ter uma remuneração mais elevada, revela o Diário Económico.

Se Passos Coelho se mantiver como chefe do Executivo, o que significa que a coligação sai vitoriosa, a recuperação manter-se-á em 20% por ano para a função pública, o que se traduz num ‘aumento’ de 137 euros, passando a receber 6.439,3 euros (incluindo despesas de representação).

Mas caso o Partido Socialista vença, e consequentemente António Costa se torne no novo primeiro-ministro, o salário do chefe do Governo vai sofrer uma subida superior, já que o programa socialista aponta para uma reversão da redução remuneratória em 40% já em 2016. Assim, Costa será beneficiado por um aumento de 274 euros, recebendo um total de 6.576,20 euros.

Relembre-se que no presente ano, o Executivo fez uma reversão em 20% dos cortes estabelecidos nos salários desde 2011, ainda com José Sócrates no Governo. O Governo pretende recuperar integralmente esses cortes até 2019, ou mais cedo dependendo da disponibilidade orçamental.

Notícias ao Minuto

INFORMAÇÕES QUE CHEGAM DE BISSAU “SÃO ALARMANTES” – Ramos-Horta




Na Guiné-Bissau vão-se agravando os sinais de instabilidade política. São públicas as dificuldades de relacionamento entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. O ex-presidente timorense está preocupado.

José Ramos-Horta diz que se têm registado grandes melhorias nos indicadores económicos e nas condições de vida dos guineenses.

Em declarações à Lusa, o antigo chefe de estado timorense mostra-se preocupado. "As informações que nos chegam são alarmantes. Conheço intimamente a situação na Guiné-Bissau, não há razão nenhuma para que o primeiro-ministro Domingos Simões Pereira possa ser substituído", afirmou, em entrevista à Lusa, o enviado especial do presidente da República de Timor-Leste para a Guiné-Bissau e Guiné Equatorial.

A possibilidade de o Presidente guineense demitir o Governo tem sido admitida em Bissau. As dificuldades de relacionamento entre José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira têm sido evidentes nas últimas semanas.

Ontem, o presidente do parlamento, Cipriano Cassamá, depois de uma reunião com o Presidente da República, admitiu, preocupado, que "o Governo está em perigo. O que ouvi hoje de manhã, eu não concordo. Há possibilidade de dialogarmos. A queda do Governo não é uma solução para este país", referiu perante os deputados na Assembleia Nacional Popular.

O presidente da República da Guiné-Bissau começou ontem a ouvir os partidos politicos e hoje poderá fazer uma declaração ao país.

TSF - foto Álvaro Isidoro/Global Imagens

Guiné-Bissau. INÁCIO CORREIA DENUNCIA PLANOS DO PAIGC PARA DERRUBAR GOVERNO




O primeiro-vice Presidente da Assembleia Nacional Popular, Inácio Correia, denunciou na passada terça-feira, a existência de um plano no seio do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) para derrubar o governo de Domingos Simões Pereira. Inácio Correia que igualmente é um dos dirigentes do partido libertador (PAIGC), falava durante o período de antes da ordem do dia da sessão parlamentar e na qual apresentou uma carta da estratégia montada para o efeito.

O deputado mencionou oito pontos constados na “carta da estratégia montada” para o derrube do governo que são: a possibilidade da queda iminente do Governo; a necessidade de criar uma solução estável e credível para relançar o país; a criação de uma plataforma ainda no seio do PAIGC que irá suportar o próximo governo; a necessidade de refazer a política de aliança de pós-Cacheu; a incorporação no Governo de pessoas isentas de quaisquer suspeitas; a criação de um governo que consiga satisfazer todos os grupos; criar um governo de unidade nacional e o último ponto é a escolha de uma personalidade para chefiar o Governo que seja da confiança de Presidente da República.

Após a denúncia do deputado do PAIGC, o presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá disse na sua intervenção que o “governo está em perigo e praticamente numa queda eminente”. Acrescentou no entanto que, no momento a queda do governo não é a solução viável para o país.

O responsável do parlamento guineense pediu aos deputados que não sejam coniventes com ninguém no país a não ser do que seja do interesse do povo. Pois, no seu entender o que é mais necessário é que haja a paz e estabilidade no país.

Lamentou ainda a situação do país, tendo afirmado que está com muita pena de alguns dirigentes do país, envolvidos num plano de vergonha e que só entristece os guineenses. Sublinhou neste particular que há muitas saídas airosas por meios de diálogo e entendimento que podem evitar a queda do governo, porque a queda do executivo não é uma solução benéfica para o país neste preciso momento.

O Democrata (gb)

Na foto: Domingos Simões Pereira, atual primeiro-ministro

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