É claro que Bicesse, para o
regime da oligarquia portuguesa e seus apêndices do processo de assimilação,
vai ser lembrado enquanto mais um lavatório de imagem exposta nos
relacionamentos internacionais, às tantas com alguma pompa e
circunstância… (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/08/angola-e-as-inquietacoes-essenciais.html).
1- No último dia do mês em que se
assinala África, em 1991, houve Bicesse, um Acordo sobre Angola que completará
em 2019, 28 anos! (https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_Bicesse).
Vencido o "apartheid" em
finais da década de 80 do século XX, vencida posteriormente a "guerra
dos diamantes de sangue" em 2002 (sucedânea do Acordo de Bicesse),
tendo perdido os seus aliados naturais por via duma implosiva “glasnost-perestroika” (https://m.suapesquisa.com/historia/glasnost_perestroika.htm)
que acabou com aqueles que haviam cultivado a solidariedade socialista para com
África e para com Angola a partir de meados da década de 80 (https://paginaglobal.blogspot.com/p/25-anos-depois.html),
o estado angolano procurou abrir caminho a uma paz que tendo sido possível após
o choque, inclina-se e submete-se à terapia do capitalismo neoliberal, que ora
subsiste com todo o cortejo de alienações, de ilusões, de mentiras continuadas,
de manipulações, de diversão e um cada vez mais exposto vendaval de corrupções (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/04/angola-na-charneira-dos-tempos-que.html)!...
…A “glasnost-perestroika” angolana
acompanhou no tempo a que ocorreu na União Soviética, seguindo uma similar
filosofia mas uma outra deriva e, por isso, desde logo pôs fim à República
Popular de Angola!
A terapia neoliberal vai
subsistir conforme os indicadores contemporâneos, num processo de velado
neocolonialismo que molda“transversalmente” uma mentalidade que retarda o
conhecimento do angolano sobre si próprio, que retarda o renascimento de África
e de Angola (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/acordar-o-homem-angolano.html)
e eu próprio tenho presente na minha consciência crítica em grande parte
forjada na “universidade da vida” dum antigo (?) combatente,
respondendo ao futuro e às futuras gerações numa consolidada lógica com sentido
de vida que se vai tornando numa trincheira firme e imprescindível (http://paginaglobal.blogspot.com/2018/04/angola-construir-paz-social.html)!
Ao propor o salto em direcção ao
futuro (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/04/colocar-nossas-pernas-titubeantes-no.html),
estou a propor uma cultura de inteligência patriótica capaz de pôr fim às
trevas correntes da superestrutura ideológica cujos horizontes não existem,
enquanto a hegemonia impõe o “fim da história” conforme Francis
Fukuyama!
2- As ideologias indexadas ao
capitalismo neoliberal animam desde meados da década de 80 a superestrutura ideológica
do país, numa mescla entre “mercado” e religião, entre religião
e “mercado” agora em plena época de crise e com todos os oportunismos
disputando o espaço das clientelas, quando o artificioso preço do barril de
petróleo reflecte-se tão drasticamente no Orçamento Geral do Estado e molda as
práticas financeiras de contingência a nível interno e nos relacionamentos
internacionais possíveis a Angola, completamente avessas a geoestratégias de
muito longo prazo por que ninguém, numa conjuntura como a corrente, pode
avaliar o dia de amanhã!...
Essa deriva é propícia a um
contínuo naufrágio ético e moral, com repercussões em todas as instituições e
na sociedade, por que o rigor necessário ao exercício do estado entendido como
fiel depositário dos interesses e aspirações de todos os angolanos, carece
melhor definição desde logo nos termos de sua doutrina, filosofia e parâmetros
ideológicos e práticos!!
Bicesse, a 31 de Maio de 1991,
foi um caixão para a República Popular Angola (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/08/angola-e-as-inquietacoes-essenciais.html)
à qual dei toda a minha contribuição e empenho enquanto me foi possível e
caindo de pé quando fui preso a 23 de Março de 1986 para ser submetido a um
julgamento político sob a acusação de “golpe de estado sem derramamento de
sangue” (Processo 76/86) de que se desconhece até hoje o chefe e sobre o
qual sempre se evitou comentários, como se fosse necessário amnésia e anestesia
colectiva sobre os acontecimentos, para não ferir as sensibilidades comuns duma
parte substancial das elites que têm vindo a assumir o poder sobre o estado e o
povo angolano!
Até hoje o MPLA jamais se
pronunciou sobre os acontecimentos e os factos da altura… havia todo o empenho
em pôr fim ao Partido do Trabalho e às gloriosas FAPLA, que haviam saído
vitoriosas na luta contra o “apartheid” (https://paginaglobal.blogspot.com/2014/09/desbravando-logica-com-sentido-de-vida.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2016/04/cinco-anos-de-contra-revolucao.html)
e o Acordo de Bicesse foi a marca no âmbito dos relacionamentos internacionais
da “glasnost-perestroika” à angolana, sobre as brasas da batalha de
Cuito Cuanavale e quando se aproximava o fim do “apartheid”!...
Fui condenado a 16 anos de prisão
maior dos quais cumpri mais de 5, fui amnistiado, mas tenho direito à memória
pelas consequências que a deriva de Angola teve e as consequências geradas para
com a minha própria família: quando se afastaram desse modo alguns dos oficiais
da Segurança do Estado que mais se haviam empenhado no combate ao tráfico de
diamantes e moeda, deu-se a oportunidade maior, por ausência de capacidades
para melhor lhe fazer frente, a Savimbi, que por via dos diamantes de sangue
levou a cabo uma guerra atroz que dilacerou o tecido social angolano, entre
1992 e 2002, uma guerra que se havia estendido a toda a região central do
continente (http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html)!...
3- Entre 1998 e 2000 consegui
mesmo assim dar o meu contributo ao Estado-Maior das FAA, a fim de se vencer
na “guerra dos diamantes de sangue” e alcançar-se a paz, apesar desse
esforço jamais ter sido reconhecido (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/em-angola-ha-20-anos-i.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/em-angola-ha-20-anos-ii.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/em-angola-ha-20-anos-iii.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2018/12/em-angola-ha-20-anos-iv.html).
Há 20 anos e apesar do tratamento
de que fui alvo, reafirmei meu patriotismo e minha identidade comprometida na
luta para que Angola, para que África, se assumissem no lugar de dignidade que
lhes é devidamente legítimo nos relacionamentos humanos, internacionais e para
com as mais candentes preocupações para com o planeta.
Nos últimos 10 anos, consciente
dos desertos que fui atravessando, que tenho e terei de continuar a atravessar,
mesmo assim fui dando minha contribuição a uma Associação representativa de um
dos alvos dilectos, em termos de guerra psicológica, dos que no após Bicesse e
Luena, instalaram em Angola a devassidão da corrupção, ao abrigo do capitalismo
neoliberal luso-angolano (https://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/angola-uma-comunidade-sacrificada-pela_5.html),
reitor dos correntes processos de assimilação aninhados na esteira da hegemonia
unipolar (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/10/angola-combater-pobreza-nas-proprias.html)!...
Esqueciam-se os autores das “glasnosto-perestroikas”,
os autores de Bicesse, que também esse processo “transversal” não
podia deixar de ser animado de suas próprias contradições internas e externas,
escancarando de facto as portas na direcção de mal paradas elites, como por
exemplo a dos oligarcas russos motivados pela corrupção (lá como cá)…
Estamos muito longe da paz com
justiça social e entrámos na esfera da influência que pode levar à submissão da
hegemonia unipolar do império gringo em África (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/02/angola-na-ala-dos-namorados.html)!...
Os governos do "arco de
governação" do após 25 de Novembro em Portugal, vassalos dos Estados
Unidos e "amarrados-curto" pela NATO, muito contribuíram
para isso!
Os papeis desempenhados em
Bicesse e “a quente” por Cavaco Silva, Durão Barroso e António
Monteiro (diplomata que sucedeu em Kinshasa, a Fragoso Allas - http://www.vidasalternativas.eu/a-pide-no-xadrez-africano-guerra-colonial/),
são testemunhos nevrálgicos disso!
Bicesse foi a chave que
escancarou as portas de Angola aos interesses indexados ao capitalismo
neoliberal e, dada a natureza dos enlaces externos, foi um cenário cujos
autores foram promotores dessa mesma deriva!
Martinho Júnior - Luanda, 23 de Maio de 2019
Imagens:
01 e 02- Duas fotos do acto
solene do Acordo de Bicesse;
03- Durão Barroso nas Lajes,
antes da invasão do Iraque; um anfitrião para as políticas elitistas da
aristocracia financeira mundial em tempo de hegemonia unipolar;
04- Margaretth Anstee, que
escreveu “Angola, órfã da guerra fria”, foi bastante crítica em relação ao
Acordo de Bicesse;
05- Documento da minha liberdade
(minha prisão: de 24 de Março de 1986
a 18 de Julho de 1991)…
A consultar ainda:
‘Os Acordos de Bicesse foram
feitos muito à pressa’ – http://opais.co.ao/os-acordos-de-bicesse-foram-feitos-muito-a-pressa/
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