Especialistas ouvidos pelo Stat consideram
que a situação está “confusa”. Não que mudanças na
definição dos casos sejam incomuns durante surtos causados por novos vírus. Na
medida em que novos fatos vão surgindo, essas redefinições acontecem. Mas as
rápidas reviravoltas, com impactos bem grandes nos números, geram incertezas:
agora, não dá pra saber se a diminuição nos registros significa que as medidas
de controle da disseminação realmente estão funcionando, ou se deve ser
atribuída à mudança nos critérios.
Os pesquisadores também dizem que, para ter uma dimensão real da taxa real
de mortalidade da doença — e do perigo que o coronavírus representa — , seria
importante fazer uma pesquisa sorológica, coletando sangue de uma amostra
representativa de pessoas, e não apenas as que têm sintomas. Malik Peiris,
virologista da Universidade de Hong Kong e um dos líderes na resposta ao surto
de SARS em 2003, afirma que isso preencheria uma “lacuna crítica de
informações”.
A OMS segue em estado de alerta. “O número de casos no resto do mundo é
muito pequeno se comparado ao que temos na China, mas
isso pode não permanecer assim por muito tempo“, disse
ontem, em entrevista coletiva, o diretor-geral da entidade Tedros Ghebreyesus.
No Brasil, há agora só
um caso suspeito: uma criança de dois anos que esteve na
China, mas não em Wuhan,
DE BANDEJA
O governo Trump anunciou que pretende dar mais “controle” às pessoas sobre seus
próprios registros médicos. A ideia é que elas possam fazer o download dos seus
prontuários no celular e direcioná-los para qualquer aplicativo de sua escolha.
Mas tem um detalhe nada desprezível: a partir do momento em que os dados saem
do sistema do hospital ou do médico, deixam de ser protegidos pelo Health
Insurance Portability and Accountability Act, a legislação que rege a
privacidade médica. “[A medida] pode permitir que pacientes compartilhem dados com
mais facilidade para obterem uma segunda opinião, ou permitir que pesquisadores
encontrem participantes para um ensaio clínico. Mas também
abre um faroeste de compartilhamento dos detalhes mais
íntimos de assistência médica para milhões de americanos”, explica a matéria do Politico.
Empresas como Google e Facebook se reuniram várias vezes com
representantes do governo para discutir o assunto nos últimos anos. Don Rucker,
diretor do Escritório responsável por supervisionar a tecnologia em saúde no
Departamento de Saúde e Serviços Humanos do país, rejeita as preocupações com o
que considera “riscos realisticamente pequenos”. De acordo com ele, as empresas
de tecnologia estão atentas às suas marcas e reputações e não vão descuidar da
privacidade…
MAIS PERTO DA EUTANÁSIA
Após uma sessão marcada por
manifestações de centenas de pessoas contra a
eutanásia do lado de fora da Assembleia, o parlamento português votou ontem
cinco projetos de lei sobre a legalização — e aprovou todos eles. Pelo texto
consolidado,
ficam descriminalizados a eutanásia e o suicídio
assistido para portugueses e estrangeiros que vivam no país, desde que
maiores de 18 anos, conscientes e lúcidos. Os casos podem envolver lesões e doenças
incuráveis que causem sofrimento duradouro e insuportável, mas doenças mentais
não estão incluídas. E é preciso avaliação de dois médicos pelo menos, além do
parecer de uma comissão de verificação e bioética. Agora, os parlamentares
ainda precisam consolidar o que foi aprovado, deliberar e fazer outra votação
para estabelecer a lei definitiva.
O que vai acontecer em seguida ainda é uma incógnita. Evidentemente o
texto precisa ir sanção presidencial, e o presidente Marcelo Rebelo de Sousa,
publicamente defensor de medidas “pró-vida”. pode vetá-lo. Depois os
deputados podem tentar reverter o veto, mas ainda seria possível recorrer no
Tribunal Constitucional contra a lei… As últimas semanas têm sido de discussões
intensas no país. Embora boa parte da população se mostre favorável à
eutanásia, várias entidades se declararam contra, incluindo a Ordem dos Médicos
e o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
NOVAS BUSCAS
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts usaram inteligência
artificial para identificar uma molécula que parece capaz de combater algumas
das mais resistentes superbactérias. Duas delas foram tratadas com eficácia nos
testes com ratos. A novidade não é só essa, mas também o fato de que a molécula
é estruturalmente distinta de todos os outros antibióticos existentes, e
teria poucas chances de ser descoberta sem a inteligência artificial.
Foi encontrada num lugar onde cientistas dificilmente procurariam: um banco de
dados de reaproveitamento de medicamentos, onde foi inicialmente identificada
como possível tratamento para diabetes. “Agora estamos descobrindo pistas entre
estruturas químicas que, no passado, nem sequer imaginaríamos que poderiam ser
antibióticos”, disse ao Stat o professor de biomédica Nigam Shah, que
não participou do estudo.
MAMÃE EU QUERO
O leite materno é impossível de copiar, mas as fórmulas infantis devem chegar o
mais perto possível, com a mesma facilidade de digestão e mesma composição
nutricional. Mas uma
pesquisa que analisou 212 produtos voltados para
crianças menores de três anos em 11 países diferentes chegou a uma conclusão
bem assustadora:
alguns deles chegam a ter o dobro de açúcar por porção do que
um copo de refrigerante. O leite materno tem açúcar, mas da própria
lactose, e sua composição é específica para cada fase de crescimento. Já no
leite artificial, estamos falando de açúcares adicionados, como xarope de milho.
“Mas talvez o mais chocante seja o fato de existirem tão poucas
regulamentações para controlar o teor de açúcar e para garantir que os
consumidores estejam bem informados”, escreve uma das autoras, Gemma Bridge, no
site The Conversation. Os pesquisadores pedem que as autoridades dos
países regulem “com urgência” a quantidade e o tipo de açúcar nas fórmulas
infantis e que a divulgação sobre a adição de açúcar pelo fabricante se torne
obrigatória.
QUEM VAI GANHAR?
A partir de dados da Funai e da Agência Nacional de Mineração, a Agência
Pública fez um levantamento das pessoas com
mais pedidos minerários em terras indígenas. No site, estão
listados — com comentários — os maiores beneficiários da abertura
proposta pelo governo federal. Entre eles, políticos do Amazonas e cooperativas
de garimpo envolvidas em crimes ambientais. O levantamento mostra ainda que o
número desses pedidos vinha numa tendência de queda desde 2013, mas
“subitamente” voltou a crescer no ano passado: nada menos que 91% desde o
início do governo Bolsonaro.
RETOMADA ARGENTINA
O governo argentino relançou ontem o programa Remediar, para
distribuir gratuitamente medicamentos essenciais em
todos os Centros de Atenção Primária do país — ao todo, são cerca de oito mil.
A medida deve beneficiar 16 milhões de pessoas. O programa havia sido criado
inicialmente em 2002, mas havia sido
descontinuado pelo governo Macri.
APÓS A CONTAMINAÇÃO
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais ordenou que a
Backer pague as despesas médicas de pessoas com
suspeita de intoxicação, mais os custos de deslocamento, estadia e alimentação.
A empresa também vai precisar pagar pelo tratamento psicológico dos afetados e
dos seus familiares diretos. Os bens e valores depositados em sua conta
bancária até o valor de R$ 100 milhões vão ser bloqueados para o caso de haver
indenizações a pagar no fim do processo.
SEM NOÇÃO
Uma mulher foi programa Cidade Alerta, da Record, para falar sobre a
filha que estava desaparecida havia quase dez dias. Disse aos espectadores que
ainda tinha esperanças de encontrá-la. Minutos depois, o apresentador Luiz
Bacci deu a ela,
diante das câmeras, a notícia de que a moça tinha sido
assinada pelo ex-namorado. A mulher desmaiou no ar, para delírio dos
organizadores. É um absurdo sem tamanho. O coletivo de comunicação Intervozes entrou
com uma representação no Ministério Público Federal acusando a emissora de
violar direitos humanos e as normas da radiodifusão vigentes no Brasil.