entrevistado por La Nouvelle Revue d'Histoire
A característica do clima é a
mudança. Contudo, actualmente há um discurso a afirmar que as mudanças do
presente estão a levar a um aquecimento global inevitável. O estudo do passado
confirma essa interpretação?
Não porque, à escala paleoclimática, as mudanças foram muito mais
significativas do que nos dizem. Assim, em África, durante o último glaciar
máximo, ou seja, entre 18.000 e 15.000 anos antes da nossa época, as
temperaturas médias foram 5ºC mais baixas que as actuais, o deserto estendeu-se
consideravelmente para Sul e a floresta quase desapareceu, enquanto que durante
o óptimo climático do Holoceno, entre 9.000 e 6.000 anos antes da nossa época,
as temperaturas eram 2ºC mais altas que as actuais e as florestas superavam em
muito sua extensão actual. Quanto ao Saara, recebeu chuvas relativamente
intensas, tanto de origem mediterrânica como tropical. Estava salpicado de
lagos e pântanos e os pastores visitavam-no, como demonstram numerosos desenhos
rupestres.
Depois de perder a extensa memória paleoclimática, não estamos a perder também
a nossa memória climática imediata?
Hoje em dia a memória é muito selectiva, porque esquecemos o Outono
surpreendentemente frio de Agosto de 2006 e nos apressamos a esquecer o Inverno
de 2005-2006, que bateu recordes de frio ou de neve, ou o Inverno de 2000
quando a Sibéria registou suas temperaturas mais baixas e a Mongólia pediu
ajuda internacional. Para não falar da África, que durante os anos sessenta
beneficiou-se de precipitações superiores ao normal. A área do Sahel retrocedeu
para o Norte, fazendo recuar o deserto. Ao mesmo tempo, no Norte da Eurásia e
do Canadá, a floresta boreal e a agricultura deslocaram-se para Norte. A
seguir, a partir de 1972, quando se inverteu a tendência, as precipitações
diminuíram drasticamente e o Sahel voltou a deslocar-se gradualmente para Sul.
Deveríamos ter medo do aquecimento previsto por alguns "peritos"?
Historicamente os períodos cálidos sempre foram bons, como por exemplo no
princípio da nossa era durante os anos triunfantes da República Romana e do
Império. Durante a epopeia viking da Gronelândia e América do Norte, entre 1150
e 1300, na Europa central e ocidental prevaleceu um óptimo climático que
deslocou os cultivos, particularmente a vinha, de 4 a 5 graus de latitude para
o Norte. O "doce século XII" representa na tradição escocesa uma
"idade de ouro" com seus Invernos suaves e Verões secos. A seguir,
depois de uma descida da temperatura, voltou-se a um período "quente"
conhecido pelos especialistas como o óptimo climático medieval, que favoreceu,
em particular, as longas viagens de descobrimentos.
Pelo contrário, os episódios de frio foram considerados como
"escuros", como o que depois de 1410 rompeu as relações com a
Gronelândia ou o da "Pequena Idade do Gelo" entre 1600 e 1850, que
atingiu sua maior intensidade cerca de 1708-1709, que Reaumur chegou "o
ano do grande Inverno", período durante o qual os glaciares alpinos
atingiram uma grande extensão, como o demonstram em 1789 os "Cahiers de
dóleances" ("Cadernos de queixas") dos agricultores chamoniardos
cujas pradarias haviam sido invadidas pelo gelo. Portanto, é ridículo que os
meios de comunicação afirmem que o calor é sinónimo de calamidade,
especialmente para as pessoas que, durante o Inverno, só pensam no Verão, a
sonhar com a sua aposentação para residir no Sul ou em Espanha, ou inclusive no
Marrocos, ou seja, ao Sol! Desta maneira, a "incrível suavidade" de
Dezembro de 2006 e a redução da factura de calefacção poderiam ser apresentadas
pelos meios de comunicação como desastres.