sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A Alemanha busca envolver-se militarmente no Próximo-Oriente Alargado

Delegação alemã quando chegou ao Cairo
A Conferência sobre Segurança de Munique organizou, nos dias 25 e 26 de Outubro, no Cairo e, nos dias 27 e 28 de Outubro, em Doha, dois seminários entre dirigentes árabes e alemães.

O Egipto está — com a Síria e a Arábia Saudita — empenhado contra os Irmãos Muçulmanos, enquanto o Catar — com a Turquia e o Irão — apoia esta sociedade secreta.

O Presidente egípcio, Abd al-Fattah al-Sissi, o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) Sameh Hassan Shoukry, e o Secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul-Gheit, participaram na reunião do Cairo com umas outras quarenta personalidades, entre as quais os Ministros dos Negócios Estrangeiros do Níger, do Uganda e do Djibuti.

O Emir do Catar, Xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, devem participar na reunião de Doha com umas quarenta outras personalidades, entre as quais o Ministro de Negócios Estrangeiros do Irão, o Presidente do Curdistão iraquiano e o enviado especial da ONU para o Iémene, Martin Griffiths. A laureada de 2011 do Prémio Nobel da Paz, a Iemenita Tawakkol Karman, representará a Confraria dos Irmãos Muçulmanos.

O governo alemão será representado nas duas reuniões pelo Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Niels Annen, que foi pesquisador no Fundo Marshall Alemão, depois deputado socialista.

Esta iniciativa da Conferência sobre Segurança de Munique dá-se quando ela, desde há dois anos, não havia organizado eventos fora da Alemanha e quando a Chancelerina Angela Merkel deseja aplicar as recomendações do Fundo Marshall Alemão e da Stiftung Wissenschaft Polítik : implicar-se militarmente no Médio-Oriente Alargado ao lado dos Estados Unidos.

Voltaire.net.org | Tradução Alva

Guiné-Bissau | Missão da CEDEAO vai mediar crise política


A campanha eleitoral na Guiné-Bissau arranca este sábado num clima de tensão política, depois da posse de um novo Governo não reconhecido pela comunidade internacional. Entretanto, a CEDEAO vai a Bissau mediar o impasse.

Este sábado (02.11), mesmo dia do arranque da campanha eleitoral, uma missão da Comunidade Económica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) chega a Bissau para ajudar a acabar com o impasse despoletado pelo Presidente José Mário Vaz, que demitiu o Governo de Aristides Gomes no início da semana e, nesta quinta-feira, deu posse a Faustino Imbali como primeiro-ministro.

É uma situação inédita na história da Guiné-Bissau. Há dois governos. Um resultante das eleições legislativas de março, reconhecido pela comunidade internacional, e outro nomeado pelo Presidente da República, que terminou o mandato desde junho.

Os ministérios e outros departamentos governamentais continuam a ser ocupados pelos membros do Executivo de Aristides Gomes, que estão a ser assegurados pela ECOMIB, a força militar da CEDEAO presente no país, já que a organização sub-regional, da qual a Guiné-Bissau é membro, só reconhece o Governo resultante das urnas.

Moçambique | Dívidas ocultas: Sociedade civil quer processar Governo


Governo de Moçambique anunciou que vai pagar a reestruturação da dívida da EMATUM, atropelando as decisões do Conselho Constitucional, que a considerou "nula e ilegal". Sociedade civil não gostou.

O Governo de Moçambique vai pagar a reestruturação da dívida da EMATUM, considerada "nula e ilegal" pelo Conselho Constitucional. Maputo informou na quarta-feira (30.10) aos credores dos títulos da dívida soberana que já tem "todas as condições e autorizações necessárias" para avançar e pagar a reestruturação dos 726,5 milhões de dólares da emissão de 2016 - para já, com uma prestação de 38 milhões.

A sociedade civil não gostou da notícia e acusa o Governo de desrespeitar o Conselho Constitucional. O Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) quer agora processar o Executivo, por desobedecer a uma ordem suprema.

"Achamos que o alerta foi lançado aquando da renegociação. Mas este anúncio do Governo, de querer pagar os 38 milhões de dólares, veio mostrar que afinal estava a dar passos e já tinha decidido que ia pagar", afirma a coordenadora da organização, Fátima Mimbire.

REINTERPRETAR O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA – IV



SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE NOVEMBRO DE 2019

Uma das maiores deficiências de que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.

Essa falta de vontade e de perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias injectadas do exterior!

Isso permite que outros não abram o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses, manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!


Esta série pretende reabrir dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e corajosamente fazer!

Abrir os links permite complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.

BAD disponibiliza a Angola 165 milhões de dólares


Financiamento do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) pretende diversificar a economia de Angola através da redução da dependência do petróleo. BAD espera melhoria na transparência das empresas públicas angolanas.

O Banco Africano de Desenvolvimento aprovou esta semana um empréstimo de 165 milhões de dólares para ajudar a financiar a diversificação económica, reduzir a dependência do petróleo, substituir importações e estabilizar a economia de Angola.

"O programa pretende dar prioridade e promover a produção e exportação de produtos não petrolíferos e começar a substituir as importações através da diversificação", disse o diretor do departamento de governação e gestão das finanças públicas, Abdoulaye Coulibaly, em nota publicada pela agência de notícias Lusa esta quinta-feira (31.10).

O plano a três anos engloba três componentes, que são a melhoria da consolidação orçamental através de uma gestão melhorada das finanças públicas e reforma fiscal, a implementação acelerada do programa de diversificação, e uma melhor governação na gestão dos recursos naturais e reforma das empresas públicas, de acordo com a nota.

CPLP "em maus lençóis" com pena de morte na Guiné Equatorial


Malabo justifica a manutenção da pena de morte com o receio do terrorismo, mas analista afirma que esta "desculpa de incumpridor" deixa a CPLP mal vista.

A Guiné Equatorial é um Estado soberano e responde pelas suas posições, diz o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em declarações à DW África. Francisco Ribeiro Telles reage assim a uma notícia recentemente veiculada pela agência Lusa, segundo a qual a Guiné Equatorial diz recear ser refúgio de terroristas para justificar a manutenção da pena de morte.

"O que nós entendemos é que a Guiné Equatorial, ao integrar-se plenamente na CPLP, também criou um conjunto de obrigações em relação a determinadas matérias", lembra.

A tese de Malabo, que manifesta inquietação em relação a eventuais ações terroristas no país, consta do relatório da missão técnica de avaliação da CPLP, que esteve na capital da Guiné Equatorial entre 5 e 7 de junho deste ano. O documento, produzido pela equipa encabeçada pelo embaixador cabo-verdiano, José Luís Monteiro, concluiu que "não foi feita a abolição da pena de morte, mas o decreto presidencial que institui a moratória sobre a pena de morte continua em vigor".

Entretanto, o investigador em Ciências Políticas e Relações Internacionais Hélder Gomes diz que "falar de ameaça terrorista como algo que o país quer evitar", como forma de manter a pena de morte, "assenta numa série de argumentos rasteiros".

"Isso poderia ser, de facto, um fator de dissuasão à manutenção da pena de morte. Mas [as autoridades do país] metem os pés pelas mãos, porque dizem que ela ainda continua, mas não está a ser aplicada. Portanto, esta argumentação parece-me muito fraca", sublinha.

"Jomav empurra a Guiné-Bissau para uma desordem que pode degenerar em caos"


O analista guineense Rui Semedo, em entrevista à DW África, afirma que, após a demissão do Governo, o estado de desordem está instalado no país. E que pode degenerar para situações mais graves, até mesmo numa guerra.

A Guiné-Bissau, com a atual crise política provocada pela demissão do Governo, após decreto presidencial, está diante não apenas do adiamento das eleições: o estado de desordem está instalado, o que pode degenerar para situações mais graves, até mesmo numa guerra. É a opinião do analista polícito guineense Rui Jorge Semedo.

Em entrevista à DW África, o analista diz ainda que o Presidente José Mário Vaz é o patrocinador desta situação, tendo conseguido superar todos os seus antecessores em termos de desrespeito à separação de poderes vigente no país.

DW África: Quais são as razões e implicações da decisão do Presidente José Mário Vaz de demitir o Governo de Aristides Gomes?

Rui Semedo (RS): Segundo o decreto presidencial, a razão do Presidente é a forte crise política institucional que não chegou a mencionar. Sabemos que a gota de água que fez transbordar o copo foi a manifestação do passado sábado que supostamente originou uma morte não comprovada. No entanto, o Presidente da República aproveitou esta situação para decretar a queda do Governo. Também acompanhamos a denúncia feita pelo primeiro-ministro de que estava em marcha um golpe de estado, apesar de não ser de fórum militar, mas pode ser enquadrado dentro dessa perspetiva, já que o Presidente da República, do ponto de vista constitucional, não tinha poderes para decretar a queda do Governo. Portanto, são jogos políticos que visam sobretudo a corrida eleitoral, mas também de uma parte da oposicão não está preparada para o embate e procuraram de forma anticonstitucional mecanismos para adiar as eleições.

Novo Governo toma posse na Guiné-Bissau


Tomou posse um novo Governo na Guiné-Bissau, liderado por Faustino Imbali. Executivo não é reconhecido pela comunidade internacional.

O novo Governo guineense anunciado esta quinta-feira (31.10) pelo Presidente do país, José Mário Vaz, inclui três ministros de Estado, entre os quais Aristides Ocante da Silva, indicado para a pasta dos Negócios Estrangeiros, Cooperação Internacional e das Comunidades.

Os outros ministros de Estado são Jorge Mandinga, que ocupa a pasta da Presidência do Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares, e Certorio Bioté, que tutela os Recursos Naturais e Energia.

Ocante da Silva é dirigente do Movimento para a Alternância Democratica (MADEM-G15), Jorge Mandinga, da Assembleia do Povo Unido, Partido Social-Democrata da Guiné-Bissau (APU - PDGB) e Certorio Bioté, o atual presidente em exercício do Partido da Renovação Social (PRS).

Portugal | Um país próspero não é isto


Anselmo Crespo | Diário de Notícias | opinião

Uma senhora entra com o marido num centro de saúde com uma queimadura de segundo grau na mão. Aguarda, pacientemente, a sua vez até a chamarem. O diagnóstico é simples, o tratamento também. Basta aplicar uma pomada, proteger a mão com umas ligaduras, impedir a todo o custo que a zona da queimadura apanhe água e aguardar a cicatrização. Problema? O centro de saúde não tem a pomada necessária para fazer o curativo. Acabou. E, por qualquer motivo, não foi reposta. Se quiser ser tratada, esta senhora tem que sair do centro de saúde, ir a uma farmácia, pagar quatro euros para comprar a pomada, regressar ao centro de saúde e fazer o curativo. Foi essa a sugestão que lhe fizeram e foi isso que esta senhora fez. Incrédula, mas foi isso que fez.

Por mais que gostasse de ter inventado esta história de terceiro mundo, ela aconteceu mesmo. E não foi há 10 anos, foi em 2019, esta semana, a mesma em que, no Parlamento, António Costa jurava a pés juntos que estava virada a página da austeridade e que vinha aí a prosperidade. Não vem. Nem a prosperidade está aí à espreita, nem a austeridade em Portugal é uma realidade ultrapassada. E a saúde é, provavelmente, o exemplo mais gritante.

Um país próspero não deixa acabar os medicamentos nos centros de saúde e nos hospitais, nem obriga os seus utentes, aqueles que descontaram durante anos para o Estado, a pagarem mais por um tratamento do que aquilo que têm para viver.

Um país próspero não tem hospitais públicos indignos, sem o mínimo de condições, com doentes em agonia amontoados em corredores. Não deixa os seus cidadãos meses à espera de uma consulta ou, pior ainda, de uma cirurgia, sujeitos a morrerem enquanto esperam.

Um país próspero não permite que fechem as urgências pediátricas de um hospital por falta de profissionais de saúde. Não trata crianças com doenças oncológicas em contentores. Nem deixa pessoas morrerem por falta de assistência médica urgente.

Portugal | Redução do prazo de garantia do subsídio de desemprego a partir de hoje


A redução de 180 para 120 dias do prazo de garantia para acesso ao subsídio social de desemprego dos contratos a prazo não renovados começa a ser aplicada a partir de hoje.

O diploma que consagra esta alteração às regras de acesso ao subsídio social de desemprego foi publicado em 17 de outubro e enquadra-se no pacote de medidas de combate à precariedade e de reforço à proteção social dos trabalhadores confrontados com a não renovação do seu contrato de trabalho.

A redução do prazo de garantia de 180 para 120 dias no acesso ao subsídio social de desemprego inicial (prestação atribuída às pessoas que não têm um registo de descontos que lhes permita aceder ao subsídio de desemprego) abrange, assim, os trabalhadores com contrato a prazo que não tenha sido renovado.

A medida aplica-se igualmente aos trabalhadores cujo contrato termina, por iniciativa da entidade empregadora, durante o período experimental.

Recorde-se que os trabalhadores só podem aceder ao subsídio social de desemprego nas situações em que o contrato de trabalho termina durante o período experimental, com o prazo de garantia de 120 dias, uma vez em cada dois anos.

Para ter direito ao subsídio social de desemprego, o beneficiário tem de cumprir a condição de recursos, ou seja, não pode ter património mobiliário (contas bancárias, ações, fundos de investimento) no valor superior a 104.582,40 euros e cada elemento do agregado familiar não pode ter rendimento mensal superior a 348,61 euros.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: Lusa

Leia em Notícias ao Minuto: 

Portugal | A direção do Benfica e a violação da Lei


Jornal de Notícias | editorial

A direção do Sport Lisboa e Benfica decidiu não passar a acreditação a um jornalista do Jornal de Notícias para o jogo de quarta-feira, frente ao Portimonense, e impedir o acesso ao Estádio da Luz, numa flagrante violação da Lei. O direito de acesso à informação foi ilegitimamente violado e é inegociável.

O repórter do JN, que se dedica praticamente em exclusivo a noticiar as atividades do clube, numa relação profissional clara e transparente ao longo dos anos, fez, mesmo assim, o que lhe competia: foi ao estádio para trabalhar e, impedido pela direção do clube, participou o caso às autoridades, para que este siga o seu caminho processual.

Pergunta o leitor: o que leva a direção de um clube a proibir a entrada de um repórter cuja missão é informar? Por escrito, a direção do Benfica só esta quinta-feira explicou, através da sua newsletter, que aguardava um esclarecimento da Direção do JN sobre declarações proferidas, na passada segunda-feira, por um jornalista numa conferência de Imprensa no Rio de Janeiro. Antes, sem que o clube tenha assumido formalmente as razões da proibição, o diretor de Comunicação ligou insistentemente para a Administração da Global Media, detentora deste diário, e para a Redação, exigindo um pedido de desculpa do JN, por escrito, mas que se manteria sob reserva.

Portugal | Rui Pinto acusa procurador de ocultar ajuda a outros países


Football Leaks

O hacker gaiense Rui Pinto acusou um procurador português de ter ocultado "deliberadamente" a sua colaboração com outros países, que terá originado a abertura de um processo do Eurojust, agência europeia criada para lutar contra formas graves de criminalidade organizada.

Na sua conta pessoal de Twitter, o jovem começou por relatar que, no passado dia 19 de fevereiro, houve uma conferência de imprensa na sede do Eurojust, com a presença dos procuradores franceses Jean Yves Lourgouilloux e Eric Russo, e de representantes de vários Estados-membros, incluindo Portugal.

"Nessa ocasião, foi anunciada a abertura de um processo Eurojust que visa investigar, entre outros, os crimes de branqueamento de capitais, fraude fiscal e associação criminosa. Foi ainda explicitamente referido pelos procuradores franceses que apenas foi possível iniciar esse processo devido à minha colaboração como testemunha junto do Parquet National Financier, e da entrega de 12 milhões de documentos. Ainda assim, esse facto foi deliberadamente ocultado do processo em que sou investigado em Portugal", acusa, na mensagem publicada esta tarde (31.10).

'Guerra fria pode ficar quente': análise de estratégias dos EUA para conter a Rússia


EUA estão desenvolvendo estratégias para atacar a península da Crimeia e o Extremo Oriente russo, escreve mídia americana.

Em entrevista ao serviço russo da Radio Sputnik, o analista político-militar da Associação de Cientistas Políticos e Militares Oleg Glazunov comentou sobre o que pode estar relacionado com o desenvolvimento de tais projetos.

"Tendo em conta que ultimamente as nossas relações com os EUA e seus aliados da OTAN se agravaram, da parte deles se pode esperar de tudo, a guerra fria pode ficar quente. Washington e a OTAN realizam exercícios militares no mar Negro, perto das fronteiras russas, e o número de tais exercícios aumentou significativamente, isto é uma tendência muito má", disse o analista militar.

O governo dos EUA está desenvolvendo novas estratégias de contenção da Rússia e da China, uma delas prevê um ataque à Crimeia e a outra uma agressão contra o Extremo Oriente russo, de acordo com a edição Foreign Policy.

"Se um país tem uma postura amigável em relação a outro, nesse caso ele não realiza esse tipo de eventos e não desenvolve planos de ataque. Estes planos agravam mais ainda a situação, que já é muito complicada no mundo de hoje", concluiu Glazunov.

O Hezbolla desestabilizado


O Departamento do Tesouro dos EUA lançou a Parceria Internacional contra o Hezbolla (Counter-Hizballah International Partnership - CHIP), em 25 de Outubro de 2019. Uns trinta países estavam presentes à volta do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.

Na linha da «Reunião Ministerial visando Promover um Futuro de Paz e Segurança no Médio-Oriente» (Varsóvia, 14 e 15 de Fevereiro) e da Reunião de Acompanhamento (Barém, 21 de Outubro), os Estados Unidos pretendem cortar as receitas não-iranianas do Hezbolla. Esta estratégia deverá encurralar o Hezbolla e forçá-lo a curvar-se perante o Irão até provocar a ruptura com Teerão.

Foi precisamente esta operação que provocou o fecho dos bancos libaneses (ainda encerrados) e as manifestações seguintes desde há 12 dias.

A execução de Abu Bakr al-Baghdadi


Em 27 de Outubro de 2019, o Presidente Donald Trump anunciou triunfalmente a execução de Abu Bakr al-Baghdadi, Califa do Estado Islâmico [1].

Segundo os elementos divulgados, o Califa teria sido localizado na província de Idlib (Noroeste sírio) graças a informações recolhidas pelo Iraque. As Forças Especiais dos EUA teriam montado, a partir de Erbil (capital do Curdistão iraquiano), uma operação secreta. Sete ou oito helicópteros teriam atravessado a Síria. Dois teriam pousado para desembarcar os soldados dos EUA, enquanto os outros teriam coberto a operação desde o ar. O Califa teria fugido por um túnel carregando três dos seus filhos como escudos humanos. Apanhado pelos cães do Exército dos EUA, ele ter-se-ia feito explodir com os seus filhos. Nove de seus guarda-costas e uma outra criança teriam sido mortos durante o assalto. A sua morte teria sido confirmada pela análise de ADN de restos do seu corpo. Não haveria a lamentar qualquer perda no lado americano.

Assim termina esta linda história. A "Força" permanece na América!

Nesta superprodução, o papel de Califa era desempenhado por um descendente, em linha directa, do profeta Maomé. Este nascera em Fallujah, bastião da Resistência à ocupação dos EUA do Iraque. Ele teria estado preso 10 meses nos campos de Bucca e Adder, onde a CIA e a Marinha procederam a experiências (experimentos-br) de condicionamento mental, mas ignoramos se ele foi alvo delas. Solenemente, ele proclamara o califado em Mossul, dez anos depois, em Julho de 2014. Uma vez realizada esta encenação, parece não ter tido mais qualquer responsabilidade no Estado Islâmico a não ser ler alguns comunicados.

Porque Rússia e China permanecem unidas


Andre Vltchek [*]

O mundo capitalista está em decadência. O ocidente está apodrecendo. Raiva e niilismo surgem no império imperialista cujos cidadãos estão frustrados e não em paz consigo mesmos.

A América do Norte e a Europa imperialistas estão furiosas com países como a Venezuela e Cuba, porque os seus pensadores e líderes estão expondo a terrível deterioração dos valores dos países neocolonialistas e historicamente imperialistas.

São a China e a Rússia que estão na vanguarda, apesar da malevolência dos países do ocidente e dos seus propagandistas. E tudo se tornou grotesco. A Rússia que salvou o mundo do nazismo e ajudou a descolonizar dezenas de nações, agora é o "país menos apreciado" da Europa. A Alemanha, que matou milhões de judeus, ciganos, eslavos e outros, é a mais apreciada. No ocidente, ninguém parece importar-se com o facto de a Alemanha ainda pilhar nações como a Venezuela, enquanto usa o seu poder industrial e bancário para espoliar as riquezas de nações indefesas.

A China, um poderoso país comunista (ou diga-se, "país socialista com características chinesas"), está a ser ridicularizada e humilhada pela propaganda ocidental. A arrogância dos doutrinadores europeus e norte-americanos e a maioria de seus pseudo-intelectuais servis, do chamado centro até à direita, não tem fronteiras. A maioria deles sofre de complexos de superioridade incuráveis. Eles sentem que têm o direito de julgar a China e decidir se é "verdadeiramente" comunista ou não e se está no caminho certo.

A China é calma, alguns podem até dizer que uma nação tímida. Por mais poderosa que seja, ela tenta resolver harmoniosamente todos os conflitos com seus autoproclamados adversários. Não ataca e não provoca. Historicamente, cuida do bem-estar das suas periferias e até do bem-estar de nações distantes. Durante milénios, a sabedoria foi a seguinte: "se os vizinhos estão procedendo bem, isso só fará bem à própria China".

Os líderes chineses e o povo chinês estão convencidos de que, se o mundo inteiro se tornar próspero, a China em consequência beneficiará com isso. Esta é a essência da BRI (Iniciativa do Cinturão e Rota), muitas vezes definida como a "Nova Rota da Seda".

Claro que não é tão simples como isso, mas em essência é. A Nova Rota da Seda é a bandeira que guia o internacionalismo chinês. Vi a China "em ação", em lugares como a África e a Oceânia, e fiquei muito impressionado. Sou anti-imperialista e internacionalista, portanto apoio decisivamente a China.

Chile: 'É o começo do fim de um sistema ultramercantilizado', diz cientista político


Segundo Hassan Akran, professor de políticas públicas na universidade chilena Diego Portales, doutor em ciências políticas e especialista por Cambridge, protestos evidenciam que o sucesso chileno é uma 'farsa neoliberal'

Lu Sudré*

As manifestações massivas contra o aumento da tarifa no transporte público chileno, iniciadas em 18 de outubro, foram o estopim para uma revolta popular contra a política neoliberal vigente no país desde a ditadura comandada por Augusto Pinochet (1973-1990). De lá pra cá, as reivindicações por trás das “evasiones masivas” – ato de pular as catracas coletivamente para não pagar a passagem – ganharam força a ponto de deixar acuado o governo de Sebastián Piñera. 

Dias após o início dos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas, as manifestações contra a alta concentração de renda e contra os serviços privados na área da saúde, educação e previdência social continuam a chamar atenção do mundo todo. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, Hassan Akram, professor de políticas públicas na universidade chilena Diego Portales, doutor em ciências políticas e especialista em desenvolvimento econômico pela Universidade de Cambridge, analisa o impacto dos protestos no país. 

“Esse estopim social é algo histórico”, diz Akram. “É o começo do fim de um sistema tão neoliberal no Chile. Isso não irá acontecer imediatamente. Agora temos um governo de direita que vai tentar apaziguar o conflito oferecendo migalhas, mudanças superficiais. Mas há sementes. As ideias do povo estão crescendo. No futuro, nos próximos dez anos, essas ideias só ficarão mais e mais fortes. Se abre uma possibilidade”.

A América Latina após o Outubro Rebelde


Ciclo de direita está abalado. Revoltas devastaram governos neoliberais e eleições abriram alternativas. Repressão militar foi neutralizada pelas multidões. Não há um rumo, mas velho projeto de esquerda – esgotado – pode dar lugar a algo novo

Antonio Martins | Outras Palavras

Tá com medinho, capitão?, zombava, na última sexta-feira, um “meme” de Outras Palavras. Na véspera, Jair Bolsonaro pedira ao Exército para “monitorar” a possível chegada ao Brasil da onda de protestos que sacudia o Chile, desafiando o Estado de Emergência e os tanques de guerra. Nas horas seguintes, ficaria claro que, sim, a revolta era temida pelo presidente e pelos que comandam sua estratégia para manter-se no poder. Já no sábado de manhã, circulava, nas redes sociais bolsonaristas, a ordem: nada de atiçar as ruas. Manifestações para execrar o STF a pretexto da possível libertação de Lula, antes convocadas – com arrogância e em tom desafiador – para 3/11, foram rapidamente abortadas. O astrólogo Olavo de Carvalho deixou claro o receio: “Meu povo amigo, (…) não vamos participar de manifestação alguma na próxima semana. A onda de parar o Brasil (…) só favorece a esquerda”.

O temor é resultado óbvio do vendaval político que sacudiu o cenário da América do Sul nos últimos trinta dias. A onda conservadora que percorria a região há quatro anos, e que parecia prestes a engolir também a Bolívia e o Uruguai, foi quebrada. Os governos do Chile e do Equador foram abalados por manifestações gigantescas. Borraram-se, ao recorrer à intervenção militar contra a população, humilharam-se quando também esta fracassou e viram-se obrigados a ceder. As perdas não são pequenas. O primeiro país é apontado, pelos próprios neoliberais, como caso “exemplar” da aplicação de suas políticas. O segundo converteu-se, há dois anos, em estridente peão da geopolítica dos Estados Unidos e das brutalidades de Donald Trump.

Mas aos levantes populares somaram-se as eleições. Em 27 de outubro, elas colocaram forças claramente opostas ao neoliberalismo no poder, na Argentina – um país cuja importância geopolítica poderá crescer, no vácuo do Brasil, em caso de sucesso do novo governo. Uma semana antes, Evo Morales vencera na Bolívia, e parece capaz de enfrentar a campanha infundada que busca contestar o resultado. Na mesma data da vitória de Alberto Fernández em Buenos Aires, a Frente Ampla venceu no vizinho Uruguai, embora tenha pela frente um difícil segundo turno. Simultaneamente, na Colômbia, outro país de enorme peso regional, o principal partido de direita, comandado pelo ex-presidente Alvaro Uribe, sofria dura derrota nas eleições municipais e regionais. A capital, Bogotá, escolheu pela primeira vez uma prefeita – Cláudia Lopez, lésbica e integrante da coalizão à esquerda formada pelo Polo Democrático e Partido Verde.

Quando Bolsonaro tomou posse, em 1º de janeiro, temia-se o avanço avassalador da direita. Agora, temos uma América do Sul simbolicamente dividida – e há uma ofensiva, ainda discreta porém nítida, das ideias que querem superar o neoliberalismo. Quais as características deste movimento? Quão consistente ele é? Poderá articular-se em toda a região? Expressa um passo adiante em relação à onda rosa que atravessou a América do Sul da virada do século até a metade desta década? Como poderia espraiar-se também pelo Brasil? É, evidentemente, muito cedo para dizer. Mas vale examinar com atenção o que é novo. No curto espaço de tempo deste Outubro Rebelde, afloraram, além da luta de ruas, cinco tendências que desafiam o pensamento convencional sobre a a situação política no continente e por isso merecem ser analisadas com atenção.

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