sábado, 7 de dezembro de 2019

REINTERPRETAR O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA – X


Martinho Júnior, Luanda 

SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE NOVEMBRO DE 2019

Uma das maiores deficiências de que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.

Essa falta de vontade e de perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias injectadas do exterior!

Isso permite que outros não abram o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses, manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!


Esta série pretende reabrir dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e corajosamente fazer!

Abrir os links permite complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.

Nota: Esta série tendo como horizonte o 11 de Novembro de 2011, propiciará continuidade para outra que a ela se vai seguir.



37- Há que fazer aqui uma outra abordagem comparativa: entre as rupturas nos processos de assimilação face aos moldes colonialistas e o que acontece hoje com a assimilação em tempo de capitalismo neoliberal, algo que tem servido de debate a alguns investigadores angolanos, tacteando antropológica e historicamente, quase sempre a partir do acervo documental colonialista, ainda que com sentido de reinterpretação com olhos que se vão aproximando das sensibilidades a  sul… (https://journals.openedition.org/lerhistoria/1391https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=19446:a-colonizacao-domestica-de-angola-carlos-kandanda&catid=17&lang=pt&Itemid=1067http://jornaldeangola.sapo.ao/cultura/discriminacao_e_politicas_de_assimilacao).

Nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado eram sobretudo os jovens assimilados de última geração que forjavam a consciência crítica contra o colonialismo e o “apartheid” com um espírito colectivo vigoroso e firme, a ponto de ser possível levar a cabo a luta clandestina e a luta armada de libertação em África (de que se tornaram quadros), ainda que com todos os imponderáveis que isso acarretou devido à deliberada confusão dos etno-nacionalismos, em relação aos quais até poderiam estar pouco avisados, só por que Angola era “a minha terra”…( https://www.youtube.com/watch?v=w6ycSnorZeY).

Na memória da opressão dessas gerações, as fortalezas e as prisões passaram a cumprir uma carga emocional incontornável, no próprio cimento de suas convicções e na forja de suas personalidades de combatentes enquanto geração da renúncia impossível!... (http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2013/07/blog-post_23.html).

Ver ondear um dia a bandeira da independência sobre as velharias coloniais, fazia parte dos sonhos e das utopias de então e era uma aspiração que movia energia e a força da luta de libertação em África, n caso do MPLA!

Há um texto do camarada António Jorge publicado em finais de Outubro de 2019, que me socorre para se poder aproximar a leitura das razões profundas dessa ruptura que só pôde ser feita desde o momento da cultura de consciência crítica sobre os “subterrâneos” da história da “dilatação da fé e do império”:

“Luanda - Mapa da cidade do século XIX, no tempo do domínio do mercado escravocrata das famílias crioulas... e hoje consideradas como famílias importantes e ricas, de origem assimilada e donos do poder, desde há 30 anos.

- No mapa assinalado a preto, o Bungo, o lugar onde existiu o maior solar português no Atlântico Sul... conhecido por Palácio de Dona Ana Joaquina.

Este Solar... que era o maior monumento da memória humana da escravatura em Angola, foi mandado demolir, no tempo de um Ministro de uma família assimilada do poder no ano dois mil.

Era Ministro da Educação e da Cultura, António Burity da Silva Neto Bravo.

Os escravos antes de embarcarem nas Portas do Mar, para as Américas... do Sul e do Norte e Caraíbas... ficavam a aguardar no Bungo... nas traseiras... os quintais do Solar de Dona Ana Joaquina... e quando com o fim da escravatura foi proibido o tráfico negreiro, os escravos seguiam por um túnel desde o Bungo até às Portas do Mar... para não serem vistos.

A Dona Ana Joaquina, era uma mulher poderosa, e dona de milhares de escravos, e de uma significativa frota de navios de costa e oceânicos, para o transporte no litoral de Angola e a travessia do Atlântico.

E ainda dona de enormes terras e gado.

Nesta altura, a Igreja dos Remédios, devido à maior presença e domínio dos portugueses se fazer sentir mais no Reino do Ndongo... associado desde à séculos ao negócio de exportação de mercadoria humana; a escravatura de homens, mulheres e crianças, principalmente para o Brasil.

Passou a ser a Catedral dos Reinos do Congo e do Ndongo.

Existiam vários mercados de escravos em Luanda, e nomeadamente no lugar que é conhecido hoje, por Largo do Baleizão... muito próximo do local do embarque para o Calunga... nas Portas do Mar, e outra praça de escravos na Corimba que fica na Samba.

- Porque o mercado escravocrata passou a ser dirigido pelas famílias crioulas de Luanda?

Como é sabido a Joia da Coroa de Portugal do Império Colonial, era o Brasil... só depois da separação do Brasil de Portugal em 1822, passou a ser Angola.

O Brasil absorveu durante mais de duzentos anos, todo o crescimento demográfico de Portugal.

Portugal a partir de 1807, foi sujeito às invasões napoleónicas, tendo originado a saída da coroa portuguesa e da quase totalidade da sua aristocracia, para o Brasil.

As invasões napoleónicas terminam em 1814, e consequentemente o fim da regência inglesa sobre Portugal.

O Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, D. João IV, é coagido pelos ingleses a ter de regressar a Portugal.

O império desfaz-se... O Brasil separa-se de Portugal e em setembro de 1822... o Brasil, assumiu a condição de uma outra forma de independência... a solo... separado de Portugal. D. João IV, regressa e assume o trono de Portugal em 1822.

Portugal vive um largo período de problemas e incertezas, em consequências das invasões napoleónicas, a separação do Brasil, onde ficou a quase totalidade da sua aristocracia. D.João IV, morre em 1826, sucede-lhe seu filho D. Pedro IV, Imperador Pedro I do Brasil.

Entre 1828 e 1834, inicia-se a guerra, conhecida pela guerra dos dois irmãos pela sucessão do trono, entre Pedro I do Brasil, liberal constitucionalista e D. Miguel... absolutista.

A guerra da Patuleia, entre cartistas e setembristas, em consequência da revolta da Maria da Fonte em 1846, e da abolição por decreto dos escravos em Portugal, do Estado em 1854 e da igreja em 1856.

E, finalmente... com a lei de 25 de Fevereiro de 1869 proclamou-se a abolição da escravatura em todo o Império Português, até ao termo definitivo de 1878.

Registo para que se saiba:

O comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou cerca de 11.313.000 indivíduos.”

… Largo do Baleizão, assinalado na síntese de António Jorge, onde nas décadas de 50 e 60 ficava um dos restaurantes mais próximos da sede da PIDE-DGS em Angola e onde estava garantida uma densa malha humana de recrutamentos entre as famílias de assimilados angolanos de então, um processo que apesar do “esmero” jamais conseguiu apagar a chama da revolta!…

… Era só descer o morro e “invadir” o bairro dos Coqueiros, beber “entre amigos” uma cerveja no Baleizão, ou ir até ao vetusto Hotel Luanda (onde está hje a casa da Cultura do Brasil, ao lado do Museu de Antropologia) e observarmos os discretos contactos dos homens da PIDE-DGS (entre eles o inspector Ernesto Lopes Ramos que em finais da década de 60 “atendia” gente ligada ao empresariado colonial e ao tráfico de diamantes)!...

Nos nossos dias os assimilados de alguns sectores das novas elites, inebriados em neoliberalismo, estão longe dum patamar de consciência crítica em função de seus próprios interesses, conveniências e acomodações sociais: deixaram-se ser absorvidos “suavemente” por uma mentalidade que sopra de fora por via dos canais derivados da globalização capitalista neoliberal com o rótulo da necessidade do investimento externo, tornando-se muito mais individualistas e egoístas, afoitos às parcerias internacionais de negócios e também às “parcerias público-privadas” (que simultaneamente foram grassando por Portugal), ao extremado ponto de, desde 1985 se formarem as torrentes de corrupção “que estamos com elas”!… (https://acervo.publico.pt/mundo/noticia/houve-independencia-mas-nao-descolonizacao-das-mentes-1712736).

Os jovens desta assimilação estudam (muitos fingem que estudam apenas interessados nos estatutos de conveniência) nas escolas “ocidentais”, preferencialmente nas escolas anglo-saxónicas dos Estados Unidos e do Reino Unido, não em liceus coloniais que ensinavam a “dilatação da fé e do império”, nem em universidades portuguesas onde o fascismo e o colonialismo já haviam “perdido a guerra” antes do 25 de Abril de 1974!

Quantos deles foram “formados” à custa de Bolsas de Estudo pagas pelos sucessivos governos angolanos?

Quantos deles, depois de “formados”, foram utilizados por outros interesses e por outras conveniências, sem sequer pagar a dívida de sua “formação”?

… As linhas de conduta dominante foram-se esmerando com as novas tecnologias (à entrada do século XXI), evoluindo do passado de repressão para o controlo persuasivo e irrestrito dos cérebros, linhas de conduta que são observáveis nos nossos dias e podem-se identificar entre milhares de exemplos, no livro “Jogos Africanos” de Jaime Nogueira Pinto, que em relação a Angola contemporânea pode nesse aspecto servir de referência (já por diversas vezes por mim evocada); constate-se uma apreciação sobre essa “relatividade” publicada em 2009 no jornal Público… (https://www.publico.pt/2009/03/22/jornal/angola-e-o-relativismo-moral-300057).  

Chegou-se ao ponto de trazer para o Colóquio de História do MPLA, a pretexto do 31 de Maio de 1991 (Bicesse claro está), velhas raposas como Durão Barroso, uma individualidade que derivada dum efémero percurso no MRPP (“Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado” – https://pctp-mrpp-norte.weebly.com/estatutos-do-partido.htmlmhttps://textosmarxistas.blogs.sapo.pt/reorganizar-o-partido-revolucionario-do-24007), foi escorregando para as entranhas neoliberais como poucos intelectuais ou políticos portugueses o “conseguiram” fazer (a mudança de época foi-lhe propícia)! (https://www.plataformamedia.com/pt-pt/noticias/politica/durao-barroso-em-angola-para-participar-em-coloquio-do-mpla-11579534.html).

Durão Barroso sobre a história, costuma reduzir tudo à polaridade da Guerra Fria numa perfeita esquadria só possível de gerar e gerir com o 25 de Novembro de 1975, de certo modo redundante do 11 de Março de 1975 (https://journals.openedition.org/lerhistoria/2487) e o resíduo spinolista em Portugal… para ele é muito difícil admitir, em pé de igualdade, o Não Alinhamento activo, muito menos Tricontinental, provavelmente nem trilha do movimento de libertação em África em estreita aliança com a revolução cubana e a lógica com sentido de vida pura porque pura e simplesmente isso não dá lucro e é portanto dispensável por se tornar, do lado economicista de sua interpretação, desprezível! (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/as-relacoes-entre-ex-colonizador-e-ex-colonizados-nunca-sao-faceis).

A assimilação contemporânea em Angola é feita nos termos a que se vai referindo Durão Barroso, que considera que “a queda do Muro de Berlim começou aqui em Angola, em África” (http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2019/11/49/Durao-Barroso-destaca-papel-Angola-Africa-Austral,f7eacbe1-b2d0-443a-b92f-9e8389669456.html) e nem o contraponto de Filipe Zau consegue vencer o que prevalece dessa “mentalidade histórica” que teve sua oportunidade de germinação com o 31 de Maio de 1991, depois du intensivo mês de trabalho dum esmerado governo social-demicrata da esfera do “Arco de Governação”, no auge do cavaquismo!... (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/neoliberalismo-e-fundamentalismo-religiosos-versus-cidadania).

Durão Barroso é um advogado procurando fluir discursivamente a sul uma hipotética causa comum entre o camaleão e a borboleta, agora, com a contribuição dum MPLA cada vez mas borboleta e pronto a “dourar a pílula” do que se tem seguido sobretudo no campo da economia depois do 31 de Maio de 1991, atirando para as urtigas a gritante aspiração de incessante busca de justiça social!... (http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/globalizacao-o-camaleao-voraz-que.htmlhttps://www.youtube.com/watch?v=QZhMKskPBQA).

De facto e com cada vez mais evidências, “Angola não é à prova do choque, nem da terapia” e até o campo da história abre o postigo para ser lavado pelos políticos de contingência!... (https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/84029-angola-nao-e-a-prova-do-choque-nem-da-terapia.html).

A consciência crítica dum estudioso da globalização como Ignatio Ramonet, é evocada na argumentação esclarecida e esclarecedora de Filipe Zau, (“a adesão dos países às teses neoliberais parece poder interpretar-se como sendo a substituição de regimes totalitários por regimes globalitários, em que os dogmas do partido único deram lugar aos dogmas da globalização e do pensamento único, ao não admitirem nenhuma outra política económica, subordinando, por outro lado, os direitos sociais do cidadão à competitividade e delegando nos mercados financeiros a direcção total das actividades da sociedade dominada”) mas parece evidente que neste MPLA, argumentos desta natureza estão cada vez mais a cair em saco roto, ou seja, acabou a linha que dá sequência ao movimento de libertação em África enquanto escola incorruptível de patriotismo e continua a não haver abertura no sentido da lógica com sentido de vida, muito menos nos termos de segurança vital, imprescindível para a gestão da água e da vida em Angola!

Entre os processos de assimilação de então (décadas de 50, 60 e 70 do século XX) e os de hoje (desde a década de 90 do século XX), há portanto distinções a fazer, por que naqueles anos prevaleceu a ruptura em função da inevitabilidade da consciência crítica, uma ruptura que foi sendo amadurecida ao longo do século XX, algo a que se referiu com toda a propriedade, outro líder do movimento de libertação em África, Amílcar Cabral (http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/31254):

Face à brutal repressão colonial e do “apartheid” (https://journals.openedition.org/eces/403), os revoltados assimilados (que perceberam quanto eram vítimas também da opressão colonial) assumiram-se quase sempre pelo tão justo quão firme antagonismo no quadro da luta armada de libertação em África (http://m.jornalcultura.sapo.ao/inicio/modal/historia/katete-terra-de-liberdade), por muito incómodo que isso lhes tivesse causado e avançando para além do conhecimento de Franz Fanon, por que a luta faz nascer o homem novo que não admite mais vitimização (https://journals.openedition.org/lusotopie/1638);

Face à persuasão “soft power” inerente à terapia neoliberal e em função além do mais da revolução das novas tecnologias, uma franja importante das elites angolanas “abrasileiradamente” assimiladas de hoje (https://journals.openedition.org/eces/403) assumem-se em correlativo módulo clientelar, constituindo confortadas e confortáveis castas, ou até mesmo máfias da corrupção ou da corruptela, instaladas nos vários escalões de manipulação e vassalagem, num quadro humanamente palpável, inscrito na pirâmide de domínio de 1% (aristocracia financeira mundial), sobre o resto da humanidade, (https://www.revistamilitar.pt/artigo/1039http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/a_globalizacao_da_pobreza) por que se chegou ao escândalo de até se tornar possível no país de Agostinho Neto o “apartheid social”! (https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=15679:o-apartheid-social-em-angola-bernardo-castro&catid=17&Itemid=1067&lang=pt).

A manipulação massiva, conforme a síntese levada a cabo pelo investigador francês Sylvan Timsit, afecta os cérebros da maioria possibilitando o controlo massivo da cidadania, um resultado precisamente contraditório do resultado psicológico da brutal opressão e repressão colonial e isso está na base do êxito dos processos modernos de assimilação! (https://www.rebelion.org/noticia.php?id=223780https://www.elclubdeloslibrosperdidos.org/2018/03/las-terribles-10-estrategias-de.html).

O MPLA enquanto partido de massas está inibido num quadro global desta natureza e no momento em que se torna urgente uma mudança de paradigma, está longe de atender aos deveres patrióticos a que uma tal projecção obriga!

Com a independência e no seguimento desse tipo de antecedentes, constate-se como foi fluente a aproximação de Jaime Nogueira Pinto (membro do “Le Cercle”, da FRA, “Frente da Resistência Angolana” e do CDS português – https://politica210.wordpress.com/2013/09/04/jaime-nogueira-pinto/https://www.jn.pt/domingo/spinola-e-o-futuro-de-portugal-1552608.html), a oficiais generais angolanos já no âmbito das FAA, (após 31 de Maio de 1991, data do acordo de Bicesse), algo que era e foi impossível enquanto perduraram as FAPLA!... (https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=31811:in-memoriam-jaka-jamba-jaime-nogueira-pinto&catid=17&lang=pt&Itemid=1067).

Constate-se também como este MPLA cada vez mais se vai moldando a algo que pouco a pouco pode tornar-se no caminho de sua perdição, quando se esquece do quanto no “corpo inerte” de África o modelo neoliberal de globalização é "a Globalização da Pobreza”! (https://www.skoob.com.br/a-globalizacao-da-pobreza-5854ed7013.htmlhttp://www.globalkleptocracy.net/).

As borboletas pouco avisadas aprestam-se para o dardo da língua do grande camaleão de tão inebriadas que estão essas franjas das novas elites angolanas, incapazes de reagir aos alertas com base no que “constitui uma crítica fundamentada e demolidora dos rumos económicos e financeiros do mundo actual”!...


38- Foi sobretudo no cadinho das religiões que se foram formando as famílias de assimilados de então que decididamente e apesar dos riscos, entraram em ruptura contra o colonialismo com os olhos fitos na autodeterminação e na independência (de que a advogada Maria do Carmo Medina foi também incontornável testemunha)… (https://www.portaldeangola.com/2016/01/08/processo-dos-50-processos-politicos-da-luta-pela-independencia/).

Em relação ao próprio Presidente António Agostinho Neto foram particularmente as famílias metodistas que alimentaram os enredos de sua própria génese pessoal, pontos de partida para a sua personalidade lúcida de combatente ao nível de toda a África Central e Austral (https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=15679:o-apartheid-social-em-angola-bernardo-castro&catid=17&Itemid=1067&lang=pt) e o acompanharam na saga de “quem se espera” mesmo depois de ele renunciar à religião até se alcançar a prossecução do Programa Mínimo!

O rumo da luta armada de libertação em África, com os olhos postos na autodeterminação e independência, que em Angola levou ao 11 de Novembro de 1975, aglutinou torrentes dessas famílias acima de tudo na capital, Luanda, arrancando muitas delas às cumplicidades antigas em que haviam vegetado enquanto houve escravatura e penetração colonial no território (em conformidade com a tipologia dos comércios de então) e criando um campo de ambiguidades em relação àquelas cujos parentes partiram para engrossar as fileiras da luta armada de libertação, ou viviam em arriscada clandestinidade, ou foram conduzidos aos campos de concentração prisional dentro ou fora de Angola!... (http://www.redeangola.info/especiais/luandino-vieira-faz-hoje-80-anos/).

Imaginem o tipo de tensões e traumas que essas igrejas e essas famílias foram obrigadas a viver e a vencer e o telúrico potencial energético que a luta nessas condições obrigava a desencadear, sempre com os olhos postos legitimamente na declaração da independência em Luanda!

A lógica com sentido de vida era por si e também sob os pontos de vista ético e moral um resgate para essas famílias de assimilados e por isso “aquele por quem se espera” tinha bem presente a necessidade do movimento de libertação vocacionar-se na luta pelo interior sempre na direcção de Luanda, mudando várias vezes de paradigma na busca desse tão apelativo horizonte, que era também um horizonte de natureza psicossocial! (http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-i.htmlhttp://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-ii.html).

Nesse rumo, quanta dolorosa aprendizagem não teve de haver, quanta criatividade foi necessário desenvolver sobre brasas?

As autoridades coloniais aperceberam-no desde a primeira hora, ripostando e implantando todos os dispositivos face a essa “ameaça” e o próprio “Processo 50” é nesse sentido revelador!

A partir de então os instrumentos do poder do estado fascista e colonial procuraram sempre penetrar ainda com mais acutilância nas igrejas e nas famílias, agenciando agentes face a cada alvo que passava a ser cada um dos patriotas que assumia luta armada ou luta clandestina, no quadro da lógica com sentido de vida em busca de autodeterminação, independência e liberdade!... (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1132:intervencao-do-bispo-emerito-da-igreja-metodista-unida-rev-emilio-de-carvalho-dialogos-em-familia&catid=37:noticias&Itemid=206).

Desse modo, os instrumentos do poder de estado fascista e colonial procuravam resultados imediatos, mas também a prazo médio e dilatado, para além da própria independência se a houvesse, pois os vínculos que nesse sentido eram forjados, vínculos dum quadro identificado com a internacional fascista na África Central e Austral, eram na maior parte dos casos por dependência e propiciavam inusitadas potencialidades que podiam passar dum ordenamento tático para um ordenamento estratégico a muito longo prazo!

Com o golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, apenas 14 dias depois do 11 de Novembro de 1975 em Angola, foram recriadas as condições para, a partir de Lisboa e por via de todo o tipo de canais de inteligência (explorando proximidades), se procurarem vias para a repescagem das velhas famílias de assimilados angolanos, pelo que o 27 de Maio de 1977 é um dos sinais evidentes desse contencioso humano que tem permanecido no desconhecido das suas razões causais mais profundas de ordem sociológica, psicológica e até antropológica!

Ainda assim é uma identificável linha de acção (”modus operandi”) no quadro das “redes stay behind” da NATO e suas vestes de camaleão: assim como o golpe de 25 de Novembro de 1975 em Portugal seguiu-se ao ariete radical do “verão quente”, com o 27 de Maio de 1977 em Angola enquanto ariete, ficaram determinadas as vacilações do Presidente Agostinho Neto até à hora de sua morte e a degeneração do rumo que a partir daí foi paulatinamente acontecendo, intrincado com a necessidade de vencer o “apartheid”!

Mesmo com os inspectores da PIDE-DGS e os homens dos SCCIA a saírem de Angola, a atravessarem a fronteira e a reforçarem automaticamente os dispositivos do “apartheid” (é o caso de Óscar Piçarra Cardoso – http://cantinhodomundo.blogspot.com/2005/11/histrias-secretas-da-pidedgs-o-golpe.html), ou em menor número a instalarem-se no Brasil (é o caso de Ernesto Lopes Ramos – https://ionline.sapo.pt/artigo/596552/15-de-janeiro-de-2005-no-plaino-abandonado-que-a-morna-brisa-aquece-?seccao=Portugalhttp://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=a5a06fb5-4db6-4cf2-86a9-893253c00ae3&edition=52https://www.esquerda.net/opiniao/humberto-delgado-obviamente-assassinado-por-ordem-de-salazar/35785), a fluência das correntes “iluminadas” pelos procedimentos ideológicos e práticos do “Le Cercle” mesclados de subreptício spinolismo ficou sempre garantida, até por que a própria igreja católica a isso se aprestou sempre!

A qualquer momento as ideologias cristãs-democratas podiam ser reactivadas particularmente desde aquela Luanda de pré-independência (também em Brazzaville com o quadro humano da Revolta Activa), repescando vínculos antigos e práticas de contingência!

Haveria melhor experimentada capacidade do que a cultura das “redes stay behind” da NATO para gerarem “redes stay behind” por dentro das famílias de assimilados da capital angolana, procurando desde logo cercar os alvos mais dilectos, aqueles que eram dirigentes no rumo da luta de libertação em África?

Para esse tipo de ideologias, o processo histórico no seguimento da dilatação da fé e do império, estava não só carregado de desafios, mas sobretudo de aliciantes!

Até ao 11 de Novembro de 1975, essa longa batalha de inteligência foi travada igreja a igreja, família a família, mas foi sendo derrotada pela impetuosidade e energia do MPLA que levou à ruptura e conduzia a ruptura em nome da vida, ainda que com os reveses fraccionistas que se foram sucedendo…


39- A lógica com sentido de vida e a noção de segurança vital foi imprescindível em Angola entre o 25 de Abril de 1974 e o 11 de Novembro de 1975, animando as fileiras progressistas em todos os territórios onde, com a descolonização portuguesa, teve de haver “o regresso das caravelas”!

Nessa altura o Movimento das Forças Armadas Portuguesas (MFA), apesar do spinolismo, do “verão quente” e das manobras intestinas de toda a ordem, foi considerado pelo Presidente António Agostinho Neto como mais um movimento de libertação! (http://media.rtp.pt/descolonizacaoportuguesa/pecas/o-programa-do-mfa/).

O pessoal diplomático dos Estados Unidos acreditado no consulado geral de Luanda na última fase do colonialismo português (muito citado no livro “Segredos da descolonização de Angola” da autoria de Alexandra Marques – https://www.youtube.com/watch?v=pWDXgy7NI5Yhttps://www.passeidireto.com/arquivo/36118629/segredos-da-descolonizacao-de-angola-alexandra-marques/2), percebia-o inteligentemente (com fundamento em seus próprios contactos, entre eles o Bispo Emílio de Carvalho e o médico MacMahon Vitória Pereira que chegaram a visitar os Estados Unidos em tempo colonial a convite do Departamento de Estado, conforme documentação apreendida na década de 80, já com a independência em curso, documentação que, recorde-se, esteve na origem do Processo 195/83), mas não conseguiram demover Henry Kissinger, ligado à aristocracia financeira mundial e aos grupos mais elitistas, que desencadeou a Operação da CIA contra Angola, conjugando esforços com a internacional fascista sob encargo directo do “apartheid”! (https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_IA_Featurehttps://www.olx.pt/anuncio/os-mercenrios-na-guerra-de-angola-lote-de-3-livros-muito-raros-IDzSd2P.htmlhttp://pagina--um.blogspot.com/2010/11/quifangondo.htmlhttp://www.thirdworldtraveler.com/Stockwell/In_Search_Enemies.html).

Essa luta correspondeu em Portugal ao hiato entre o próprio 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, em que o camarada António Jorge esteve inserido, dando conta do que aconteceu em resposta ao “verão quente spinolista” enquanto rescaldo desse “regresso das caravelas”!

Recordo este comentário recentemente inserido na minha própria página no Facebook, correspondendo ao excerto sobre o “25 de Novembro de 1975, moderação da NATO imposta aos portugueses”:

“Reflexões Entre abril e novembro!

… Eu participei na organização e nas denominadas barricadas de Lisboa pela Intersindical em 28 de setembro de 1974...

Manif tentada por Spinola e pelos grandes banqueiros, desde o Salgado, ao Vinhas, ao Champalimaud... e outros ricaços.

A intenção de Spinola nessa altura, era a de afastar e tentar ilegalizar o PCP, e impedir a independência de Angola.

Esta intentona, ficou conhecida como a tentativa da Maioria Silenciosa do 28 de setembro.

As barricadas foram feitas em todas as entradas de Lisboa... eu fiquei na autoestrada do norte em Sacavém, na portagem.

Outros ficaram espalhados pelo país, nos acessos a Lisboa... e a manif, marcada para a praça do império, não se realizou - porque não deixamos entrar ninguém em Lisboa...

Esta tentativa spinolista, veio na sequência das provocações montadas por Spínola ao primeiro-ministro Vasco Gonçalves... dias antes, a primeira no Concurso Hípico Internacional de Lisboa e a segunda na tourada organizada por Spínola e um denominado grupo de militares da guerra do ultramar.

Em consequência desta tentativa golpista de extrema-direita, Spínola foi demitido no dia 30 de setembro de 74... e o golpe preparado para impedir a Independência de Angola, foi travado...

Tentou substituir como alto-comissário, Rosa Coutinho, e tinha já nomeado em sua substituição, o Comandante Santos e Castro e o general Altino de Magalhães (que tinha sido o chefe do estado-maior em Angola).

Mais um pormenor – durante a resistência das barricadas, cerca de 200 para-quedistas spinolistas ainda tentaram um golpe aéreo, que consistia em colocar granadas despoletadas dentro de copos e atirar para cima dos antifascistas e anticolonialistas das barricadas!”

Enquanto isso em Angola, era a internacional fascista que sob a égide de Henry Kissinger, também ele membro do “Bilderberg”, do “Le Cercle” e do “Clube 1001”, procurava quebrar o rumo de lógica com sentido de vida que conduzia o movimento de libertação em África a um volte face decisivo na África Central, na África Austral e em Angola naqueles anos decisivos!

Os assimilados angolanos em revolução e inseridos em classes tão importantes como o campesinato angolano (a imensa massa anónima de “indígenas”) em ruptura contra o colonialismo, tornaram-se decisivos para garantir o 11 de Novembro de 1975, a data em que Angola seria independente e soberana nos seus destinos, correspondendo à mobilização em torno do pensamento estratégico de Agostinho Neto!

Nessa altura interesses egoístas, interesses de famílias, interesses de classes esbateram-se a ponto de todos corresponderam em uníssono perante os riscos, as ameaças e os sacrifícios, num imparável colectivo sobretudo na capital, quando se teve de expulsar o ELNA, o Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA, que mascarava no seu corpo importantes unidades das Forças Armadas Zairenses!

Apesar da heterogeneidade de então, na Luanda da pré-independência (entre o 25 de Abril de 1974 e o 11 de Novembro de 1975) sentiu-se cedo a necessidade de reforçar o rumo do MPLA, bastou por um lado a existência de correntes que procuraram levar por diante a “independência branca” (como o FRA, “Frente de Resistência Angolana”, que em desespero de causa foi lançado efemeramente por Jaime Nogueira Pinto), ou a independência sob tutela, quando a FNLA trouxe nas suas fileiras unidades inteiras das Forças Armadas Zairenses, a coberto do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA).

A psicologia social levada a cabo com clandestina ou semi-clandestina perseverança pelo MPLA e seus aliados no Movimento das Forças Armadas Portuguesas (MFA) conduziu à derrota desse tipo de enredos correntes!

Logo que a primeira Delegação do MPLA chegou a Luanda o movimento de libertação lançou uma intensiva mobilização tirando partido por um lado da resistência clandestina que existiu desde 1961 (e seus vínculos sociais extensivos a todo o país), por outro lado, de sectores sociais importantes que desde as universidades portuguesas haviam assumido de forma inequívoca, os princípios e as convicções inerentes ao rumo que conduzia à autodeterminação e à independência!

O MPLA encetou uma luta com heterogéneos recursos humanos em todo o espaço nacional, que levou à neutralização dessas correntes retrógradas, afins ao “spinolismo” de última hora, enquanto em Portugal se fazia frente à mesma corrente que incentivava com ou sem golpe de estado, a cruzada sob o pretexto de “luta contra o comunismo”!

O Coronel dos Comandos Santos e Castro (e o Exército de Libertação de Portugal, ELP), envolveu-se nessas duas frentes “spinolistas”, chegando a vir para Angola à frente dum contingente de portugueses que apressadamente (na sequência do encontro do general Spínola com o Presidente Nixon e Mobutu na Ilha do Sal), aderiram ao ELNA no Ambriz e no Caxito, sem tempo para vencer as resistências que entretanto as FAPLA haviam organizado nos Dembos, na asa leste de Quifangondo! (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/rosa_coutinho_faleceu_ontem_em_lisboa).

O 11 de Novembro de 1975 em Angola foi possível graças à conjugação de forças estratégicas em reforço do Não Alinhamento activo e da Tricontinental, de facto em quatro continentes, desde os rescaldos da vitória do Vietname, à Operação Carlota, que levou para Angola um contingente de internacionalistas cubanos das Forças Armadas Revolucionárias que veio a intervir simultaneamente em três frentes, a de Cabinda, a de Quifangondo e a do Ebo, em reforço das vitoriosas FAPLA, Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, proclamadas a 1 de Agosto de 1974!...


40- O colonialismo português no âmbito do Exercício Alcora (https://journals.openedition.org/cea/2561;  http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992013000200010), desde 1964 que levou a cabo um trabalho de sapa particularmente quando o MPLA, mudando de paradigma, abriu a Frente Leste na sequência da independência da Zâmbia a 24 de Outubro de 1964.

Aproveito para aqui vincar que tudo nos conduz ao raciocínio de que o Exercício Alcora sofreu metamorfose camaleónica e em muitos aspectos não terminou com o 25 de Abril de 1974, a partir do que se vai sabendo formalmente (acordo tripartido de 15 de Outubro de 1974) e pelas práticas dos governos do “Arco de Governação” sucedâneos do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, desejosos de explorar as linhas de conexão para com o tão controverso processo de assimilação sobretudo de Angola.

Em “Exercício Alcora, o que sabemos e não sabemos sobre o processo colonial” (http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992013000200010), levanta-se um pouco a ponta desse outro véu do grande camaleão, relativamente ao momento em que de forma oficial se terá posto cobro a ele:

… “Foi produzido um documento de uma página, intitulado Agreements as to future cooperation, que incluía troca de informações sobre a manutenção de paz e segurança na África Austral assim como a promoção de boa vontade, compreensão e cooperação na região. E enquanto encontros de alto nível entre os três países deviam continuar, o nome de código Alcora teria de ser abandonado, enquanto que outra vertente do exercício, o PAPO (Permanent Alcora Planning Organization), deixaria de existir a partir de 31 de outubro desse ano”…

Para todos os efeitos, o “Le Cercle” e seus tentáculos em “redes stay behind”, garantiam a metamorfose camaleónica para depois da independência de Angola e de Moçambique, pois as adaptações a partir daí eram previsíveis… o general Charles Alan “Pop” Fraser, o arquitecto do Exercício Alcora e parceiro no mesmo círculo dos generais António Spínola e Kaulza de Arriaga, assim como de Jaime Nogueira Pinto, possui esta esclarecedora ficha de identidade:

“Lived from 1915 to 1994. Joined the South African Army as a part-time Citizen Force soldier in 1934 and became a full-time Permanent Force member in 1946. Served as Chief of the Army from 1966 to 1967, and as General Officer Commanding Joint Combat Forces, co-ordinating Army and Air Force operations and training, from 1967 to 1973. As GOCJCF, he was the third-highest ranking officer in the South African Defence Force's Supreme Command. Has written a dissertation on 'counter-insurgency measures' and how to avoid a communist revolution. The book he wrote around 1968 has set South-Africa's general counter-revolution policy up until the wall came down. Fraser believed that this counter-revolution "war" had to be fought by politicians for at least 80%. People who had a better lifestyle than the communists could offer, wouldn't be interested in a revolution. Consul-general in Iran under the Shah until 1979. March 9, 1979, Facts on File World News Digest, 'South African Ties Cut': Iran severed diplomatic relations with South Africa March 4 because of its disapproval of that country's ploicy of racial discrimination. South African Consul General Alan Fraser was summoned to the Foreign Ministry and was told to leave the country. He was a close personal friend of the Shah and introduced Brian Crozier, as a representative of The 6I, to the Shah at some point”. (https://isgp-studies.com/le-cercle-membership-list).

… Na plataforma da Zâmbia esse trabalho de sapa possibilitaria a fragilização do Presidente Kenneth Kaunda, enredado nos interesses do “lobby” dos minerais e da pressão inteligente do “apartheid”, de seus vínculos e de seus aliados, pelo que as redes de inteligência coloniais portuguesas, a partir de Angola como de Moçambique, integraram com bastante à vontade os dispositivos apontados a Lusaka, contribuindo para o cerco que mais a norte era feito com o regime de Mobutu. (https://www.voaportugues.com/a/article-09-20-2011-kaundasavimbi-voanews-130202768/1261173.htmlhttps://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2014/9/43/Zambia-Independencia-Zambia-anos-inspirou-paises-vizinhos-Governo-mocambicano,78a77671-feaa-4ec4-bdc9-7b868a86983b.html)

Dentro de Angola e face à mudança de paradigma do MPLA (abertura da Frente Leste), o colonialismo refinou métodos de luta contrassubversão, acção psicológica e uma nova estratégia que levou a integrar entre outras componentes (Fieis, Leais e Flechas) a fixação da UNITA por via da Operação Madeira junto à nascente do corredor hídrico do Lungué Bungo (afluente da margem direita do Zambeze), servindo de “almofada amortecedora” ao ímpeto da infiltração da guerrilha do MPLA no leste e sudeste de Angola! (https://www.youtube.com/watch?v=OVDatZaHnq4https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=11520:jonas-savimbi-no-lado-errado-da-historia-livro&catid=23&Itemid=123&lang=pt).

Essa nova estratégia era levada a cabo com os olhos de quem chegando por mar, via o miolo do continente com apreensão e suspeição face ao desconhecido e era daí, do leste, que provinha o risco do movimento de libertação em África, proveniente da plataforma constituída em informal linha da frente que passara a ser a Zâmbia. (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/05/uma-luta-sobre-brasas-i-martinho-junior.html).

Também aqui houve uma resposta reactiva colonial à ruptura nos “absorventes” processos de assimilação então em curso na espectativa antecipada de “Portugal e o futuro” à maneira spinolista (http://www.mercurioonline.pt/html/N5176Portugaleofuturo.html), por que a revolta dos clãs de assimilados de Luanda era um quisto intestino insuportável para as aspirações e os projectos coloniais a médio e longo prazo, inclusive para além do colapso do fascismo colonialista em Lisboa! (https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=11520:jonas-savimbi-no-lado-errado-da-historia-livro&catid=23&Itemid=123&lang=pt).

O pensamento estratégico de Agostinho Neto seria um obstáculo a tal, pois à realização do Programa Mínimo que culminou com o 11 de Novembro de 19755 ia seguir-se a República Popular de Angola, o Partido do Trabalho, as FAPLA e a ODP, enfim, a luta contra o “apartheid”, algo que não estava nos projectos dos etno-nacionalismos da FNLA e da UNITA, mas também não estava nos projectos dos clãs que aberta ou veladamente pretendiam contrariar a continuidade desse rumo desgastante e impeditivo aos seus directos interesses!

Militarmente a internacional fascista foi perdendo em todas frente (https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2009/07/alcora-o-acordo-secreto-do-colonialismo-portugu%C3%AAs-com-o-apartheid.html), pelo que não restou outro modo de actuação, senão lançar mão dum trabalho de sapa inteligente, tirando partido das correntes ascendentes do capitalismo neoliberal, incentivado a partir dos interesses e conveniências da própria aristocracia financeira mundial!

A luta contra o “apartheid” demarcou assim não só o movimento de libertação em África dos etno-nacionalismos, mas também impedia proactivamente qualquer veleidade de assimilação a que muitos pretendiam aderir em Portugal como em Angola, pelo que a conexão a Savimbi (é o caso paradigmático do clã Soares), integrou os fluxos decorrentes do Exercício Alcora, algo a que não ficou indiferente a própria trajectória de alguns como o coronel das South Africa Defence Forces, Óscar Piçarra Cardoso!

Consciente das dificuldades acarretadas com a ruptura em curso em Luanda, de muito difícil controlo (a luta clandestina na capital foi sempre importante para o MPLA por que a independência só se poderia obviar um dia na capital conforme veio aliás a acontecer), o colonialismo português procurou cooptar reactivamente clãs na vasta extensão do centro-sul por que a norte o clã de Holden estava fora de sua directa órbitra, a fim de com esse aliciamento fraccionar, dividir e confundir a complexa sociedade angolana da época, sabendo que os assimilados de então eram um potencial susceptível de controlo se explorado o quadro etno-nacionalista e também por causa do seu número pouco significativo, não ultrapassando os 300.000 em todo o espaço físico-geográfico do país!…

Os clãs familiares do sul foram sendo cooptados sobretudo a partir de toda a dimensão do Caminho de Ferro de Benguela (http://www.cpires.com/angola_comboios.htmlhttps://sites.google.com/site/cfbumahistoriasucinta/) e desde filtragens que invariavelmente recorriam à sensível penetração nas próprias igrejas (a católica e a evangélica), onde os jovens faziam o seu processo de educação e formação.

Os assimilados provenientes dum indigenato avulso, no centro-sul foram filtrados “a pulso” e alguns deles, os jovens, dependiam também dos clãs imbuídos de aspirações messiânicas aferidas ao etno-nacionalismo de arreigada ideologia cristã e a muito longo prazo (a actuação do “Le Cercle” não podia estar alheia a esse tipo de “fermentações”)… (http://m.jornalcultura.sapo.ao/eco-de-angola/trajectoria-da-nacao-angolana-iii).

Duma forma geral esse trabalho de sapa que motivou século após século as autoridades coloniais portuguesas (desde as primeiras feitorias e fortins da costa angolana) e sobretudo desde finais da década de 50 a PIDE-DGS, os SCCIA e as Forças Armadas Portuguesas, teve logo o primeiro sinal quando em Março de 1961 deitaram mão à figura de propaganda dos “fiéis bailundos”, comprovando a capacidade étnica reactiva e a tendência para a manipulação improvisada dos enredos colonialistas em fase de desespero.

À capacidade proactiva do movimento de libertação em África assente na lógica com sentido de vida e na segurança vital em benefício de todo o povo angolano e povos africanos, uma ideologia que se despia de preconceitos regionais, étnicos, de raça e de classe, os aliados do Exercício Alcora forjaram todas as possíveis capacidades reactivas e isso foi determinante para toda a trajectória em vida e o papel tirânico de Savimbi e duma UNITA cada vez mais sua refém, até à data da possibilidade de sua libertação a 4 de Abril de 2002! (http://www.angonoticias.com/Artigos/item/12631/a-historia-secreta-da-ideologia-da-unita).

Nestes termos o 4 de Abril de 2002 foi mesmo a data que possibilitou a libertação da UNITA na sua aspiraão democrática, na forja já com o projecto transitório da “UNITA Renovada”, algo impossível enquanto o clã de Savimbi exerceu protagonismo por via da tirania, do terror e do obscurantismo antes de mais nas suas próprias fileiras, para tentar aplicar esse mesmo tipo de dose a toda a sociedade!

A saga pessoal de Savimbi condicionou efectivamente através do terror e obscurantismo inculcado nas próprias fileiras a UNITA, por que Savimbi só podia resistir se forjasse no seu entorno um núcleo duro, um clã, capaz de recorrer aos métodos mais drásticos, aos métodos mais bárbaros, apropriados para levar a cabo uma guerrilha desgastante que perdurou mais de 3 décadas, para se manter à frente duma organização que de facto era em muitos aspectos sua prisioneira mental, física e orgânica, sob a estrita vigilância do próprio “apartheid” nos enredos duma “border war” que foi sua prática dentro de Angola desde 1966!

CONTINUA

Martinho Júnior -- Luanda, 4 de Dezembro de 2019

Imagens da testa de ponte de quem chegou pelo mar (fortalezas e igrejas de Luanda – http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2013/07/blog-post_23.html):

01- O MPLA teve sempre Luanda no seu horizonte e, enquanto se esperou 13 longos anos, uma luta clandestina sem tréguas se desenvolveu no velho corredor de desembarque e progressão do colonialismo que chegou pelo mar; Catete, terra de liberdade, fica sensivelmente a meio desse corredor, entre Luanda e Massangano e numa posição equidistante entre o Bengo e o Cuanza;

02- Luanda em 1825 era uma raquítica feitoria que se aninhava sob a fortaleza de São Miguel, vocacionada na altura para o tráfico de escravos, a terrível sombra da “dilatação da fé e do império”, onde se arrastou durante séculos a cumplicidade do Vaticano; o movimento de libertação em África, em reforço do MPLA na via propiciada quer pelo CONCP, quer pelo Não Alinhamento activo, teve sempre a declaração da independência em Luanda em mente, fazendo içar a bandeira da dignidade e soberana sobre as velhas fortalezas coloniais; (imagem que acompanhou o texto do camarada António Jorge em finais de Outubro de 2019);

03- A fortaleza colonial de São Miguel, imagem de marca do poder colonial e hoje Museu Militar das Forças Armadas Angolanas; na baía a seus pés, embarcaram escravos para a América durante séculos, tornando Luanda num dos maiores embarcadouros de escravos da costa ocidental africana; dilatava-se então a fé e o império;

04- A insalubre fortaleza-prisão colonial do Penedo, dominando outro local da baía de Luanda (a norte da fortaleza de São Miguel), onde por duas vezes estive preso: a primeira em 1975 (operação mal sucedida de desvio de armas do exército colonialpara benefício do MPLA) e a seguinte (de facto a minha 3ª prisão) em 1980 (já com as primeiras mudanças do carácter do governo da República Popular de Angola, uma prisão às ordens do então Vice-Ministro da Segurança do Estado, Diandengue);

05- A fortaleza colonial de São Pedro da Barra, dominando a entrada da baía de Luanda, foi o último reduto do ELNA (braço armado da FNLA) em 1975, um ELNA que integrava disfarçadamente unidades das Forças Armadas Zairenses introduzidas pelo regime de Mobutu e explorando o tandem Mobutu-Holden, antes de ser expulso para não mais voltar (depois da independência o ELNA foi desaparecendo até à iniciativa do COMIRA, que levou à integração dos efectivos angolanos sobreviventes nas FAPLA).

TEXTOS ANTERIORES, DESTA SÉRIE:










CONTINUA

“Monangambé”, poema de António Jacinto e cantado pelo trovador Rui Mingas – https://ocastendo.blogs.sapo.pt/215584.htmlhttps://www.youtube.com/watch?v=f7CPHC0hZHA  


Monangambé

Naquela roça grande
não tem chuva
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue
feitas seiva.

O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo?
quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?

Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande
- ter dinheiro?
- Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:

- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído
nas minhas bebedeiras

- "Monangambéé...'"

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