Martinho Júnior, Luanda
SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE
NOVEMBRO DE 2019
Uma das maiores deficiências de
que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a
ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos
afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.
Essa falta de vontade e de
perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do
conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o
campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias
injectadas do exterior!
Isso permite que outros não abram
o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses,
manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as
interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!
In – Aprender reinterpretando – https://paginaglobal.blogspot.com/2019/06/angola-aprender-reinterpretando.html
Esta série pretende reabrir
dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da
América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas
um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e corajosamente
fazer!
Abrir os links permite
complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.
Nota: Esta série tendo como
horizonte o 11 de Novembro de 2011, propiciará continuidade para outra que a
ela se vai seguir.
37- Há que fazer aqui uma outra
abordagem comparativa: entre as rupturas nos processos de assimilação face aos
moldes colonialistas e o que acontece hoje com a assimilação em tempo de
capitalismo neoliberal, algo que tem servido de debate a alguns investigadores
angolanos, tacteando antropológica e historicamente, quase sempre a partir do
acervo documental colonialista, ainda que com sentido de reinterpretação com
olhos que se vão aproximando das sensibilidades a sul… (https://journals.openedition.org/lerhistoria/1391; https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=19446:a-colonizacao-domestica-de-angola-carlos-kandanda&catid=17&lang=pt&Itemid=1067; http://jornaldeangola.sapo.ao/cultura/discriminacao_e_politicas_de_assimilacao).
Nas décadas de 50, 60 e 70 do
século passado eram sobretudo os jovens assimilados de última geração que
forjavam a consciência crítica contra o colonialismo e o “apartheid” com
um espírito colectivo vigoroso e firme, a ponto de ser possível levar a cabo a
luta clandestina e a luta armada de libertação em África (de que se tornaram
quadros), ainda que com todos os imponderáveis que isso acarretou devido à deliberada
confusão dos etno-nacionalismos, em relação aos quais até poderiam estar pouco
avisados, só por que Angola era “a minha terra”…( https://www.youtube.com/watch?v=w6ycSnorZeY).
Na memória da opressão dessas
gerações, as fortalezas e as prisões passaram a cumprir uma carga emocional
incontornável, no próprio cimento de suas convicções e na forja de suas
personalidades de combatentes enquanto geração da renúncia impossível!... (http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2013/07/blog-post_23.html).
Ver ondear um dia a bandeira da
independência sobre as velharias coloniais, fazia parte dos sonhos e das
utopias de então e era uma aspiração que movia energia e a força da luta de
libertação em África, n caso do MPLA!
Há um texto do camarada António
Jorge publicado em finais de Outubro de 2019, que me socorre para se poder
aproximar a leitura das razões profundas dessa ruptura que só pôde ser feita
desde o momento da cultura de consciência crítica sobre os “subterrâneos” da
história da “dilatação da fé e do império”:
“Luanda - Mapa da cidade do
século XIX, no tempo do domínio do mercado escravocrata das famílias
crioulas... e hoje consideradas como famílias importantes e ricas, de origem
assimilada e donos do poder, desde há 30 anos.
- No mapa assinalado a preto, o
Bungo, o lugar onde existiu o maior solar português no Atlântico Sul...
conhecido por Palácio de Dona Ana Joaquina.
Este Solar... que era o maior
monumento da memória humana da escravatura em Angola, foi mandado demolir, no
tempo de um Ministro de uma família assimilada do poder no ano dois mil.
Era Ministro da Educação e da
Cultura, António Burity da Silva Neto Bravo.
Os escravos antes de embarcarem
nas Portas do Mar, para as Américas... do Sul e do Norte e Caraíbas... ficavam
a aguardar no Bungo... nas traseiras... os quintais do Solar de Dona Ana
Joaquina... e quando com o fim da escravatura foi proibido o tráfico negreiro,
os escravos seguiam por um túnel desde o Bungo até às Portas do Mar... para não
serem vistos.
A Dona Ana Joaquina, era uma
mulher poderosa, e dona de milhares de escravos, e de uma significativa frota
de navios de costa e oceânicos, para o transporte no litoral de Angola e a
travessia do Atlântico.
E ainda dona de enormes terras e
gado.
Nesta altura, a Igreja dos
Remédios, devido à maior presença e domínio dos portugueses se fazer sentir
mais no Reino do Ndongo... associado desde à séculos ao negócio de exportação
de mercadoria humana; a escravatura de homens, mulheres e crianças,
principalmente para o Brasil.
Passou a ser a Catedral dos
Reinos do Congo e do Ndongo.
Existiam vários mercados de
escravos em Luanda, e nomeadamente no lugar que é conhecido hoje, por Largo do
Baleizão... muito próximo do local do embarque para o Calunga... nas Portas do
Mar, e outra praça de escravos na Corimba que fica na Samba.
- Porque o mercado escravocrata
passou a ser dirigido pelas famílias crioulas de Luanda?
Como é sabido a Joia da Coroa de
Portugal do Império Colonial, era o Brasil... só depois da separação do Brasil
de Portugal em 1822, passou a ser Angola.
O Brasil absorveu durante mais de
duzentos anos, todo o crescimento demográfico de Portugal.
Portugal a partir de 1807, foi
sujeito às invasões napoleónicas, tendo originado a saída da coroa portuguesa e
da quase totalidade da sua aristocracia, para o Brasil.
As invasões napoleónicas terminam
em 1814, e consequentemente o fim da regência inglesa sobre Portugal.
O Rei do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves, D. João IV, é coagido pelos ingleses a ter de regressar a
Portugal.
O império desfaz-se... O Brasil
separa-se de Portugal e em setembro de 1822... o Brasil, assumiu a condição de
uma outra forma de independência... a solo... separado de Portugal. D. João IV,
regressa e assume o trono de Portugal em 1822.
Portugal vive um largo período de
problemas e incertezas, em consequências das invasões napoleónicas, a separação
do Brasil, onde ficou a quase totalidade da sua aristocracia. D.João IV, morre
em 1826, sucede-lhe seu filho D. Pedro IV, Imperador Pedro I do Brasil.
Entre 1828 e 1834, inicia-se a
guerra, conhecida pela guerra dos dois irmãos pela sucessão do trono, entre
Pedro I do Brasil, liberal constitucionalista e D. Miguel... absolutista.
A guerra da Patuleia, entre
cartistas e setembristas, em consequência da revolta da Maria da Fonte em 1846,
e da abolição por decreto dos escravos em Portugal, do Estado em 1854 e da
igreja em 1856.
E, finalmente... com a lei de 25
de Fevereiro de 1869 proclamou-se a abolição da escravatura em todo o Império
Português, até ao termo definitivo de 1878.
Registo para que se saiba:
O comércio de escravos que se
estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou cerca de 11.313.000
indivíduos.”
… Largo do Baleizão, assinalado
na síntese de António Jorge, onde nas décadas de 50 e 60 ficava um dos
restaurantes mais próximos da sede da PIDE-DGS em Angola e onde estava
garantida uma densa malha humana de recrutamentos entre as famílias de
assimilados angolanos de então, um processo que apesar do “esmero” jamais
conseguiu apagar a chama da revolta!…
… Era só descer o morro e “invadir” o
bairro dos Coqueiros, beber “entre amigos” uma cerveja no Baleizão,
ou ir até ao vetusto Hotel Luanda (onde está hje a casa da Cultura do Brasil,
ao lado do Museu de Antropologia) e observarmos os discretos contactos dos
homens da PIDE-DGS (entre eles o inspector Ernesto Lopes Ramos que em finais da
década de 60 “atendia” gente ligada ao empresariado colonial e ao
tráfico de diamantes)!...
Nos nossos dias os assimilados de
alguns sectores das novas elites, inebriados em neoliberalismo, estão longe dum
patamar de consciência crítica em função de seus próprios interesses,
conveniências e acomodações sociais: deixaram-se ser absorvidos “suavemente” por
uma mentalidade que sopra de fora por via dos canais derivados da globalização
capitalista neoliberal com o rótulo da necessidade do investimento externo,
tornando-se muito mais individualistas e egoístas, afoitos às parcerias internacionais
de negócios e também às “parcerias público-privadas” (que
simultaneamente foram grassando por Portugal), ao extremado ponto de, desde
1985 se formarem as torrentes de corrupção “que estamos com elas”!… (https://acervo.publico.pt/mundo/noticia/houve-independencia-mas-nao-descolonizacao-das-mentes-1712736).
Os jovens desta assimilação
estudam (muitos fingem que estudam apenas interessados nos estatutos de
conveniência) nas escolas “ocidentais”, preferencialmente nas escolas
anglo-saxónicas dos Estados Unidos e do Reino Unido, não em liceus coloniais
que ensinavam a “dilatação da fé e do império”, nem em universidades
portuguesas onde o fascismo e o colonialismo já haviam “perdido a guerra” antes
do 25 de Abril de 1974!
Quantos deles foram “formados” à
custa de Bolsas de Estudo pagas pelos sucessivos governos angolanos?
Quantos deles, depois de “formados”,
foram utilizados por outros interesses e por outras conveniências, sem sequer
pagar a dívida de sua “formação”?
… As linhas de conduta dominante
foram-se esmerando com as novas tecnologias (à entrada do século XXI),
evoluindo do passado de repressão para o controlo persuasivo e irrestrito dos
cérebros, linhas de conduta que são observáveis nos nossos dias e podem-se
identificar entre milhares de exemplos, no livro “Jogos Africanos” de
Jaime Nogueira Pinto, que em relação a Angola contemporânea pode nesse aspecto
servir de referência (já por diversas vezes por mim evocada); constate-se uma
apreciação sobre essa “relatividade” publicada em 2009 no jornal
Público… (https://www.publico.pt/2009/03/22/jornal/angola-e-o-relativismo-moral-300057).
Chegou-se ao ponto de trazer para
o Colóquio de História do MPLA, a pretexto do 31 de Maio de 1991 (Bicesse claro
está), velhas raposas como Durão Barroso, uma individualidade que derivada dum
efémero percurso no MRPP (“Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado” – https://pctp-mrpp-norte.weebly.com/estatutos-do-partido.htmlm; https://textosmarxistas.blogs.sapo.pt/reorganizar-o-partido-revolucionario-do-24007),
foi escorregando para as entranhas neoliberais como poucos intelectuais ou
políticos portugueses o “conseguiram” fazer (a mudança de época
foi-lhe propícia)! (https://www.plataformamedia.com/pt-pt/noticias/politica/durao-barroso-em-angola-para-participar-em-coloquio-do-mpla-11579534.html).
Durão Barroso sobre a história,
costuma reduzir tudo à polaridade da Guerra Fria numa perfeita esquadria só
possível de gerar e gerir com o 25 de Novembro de 1975, de certo modo
redundante do 11 de Março de 1975 (https://journals.openedition.org/lerhistoria/2487)
e o resíduo spinolista em Portugal… para ele é muito difícil admitir, em pé de
igualdade, o Não Alinhamento activo, muito menos Tricontinental, provavelmente
nem trilha do movimento de libertação em África em estreita aliança com a
revolução cubana e a lógica com sentido de vida pura porque pura e simplesmente
isso não dá lucro e é portanto dispensável por se tornar, do lado economicista
de sua interpretação, desprezível! (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/as-relacoes-entre-ex-colonizador-e-ex-colonizados-nunca-sao-faceis).
A assimilação contemporânea em
Angola é feita nos termos a que se vai referindo Durão Barroso, que considera
que “a queda do Muro de Berlim começou aqui em Angola, em África” (http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2019/11/49/Durao-Barroso-destaca-papel-Angola-Africa-Austral,f7eacbe1-b2d0-443a-b92f-9e8389669456.html)
e nem o contraponto de Filipe Zau consegue vencer o que prevalece dessa “mentalidade
histórica” que teve sua oportunidade de germinação com o 31 de Maio de
1991, depois du intensivo mês de trabalho dum esmerado governo social-demicrata
da esfera do “Arco de Governação”, no auge do cavaquismo!... (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/neoliberalismo-e-fundamentalismo-religiosos-versus-cidadania).
Durão Barroso é um advogado
procurando fluir discursivamente a sul uma hipotética causa comum entre o
camaleão e a borboleta, agora, com a contribuição dum MPLA cada vez mas
borboleta e pronto a “dourar a pílula” do que se tem seguido
sobretudo no campo da economia depois do 31 de Maio de 1991, atirando para as
urtigas a gritante aspiração de incessante busca de justiça social!... (http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/globalizacao-o-camaleao-voraz-que.html; https://www.youtube.com/watch?v=QZhMKskPBQA).
De facto e com cada vez mais
evidências, “Angola não é à prova do choque, nem da terapia” e até o
campo da história abre o postigo para ser lavado pelos políticos de
contingência!... (https://plataformacascais.com/plataformacascais/artigos/partilhado/84029-angola-nao-e-a-prova-do-choque-nem-da-terapia.html).
A consciência crítica dum
estudioso da globalização como Ignatio Ramonet, é evocada na argumentação
esclarecida e esclarecedora de Filipe Zau, (“a adesão dos países às teses
neoliberais parece poder interpretar-se como sendo a substituição de regimes
totalitários por regimes globalitários, em que os dogmas do partido único deram
lugar aos dogmas da globalização e do pensamento único, ao não admitirem
nenhuma outra política económica, subordinando, por outro lado, os direitos
sociais do cidadão à competitividade e delegando nos mercados financeiros a
direcção total das actividades da sociedade dominada”) mas parece evidente que
neste MPLA, argumentos desta natureza estão cada vez mais a cair em saco roto,
ou seja, acabou a linha que dá sequência ao movimento de libertação em África
enquanto escola incorruptível de patriotismo e continua a não haver abertura no
sentido da lógica com sentido de vida, muito menos nos termos de segurança
vital, imprescindível para a gestão da água e da vida em Angola!
Entre os processos de assimilação
de então (décadas de 50, 60 e 70 do século XX) e os de hoje (desde a década de
90 do século XX), há portanto distinções a fazer, por que naqueles anos
prevaleceu a ruptura em função da inevitabilidade da consciência crítica, uma
ruptura que foi sendo amadurecida ao longo do século XX, algo a que se referiu
com toda a propriedade, outro líder do movimento de libertação em África,
Amílcar Cabral (http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/31254):
Face à brutal repressão colonial
e do “apartheid” (https://journals.openedition.org/eces/403), os revoltados
assimilados (que perceberam quanto eram vítimas também da opressão colonial) assumiram-se
quase sempre pelo tão justo quão firme antagonismo no quadro da luta armada de
libertação em África (http://m.jornalcultura.sapo.ao/inicio/modal/historia/katete-terra-de-liberdade),
por muito incómodo que isso lhes tivesse causado e avançando para além do
conhecimento de Franz Fanon, por que a luta faz nascer o homem novo que não
admite mais vitimização (https://journals.openedition.org/lusotopie/1638);
Face à persuasão “soft
power” inerente à terapia neoliberal e em função além do mais da revolução
das novas tecnologias, uma franja importante das elites angolanas “abrasileiradamente” assimiladas
de hoje (https://journals.openedition.org/eces/403)
assumem-se em correlativo módulo clientelar, constituindo confortadas e
confortáveis castas, ou até mesmo máfias da corrupção ou da corruptela,
instaladas nos vários escalões de manipulação e vassalagem, num quadro
humanamente palpável, inscrito na pirâmide de domínio de 1% (aristocracia
financeira mundial), sobre o resto da humanidade, (https://www.revistamilitar.pt/artigo/1039; http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/a_globalizacao_da_pobreza)
por que se chegou ao escândalo de até se tornar possível no país de Agostinho
Neto o “apartheid social”! (https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=15679:o-apartheid-social-em-angola-bernardo-castro&catid=17&Itemid=1067&lang=pt).
A manipulação massiva, conforme a
síntese levada a cabo pelo investigador francês Sylvan Timsit, afecta os
cérebros da maioria possibilitando o controlo massivo da cidadania, um
resultado precisamente contraditório do resultado psicológico da brutal
opressão e repressão colonial e isso está na base do êxito dos processos modernos
de assimilação! (https://www.rebelion.org/noticia.php?id=223780; https://www.elclubdeloslibrosperdidos.org/2018/03/las-terribles-10-estrategias-de.html).
O MPLA enquanto partido de massas
está inibido num quadro global desta natureza e no momento em que se torna
urgente uma mudança de paradigma, está longe de atender aos deveres patrióticos
a que uma tal projecção obriga!
Com a independência e no
seguimento desse tipo de antecedentes, constate-se como foi fluente a
aproximação de Jaime Nogueira Pinto (membro do “Le Cercle”, da FRA, “Frente
da Resistência Angolana” e do CDS português – https://politica210.wordpress.com/2013/09/04/jaime-nogueira-pinto/; https://www.jn.pt/domingo/spinola-e-o-futuro-de-portugal-1552608.html),
a oficiais generais angolanos já no âmbito das FAA, (após 31 de Maio de 1991,
data do acordo de Bicesse), algo que era e foi impossível enquanto perduraram as
FAPLA!... (https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=31811:in-memoriam-jaka-jamba-jaime-nogueira-pinto&catid=17&lang=pt&Itemid=1067).
Constate-se também como este MPLA
cada vez mais se vai moldando a algo que pouco a pouco pode tornar-se no
caminho de sua perdição, quando se esquece do quanto no “corpo
inerte” de África o modelo neoliberal de globalização é "a
Globalização da Pobreza”! (https://www.skoob.com.br/a-globalizacao-da-pobreza-5854ed7013.html; http://www.globalkleptocracy.net/).
As borboletas pouco avisadas
aprestam-se para o dardo da língua do grande camaleão de tão inebriadas que
estão essas franjas das novas elites angolanas, incapazes de reagir aos alertas
com base no que “constitui uma crítica fundamentada e demolidora dos rumos
económicos e financeiros do mundo actual”!...
38- Foi sobretudo no cadinho das
religiões que se foram formando as famílias de assimilados de então que
decididamente e apesar dos riscos, entraram em ruptura contra o colonialismo
com os olhos fitos na autodeterminação e na independência (de que a advogada
Maria do Carmo Medina foi também incontornável testemunha)… (https://www.portaldeangola.com/2016/01/08/processo-dos-50-processos-politicos-da-luta-pela-independencia/).
Em relação ao próprio Presidente
António Agostinho Neto foram particularmente as famílias metodistas que
alimentaram os enredos de sua própria génese pessoal, pontos de partida para a
sua personalidade lúcida de combatente ao nível de toda a África Central e Austral
(https://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=15679:o-apartheid-social-em-angola-bernardo-castro&catid=17&Itemid=1067&lang=pt)
e o acompanharam na saga de “quem se espera” mesmo depois de ele
renunciar à religião até se alcançar a prossecução do Programa Mínimo!
O rumo da luta armada de
libertação em África, com os olhos postos na autodeterminação e independência,
que em Angola levou ao 11 de Novembro de 1975, aglutinou torrentes dessas
famílias acima de tudo na capital, Luanda, arrancando muitas delas às cumplicidades
antigas em que haviam vegetado enquanto houve escravatura e penetração colonial
no território (em conformidade com a tipologia dos comércios de então) e
criando um campo de ambiguidades em relação àquelas cujos parentes partiram
para engrossar as fileiras da luta armada de libertação, ou viviam em arriscada
clandestinidade, ou foram conduzidos aos campos de concentração prisional
dentro ou fora de Angola!... (http://www.redeangola.info/especiais/luandino-vieira-faz-hoje-80-anos/).
Imaginem o tipo de tensões e
traumas que essas igrejas e essas famílias foram obrigadas a viver e a vencer e
o telúrico potencial energético que a luta nessas condições obrigava a
desencadear, sempre com os olhos postos legitimamente na declaração da
independência em Luanda!
A lógica com sentido de vida era
por si e também sob os pontos de vista ético e moral um resgate para essas
famílias de assimilados e por isso “aquele por quem se espera” tinha
bem presente a necessidade do movimento de libertação vocacionar-se na luta
pelo interior sempre na direcção de Luanda, mudando várias vezes de paradigma
na busca desse tão apelativo horizonte, que era também um horizonte de natureza
psicossocial! (http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-i.html; http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-ii.html).
Nesse rumo, quanta dolorosa
aprendizagem não teve de haver, quanta criatividade foi necessário desenvolver
sobre brasas?
As autoridades coloniais
aperceberam-no desde a primeira hora, ripostando e implantando todos os
dispositivos face a essa “ameaça” e o próprio “Processo 50” é
nesse sentido revelador!
A partir de então os instrumentos
do poder do estado fascista e colonial procuraram sempre penetrar ainda com
mais acutilância nas igrejas e nas famílias, agenciando agentes face a cada
alvo que passava a ser cada um dos patriotas que assumia luta armada ou luta
clandestina, no quadro da lógica com sentido de vida em busca de
autodeterminação, independência e liberdade!... (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1132:intervencao-do-bispo-emerito-da-igreja-metodista-unida-rev-emilio-de-carvalho-dialogos-em-familia&catid=37:noticias&Itemid=206).
Desse modo, os instrumentos do
poder de estado fascista e colonial procuravam resultados imediatos, mas também
a prazo médio e dilatado, para além da própria independência se a houvesse,
pois os vínculos que nesse sentido eram forjados, vínculos dum quadro
identificado com a internacional fascista na África Central e Austral, eram na
maior parte dos casos por dependência e propiciavam inusitadas potencialidades
que podiam passar dum ordenamento tático para um ordenamento estratégico a
muito longo prazo!
Com o golpe do 25 de Novembro de
1975 em Portugal, apenas 14 dias depois do 11 de Novembro de 1975 em Angola,
foram recriadas as condições para, a partir de Lisboa e por via de todo o tipo
de canais de inteligência (explorando proximidades), se procurarem vias para a
repescagem das velhas famílias de assimilados angolanos, pelo que o 27 de Maio
de 1977 é um dos sinais evidentes desse contencioso humano que tem permanecido
no desconhecido das suas razões causais mais profundas de ordem sociológica,
psicológica e até antropológica!
Ainda assim é uma identificável
linha de acção (”modus operandi”) no quadro das “redes stay behind” da
NATO e suas vestes de camaleão: assim como o golpe de 25 de Novembro de 1975 em
Portugal seguiu-se ao ariete radical do “verão quente”, com o 27 de Maio
de 1977 em Angola enquanto ariete, ficaram determinadas as vacilações do
Presidente Agostinho Neto até à hora de sua morte e a degeneração do rumo que a
partir daí foi paulatinamente acontecendo, intrincado com a necessidade de vencer
o “apartheid”!
Mesmo com os inspectores da
PIDE-DGS e os homens dos SCCIA a saírem de Angola, a atravessarem a fronteira e
a reforçarem automaticamente os dispositivos do “apartheid” (é o caso
de Óscar Piçarra Cardoso – http://cantinhodomundo.blogspot.com/2005/11/histrias-secretas-da-pidedgs-o-golpe.html),
ou em menor número a instalarem-se no Brasil (é o caso de Ernesto Lopes Ramos – https://ionline.sapo.pt/artigo/596552/15-de-janeiro-de-2005-no-plaino-abandonado-que-a-morna-brisa-aquece-?seccao=Portugal; http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=a5a06fb5-4db6-4cf2-86a9-893253c00ae3&edition=52; https://www.esquerda.net/opiniao/humberto-delgado-obviamente-assassinado-por-ordem-de-salazar/35785),
a fluência das correntes “iluminadas” pelos procedimentos ideológicos
e práticos do “Le Cercle” mesclados de subreptício spinolismo ficou
sempre garantida, até por que a própria igreja católica a isso se aprestou
sempre!
A qualquer momento as ideologias
cristãs-democratas podiam ser reactivadas particularmente desde aquela Luanda
de pré-independência (também em Brazzaville com o quadro humano da Revolta
Activa), repescando vínculos antigos e práticas de contingência!
Haveria melhor experimentada
capacidade do que a cultura das “redes stay behind” da NATO para
gerarem “redes stay behind” por dentro das famílias de assimilados da
capital angolana, procurando desde logo cercar os alvos mais dilectos, aqueles
que eram dirigentes no rumo da luta de libertação em África?
Para esse tipo de ideologias, o
processo histórico no seguimento da dilatação da fé e do império, estava não só
carregado de desafios, mas sobretudo de aliciantes!
Até ao 11 de Novembro de 1975,
essa longa batalha de inteligência foi travada igreja a igreja, família a
família, mas foi sendo derrotada pela impetuosidade e energia do MPLA que levou
à ruptura e conduzia a ruptura em nome da vida, ainda que com os reveses
fraccionistas que se foram sucedendo…
39- A lógica com sentido de vida
e a noção de segurança vital foi imprescindível em Angola entre o 25 de Abril
de 1974 e o 11 de Novembro de 1975, animando as fileiras progressistas em todos
os territórios onde, com a descolonização portuguesa, teve de haver “o
regresso das caravelas”!
Nessa altura o Movimento das
Forças Armadas Portuguesas (MFA), apesar do spinolismo, do “verão quente” e
das manobras intestinas de toda a ordem, foi considerado pelo Presidente
António Agostinho Neto como mais um movimento de libertação! (http://media.rtp.pt/descolonizacaoportuguesa/pecas/o-programa-do-mfa/).
O pessoal diplomático dos Estados
Unidos acreditado no consulado geral de Luanda na última fase do colonialismo
português (muito citado no livro “Segredos da descolonização de Angola” da
autoria de Alexandra Marques – https://www.youtube.com/watch?v=pWDXgy7NI5Y; https://www.passeidireto.com/arquivo/36118629/segredos-da-descolonizacao-de-angola-alexandra-marques/2),
percebia-o inteligentemente (com fundamento em seus próprios contactos, entre
eles o Bispo Emílio de Carvalho e o médico MacMahon Vitória Pereira que
chegaram a visitar os Estados Unidos em tempo colonial a convite do
Departamento de Estado, conforme documentação apreendida na década de 80, já
com a independência em curso, documentação que, recorde-se, esteve na origem do
Processo 195/83), mas não conseguiram demover Henry Kissinger, ligado à
aristocracia financeira mundial e aos grupos mais elitistas, que desencadeou a
Operação da CIA contra Angola, conjugando esforços com a internacional fascista
sob encargo directo do “apartheid”! (https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_IA_Feature; https://www.olx.pt/anuncio/os-mercenrios-na-guerra-de-angola-lote-de-3-livros-muito-raros-IDzSd2P.html; http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/quifangondo.html; http://www.thirdworldtraveler.com/Stockwell/In_Search_Enemies.html).
Essa luta correspondeu em
Portugal ao hiato entre o próprio 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de
1975, em que o camarada António Jorge esteve inserido, dando conta do que
aconteceu em resposta ao “verão quente spinolista” enquanto rescaldo
desse “regresso das caravelas”!
Recordo este comentário
recentemente inserido na minha própria página no Facebook, correspondendo ao
excerto sobre o “25 de Novembro de 1975, moderação da NATO imposta aos
portugueses”:
“Reflexões Entre abril e
novembro!
… Eu participei na organização e
nas denominadas barricadas de Lisboa pela Intersindical em 28 de setembro de
1974...
Manif tentada por Spinola e pelos
grandes banqueiros, desde o Salgado, ao Vinhas, ao Champalimaud... e outros
ricaços.
A intenção de Spinola nessa
altura, era a de afastar e tentar ilegalizar o PCP, e impedir a independência
de Angola.
Esta intentona, ficou conhecida
como a tentativa da Maioria Silenciosa do 28 de setembro.
As barricadas foram feitas em
todas as entradas de Lisboa... eu fiquei na autoestrada do norte em Sacavém, na
portagem.
Outros ficaram espalhados pelo
país, nos acessos a Lisboa... e a manif, marcada para a praça do império, não
se realizou - porque não deixamos entrar ninguém em Lisboa...
Esta tentativa spinolista, veio
na sequência das provocações montadas por Spínola ao primeiro-ministro Vasco
Gonçalves... dias antes, a primeira no Concurso Hípico Internacional de Lisboa
e a segunda na tourada organizada por Spínola e um denominado grupo de
militares da guerra do ultramar.
Em consequência desta tentativa
golpista de extrema-direita, Spínola foi demitido no dia 30 de setembro de
74... e o golpe preparado para impedir a Independência de Angola, foi
travado...
Tentou substituir como
alto-comissário, Rosa Coutinho, e tinha já nomeado em sua substituição, o
Comandante Santos e Castro e o general Altino de Magalhães (que tinha sido o
chefe do estado-maior em Angola).
Mais um pormenor – durante a
resistência das barricadas, cerca de 200 para-quedistas spinolistas ainda
tentaram um golpe aéreo, que consistia em colocar granadas despoletadas dentro
de copos e atirar para cima dos antifascistas e anticolonialistas das
barricadas!”
Enquanto isso em Angola, era a
internacional fascista que sob a égide de Henry Kissinger, também ele membro
do “Bilderberg”, do “Le Cercle” e do “Clube 1001”,
procurava quebrar o rumo de lógica com sentido de vida que conduzia o movimento
de libertação em África a um volte face decisivo na África Central, na África
Austral e em Angola naqueles anos decisivos!
Os assimilados angolanos em
revolução e inseridos em classes tão importantes como o campesinato angolano (a
imensa massa anónima de “indígenas”) em ruptura contra o colonialismo,
tornaram-se decisivos para garantir o 11 de Novembro de 1975, a data em que
Angola seria independente e soberana nos seus destinos, correspondendo à
mobilização em torno do pensamento estratégico de Agostinho Neto!
Nessa altura interesses egoístas,
interesses de famílias, interesses de classes esbateram-se a ponto de todos
corresponderam em uníssono perante os riscos, as ameaças e os sacrifícios, num
imparável colectivo sobretudo na capital, quando se teve de expulsar o ELNA, o
Exército de Libertação Nacional de Angola, braço armado da FNLA, que mascarava
no seu corpo importantes unidades das Forças Armadas Zairenses!
Apesar da heterogeneidade de
então, na Luanda da pré-independência (entre o 25 de Abril de 1974 e o 11 de
Novembro de 1975) sentiu-se cedo a necessidade de reforçar o rumo do MPLA,
bastou por um lado a existência de correntes que procuraram levar por diante
a “independência branca” (como o FRA, “Frente de Resistência
Angolana”, que em desespero de causa foi lançado efemeramente por Jaime
Nogueira Pinto), ou a independência sob tutela, quando a FNLA trouxe nas suas
fileiras unidades inteiras das Forças Armadas Zairenses, a coberto do Exército
de Libertação Nacional de Angola (ELNA).
A psicologia social levada a cabo
com clandestina ou semi-clandestina perseverança pelo MPLA e seus aliados no
Movimento das Forças Armadas Portuguesas (MFA) conduziu à derrota desse tipo de
enredos correntes!
Logo que a primeira Delegação do
MPLA chegou a Luanda o movimento de libertação lançou uma intensiva mobilização
tirando partido por um lado da resistência clandestina que existiu desde 1961
(e seus vínculos sociais extensivos a todo o país), por outro lado, de sectores
sociais importantes que desde as universidades portuguesas haviam assumido de
forma inequívoca, os princípios e as convicções inerentes ao rumo que conduzia
à autodeterminação e à independência!
O MPLA encetou uma luta com
heterogéneos recursos humanos em todo o espaço nacional, que levou à
neutralização dessas correntes retrógradas, afins ao “spinolismo” de
última hora, enquanto em Portugal se fazia frente à mesma corrente que
incentivava com ou sem golpe de estado, a cruzada sob o pretexto de “luta
contra o comunismo”!
O Coronel dos Comandos Santos e
Castro (e o Exército de Libertação de Portugal, ELP), envolveu-se nessas duas
frentes “spinolistas”, chegando a vir para Angola à frente dum contingente
de portugueses que apressadamente (na sequência do encontro do general Spínola
com o Presidente Nixon e Mobutu na Ilha do Sal), aderiram ao ELNA no Ambriz e
no Caxito, sem tempo para vencer as resistências que entretanto as FAPLA haviam
organizado nos Dembos, na asa leste de Quifangondo! (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/rosa_coutinho_faleceu_ontem_em_lisboa).
O 11 de Novembro de 1975 em
Angola foi possível graças à conjugação de forças estratégicas em reforço do
Não Alinhamento activo e da Tricontinental, de facto em quatro continentes,
desde os rescaldos da vitória do Vietname, à Operação Carlota, que levou para
Angola um contingente de internacionalistas cubanos das Forças Armadas
Revolucionárias que veio a intervir simultaneamente em três frentes, a de
Cabinda, a de Quifangondo e a do Ebo, em reforço das vitoriosas FAPLA, Forças
Armadas Populares de Libertação de Angola, proclamadas a 1 de Agosto de
1974!...
40- O colonialismo português no
âmbito do Exercício Alcora (https://journals.openedition.org/cea/2561; http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992013000200010),
desde 1964 que levou a cabo um trabalho de sapa particularmente quando o MPLA,
mudando de paradigma, abriu a Frente Leste na sequência da independência da
Zâmbia a 24 de Outubro de 1964.
Aproveito para aqui vincar que
tudo nos conduz ao raciocínio de que o Exercício Alcora sofreu metamorfose
camaleónica e em muitos aspectos não terminou com o 25 de Abril de 1974, a
partir do que se vai sabendo formalmente (acordo tripartido de 15 de Outubro de
1974) e pelas práticas dos governos do “Arco de Governação” sucedâneos
do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, desejosos de explorar as linhas de
conexão para com o tão controverso processo de assimilação sobretudo de Angola.
Em “Exercício Alcora, o que
sabemos e não sabemos sobre o processo colonial” (http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992013000200010),
levanta-se um pouco a ponta desse outro véu do grande camaleão, relativamente
ao momento em que de forma oficial se terá posto cobro a ele:
… “Foi produzido um
documento de uma página, intitulado Agreements as to future cooperation, que
incluía troca de informações sobre a manutenção de paz e segurança na África
Austral assim como a promoção de boa vontade, compreensão e cooperação na
região. E enquanto encontros de alto nível entre os três países deviam
continuar, o nome de código Alcora teria de ser abandonado, enquanto que outra
vertente do exercício, o PAPO (Permanent Alcora Planning Organization),
deixaria de existir a partir de 31 de outubro desse ano”…
Para todos os efeitos, o “Le
Cercle” e seus tentáculos em “redes stay behind”, garantiam a
metamorfose camaleónica para depois da independência de Angola e de Moçambique,
pois as adaptações a partir daí eram previsíveis… o general Charles Alan “Pop” Fraser,
o arquitecto do Exercício Alcora e parceiro no mesmo círculo dos generais
António Spínola e Kaulza de Arriaga, assim como de Jaime Nogueira Pinto, possui
esta esclarecedora ficha de identidade:
“Lived from 1915 to 1994. Joined
the South African Army as a part-time Citizen Force soldier in 1934 and became
a full-time Permanent Force member in 1946. Served as Chief of the Army from
1966 to 1967, and as General Officer Commanding Joint Combat Forces,
co-ordinating Army and Air Force operations and training, from 1967 to 1973. As
GOCJCF, he was the third-highest ranking officer in the South African Defence
Force's Supreme Command. Has written a dissertation on 'counter-insurgency
measures' and how to avoid a communist revolution. The book he wrote around
1968 has set South-Africa's general counter-revolution policy up until the wall
came down. Fraser believed that this counter-revolution "war" had to
be fought by politicians for at least 80%. People who had a better lifestyle
than the communists could offer, wouldn't be interested in a revolution.
Consul-general in Iran under the Shah until 1979. March 9, 1979, Facts on File
World News Digest, 'South African Ties Cut': Iran severed diplomatic
relations with South Africa March 4 because of its disapproval of that
country's ploicy of racial discrimination. South African Consul General Alan
Fraser was summoned to the Foreign Ministry and was told to leave the
country. He was a close personal friend of the Shah and introduced Brian
Crozier, as a representative of The 6I, to the Shah at some point”. (https://isgp-studies.com/le-cercle-membership-list).
… Na plataforma da Zâmbia esse
trabalho de sapa possibilitaria a fragilização do Presidente Kenneth Kaunda,
enredado nos interesses do “lobby” dos minerais e da pressão
inteligente do “apartheid”, de seus vínculos e de seus aliados, pelo que
as redes de inteligência coloniais portuguesas, a partir de Angola como de
Moçambique, integraram com bastante à vontade os dispositivos apontados a
Lusaka, contribuindo para o cerco que mais a norte era feito com o regime de
Mobutu. (https://www.voaportugues.com/a/article-09-20-2011-kaundasavimbi-voanews-130202768/1261173.html; https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2014/9/43/Zambia-Independencia-Zambia-anos-inspirou-paises-vizinhos-Governo-mocambicano,78a77671-feaa-4ec4-bdc9-7b868a86983b.html)
Dentro de Angola e face à mudança
de paradigma do MPLA (abertura da Frente Leste), o colonialismo refinou métodos
de luta contrassubversão, acção psicológica e uma nova estratégia que levou a
integrar entre outras componentes (Fieis, Leais e Flechas) a fixação da UNITA
por via da Operação Madeira junto à nascente do corredor hídrico do Lungué
Bungo (afluente da margem direita do Zambeze), servindo de “almofada
amortecedora” ao ímpeto da infiltração da guerrilha do MPLA no leste e
sudeste de Angola! (https://www.youtube.com/watch?v=OVDatZaHnq4; https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=11520:jonas-savimbi-no-lado-errado-da-historia-livro&catid=23&Itemid=123&lang=pt).
Essa nova estratégia era levada a
cabo com os olhos de quem chegando por mar, via o miolo do continente com
apreensão e suspeição face ao desconhecido e era daí, do leste, que provinha o
risco do movimento de libertação em África, proveniente da plataforma
constituída em informal linha da frente que passara a ser a Zâmbia. (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/05/uma-luta-sobre-brasas-i-martinho-junior.html).
Também aqui houve uma resposta
reactiva colonial à ruptura nos “absorventes” processos de
assimilação então em curso na espectativa antecipada de “Portugal e o
futuro” à maneira spinolista (http://www.mercurioonline.pt/html/N5176Portugaleofuturo.html),
por que a revolta dos clãs de assimilados de Luanda era um quisto intestino
insuportável para as aspirações e os projectos coloniais a médio e longo prazo,
inclusive para além do colapso do fascismo colonialista em Lisboa! (https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=11520:jonas-savimbi-no-lado-errado-da-historia-livro&catid=23&Itemid=123&lang=pt).
O pensamento estratégico de
Agostinho Neto seria um obstáculo a tal, pois à realização do Programa Mínimo
que culminou com o 11 de Novembro de 19755 ia seguir-se a República Popular de
Angola, o Partido do Trabalho, as FAPLA e a ODP, enfim, a luta contra o “apartheid”,
algo que não estava nos projectos dos etno-nacionalismos da FNLA e da UNITA,
mas também não estava nos projectos dos clãs que aberta ou veladamente
pretendiam contrariar a continuidade desse rumo desgastante e impeditivo aos
seus directos interesses!
Militarmente a internacional
fascista foi perdendo em todas frente (https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2009/07/alcora-o-acordo-secreto-do-colonialismo-portugu%C3%AAs-com-o-apartheid.html),
pelo que não restou outro modo de actuação, senão lançar mão dum trabalho de
sapa inteligente, tirando partido das correntes ascendentes do capitalismo
neoliberal, incentivado a partir dos interesses e conveniências da própria
aristocracia financeira mundial!
A luta contra o “apartheid” demarcou
assim não só o movimento de libertação em África dos etno-nacionalismos, mas
também impedia proactivamente qualquer veleidade de assimilação a que muitos
pretendiam aderir em Portugal como em Angola, pelo que a conexão a Savimbi (é o
caso paradigmático do clã Soares), integrou os fluxos decorrentes do Exercício
Alcora, algo a que não ficou indiferente a própria trajectória de alguns como o
coronel das South Africa Defence Forces, Óscar Piçarra Cardoso!
Consciente das dificuldades
acarretadas com a ruptura em curso em Luanda, de muito difícil controlo (a luta
clandestina na capital foi sempre importante para o MPLA por que a
independência só se poderia obviar um dia na capital conforme veio aliás a
acontecer), o colonialismo português procurou cooptar reactivamente clãs na
vasta extensão do centro-sul por que a norte o clã de Holden estava fora de sua
directa órbitra, a fim de com esse aliciamento fraccionar, dividir e confundir
a complexa sociedade angolana da época, sabendo que os assimilados de então
eram um potencial susceptível de controlo se explorado o quadro
etno-nacionalista e também por causa do seu número pouco significativo, não
ultrapassando os 300.000 em todo o espaço físico-geográfico do país!…
Os clãs familiares do sul foram
sendo cooptados sobretudo a partir de toda a dimensão do Caminho de Ferro de
Benguela (http://www.cpires.com/angola_comboios.html; https://sites.google.com/site/cfbumahistoriasucinta/)
e desde filtragens que invariavelmente recorriam à sensível penetração nas
próprias igrejas (a católica e a evangélica), onde os jovens faziam o seu
processo de educação e formação.
Os assimilados provenientes dum
indigenato avulso, no centro-sul foram filtrados “a pulso” e alguns
deles, os jovens, dependiam também dos clãs imbuídos de aspirações messiânicas
aferidas ao etno-nacionalismo de arreigada ideologia cristã e a muito longo
prazo (a actuação do “Le Cercle” não podia estar alheia a esse tipo
de “fermentações”)… (http://m.jornalcultura.sapo.ao/eco-de-angola/trajectoria-da-nacao-angolana-iii).
Duma forma geral esse trabalho de
sapa que motivou século após século as autoridades coloniais portuguesas (desde
as primeiras feitorias e fortins da costa angolana) e sobretudo desde finais da
década de 50 a PIDE-DGS, os SCCIA e as Forças Armadas Portuguesas, teve logo o
primeiro sinal quando em Março de 1961 deitaram mão à figura de propaganda
dos “fiéis bailundos”, comprovando a capacidade étnica reactiva e a
tendência para a manipulação improvisada dos enredos colonialistas em fase de
desespero.
À capacidade proactiva do
movimento de libertação em África assente na lógica com sentido de vida e na
segurança vital em benefício de todo o povo angolano e povos africanos, uma
ideologia que se despia de preconceitos regionais, étnicos, de raça e de
classe, os aliados do Exercício Alcora forjaram todas as possíveis capacidades
reactivas e isso foi determinante para toda a trajectória em vida e o papel
tirânico de Savimbi e duma UNITA cada vez mais sua refém, até à data da
possibilidade de sua libertação a 4 de Abril de 2002! (http://www.angonoticias.com/Artigos/item/12631/a-historia-secreta-da-ideologia-da-unita).
Nestes termos o 4 de Abril de 2002
foi mesmo a data que possibilitou a libertação da UNITA na sua aspiraão
democrática, na forja já com o projecto transitório da “UNITA Renovada”,
algo impossível enquanto o clã de Savimbi exerceu protagonismo por via da
tirania, do terror e do obscurantismo antes de mais nas suas próprias fileiras,
para tentar aplicar esse mesmo tipo de dose a toda a sociedade!
A saga pessoal de Savimbi
condicionou efectivamente através do terror e obscurantismo inculcado nas
próprias fileiras a UNITA, por que Savimbi só podia resistir se forjasse no seu
entorno um núcleo duro, um clã, capaz de recorrer aos métodos mais drásticos,
aos métodos mais bárbaros, apropriados para levar a cabo uma guerrilha
desgastante que perdurou mais de 3 décadas, para se manter à frente duma
organização que de facto era em muitos aspectos sua prisioneira mental, física
e orgânica, sob a estrita vigilância do próprio “apartheid” nos
enredos duma “border war” que foi sua prática dentro de Angola desde
1966!
CONTINUA
Martinho Júnior -- Luanda, 4 de Dezembro de 2019
Imagens da testa de ponte de quem
chegou pelo mar (fortalezas e igrejas de Luanda – http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2013/07/blog-post_23.html):
01- O MPLA teve sempre Luanda no
seu horizonte e, enquanto se esperou 13 longos anos, uma luta clandestina sem
tréguas se desenvolveu no velho corredor de desembarque e progressão do
colonialismo que chegou pelo mar; Catete, terra de liberdade, fica
sensivelmente a meio desse corredor, entre Luanda e Massangano e numa posição
equidistante entre o Bengo e o Cuanza;
02- Luanda em 1825 era uma
raquítica feitoria que se aninhava sob a fortaleza de São Miguel, vocacionada
na altura para o tráfico de escravos, a terrível sombra da “dilatação da
fé e do império”, onde se arrastou durante séculos a cumplicidade do Vaticano;
o movimento de libertação em África, em reforço do MPLA na via propiciada quer
pelo CONCP, quer pelo Não Alinhamento activo, teve sempre a declaração da
independência em Luanda em mente, fazendo içar a bandeira da dignidade e
soberana sobre as velhas fortalezas coloniais; (imagem que acompanhou o texto
do camarada António Jorge em finais de Outubro de 2019);
03- A fortaleza colonial de São
Miguel, imagem de marca do poder colonial e hoje Museu Militar das Forças
Armadas Angolanas; na baía a seus pés, embarcaram escravos para a América
durante séculos, tornando Luanda num dos maiores embarcadouros de escravos da
costa ocidental africana; dilatava-se então a fé e o império;
04- A insalubre fortaleza-prisão
colonial do Penedo, dominando outro local da baía de Luanda (a norte da
fortaleza de São Miguel), onde por duas vezes estive preso: a primeira em 1975
(operação mal sucedida de desvio de armas do exército colonialpara benefício do
MPLA) e a seguinte (de facto a minha 3ª prisão) em 1980 (já com as primeiras
mudanças do carácter do governo da República Popular de Angola, uma prisão às
ordens do então Vice-Ministro da Segurança do Estado, Diandengue);
05- A fortaleza colonial de São
Pedro da Barra, dominando a entrada da baía de Luanda, foi o último reduto do
ELNA (braço armado da FNLA) em 1975, um ELNA que integrava disfarçadamente
unidades das Forças Armadas Zairenses introduzidas pelo regime de Mobutu e
explorando o tandem Mobutu-Holden, antes de ser expulso para não mais voltar
(depois da independência o ELNA foi desaparecendo até à iniciativa do COMIRA,
que levou à integração dos efectivos angolanos sobreviventes nas FAPLA).
TEXTOS ANTERIORES, DESTA SÉRIE:
CONTINUA
“Monangambé”, poema de António
Jacinto e cantado pelo trovador Rui Mingas – https://ocastendo.blogs.sapo.pt/215584.html; https://www.youtube.com/watch?v=f7CPHC0hZHA
Monangambé
Naquela roça grande
não tem chuva
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue
feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo?
quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande
- ter dinheiro?
- Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído
nas minhas bebedeiras
- "Monangambéé...'"
não tem chuva
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue
feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo?
quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande
- ter dinheiro?
- Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído
nas minhas bebedeiras
- "Monangambéé...'"
Sem comentários:
Enviar um comentário