sábado, 30 de novembro de 2019

O desafio da economia diante das mudanças climáticas


Apesar de crescimento econômico ameaçar o clima, ele é necessário, sobretudo em países mais pobres. Perante este impasse, especialistas defendem que o capitalismo passe a priorizar investimentos sustentáveis.

Em seu romance de ficção científica de 2012 News From Gardenia (Notícias de Gardênia, em tradução livre), o autor Robert Llewellyn observa um mundo que acaba ficando bem. Os seres humanos vivem harmoniosamente com o ambiente natural ao seu redor. O capitalismo de mão pesada parece ter entrado em colapso, substituído por uma troca local de bens e serviços. As comunidades parecem mais saudáveis ​​e felizes, mas é uma catástrofe global inespecífica na história que forçou a mudança.

O arco narrativo é tal que Greta Thunberg também concordaria com ele. O crescimento econômico é um "conto de fadas" que mata o planeta, disse a jovem ativista em setembro. "Desacelerem por opção agora", pediu ela aos líderes da Cúpula da Ação Climática da ONU, "ou as mudanças climáticas nos forçarão a fazê-lo – talvez mais cedo do que mais tarde".

Sublinhando seu ponto de vista, o movimento Greve pelo Futuro (nome internacional: Fridays For Future) de Thunberg convoca um Dia sem Compras nesta sexta-feira (29/11), em plena Black Friday, uma tradição comercial dos EUA que se segue ao Dia de Ação de Graças e dá a largada para a temporada de compras de Natal.

Para a maioria dos economistas, no entanto, uma solução de baixo ou nenhum crescimento para as mudanças climáticas não é algo a ser levado a sério e certamente não pode ser aplicado em escala global. "O campo da Greta é mais um fenômeno econômico avançado", diz à DW Adam Tooze, professor de história da economia na Universidade de Columbia. "Está no domínio da política razoável para economias avançadas dizer que não precisamos de mais crescimento."

Protestos pedem mais ações para conter mudanças climáticas


Nova mobilização do movimento Greve pelo Futuro reuniu milhares de pessoas em Berlim, Varsóvia, Lisboa, Tóquio e Johanesburgo. Na França, manifestantes tentaram bloquear depósito do site Amazon.

Milhares de manifestantes pelo mundo saíram às ruas nesta sexta-feira (29/11) para exigir que líderes políticos adotem medidas concretas para combater o aquecimento global. O movimento ocorre três dias antes do início da Conferência sobre as Mudanças Climática (COP25) em Madri.  A mobilização mundial foi iniciada pelo movimento Greve pelo Futuro (Fridays for Future) e, segundo os organizadores, ocorreu em 2.400 cidades em 157 países.

Na Alemanha, o movimento levou às ruas habitantes de 500 cidades. Os organizadores calcularam que 100 mil pessoas aderiram aos protestos. Dezenas de milhares de estudantes concentraram-se em frente do Portão de Brandemburgo, em Berlim.

Ainda na capital alemã, cerca de duas dúzias de ativistas ambientais saltaram para as águas geladas do rio Spree em frente à sede do Bundestag (Câmara baixa do Parlamento) para protestar contra o pacote climático do governo alemão. Eles afirmaram que o conjunto de medidas não é suficiente para reduzir os gases que provocam o efeito de estufa no país. Parte do pacote foi bloqueado hoje pelo Bundesrat (Câmara alta do parlamento), que representa os 16 estados do país, por divergências sobre quem vai financiar algumas das medidas.

Portugal | Quando a esquerda se perde


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

A esquerda perde-se, fractura-se, desconjuntura-se. É quase um aforismo. A direita com maior facilidade encontra terreno comum e com uma facilidade ainda maior aperta a mão a quem tiver de apertar para levar a sua avante.

Vem isto a propósito dos desentendimentos - chamemos-lhe assim - entre a candidata eleita pelo Livre, Joacine Katar Moreira e o próprio Livre. Depois de um voto contra as orientações do partido e subsequente chamada de atenção; depois de entrevistas facultadas pela agora candidata com lavagem de roupa suja; depois da escolha do silêncio por parte do partido, mas não por parte da candidata, sobra as fragilidades de uma esquerda que tão facilmente se perde.

A comunicação social, que ataca e explora ferozmente todas as fragilidades da esquerda, sobretudo da esquerda mais à esquerda, não deixa cair o assunto e a deputada eleita pelo Livre faz questão de usar essa comunicação social para deitar cá para fora o que sente. Sem filtros. Quando a esquerda se perde. Novamente. Vezes e vezes sem conta.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Portugal | Emprego e pobreza


Manuel Carvalho Da Silva | Jornal de Notícias | opinião

Segundo os dados recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2018, cerca de 17% das pessoas auferiam rendimentos líquidos inferiores a 501 euros por mês. Isto significa, na fria linguagem da estatística, que estavam "em risco" de pobreza.

A percentagem e o número absoluto de portugueses nessa situação de "risco" - depois da contabilização das transferências de apoios sociais para essa população - havia aumentado bastante nos anos negros do "ajustamento" e regredido consideravelmente a partir de 2015, no conjunto da população. Constata-se, contudo, que tal regressão não se verificou entre os empregados onde, pelo contrário, até aumentou entre 2017 e 2018. Esse aumento ainda foi mais grave entre os desempregados.

O agravamento da pobreza no conjunto dos desempregados, pode dever-se ao facto de o aumento significativo de emprego neste período ter absorvido muitos desempregados, tendencialmente os mais qualificados e ativos, continuando no desemprego os que dispõem de menos recursos de todo o tipo. Se assim é, deve-se definir políticas específicas para não deixar cada vez mais desprotegidas estas pessoas.

A sociedade portuguesa não pode condescender face à persistência da pobreza entre quem trabalha. À tese de que é preciso fazer crescer o bolo da riqueza produzida antes de este ser repartido, há que contrapor a exigência de a riqueza ser melhor repartida exatamente quando é criada, desde logo através da melhoria dos salários e da qualidade do emprego. É que o bolo até cresceu, mas a percentagem dos lucros que vai para o investimento produtivo é cada vez menor; e a fatia do bolo que cabe ao trabalho manteve-se na dimensão a que tinha sido reduzida pelas políticas de desvalorização salarial do "ajustamento", feito pela troika e pelo Governo PSD/CDS.

Portugal | Parlamento retira Cuba da lista de países amigos


Com o PCP ausente, os deputados da Comissão de Negócios Estrangeiros retiraram Cuba e Arábia Saudita da lista de Grupos Parlamentares de Amizade. Comunista João Oliveira considera que deliberação "não é aceitável".

Os deputados da Comissão de Negócios Estrangeiros retiraram esta terça-feira uma série de países da lista de Grupos Parlamentares de Amizade, organismos da Assembleia da República importantes para a diplomacia com países amigos de Portugal. Numa reunião que não contou com a presença de deputados do PCP, dois dos países retirados são Cuba e Arábia Saudita, apurou a SÁBADO.

À SÁBADO, o presidente da comissão Sérgio Sousa Pinto explica que a exclusão de Cuba deve-se à "falta de reciprocidade": "Cuba não tem grupo de amizade com Portugal". Ora, a reciprocidade é um dos dois requisitos necessários previstos no regulamento dos Grupos Parlamentares de Amizade. Outros dois membros efetivos da comissão parlamentar confirmaram a decisão: "Sob o ponto de vista legal, de acordo com o regulamento que preside, há duas condições: uma é a reciprocidade na amizade e outra é terem parlamentos plurais", conta um deputado. 

A Itália na primeira linha da “guerra dos drones”


Manlio Dinucci*

Está no espírito dos militares possuir o maior número de armas disponíveis. É o caso dos italianos com os drones americanos. Está no pensamento ocidental usar as tecnologias que possuímos, não porque precisamos delas, mas porque dispomos delas. Assim, sem nenhuma reflexão, a Itália encontra-se incorporada nas guerras dos EUA em África e no Médio Oriente.

Aterrou na base USA/NATO, em Sigonella, na Sicília, depois de um voo de 22 horas a partir da base aérea de Palmdale, na Califórnia, o primeiro drone do sistema AGS (Alliance Ground Surveillance) da NATO, uma versão aperfeiçoada do drone Global Hawk dos EUA (Falcão Global). De Sigonella, principal base operacional, este e mais quatro aviões do mesmo tipo com pilotagem remota, apoiada por diferentes estações terrestres móveis, permitirão “vigiar”, ou seja, espiar vastas áreas terrestres e marítimas do Mediterrâneo e de África, do Médio Oriente e do Mar Negro.

Os drones NATO teleguiados de Sigonella, capazes de voar durante 16.000 km a uma altitude 18.000 m, irão transmitir para a base os dados recolhidos. Estes, depois de serem analisados pelos operadores de mais de 20 estações, serão inseridos na rede criptografada, chefiada pelo Supremo Comandante Aliado na Europa, sempre um general USA, nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos.

Donald Trump atua como "dono do mundo", diz embaixador da Palestina


O Presidente norte-americano atua como "dono do mundo" e tomou "todas as decisões", incluindo reconhecer Jerusalém como capital de Israel, para acabar com as relações com os palestinianos, considera o embaixador da Palestina em Portugal.

"Infelizmente não temos qualquer relação (com a administração dos Estados Unidos). (Donald) Trump tomou todas as decisões para acabar com (...) as relações com os palestinianos", declara Nabil Abuznaid em entrevista à agência Lusa.

A 06 de dezembro de 2017, faz na próxima sexta-feira dois anos, o Presidente dos Estados Unidos reconheceu Jerusalém como capital de Israel, desencadeando a cólera dos palestinianos e rompendo com décadas de consenso internacional.

O estatuto da cidade é um dos problemas mais difíceis do conflito, os palestinianos reivindicam Jerusalém Oriental, ocupada por Israel em 1967 e depois anexada, como capital do Estado a que aspiram.

Abuznaid recorda que Trump também encerrou a missão da Palestina em Washington, deixou de financiar organizações de apoio aos palestinianos, nomeadamente aos refugiados, "mudou a embaixada para Jerusalém (na sequência do reconhecimento da cidade como capital israelita)" e acabou com o consulado nesta cidade "que negociava com os palestinianos" há muitos anos.

"Ele mudou tudo (...) age como se fosse o dono do mundo", diz o diplomata sobre o Presidente dos Estados Unidos.

Bolívia: o golpe visto em profundidade


Quem compõe as hordas que atacam forças populares. Como oposição fragmentada se articulou contra Evo. O papel da OEA no golpe. Por que governo se descolou das bases. Quais as perspectivas após o “acordo” para novas eleições

A primeira versão deste artigo (redigido em 14/11/2019) foi publicada, em 16/11/2019, no blog A terra é redonda sob o título A crise de hegemonia na Bolívia. Esta foi ligeiramente melhorada e atualizada, além de inserirmos referências bibliográficas pertinentes.

Introdução

As violentas jornadas da direita com traços fascistas de outubro e novembro de 2019 tinham como objetivo provocar a renúncia de Evo Morales à presidência da Bolívia. Morales foi praticamente obrigado a deixar o cargo para que a oposição parasse de incendiar prédios públicos, violentar e torturar militantes, funcionários públicos integrantes do partido de governo Movimento ao Socialismo (MAS) com conivência da polícia e do exército. Esse golpe e a situação política boliviana atual, cheias de incerteza sobre o desenlace imediato e de médio prazo, merecem uma reflexão crítica sobre o caráter do golpe e que serve como introdução para uma análise mais aprofundada acerca da natureza das reformas e transformações socioeconômicas realizadas pelo governo Morales no país desde 2006.

Brasil | "Aumento da pobreza extrema é resultado de uma maior desigualdade"


Em entrevista à DW Brasil, pesquisador da USP diz que a pobreza extrema no Brasil, que atingiu seu nível mais alto em seis anos, está mais ligada ao aumento da concentração de renda do que ao fraco desempenho econômico.

O crescimento da pobreza extrema no Brasil, que atingiu no ano passado seu nível mais alto desde 2012, com cerca de 13,5 milhões de pessoas com renda mensal de até 145 reais, decorre mais do aumento da concentração de renda do que do fraco desempenho econômico no período.

A conclusão é de um estudo em elaboração por Rogério Barbosa, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole da USP, em parceria com Pedro de Souza e Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir de dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início do mês.

A pesquisa separou e calculou o efeito da evolução da renda total e o efeito da desigualdade sobre a pobreza extrema, no período de 2015 a 2018. A evolução da renda sozinha, se tivesse beneficiado toda a população, teria reduzido o percentual dos brasileiros em pobreza extrema em 0,25 ponto percentual. Porém, o aumento da desigualdade de renda, isolado, foi responsável por aumentar a taxa de pobreza extrema na população em 1,98 ponto percentual.

Somados os dois efeitos, o percentual de brasileiros em extrema pobreza aumentou 1,72 ponto percentual de 2015 a 2018, ou cerca de 3,6 milhões de pessoas a mais vivendo na miséria. "Apesar de o bolo ter crescido, as pessoas que extraíam dali uma menor quantidade extraem agora ainda menos", diz Barbosa à DW Brasil.

O pesquisador explica que a elevação da concentração de renda, nesse caso, não diz respeito ao 1% mais rico contra o resto da população, mas entre a população com acesso ao mercado formal de trabalho, que conseguiu se proteger dos efeitos da crise econômica, em contraste com os que estavam fora do mercado ou que trabalham por conta própria.

Para ele, o resultado mostra a fragilidade da tese de que uma nova classe média teria surgido durante a gestão dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Segundo Barbosa, as pessoas no meio da distribuição de renda, que em 2018 recebiam cerca de 800 reais per capita por mês, mantiveram um vínculo frágil com o mercado de trabalho formal e não conseguiram se resguardar dos efeitos da recessão. "Quem sobreviveu à crise foi a velha classe média", diz.

Barbosa também chama atenção para o fato de que houve redução do número de beneficiários do Bolsa Família, enquanto aumentava o número de pessoas em pobreza extrema no país. "Seria esperado que as políticas de proteção social funcionassem como um alcochoamento […], mas isso não foi verificado."

Cresce tentação autoritária entre governos da América do Sul


Brasil, Chile, Equador suspendem seus projetos de reformas devido aos protestos crescentes. Medidas necessárias excluem, porém, os privilegiados. Assim, economia da região se arrasta, impossibilitando redução da pobreza.

O ministro brasileiro da Economia, Paulo Guedes, não é conhecido por ser especialmente cauteloso. No entanto, em sua fala em Washington, no fim de novembro, surpreendeu com uma estratégia de recuo, ao suspender temporariamente – devido aos protestos nos vizinhos sul-americanos – o abrangente pacote de reformas do aparato estatal e do sistema tributário, anunciado há apenas três semanas.

"Não queremos dar nenhum pretexto para as pessoas irem às ruas", disse, contrito, segundo o jornal Estado de S. Paulo: "Vamos ver o que está acontecendo primeiro. Vamos entender o que está acontecendo."

Assim, o Brasil é o último governo latino-americano a sustar um pacote de reformas abrangentes. Antes, o Equador e o Chile haviam recuado em seus planos. Na Colômbia, o povo também está protestando, em parte contra a reforma da aposentadoria.

As reformas não foram o estopim direto para os protestos em nível nacional, mas sim aumentos de preços dos transportes públicos ou combustíveis, ou possíveis manipulações eleitorais. Ainda assim, os projetos nacionais de reforma intensificaram as manifestações.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Portugal | Manifestação dos polícias – aproveitamento à custa alheia


O diálogo, a negociação, a persistência e a transparência constituem as balizas dentro das quais o sindicalismo relança a validação do seu projeto dinâmico no enquadramento de uma sociedade democrática.

Bernardo Colaço | AbrilAbril | opinião

Numa das muitas iniciativas da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), tive a oportunidade de moderar em 2008 um Seminário sob o tema «Polícia – Profissão de Risco». De entre várias conclusões então tiradas, figurava a exigência da função policial como profissão de risco merecer expressa consagração legal. Como habitualmente e à semelhança de outras, esta reivindicação foi apresentada em tempo útil ao Governo e aos grupos parlamentares. Até hoje o Executivo está em débito para o cumprimento dessa medida, não obstante existir uma Recomendação Parlamentar neste mesmo sentido. De igual jeito, e como consequência da atividade sindical e associativo-profissional policial, pende na atualidade um Projeto de Lei no sentido de ser aprovado o Estatuto da Condição Policial, depois de um Projeto similar ter sido rejeitado na anterior legislatura, por grupos parlamentares, entre os quais, o do partido no poder, e que agora se apresentam solidários com a causa sindical policial.

Vem esta referência apenas para significar que, de um modo geral, as organizações representativas de profissionais da PSP e da GNR, enquanto unidades eleitas pela respetiva classe, têm sabido ativar-se na busca de soluções para as suas aspirações próprias e legítimas. Porém, este tipo de atividade num Estado de Direito Democrático tem as suas regras. Assim, o diálogo, a negociação, a persistência e a transparência constituem as balizas dentro das quais o sindicalismo relança a validação do seu projeto dinâmico no enquadramento de uma sociedade democrática. É aliás para tanto, que o artigo 55º da Constituição de República reconhece este formato organizativo como a via superior de consciência profissional.

Portugal | Joacine, a deslumbrada


Talvez Joacine - e o seu indefectível assessor, já agora - ainda não tenha compreendido bem a responsabilidade que os eleitores lhe colocaram aos ombros.

Anselmo Crespo | Diário de Notícias | opinião

Há fenómenos eleitorais difíceis de compreender. E que, às vezes, demoram anos a fazer sentido. Como é que os americanos puderam eleger Donald Trump? Ou os brasileiros foram capazes de pôr no Planalto uma figura como Jair Bolsonaro? Como foi possível o Brexit ter saído vencedor do referendo no Reino Unido? E André Ventura? De onde é que saíram aqueles eleitores? No caso de Joacine Katar Moreira, porém, dificilmente alguém pode manifestar surpresa pela sua eleição.

Mulher, negra e gaga. Eis o cartão-de-visita que a própria entregou ao país quando decidiu candidatar-se ao cargo de deputada. Se ser mulher não representava qualquer fator de novidade, a ideia de termos no Parlamento a primeira mulher negra constituía, em si mesmo, um factor de diferenciação. Mas foi a gaguez que lhe completou a "persona" e que a tornou viral. A dificuldade em expressar-se secundarizou-lhe a mensagem política, mas Joacine - e o Livre, já agora - não se importou. Entre os que sorriram embaraçados com a sua gaguez, os que andaram a partilhar as suas entrevistas com os amigos e os que sofreram com ela de cada vez que queria completar uma frase, a verdade é que Joacine Katar Moreira tornou-se viral e o país ganhou uma nova "mascote".

Depois de eleita, a campanha de marketing pessoal continuou. Política? Zero. Junte-se à mulher, negra e gaga um assessor que decide ir de saia para o Parlamento e o buzz em torno da deputada aumentou ainda mais. Política? Zero. Acrescente-se-lhe ainda as guerras estéreis que a própria foi comprando e alimentando nas redes sociais com pessoas do seu espectro político. Política? Zero. E agora, pièce de résistance, este lavar de roupa suja na praça pública que, ainda por cima, nasce da incompetência da deputada. Política, até agora, zero. Mas que os trolls têm andado bem "alimentados", disso não há dúvidas.

DESCARAMENTO “SOCIALISTA” DE ESPANHA QUEIXA-SE EM LISBOA (CML)


PSOE apresenta queixa ao PS por ter apoiado moção de censura à Catalunha

O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) vai apresentar uma "queixa formal" ao PS português por ter apoiado uma moção na Assembleia Municipal de Lisboa que denuncia a "repressão" na Catalunha, noticia hoje o diário espanhol El País.

O texto, aprovado na quinta-feira com os votos do PS, critica "a repressão do povo catalão" e exige a liberdade dos "presos políticos", em alusão a Oriol Junqueras e aos outros 11 condenados no julgamento dos políticos catalães envolvidos na tentativa de independência da Catalunha.

O PSOE vai enviar uma queixa formal aos socialistas portugueses para expressar a sua inquietação face a uma moção que denuncia a "deriva autoritária" do Estado espanhol na Catalunha, segundo El País, que cita fontes socialistas espanholas ouvidas pela agência de notícias espanhola Europa Press.

Na missiva que vai ser enviada, os socialistas espanhóis irão manifestar o seu mal-estar perante a "profunda ignorância" da realidade espanhola que, na sua opinião, a moção aprovada demonstra, e deixarão claro que Espanha é um Estado democrático, onde a Constituição e as suas leis são aplicadas.

Ensino do português dispara no continente e arrisca saturar mercado


Pequim, 29 nov 2019 (Lusa) - Num dos edifícios da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (Beiwai), quase cem alunos e ex-alunos, oriundos de toda a China, aguardam por um exame de português, um projeto de vida que atrai cada vez mais chineses.

"Espero conseguir com este certificado [CAPLE, Centro de Avaliação de Português Língua Estrangeira] ter mais oportunidades de emprego", explica à agência Lusa Zelma, que viajou deste Tianjin, cidade portuária a 120 quilómetros de Pequim, ilustrando a crescente competitividade no mercado de trabalho para licenciados em português, língua que, até há pouco, significava emprego certo na China.

A mais antiga licenciatura em língua portuguesa da República Popular da China foi criada em 1961, precisamente na Beiwai. Durante quase vinte anos, aquele curso foi o único do género no país e, até ao final da década de 1990, surgiu apenas mais um, em Xangai.

No entanto, o ensino do português no continente chinês registou um crescimento acelerado nos últimos 20 anos, coincidindo com o retorno de Macau à soberania de Pequim, que confiou à região o papel de plataforma comercial com os países lusófonos.

A evolução das trocas comerciais entre a China e a lusofonia, que só em 2018 se cifraram em 147.354 milhões de dólares (131.206 milhões de euros), um aumento de 25,31%, em termos homólogos, geraram uma crescente necessidade em formar quadros para trabalhar com os países de língua portuguesa.

Líderes timorenses podem ser testemunhas em julgamento de advogado na Austrália


Díli, 29 nov 2019 (Lusa) -- Os líderes timorenses Xanana Gusmão e José Ramos-Horta podem ser ouvidos como testemunhas em audições preliminares no processo do Governo australiano contra um advogado, cujo cliente denunciou escutas ilegais de Camberra a Timor-Leste.

Segundo noticias da imprensa australiana, os dois líderes fazem parte de uma lista de testemunhas que inclui o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros australiano Gareth Evans, que o advogado Bernard Collaery quer ouvir no âmbito do seu processo.

Um homem conhecido apenas como "testemunha K" e o seu antigo advogado Bernard Collaery são acusados de conspiração pelas autoridades em Camberra, crime que tem uma pena máxima de dois anos de prisão, e estão a ser julgados num tribunal australiano.

Os dois foram acusados no ano passado de conspirar para revelar informações protegidas pela lei dos serviços secretos, que abrange o sigilo e a comunicação não autorizada de informação, num processo envolto em segredo.

O caso tornou-se num novo foco de tensão entre Timor-Leste e a Austrália, tendo o ex-Presidente timorense Xanana Gusmão afirmado que estava disponível para testemunhar num tribunal em Camberra se as autoridades australianas não abandonarem o processo.

Advogados do Governo querem mais tempo para analisar mais de 1.600 páginas de notícias da imprensa em torno ao caso para determinar se Collaery e a "testemunha K" foram ou não fonte das notícias.

Os advogados do Governo querem ainda que as provas sejam fornecidas secretamente, apenas ao tribunal -- alegando questões de segurança nacional -, mas a defesa insiste que devem ser tornadas públicas.

Vinte timorenses conseguem bolsas para estudar em universidades australianas


Díli, 29 nov 2019 (Lusa) -- Vinte mulheres e homens timorenses foram selecionados para receber bolsas de estudo australianas para completarem bacharelatos em várias áreas em universidades daquele país, informou o Governo australiano.

Em comunicado, Camberra explicou que os bolseiros vão estudar cursos em áreas como política económica, nutrição e ciências de saúde, entre outras, sendo a primeira vez que as bolsas abrangem bacharelatos.

O Governo australiano indicou que, no passado, as bolsas internacionais eram quase na totalidade dadas para formação ao nível de mestrados ou doutoramentos, e menos para bacharelatos.

Isso implica uma participação maior de homens entre os beneficiários, já que o ingresso de mulheres no ensino superior era mais reduzido do que o de homens, havendo menos mulheres com bacharelato ou licenciaturas.

"Este ano as bolsas australianas para Timor-Leste reintroduziram apoios ao nível superior inicial, uma mudança que levou a uma mais que duplicação do número de pedidos de mulheres, em comparação com os três anos anteriores", refere-se no comunicado.

Moçambique | Liberdade de delegados detidos em Gaza custa 10 mil euros


Tribunal de Chókwe determinou a liberdade provisória de 23 delegados da Nova Democracia, RENAMO e MDM detidos desde 15 de outubro. Nova Democracia iniciou uma campanha para tentar angariar o valor, que considera elevado.

O Tribunal Judicial Distrital de Chókwe, no sul de Moçambique, estipulou o pagamento de uma caução no valor total de 720 mil meticais (10 mil euros), num prazo de cinco dias, para que os detidos possam responder ao processo em liberdade. A decisão foi tomada após uma reunião conjunta mantida esta terça-feira (27.11) em Chókwe, na província de Gaza, entre o juiz do caso, advogados, procuradora, Comissão Distrital de Eleições e Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).

Mas a mandatária nacional da Nova Democracia, Quitéria Guirengane, diz que o partido sem assento parlamentar não dispõe do valor. Por isso, a Nova Democracia lançou já uma campanha de angariação de fundos, inclusive nas redes sociais, para o pagamento da caução para a restituição da liberdade aos jovens. "Ajudem-nos a pagar o valor de resgate exigido pelo tribunal para a soltura de inocentes", é o principal apelo feito no cartaz da campanha. As contribuições começam por 1 metical.

Moçambique | Ataques em Cabo Delgado: União Europeia pede "aliança estratégica"


O embaixador da União Europeia em Moçambique defende a criação de uma aliança estratégica coordenada com o Governo do Presidente Filipe Nyusi para lidar com o fenómeno do extremismo violento no norte do país.

"É importante estabelecer uma aliança estratégica e coordenada com vista a identificar a ameaça com que nos deparamos e criar abordagens que permitam salvaguardar a sustentabilidade regional (África Austral)", afirmou António Sánchez-Benetido Gaspar durante um seminário sobre extremismo violento na África Austral, na capital sul-africana, Pretória, que termina esta quinta-feira (28.11).

Segundo o diplomata, a atual insegurança na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, ameaça alastrar-se à região Austral do continente africano, nomeadamente à vizinha África do Sul e aos países do 'interland'. "Não temos quarenta anos ao nosso dispor para ações que não produzem resultados. Temos de encontrar soluções para mitigar este problema nos próximos cinco anos", salientou.

"É necessário considerar novos métodos para lidar não só com as causas deste fenómeno, mas também com a sua possível evolução e as mudanças rápidas que ocorrem devido à digitalização e tecnologia, entre outros", salientou o diplomata.

"É interessante notar que, nos últimos dois anos, o envolvimento da UE no combate ao extremismo violento aumentou comparativamente ao combate às atividades de terrorismo", frisou.

Angola | Rendimentos mais baixos ficam isentos de impostos


A Comissão Económica do Conselho de Ministros apreciou, ontem, a Proposta de Lei que altera o Código do Imposto sobre o Rendimento do Trabalho, que pretende a reformulação da tabela de taxas aplicáveis aos rendimentos dos contribuintes por conta de outrem.

A alteração vai permitir a desoneração dos rendimentos mais baixos, a conservação da carga fiscal dos rendimentos dos escalões intermédios e a inclusão de progressividade sobre os rendimentos mais elevados.

Reunido na 11ª sessão ordinária, sob orientação do Presidente João Lourenço, a Comissão Económica apreciou, também, a Proposta de Lei que altera o Código do Imposto Industrial, com o objectivo de eliminar o sistema de tributação cedular sobre o rendimento.

Segundo o comunicado final, o objectivo é propiciar a introdução de um modelo de tributação mais integrado e simplificado, para a concretização de importantes princípios da tributação, como o da universalidade da tributação e o da capacidade contributiva, bem como assegurar o alargamento da base tributária, maior coerência e harmonização do sistema tributário.

Angola | Lei difusa


Luciano Rocha | Jornal de Angola | opinião

O investimento, designadamente o estrangeiro, é algo que o país precisa, tanto como de pão para boca, de forma a podermos pensar seriamente em reduzir importações e vivermos, cada vez mais, da produção interna.

A verdade é que investimento requer observância de uma série de princípios para se sentir atraído em vez de repelido. Não basta oferecer juros apetecíveis, facilidades de instalação de empresas e outras benesses, se continuarmos sem poder assegurar, entre outros, os princípios elementares de saúde e a nossa capital, postal de apresentação de qualquer país, continuar a ser fonte pública de doenças. 

A falta de recolha de lixos domésticos é, como todos deviam saber, foco de várias doenças que matam, além do aspecto nojento que dá da cidade ao forasteiro, sejam empresários ou trabalhadores, particularmente os especializados. A lixeira gigante em que Luanda se transformou é a pior maneira de os cativar, levar a ficar por cá e a melhor fazerem de Angola local de estada curta, meterem uns cobres ao bolso e zarparem sem vontade de voltar.

A lixeira gigante em que Luanda se transformou tem culpados, entre eles muitos dos que a habitam, como automobilistas que estacionam as viaturas em frente a contentores de lixo, impedindo-os de serem esvaziados. Mas, essa é apenas uma causa, que obriga à pergunta: por onde andam polícias, fiscais do Governo Provincial e administrações municipais?

Angola | Vários diplomatas respondem na Procuradoria


Ao todo, 12 processos-crime contra diplomatas, entre os quais chefes de missões, deram entrada, nos últimos dois anos, na Procuradoria-Geral da República (PGR), informou, na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores.

Segundo Manuel Augusto, que falava aos deputados da 3ª Comissão da Assembleia Nacional, no âmbito da apreciação, na especialidade, da Proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2020, os mesmos respondem, entre outras práticas, por subtracção de valores. Sem especificar nomes, Manuel Augusto adiantou que, desse leque, um diplomata já acabou preso e dois outros devolveram ao Estado os valores subtraídos.

O ministro referiu que, no quadro das investigações, detectou-se que algumas práticas foram cometidas por gestão “menos cuidada” e outras por “gestão criminosa”. “Temos sempre dado a possibilidade dos embaixadores, cônsules (…) apresentarem as suas versões, antes dos processos pararem nos órgãos competentes”, esclareceu Manuel Augusto, quando respondia às questões colocadas por alguns deputados.

Segundo a Angop, o ministro citou como exemplo o caso de um embaixador de Angola no Quénia, acusado de má gestão, e outra situação registada no consulado de Angola no Congo Brazzaville, onde terá sido simulado um roubo de 300 a 400 mil dólares. Fez também menção ao caso do ex-embaixador de Angola na Etiópia e junto da União Africana, Arcanjo Maria do Nascimento, a quem foi aplicada, em Maio último, a medida de coação pessoal de prisão preventiva, pela PGR.

Manuel Augusto informou, ainda, que Angola gasta perto de 88 milhões de dólares por ano para manter funcionais sectores alheios àquele departamento ministerial. O chefe da diplomacia explicou que esses valores são gastos nas despesas com os adidos militar, cultural, de imprensa, educação e de outros sectores.

Jornal de Angola | Imagem:  Manuel Augusto respondeu às perguntas dos deputados

Guiné-Bissau | Demissão de Aristides Gomes "custou reeleição" a Jomav


O chefe de Estado cessante reconhece os resultados eleitorais publicados pela CNE, diz que está de "consciência tranquila" e afirma que não foi reeleito por ter demitido o primeiro-ministro.

O Presidente José Mário Vaz, que concorreu à sua sucessão nas eleições presidenciais de domingo, na Guiné-Bissau, reconheceu os resultados eleitorais publicados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e prometeu continuar a servir o seu país.

Foi na sua sede de campanha, na capital guineense, perante os seus apoiantes, esta quinta-feira (28.11), que José Mário Vaz reconheceu os resultados eleitorais que o colocaram na quarta posição, impossibilitando assim a sua reeleição ao mais alto cargo da nação.

Visivelmente abatido, sem permitir questões por parte dos jornalistas, Jomav fez um balanço positivo dos seus cinco anos de mandato, para depois afirmar que, apesar das irregularidades verificadas no processo eleitoral, aceita os resultados para pacificar a sociedade.

"O poder é do povo e este entendeu que chegou a hora de colocar nesta cadeira um outro cidadão que conduzirá os destinos do país nos próximos cinco anos. Eu vou continuar a servir o meu país, o meu povo, no setor privado, de onde eu tinha saído", sublinhou.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Guiné-Bissau | Vencedor da segunda volta depende de apoio dos derrotados


O vencedor da segunda volta das presidenciais guineenses vai depender de quem está em condições de reunir apoios de todos os candidatos derrotados na primeira volta, diz o analista político guineense Augusto Nhaga.

O analista político guineense Augusto Nhaga considera que na política tudo é possível, mas não tem dúvidas de que Umaro Sissoco Embaló poderá beneficar de algum mal estar entre o engenheiro Domigos Simões Pereria e os dois candidatos derrotados, nomeadamente José Mário Vaz e Nuno Nabiam.

Em entrevista à DW África, Augusto Nhaga diz que os dois candidatos que vão disputar a segunda volta das presidenciais conhecem os seus pontos fracos e fortes porque eram membros do PAIGC, até 2015.

O analista diz ainda que eles têm estilos políticos muito diferentes: um mais ocidentalizado e outro mais africanizado. Nhaga refere ainda que os votos na Guiné-Bissau se caracterizam-se pela crença no candidato e no partido e não tanto pela mensagem que eles difundem.

Querelas permanentes não valem a pena na Guiné-Bissau


O Presidente cessante, José Mário Vaz, sofreu um desastre na primeira volta das eleições na Guiné-Bissau. Para Johannes Beck, chefe da DW África, o resultado foi consequência da política pouco construtiva de Jomav.


José Mário Vaz, ou "Jomav", foi o primeiro Presidente da história da Guiné-Bissau a cumprir os cinco anos de mandato. Nenhum golpe, nenhuma guerra civil e também nenhuma doença forçaram uma saída antecipada, como aconteceu com todos os seus antecessores.

Mas Jomav perdeu o segundo recorde, a primeira reeleição de um Presidente em exercício desde a independência. Com 12,4% dos votos, só ficou em quarto lugar e ficou fora da segunda volta a 29 de dezembro.

Na minha opinião, Jomav é o único culpado pelo resultado desastroso que obteve. Durante o seu mandato, foi responsável pela instabilidade dos governos: nomeou sete e nove primeiros-ministros. Uma e outra vez, Jomav não manteve compromissos laboriosamente mediados pela CEDEAO, a Comunidade dos Estados da África Ocidental, colocando as animosidades pessoais acima dos interesses do seu país.

Macron exige aos aliados da NATO "maior envolvimento" na região do Sahel


O presidente francês Emmanuel Macron anunciou hoje estar disposto a rever as "modalidades de intervenção" da França no Sahel e pediu aos aliados "um maior envolvimento" contra "o terrorismo" na região, ao receber em Paris o secretário-geral da NATO.

"O contexto que estamos em vias de presenciar no Sahel conduz-nos hoje a encarar todas as opções estratégicas", declarou o presidente francês ao exigir "um maior envolvimento" dos seus aliados, três dias após a morte, referida como acidental, de 13 militares franceses da operação Barkhane, desencadeada na região do Sahel e do Saara em agosto de 2014 contra grupos armados salafistas jihadistas e na sequência das operações Serval e Épervier.

As conversações de hoje, no palácio do Eliseu, destinaram-se preparar a cimeira da NATO em Londres na próxima semana.

"Afirmo-o muito claramente, não basta o nosso compromisso com a segurança coletiva, temos de demonstrá-lo. Uma verdadeira aliança são atos, não palavras", referiu Macron em conferência de imprensa conjunta com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, após o final da reunião.

Portugal | Membro fundador anuncia saída do Livre por "postura" onde não se revê


Miguel Dias, candidato do Livre pelo círculo de Setúbal nas últimas legislativas, vai desvincular-se do partido.

Numa altura em que se assistem a divergências internas no Livre, Miguel Dias, membro fundador do partido, anunciou, na terça-feira, que vai cortar o 'cordão umbilical' que o liga ao partido. O candidato do Livre pelo círculo de Setúbal nas últimas legislativas, justifica a saída por uma "questão de forma e de postura política" com a qual não se revê. Por sua vez, um porta-voz do partido, em declarações à TSF, recusa-se a confirmar se a saída está relacionada com a polémica.

Miguel Dias anunciou a saída do partido nas redes sociais, onde explicou que esta "não foi uma decisão fácil nem leviana. É emocionalmente complexa a decisão de abandonar o LIVRE, partido" que ajudou "a fundar" e ao qual esteve vinculado durante seis anos. "As razões para a minha saída foram explicadas internamente", vincou.

Esclareceu ainda Miguel Dias que os motivos que estão na base da sua saída "não estão relacionados com conteúdo", porque os seus "valores ideológicos e as ideias políticas continuam a condizer em larga medida com o defendido com o partido". A saída é motivada, isso sim, por "questão de forma e de postura política" na qual não se revê.

Portugal | Ainda não Chega?

Paulo Baldaia | Jornal de Notícias | opinião

Um mês depois dos novos partidos chegarem ao Parlamento, já deu para perceber que os vícios são velhos. Um partido que de Livre tem pouco e está preso por algemas a uma deputada em quem não confia e outro que de tão Liberal só mantinha a liderança se o Estado se dispusesse a pagar-lhe ordenado de deputado.

E o que dizer mais sobre o Chega? Como o partido é apenas o Ventura mais um punhado de ideias que adquiriu num catálogo internacional da extrema-direita, sobram as contradições entre o que ele é hoje e o que ele foi e defendeu num passado recente. Coisa pouca para quem se dispõe a votar no Ventura e lhe interessam apenas as ideias do catálogo.

Convencidos que estávamos com esta lufada de ar fresco e espírito democrático, com os eleitores a premiarem a novidade e a pluralidade, continuamos a desvalorizar o perigo que representa a besta à solta. E sim, estou a chamar besta ao Ventura, pelas ideias que ele anda a colocar na ventoinha. O Ventura como apareceu, haverá de desaparecer, mas aquelas ideias estavam bem fechadas em gavetas que agora nos dispusemos a abrir. Alguém acredita verdadeiramente que polícias e militares da GNR disponíveis para abraçar ideias xenófobas e racistas só passaram a existir com o doutor Ventura? É claro que não! Mas esta normalização, com o argumento de que todas as ideias devem ser discutidas, não tem nada de democrático. E elas continuarão à solta por muitos anos, ao serviço da conveniência de uns trafulhas que ganham sempre que o medo se instala na memória coletiva.

Portugal | Incumprimento e peixeirada à Joacine convida a pensar. Livra!


O Curto de hoje, no Expresso, vem com a cafeína virada para o pensamento, a meditação que nos pode fazer compreender o que a deputada Joacine Moreira, talvez do Livre, também deve pensar, porque não é dona do Livre mas sim deputada eleita pelas listas do Livre. O Livre elaborou e apresentou a sua base programática aos eleitores e eles votaram no Livre por isso mesmo.

Supostamente Joacine concordou com o programa (propostas) do partido Livre e só tem de cumprir com o prometido. E o prometido é devido. Por isso era devido Joacine, deputada eleita pelo Livre, aprovar a condenação, a reprovação, a Israel pelas suas ações desumanas contra a Palestina e o seu povo. Joacine não tem mandato pelos eleitores para se abster quando sabemos que Israel, para além de crimes de guerra, desrespeita quotidianamente os Direitos Humanos. Joacine não é proprietária do Livre nem vice-versa mas deve aos que a elegeram o cumprimento do programa elaborado pelo partido Livre, porque foi o que os atraiu e acreditaram que cumpriria. Não cumpriu. Enganou os eleitores. Não foi carne nem peixe. Foi podre. A sua abstenção significou um voto a favor de Israel porque não condenou o evidente – os crimes de guerra e a repressão dantesca exercida sobre o povo palestiniano, as ocupações intermináveis, etc.

“Joacine falhou e foi arrogante”, dirão ainda os que se sentiram ludibriados com o incumprimento e a abstenção-surpresa decidida por Joacine, quando afinal programaticamente o Livre, no manifesto eleitoral, promete bem escarrapachado que desaprova as ações e as políticas de Israel nas ocupações sistemáticas do território palestiniano e nas violações dos Direitos Humanos.

Joacine, ao abster-se e não reprovar Israel, foi falsa para os eleitores e levou o Livre a cometer essa falsidade, capturando-o num limbo de cumplicidade a contra-gosto. O Livre começa muito mal servido com uma deputada assim e nem será possível prever onde esta toada à Joacine vai descambar.

Acresce ainda a ‘peixeirada’ à Joacine. Pública, à rédea solta e a valer mexericos escusados e que a vão penalizar se não mudar de rumo e de postura.

Sobre o tema, David Dinis faz a abertura do Curto do Expresso. Convida-nos a pensar. Depois parte para outros horizontes. Vá nessa viagem pela atualidade. Vale.

Bom dia.

SC - PG

Portugal | “Senti nojo do assalto de André Ventura à manifestação” - PSP


“Senti nojo do assalto de André Ventura à manifestação”, diz o ex-dirigente sindical da PSP que denunciou racismo nas polícias

Manuel Morais, ex-vice-presidente do maior sindicato da PSP, esteve na manifestação dos polícias, mas a trabalhar. Afasta-se do Movimento Zero, cujo anonimato serve apenas para “os responsáveis se desresponsabilizarem”, e está preocupado com o que aí vem

Terem passado cinco dias* desde a manifestação de polícias não significa que ela tenha acabado. Depois de as autoridades terem revelado preocupações com a infiltração do Chega! no Movimento 0 (M0), que ficou com o papel principal do protesto organizado pelos sindicatos da PSP e da GNR, agora é Manuel Morais a sublinhar o alarme. Durante 30 anos vice-presidente da ASPP (Associação Sindical dos Profissionais da Polícia), o maior sindicato da classe, demitiu-se no ano passado após ter alertado, numa tese de mestrado, para a existência de racismo nas polícias. Desta vez, Manuel Morais esteve na manifestação, mas a trabalhar, o que lhe permitiu ver o protesto de fora. “Senti nojo. Houve um assalto de Ventura à manifestação, o que não é admiração para ninguém atento”, frisa ao Expresso. “Se este é o caminho, preocupa-me muito.”

Instado a comentar a notícia do Expresso sobre as ideias do Chega! estarem a ser bem recebidas entre muitos elementos da PSP e da GNR, muitos deles parte do M0, Manuel Morais não mostra surpresa. “Claro que estão. Os polícias sentem-se empolgados com estas ideias, que vão passando.” São elas “castigar mais quem comete um crime, culpar imigrantes, são as ideias que já todos conhecem”, elenca. E André Ventura “aproveita isto muito bem”. Manuel Morais vai pontuando a conversa com a frase: “falo apenas na condição de cidadão atento e preocupado”.

PIB é ilusão perversa, diz Nobel de Economia


O mal-estar social alastra-se, o colapso da Natureza avança e a democracia declina. Se ainda assim o termómetro que afere o “sucesso” das sociedades nos diz que tudo vai bem — então, é preciso trocá-lo por outro. Já há como fazê-lo

Joseph Stiglitz | Outras Palavras | Tradução: Marina Rebuzzi

O mundo enfrenta três crises existenciais: uma crise climática, uma crise de desigualdade e a crise da democracia. Seremos capazes de avançar sem ultrapassar os limites do planeta? A economia moderna poderá oferecer prosperidade compartilhada? As democracias resistirão, caso as economias fracassem? São questões críticas, e mesmo assim as medidas hoje aceitas para aferir o desempenho económico não dão absolutamente nenhum sinal de que podemos estar enfrentando problemas. Cada uma dessas crises reforça o fato de que precisamos de ferramentas melhores para avaliar o desempenho económico e o progresso social.

O índice padrão de desempenho económico é o Produto Interno Bruto (PIB), a soma dos valores de bens e serviços produzidos em uma região durante um período determinado. O PIB vinha crescendo ano após ano, até que veio a crise financeira global de 2008. Ela foi a ilustração categórica da deficiência das métricas comummente utilizadas. Nenhuma destas métricas ofereceu aos políticos ou aos mercados uma advertência de que algo estava errado. Ainda que alguns economistas astutos tenham se alarmado, as medidas padrão sugeriam que tudo estava bem.

Desde então, de acordo com a métrica do PIB, os EUA vêm crescendo um pouco mais devagar do que em anos anteriores, mas não há nada com o que se preocupar. Os políticos, olhando para os números, sugerem pequenas reformas ao sistema económico e prometem que tudo dará certo.

Na Europa, o impacto de 2008 foi mais severo, especialmente nos países mais afetados pela crise do euro. Mesmo assim, tirando os altos índices de desemprego, as métricas convencionais não refletem plenamente os impactos adversos das medidas de “austeridade”, nem a magnitude do sofrimento da população ou os impactos de longo-prazo em seus padrões de vida.

A próxima revolução americana? Agitação civil antecipada



Preparando-se para a guerra civil?

As autoridades americanas estão há décadas se preparando cada vez mais para distúrbios civis em massa resultantes de ataques governamentais e corporativos à sociedade americana. Podemos lembrar que, no início dos anos 80, o Estado Oculto lançou sua guerra aberta à classe média pela selvagem recessão induzida pelo FED e pela revogação unilateral do contrato social que existia desde 1946. 

Naquela época, o governo dos EUA já havia antecipado inquietação pública generalizada, esperando protestos em massa e tumultos, e havia feito os preparativos para lidar com eles na forma de campos de internamento. Em um sentido real, o governo havia se preparado para outra guerra civil.

Como a maior parte da "Grande Transformação", ela começou durante o reinado de Reagan com o que foi chamado de "Rex 84" , uma abreviação de Readiness Exercise 1984 , um plano do governo dos EUA para deter um grande número de cidadãos americanos em caso de agitação civil. Esse plano diretor envolveu o FBI, o Departamento de Defesa, o grupo Medidas de Emergência, o Serviço Secreto, a CIA e 34 agências governamentais.

Assessor descarta entrada da Ucrânia na OTAN: 'Não queremos conflito com a Rússia'


O conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Robert O'Brien, rejeitou a ideia da Ucrânia se juntando à OTAN, o que poderia levar a organização a um conflito direto com a Rússia.

"Não acho que a OTAN como um todo seja atraente para aceitar a Ucrânia e entrar em conflito direto com a Rússia", declarou o alto funcionário dos EUA em um fórum de segurança no Canadá.

O'Brien enfatizou que "o Ocidente não quer um conflito com a Rússia" e "a OTAN foi fundada para evitar esse conflito".

Por outro lado, o consultor de Segurança Nacional dos EUA indicou que seu país continuará apoiando a Ucrânia em sua luta com a Rússia.

Moscovo declarou repetidamente que não faz parte do conflito interno ucraniano que eclodiu em 2014, após uma violenta mudança de governo.

Think tank alerta OTAN sobre 'inferioridade' britânica no campo de batalha contra Rússia


Relatório surge em meio a um conflito entre a França e o resto da aliança, que irrompeu depois de Macron questionar publicamente a relevância da OTAN.

Um think tank (organização de influência social e política), sediado em Londres, afirmou que as forças britânicas e da OTAN seriam completamente "ultrapassadas" em um eventual conflito com a Rússia.

O Instituto Real de Serviços Unidos (RUSI, na sigla em inglês), uma entidade britânica líder em questões de defesa e segurança, elaborou um relatório sobre as tendências da tecnologia de fogo e os efeitos destes sistemas em um futuro campo de batalha.

Uma anotação no site do RUSI afirma que "a crescente densidade e sofisticação do Sistema Integrado de Defesa Antiaérea da Rússia promete assaltar o apoio aéreo das forças terrestres da OTAN nas primeiras semanas de qualquer conflito de alta intensidade no Leste Europeu".

Se for esse o caso, as forças terrestres da OTAN teriam de contar com a força da sua artilharia, que neste momento tem "menos munições, alcance inferior e menos armas" se comparada à artilharia da Rússia, sugere o relatório.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

RU | Ligações da juíza de Assange e do seu marido com o establishment militar britânico


Conflito de interesse 

Mark Curtis e Matt Kennard [*]

Lorde Arbuthnot de Edrom, ex-ministro da Defesa, é presidente remunerado do conselho consultivo da corporação militar Thales Group e, até o início deste ano, foi conselheiro da empresa de armas Babcock International. Ambas as empresas têm grandes contratos com o Ministério da Defesa do Reino Unido (MOD).

As revelações põem em evidência preocupações quanto a conflitos de interesse. A sua esposa, sra. Arbuthnot, começou a presidir o processo legal de Assange em 2017 e decidiu em Junho último que iniciaria uma audiência plena em Fevereiro próximo a fim de considerar o pedido de extradição do Reino Unido feito pelo governo Trump.

Exige-se aos juízes britânicos que declarem quaisquer potenciais conflitos de interesses aos tribunais, mas entendemos que a sra. Arbuthnot não o fez.

Lady Arbuthnot nomeou recentemente um juiz distrital para julgar o caso de extradição de Assange, mas continua a ser a figura legal que supervisiona o processo. De acordo com o serviço de tribunais do Reino Unido, o magistrado-chefe é "responsável por ... apoiar e orientar colegas juízes distritais".

Actualmente Assange está detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres, em condições descritas pelo relator especial da ONU sobre tortura, Nils Meltzer , como "tortura psicológica". Se for transferido para os EUA, Assange enfrenta prisão perpétua com acusações de espionagem.

Lady Arbuthnot beneficiou-se financeiramente das organizações expostas pela WikiLeaks

Quando Lady Arbuthnot estava no seu cargo anterior, como juíza distrital em Westminster, ela beneficiou-se pessoalmente de financiamentos, juntamente com o marido, de duas fontes expostas pelo WikiLeaks nas suas divulgações de documentos.

O registo de interesses do parlamento britânico mostra que, em Outubro de 2014, a sra. Arbuthnot recebeu ingressos no valor de 1.250 libras para o Chelsea Flower Show em Londres, juntamente com o seu marido. Os ingressos foram fornecidos pela Bechtel Management Company Ltd, parte da grande corporação militar dos EUA, a Bechtel, cujos contratos com o Ministério da Defesa do Reino Unido incluem um projecto de até 215 milhões de libras para transformar sua Organização de Equipamentos e Apoio da Defesa, o organismo que compra e suporta todo o equipamento usado pelas forças armadas britânicas.

Outra linha de negócios da Bechtel é " cibersegurança industrial ", expressão que é frequentemente um eufemismo para guerra cibernética e tecnologia de vigilância.

As divulgações da WikiLeaks acerca da Bechtel mostraram conexões estreitas da empresa com a política externa dos EUA. Os telegramas publicados em 2011, por exemplo, mostram que a embaixadora dos EUA no Egipto, Margaret Scobey, pressionou o Ministério da Electricidade e Energia a aceitar uma proposta da Bechtel para consultoria técnica e concepção da primeira central nuclear do Egipto.

Em outro benefício pessoal declarado ao parlamento, a sra. Arbuthnot, mais uma vez junto com o seu marido, teve voos e despesas no valor de 2.426 libras esterlinas pagos para uma visita a Istambul em Novembro de 2014. Isto foi para "promover e incrementar relações bilaterais entre a Grã-Bretanha e a Turquia em alto nível", de acordo com a declaração de registo de interesses de Arbuthnot.

Estas despesas foram pagas pelo Tatlidil britânico-turco, um fórum estabelecido em 2011 durante a visita a Londres do primeiro-ministro turco a Recep Tayyip Erdoðan e anunciado com o então primeiro-ministro David Cameron. Tatlidil descreve seus objectivos como "facilitar e fortalecer as relações [sic] entre a República da Turquia e o Reino Unido ao nível de governo, diplomacia, negócios, academia e media".

Seu papel principal é realizar uma conferência anual de dois dias, com a presença do presidente da Turquia e de ministros turcos e britânicos. Lord Arbuthnot também participou do Tatlidil em Wokingham, uma cidade nos arredores de Londres, em Maio de 2018.

Como sujeitos de fugas não desejadas, tanto a Bechtel quanto a Tatlidil têm motivos para se opor ao trabalho de Assange e da WikiLeaks. Embora os pagamentos tenham sido inscritos no registo parlamentar de interesses, as partes no processo judicial não foram informadas acerca deles. Apesar de o julgamento de Assange ter atraído críticas significativas por todo o mundo, a sra. Arbuthnot não considerou necessário mencionar estes pagamentos às partes, ao público e aos media.

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