quinta-feira, 18 de junho de 2020

O PÃO DA PAZ, NÃO É DIABO ALGUM QUE O VAI AMASSAR!



O primeiro dos Direitos Humanos efectivamente alcançado no colectivo em Angola, foi o direito alcançado pela força das armas contra o colonialismo, o “apartheid” e um arsenal de ingerências, na tentativa de obstar à Autodeterminação, Independência e Soberania de todos os angolanos!

Esse direito que deve ser honrado na memória da história contemporânea de Angola, é também para ser honrado intemporalmente por todos os servidores do estado angolano!

Já António Agostinho Neto proclamava com a convicção dum combatente da luta de libertação em África: “nós, somos nós mesmo”!...

… E completava logo nas primeiras estrofes da “Renúncia impossível” escrito em 1949 (num momento psicossocial preparatório disposto para o início da luta), ciente da necessidade premente de descolonizar historicamente, institucionalmente e de forma tão completa quanto o possível, a fim de se ultimar o fecho desse longo processo com o cume sublimado, legítimo e justo da descolonização mental: (http://blogdangola.blogspot.com/2008/04/agostinho-neto-renncia-impossivel-1949.html)
“Não creio em mim Não existo Não quero eu não quero ser 
Quero destruir-me atirar-me de pontes elevadas e deixar-me despedaçar sobre as pedras duras das calçadas 
Pulverizar o meu ser desaparecer não deixar sequer traço de passagem pelo mundo quero que o não-eu se aposse de mim 
Mais do que um simples suicídio Quero que esta minha morte seja uma verdadeira novidade histórica um desaparecimento total até mesmo nos cérebros daqueles que me odeiam até mesmo no tempo e se processe a História e o mundo continue como se eu nunca tivesse existido como se nenhuma obra tivesse produzido como se nada tivesse influenciado na vida se em vez de valor negativo eu fosse zero
Quero ascender elevar-me até atingir o Zero e desaparecer Deixai-me desaparecer! 
Mas antes vou gritar Com toda a força dos meus pulmões Para que o mundo oiça: 
- Fui eu quem renunciou a Vida! Podeis continuar a ocupar o meu lugar Vós os que mo roubastes 
Aí tendes o mundo todo para vós para mim nada quero nem riqueza nem pobreza nem alegria nem tristeza nem vida nem morte nada 
Não sou Nunca fui Renuncio-me Atingi o Zero”…
Acontece que em 2020, 71 anos depois, ainda se constata que em termos da superestrutura ideológica, em termos socioculturais e sociopolíticos, assim como em alguns dos relacionamentos sensíveis entre o ex-colonizador e o ex-colonizado, se está longe duma plataforma saudável de descolonização mental!

Há predadores nesses relacionamentos e um deles é, por múltiplas provas dadas, o “dinossauro excelentíssimo” Carlos Pacheco!


01- Sempre que os angolanos buscaram entre si e sem interferências externas de qualquer natureza, resolver os seus diferendos e problemas, na transposição da guerra para a paz, ou na complexidade dos procedimentos civilizacionais coerentes face à barbárie, houve ganhos substanciais de longa duração para o movimento de libertação e para Angola!

Lá diz o popular ditado: “quem está fora, racha lenha”, lembram-se?

Isso explica-se por que um dos grandes objectivos do movimento amplo de libertação em África é alcançar um estágio de ausência de tiros (ou seja, de factores de caos, de desagregação e de desastre), dialogante a ponto de se alcançar consensos e mobilizador em função dos princípios de paz a longo termo!

Esse estágio é inadiável nos termos dos imensos resgates próprios da luta de libertação face aos factores de subdesenvolvimento, sequência da luta armada de libertação nacional contra o colonialismo, contra o “apartheid”, contra algumas das suas sequelas, tal como face aos aproveitamentos dominantes dos nossos dias de globalização, visando a instauração do neocolonialismo em época capitalista eminentemente neoliberal e transversalmente motivada pela revolução (e impactos) das novas tecnologias!

Por vezes durou algum tempo a acontecer assim com a indispensável maturidade, mas só durava mais por causa das interferências externas, facto que se comprova em todas as épocas, particularmente quando essas interferências sustentavam argumentos cristalizados que reflectiam exógenos interesses estranhos, exógenas conveniências estranhas, assim como processos “hardware” de domínio e subjugação.

Tem sido sintomaticamente terrível para os africanos e por tabela para os angolanos, a época da “dilatação da fé e do império”, onde se esconderam traficantes de escravos e os capatazes colonial-fascistas de ontem, ou se escondem os oportunistas, os cínicos, os hipócritas e os sem escrúpulos actores de ingerência, assimilação e manipulação de hoje!

Outros esconderijos de tendência neocolonial e assimilador, usam artificiosos radicalismos, parte deles inspirados nos “think tanks” das universidades estado-unidenses, que pretendem hoje julgar os dados históricos de acordo com suas ideológicas opções, desrespeitando assim a história, as leis revolucionárias de então e sempre com a intenção de perturbar as agendas angolanas, sobretudo as vocacionadas pelo estado angolano independente, soberano e sequioso de aprofundar a sua própria democracia numa sintonia de paz e de sustentável desenvolvimento!

Esses esconderijos “injectores” de autênticas campanhas, não respeitam os esforços em busca da paz consensual entre os angolanos, indispensável para se levar por diante a luta contra o subdesenvolvimento, uma das principais razões aliás dos seus princípios de unidade, de coesão, de solidariedade, de identidade e de dignidade patriótica.

 

02- O rumo da busca incessante de paz em Angola independentemente das clivagens ideológicas, distende-se desde a Iª república do estado angolano, até aos nossos dias.

Detalhe-se:

. O Presidente António Agostinho Neto trabalhou arduamente na paz a norte a fim de se voltar para os desafios a sul (neutralizou-se o belicismo da FNLA, integraram-se os efectivos do ELNA-COMIRA e, por fim apaziguaram-se os contenciosos com Mobutu, restando apenas os resíduos da FLEC); os organismos de defesa e segurança e particularmente a DISA, tiveram um papel muito importante nos resultados que foram conseguidos (até 10 de Setembro de 1979);

. O Presidente José Eduardo dos Santos, continuando a saga de luta de libertação na África Austral, a sul, em estreita aliança com os países da Linha da Frente, com os Movimentos de Libertação do Zimbabwe, da Namíbia e da África do Sul e reforçado pelo apoio internacionalista de que se destacaram os revolucionários cubanos, a partir da “trincheira firme da revolução em África”, conseguiu a independência da Namíbia e do Zimbabwe e, por fim, a exaustão e colapso do “apartheid”; no seguimento, buscou a paz interna com a UNITA (de 20 de Setembro de 1977 a 4 de Abril de 2002); iniciou a instalação dos processos de paz, reconstrução nacional e reconciliação, com várias amnistias, o fim da pena de morte, o amplo desarmamento da população, a desminagem e a busca de consensos externos e internos a fim de reforçar esses procedimentos inadiáveis (de 4 de Abril de 2002 a 26 de Setembro de 2017);

. O Presidente João Lourenço procura a nível do estado republicano, desde 26 de Setembro de 2017, o aprofundamento da paz, do perdão e da reconciliação nacional, de forma a gerar plataformas alargadas de consenso a fim de acelerar a luta contra o subdesenvolvimento numa atmosfera em que os angolanos se venham a conhecer melhor a si próprios e busquem padrões de felicidade para o seu futuro, (nas vias da democracia representativa, participativa e de articulado protagonismo); nesse sentido está a dar tempo de adaptação ao MPLA, que tem demonstrado carência de oxigenadas correntes estruturais, organizativas, doutrinárias e de mobilização!

. A UNITA, mais rapidamente que a FNLA, separou o que à guerra pertence (e é passado), do que à paz pertence (e é presente e futuro), saindo da concha fechada do etno-nacionalismo para a corrente fresca dum cosmopolitismo mais urbano, apto à reconciliação consigo própria e com os outros, num processo sociológica e mentalmente mais flexível e aferido às exigências da paz com aprofundamento proactivo da democracia, procurando não ser um mero cliente do sistema, nem se arrastar nele.

Quando queremos identificar o manancial do rumo do movimento de libertação em Angola, é a busca incessante da paz que se inscreve no essencial da lógica com sentido de vida, tão indispensável à segurança vital colectiva do povo angolano (presentes e futuras gerações), o que melhor nos serve para melhor se detalharem os avanços sem ingerência e o que melhor nos serve para abordar o carácter do estado angolano multipartidário e republicano!

É essa segurança vital colectiva que abre por outro lado, espaço e tempo para as abordagens do âmbito duma geoestratégia de desenvolvimento sustentável e duma justa, saudável e legítima cultura de inteligência patriótica, definindo espaços não assimiláveis (inclusive nos fluxos do conhecimento catedrático), particularmente aos contenciosos cristalizados que vêm de fora, ao nível do compulsivo e já repulsivo Carlos Pacheco e seus outros seguidores!


03- Aprofundar as bases da plataforma de paz está a tornar-se na vocação permanente dos angolanos, apesar dos impactos da globalização capitalista neoliberal e isso não está a ser respeitado por quem se nutre de campanhas nutrindo-as, recorrendo a cristalizados saudosismos do passado colonial, ou a radicalismos pretensamente do presente, expedientes de inteligência que não sendo novos, foram usados desde o 11 de Novembro de 1975, desde o primeiro dia da independência de Angola, até hoje, quando por cá já se vai na IVª república, século XXI adentro!

Não é por acaso que, com o mimetismo dos camaleões, as campanhas subversivas da história contemporânea de Angola e da África Austral e Central, assentaram arraiais em Portugal, naquele Portugal produto do golpe do 25 de Novembro de 1975, tão ao gosto da “ala liberal” dos tempos do regime colonial-fascista de Marcelo Caetano e do bafiento “Portugal e o futuro”!

Também em relação a esse inteligente ambiente sociocultural e sociopolítico, que espreita os angolanos até desde o alto das cátedras universitárias sem se desfazer por completo da colonização mental graças a um “eterno” manancial de hipocrisia e cinismo próprio de quem perde impérios antigos para se avassalar a um novo império, os angolanos motivados e coerentes com a lógica com sentido de vida, começam a estar legítima e justamente precavidos!

De facto tem havido uma intensidade de espectro tão nocivo para com o povo angolano, em termos de ingerência manipuladora assimétrica desde 31 de Maio de 1991, que o Acordo de Bicesse mais parece ser um acto histórico exemplificativo de dominante supervisão, do que alguma vez foi de observação, de bom senso e de bons-ofícios!

Nos relacionamentos entre o ex-colonizador e o ex-colonizado e tendo em conta os fluxos e filtragens norte-sul de inteligência da ex-potência colonial avassalada à NATO e à tão culturalmente anglo-saxónica globalização da hegemonia unipolar, os angolanos devem-se colocar ainda como indígenas não assimiláveis, mentalmente resistentes a qualquer tentativa de colonização mental e “armados” com a filosofia essencialmente inerente ao movimento de libertação, a filosofia que segue com rumo de paz a lógica intemporal com sentido de vida!

(Espaço algum pode ser conferido ao poder do “lobby” luso-angolano confinado à “ala liberal” do após golpe de 25 de Novembro de 1975 em Lisboa!...).

Foi assim que se alcançou a independência e a possibilidade de soberania (realizando-se o Programa Mínimo do movimento de libertação) e é assim que se torna necessário dar respostas aos níveis dos desafios do século XXI a partir da ultraperiferia económica que é África!


04- Os historiadores e outros cientistas sociais e investigadores do movimento de libertação, tendo em conta as exigências éticas e sua racionalidade de pendor civilizacional, devem-se tornar exigentes e coerentes na perspectiva da confluência científico-investigativa, por que o movimento de libertação possui fluências de longa duração na sua ordem filosófica e beber da sua experiência é também confrontar esse poder energético contemporâneo com os desafios e parâmetros tão densamente inteligentes, manipulativos e assimiladores do século XXI!

Historiador competente deve preocupar-se com os contraditórios e saber conduzir-se com honestidade intelectual, uma vez que há provas documentais que o socorrem… ele só tem que investigar e dar-se ao trabalho de as recolher, de as compilar e ter a hombridade de as levar em consideração!

A prospectiva histórico-antropológica refinada do movimento de libertação e do estado angolano dele emanado e iluminado, numa lógica com sentido de vida abre caminho aos processos oxigenados de civilização e inibe por si as pendentes trilhas de que se serve a barbárie, particularmente aquela trilha que cristalizou mentalmente no colonial-fascismo como a de Carlos Pacheco e seus outros seguidores, que o aplaudem nos bastidores e em todos s esconderijos, inclusive em esconderijos oficiais!

Esta não é só uma batalha de ideias na superestrutura ideológica dos relacionamentos contemporâneos entre Portugal e Angola, mas um intenso percurso antropológico, cultural e histórico de descolonização mental que desafia ambos os povos, sem ferir a legitimidade e a dignidade da resistência angolana, mas penalizando os sucedâneos do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, particularmente os “dinossauros excelentíssimos” que sob a capa dum certo verniz liberal oficioso, estão provocatoriamente cristalizados em conteúdos próprios dos tempos do colonial-fascismo de tão má memória e cultura!

O PÃO DA PAZ, NÃO É DIABO ALGUM, AINDA QUE À SOLTA, QUE O VAI AMASSAR!

Martinho Júnior -- Luanda, 16 de Junho de 2020

Fotos recolhidas de “Agostinho Neto, a vida e a obra” – https://cc3413.wordpress.com/2011/11/12/agostinho-neto-a-vida-e-a-obra/

Rastos das Lendas e narrativas do “dinossauro excelentíssimo” Carlos Pacheco, ainda por completar:
. Autor de biografia de Agostinho Neto foi interrogado no Brasil – https://www.voaportugues.com/a/autor-de-biografia-de-agostinho-neto-foi-interrogado-no-brasil-/4393390.html;
. Angola Fala Só - Carlos Pacheco: "Os desaparecidos do 27 de Maio não têm rosto" – https://www.voaportugues.com/a/angola-fala-s%C3%B3---carlos-pacheco-os-desaparecidos-do-27-de-maio-n%C3%A3o-t%C3%AAm-rosto-/4410079.html;
. DE DERROTA EM DERROTA ATÉ À INEVITÁVEL DERROTA FINAL! – https://jornalf8.net/2020/de-derrota-em-derrota-ate-a-inevitavel-derrota-final/;

Consultas não exaustivas sobre “A lógica com sentido de vida” de Martinho Júnior:

Sem comentários:

Mais lidas da semana