terça-feira, 18 de agosto de 2015

O LABORATÓRIO AFRICOM – II



No que toca à natureza físico-geográfica-ambiental de África, há que realçar o contraste entre as imensas regiões desertificadas, que tendem a progredir de norte para sul e a região das grandes nascentes africanas que se situa no coração equatorial-tropical do continente, abrangendo as nascentes do Nilo, do Congo e do Zambeze, bem como os “Grandes Lagos”, tendo como expoente maior o Lago Vitória.

Na parte norte do continente o Sahara e o Sahel estão em expansão na direcção sul, comprimindo o pulmão equatorial-tropical da bacia do Congo (o 2º pulmão tropical da Terra) e os sinais dessa expansão são múltiplos, um dos quais destaco: a redução drástica da cubicagem de água e da extensão do Lago Chade, que sem intervenção humana corre o risco de desaparecer.

Na região das grandes nascentes africanas, a desflorestação é também cada vez mais evidente, quer pela compressão da desertificação do Sahel em direcção a sul, quer por acção humana em função do crescimento exponencial de comunidades sedentárias que procuram subsistir, até por que a densidade demográfica é comparativamente muito maior nessa região do que no Sahara, Sahel e Ogaden.

Nos desertos as condições seculares de vida implicaram culturas de nomadização humana, com a tradição de não se respeitarem as fronteiras.

Às caravanas com camelos que ainda prevalecem, somam-se agora caravanas com veículos, inclusive caravanas dos grupos “jihadistas” que adoptaram carrinhas Toyota que lhes conferem imensa mobilidade e até bons processos de camuflagem e clandestinidade.

Essa área imensa foi de há séculos islamizada por convicções sunitas, com instalação de alguns centros, como Timbuctu no Mali, com culturas avançadas, incluindo famosas universidades.

Os rios Nilo (a leste) e Níger (a oeste) tal como o lago Chade (a oeste) propiciaram sedentarizações, que contrastam com a nomadização no Sahara e no Sahel sobretudo e é junto ao curso desses rios onde se encontram as concentrações humanas.

Os tuaregs nomadizam em territórios da Mauritânia, do Mali, do Burkina Faso, da Argélia e da Líbia, precisamente onde se expande o Aqmi (Al Qaeda do Magrebe), sendo a partir dessa região que se expandiu o Boko Haram, até às “áreas sem governação” na confluência de fronteiras da Nigéria, Camarões, Chade e Níger, na sequência dos bombardeamentos AFRICOM-NATO na caótica Líbia que se sucedeu ao derrube e morte de Kadafi.

Os arsenais de Kadafi acabariam em parte para armar os grupos tuaregues e de “jihadistas” em África e no Oriente Médio, no início dos seus programas de expansão, o que se reflectiu de forma imediata no Mali, com a súbita gestação do Azawad.

No Azawad (parte norte do Mali), os tuaregues proclamaram seu território ao mesmo tempo que o AQMI apareciam também na mesma região, o que agravou os termos do conflito, atirando a possibilidade de divisão do Mali, algo que tem como precedente o caso do Sudão, outro país do Sahara e do Sahel.

Como os Estados Unidos estão tentados em redesenhar o mapa de África, tal como acontece em relação ao Médio Oriente, foi aberto o segundo precedente, num caso em curso.

Os tuaregues, que eram uma das componentes das forças de Kadafi, assumiram causa própria no Mali, chocando com o AQMI, mas apesar do cessar-fogo com o Mali, não vão desistir de sua pretensão.

O AQMI pode estar tentado a ganhar terreno na direcção do Sudão, se o actual governo sudanês for sujeito ao mesmo “modelo” de tratamento que sofreu o governo último de Kadafi!

O governo francês, que esteve intimamente implicado no derrube de Kadafi e nos bombardeamentos da “colmeia” Líbia, ao defender o Mali das insurgências tuaregue e AQMI, conhece como é óbvio as intenções norte americanas e a “dispersão das abelhas” pelo deserto, aceitando ser o elo da “cadeia de transmissão” entre Washington e Bamako, ao mesmo tempo que gere em comum o que se abre em relação aos tuaregues (com possibilidade de solução táctica) e o que se fecha em relação ao AQMI, com implicações necessariamente distintas no Sahara, Sahel e Ogaden, o que reforça geo estrategicamente a linha oportunista externa, que ingere e manipula em África com instrumentos inseridos no AFRICOM-NATO.

Dos impactos resultam simultaneamente migrações em direcção ao litoral Atlântico (Mauritânia), a oeste, ao Mediterrâneo (Argélia, Tunísia e Líbia) a norte e a sul, em direcção aos países que beneficiam da água interior da imensa bacia do Congo e Grandes Lagos; essas migrações forçadas, na maior parte dos casos em busca de sobrevivência, juntam-se ainda às que ocorrem no Médio Oriente, atravessando o Mediterrâneo em direcção particularmente à Grécia e Itália.

O laboratório AFRICOM foi mesmo vocacionado para semear o caos, na já por demais caótica África!

Imagem: Mapa climático de África, que mostra os contrastes entre as regiões desérticas (Sahara, Sahel e Ogaden), com a região matriz de água equatorial-tropical (nascentes do Congo, do Nilo e do Zambeze, assim como os Grandes Lagos). As culturas seculares de África estão inter-relacionadas com os fenómenos físico-geográfico-ambientais; no caso de impacto como uma guerra de proporções importantes, as populações nómadas e sedentárias do Sahara, do Sahel e de Ogaden são obrigadas a sair da “zona de morte”, inclusive por razões de sobrevivência. Neste momento isso facilita também a expansão dos “jihadistas” em direcção ao sul do continente e à própria Europa, complementando outras redes locais.

A consultar de Martinho Júnior:
- Salvar a Líbia – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-libia.html
- Castas das Arábias – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/castas-das-arabias.html
- Iraque, Iraque, 75 anos depois – Martinho Júnior – Página Um – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/iraque-iraque-75-anos-depois.html
- Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao.html
- Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_25.html
- Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_28.html
- Rapidinha do Martino – 03 – Para África e em força, a “modess democracy” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/04/rapidinhas-do-martinho-03.html
- Uma Líbia esmagada em nome da democracia – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/uma-libia-esmagada-em-nome-da.html
- Rapidinhas do Martinho – 15 – Danos colaterais – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/rapidinhas-do-martinho-15.html
- Rapidinhas do Martinho – 16 – OTAN o crime mais que perfeito – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/rapidinhas-do-martinho-16.html
- Rapidinhas do Martinho – 32 – A vingança AFRICOM – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/rapidinhas-do-martinho-32.html
- Rapidinhas do Martinho – 33 – Golpe militar – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/rapidinhas-do-martinho-33.html
- Rapidinhas do Martinho – 34 – Riscos acrescidos para África – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/rapidinhas-do-martinho-34.html
- Rapidinhas do Martinho – 36 – Salvar a paz em África – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/08/rapidinhas-do-martinho-36.html
- Rapidinhas do Martinho – 37 – Mais um episódio da IIIª Guerra Mundial em curso – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/09/rapidinhas-do-martinho-37.html
- Rapidinhas do Martinho – 38 – Cuba esclarecida e esclarecedora – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/09/rapidinhas-do-martinho-38.html
- Rapidinhas do Martinho – 48 – Explorando o êxito – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/rapidinhas-do-martinho-48-i.html
- Rapidinhas do Martinho – 48 – Explorando o êxito – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/rapidinhas-do-martinho-48-ii.html
- Rapidinhas do Martinho – 48 – Explorando o êxito – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/rapidinhas-do-martinho-48-iii.html
- Rapidinhas do Martinho – 54 – Piratas do século XXI – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/rapidinhas-do-martinho-54.html
- O petróleo e outras riquezas minerais incitam as disputas – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/mali-o-petroleo-e-as-outras-riquezas.html

Moçambique. PRESIDENTE NYUSI FAZ TRAFICÂNCIA POLÍTICA NA MEDIA



Verdade (mz) - Editorial

Alain WOODROW (1996:14) já dizia que por dinheiro, os profissionais de comunicação são objectos de solicitações. Eles, “menos escrupulosos fazem pagar a sua influência, aceitam presentes e acabam por trair a sua missão”, de informar. “Em vez de informar honestamente o público que lhes paga, preferem servir os interesses do establishment, que os remunera a segunda vez", ignoram a comunicação desinteressada e incómoda e enveredam pela informação cómoda e previamente peneirada segundo os critérios de actores políticos.

Este intróito surge na sequência de o Presidente da República, Filipe Nyusi, ter conferido posse, na semana passada, a jornalistas de órgãos públicos, nomeadamente Sacour Latipo, Suzana Espada e Pedro Nacúo, como parte dos novos membros do Conselho Superior de Comunicação Social (CSCS). Mesmo se tivessem sido indicados profissionais de um dos ditos órgãos independentes/privados a coisa só mudava de figura em termos da proveniência, mas, na realidade, uma vez lá dentro, o espaço de manobra seria bastante exíguo e seriam todos reduzidos a jornalistas ao serviço do poder político.

O contexto que ditou a indicação de Sacour Latipo, Suzana Espada e Pedro Nacúo não só é suspeito dada a relação umbilical e uma certa promiscuidade que há 40 anos caracterizam a "cooperação" entre a Televisão Moçambique, a Rádio Moçambique, o Notícias e o Governo, como, também, esclarece muitas coisas em torno do facto de o jornalista da imprensa pública ser ou não um legítimo intermediário entre o Executivo e a sociedade. Será este um sinal de que "ser jornalista é pertencer um uma máfia controlada pelo poder político"?

Nunca houve dúvidas de que as traficâncias políticas do partido de Filipe Nyusi imperam em todos os meios de comunicação cujo funcionamento dependem dos nossos impostos. O que ainda não estava devidamente esclarecido, é que o regime tem uma tamanha apetência em controlar, a todo o custo, as mentes de jornalistas e as suas instituições para melhor poder manipular e os jornalistas deixam-se levar... Há todo um interesse de se transformar jornalistas, quanto maior for o número para melhor, em máquinas activas de combate político?

Entre serem membros do CSCS e agir em prol dos órgãos de comunicação social e da salvaguarda dos seus interesses, Sacour Latipo, Suzana Espada e Pedro Nacúo já são, obviamente, moleques e serviçais do regime, em particular de Filipe Nyusi, enquanto este continuar no poder. Como dizia um cantor angolano, "a máscara caiu e vê-se o podre" e a sugeria por detrás de todo o esforço feito pelos ilustres colegas durante a última campanha eleitoral. Isso é, realmente, sinal de que a política compensa, pese embora seja um jogo sujo. Nota-se, infelizmente, que alguns elementos da comunicação social não mais conseguem despir-se das suas cores e paixões partidárias.

O abuso do poder político na imprensa não é de ontem. Aqueles que alegam que para a indicação dos visados para o CSCS houve um processo de escolha, que fique claro que tudo não passou de um teatro. A serventia ao regime compensa nem que para tal as fronteiras entre o jornalismo e a política sejam fracas ou praticamente inexistentes. E, desta forma, a pressão governamental e partidária diminuem substancialmente a autonomia dos órgãos de informação pública.

Aliás, escrever uma biografia sobre um Chefe de Estado como Filipe Nyusi também compensa. Pedro Nacúo que o diga.

Assim, o povo que não conte mais com esses jornalistas, até porque eles nunca estiveram comprometidos em ser intermediários entre o Governo e a Sociedade. Tudo o que buscaram lograr ao longo das suas carreiras são mordomias às custas da política, diante da qual o povo “é tratado como se fosse uma coisa, é ludibriado, iludido, induzido em erro, crê no que é falso" (Philippe Breton, 1997:29).

Nyusi na SADC. Há 24 milhões de pessoas em risco de fome na África Austral



O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, afirmou em Gaborone, capital do país, que 24 milhões de pessoas estão em risco de passar fome nos estados que integram a Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC).

Nysui falou da situação da insegurança alimentar na SADC, em declarações aos jornalistas moçambicanos, num balanço do primeiro dia da 35.ª Cimeira dos chefes de Estado e de Governo da SADC, que decorre na capital do Botsuana, Gaborone.

"Do universo de pessoas em risco de passar fome na SADC, 150.000 estão em Moçambique e é necessária a angariação de mais fundos para fazer face à fome na região", disse Nyusi, citado hoje pela imprensa moçambicana.

Dados divulgados pela diretora da Agricultura e Alimentação da SADC, Margaret Nyerenda, indicam que a organização precisa de seis milhões de toneladas de cereais para alimentar a população carenciada.

Margaret Nyerenda sublinhou ainda que a escassez de água nos últimos tempos afetou uma parte significativa dos países da região, com destaque para Botsuana, Lesoto, Namíbia, África do Sul, Zimbabué e o sul de Angola.

Durante o encontro com os jornalistas, o Presidente moçambicano sublinhou ainda que os chefes de Estado e de Governo da SADC realçaram a necessidade de a região mobilizar recursos para projetos de industrialização como forma de impulsionar o desenvolvimento económico.

"Neste encontro, ficou claro que a implementação do programa de industrialização da SADC implica a angariação de mais fundos e de recursos humanos à altura", acrescentou o Presidente moçambicano.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Guiné-Bissau. ONU. Apela-se ao "sentido de Estado" para resolver crise guineense




A configuração para a Guiné-Bissau da Comissão de Consolidação da Paz das Nações Unidas (PBC, no original em inglês) apela ao "sentido de Estado e a que se retome o diálogo político" para resolver a crise política na Guiné-Bissau.

"A PBC apela ao sentido de Estado e a que se retome o diálogo político para resolver as atuais tensões no pleno respeito pela Constituição Nacional e do Estado de Direito e encontrar uma forma concertada para sair da atual crise política", anunciou hoje em comunicado.

A posição foi tomada na segunda-feira durante uma reunião da PBC em Nova Iorque para debater os recentes acontecimentos políticos no país.

Aquela entidade receia que a demissão do Governo possa "prejudicar os progressos alcançados até agora, existindo o risco de desestabilizar a frágil situação política no país e comprometer o continuado progresso económico".

"O povo da Guiné-Bissau, que lutou pela democracia e estabilidade, expressando livremente a sua vontade nas eleições de abril e maio de 2014 merece instituições e liderança sensíveis às suas aspirações", acrescenta.

A PBC lamenta ainda que "os esforços nacionais, regionais e internacionais não tenham impedido a escalada da crise".

O comunicado enaltece ainda "a moderação demonstrada pelas Forças Armadas da Guiné-Bissau e apela a que continuem a respeitar o poder civil".

O Presidente da República, José Mário Vaz, demitiu na passada quarta-feira, dia 12, o Governo liderado por Domingos Simões Pereira, apesar dos apelos lançados dentro e fora do país para que não o fizesse.

O Executivo estava em funções há um ano, depois de o PAIGC vencer as eleições com maioria absoluta e de ter recebido duas moções de confiança aprovadas por unanimidade no Parlamento - para além de ter o apoio da comunidade internacional.

Depois da demissão e nos termos da Constituição, Vaz pediu ao PAIGC na qualidade de partido vencedor das últimas eleições que indicasse um nome para primeiro-ministro e aquela força política voltou na segunda-feira a propor Simões Pereira.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Zamora Induta. Ex-líder das Forças Armadas impedido de sair da Guiné-Bissau




O antigo chefe militar da Guiné-Bissau Zamora Induta está impedido de sair do país, disse hoje à Lusa fonte da Promotoria da Justiça Militar - um órgão semelhante ao Ministério Público, mas dedicado a militares.

"Zamora Induta tem uma obrigação de permanência no país, que pressupõe ser-lhe confiscado o passaporte e transmitida informação às autoridades fronteiriças de que não pode sair do país", referiu a mesma fonte.

José Paulo Semedo, advogado de Induta, vai mais longe e disse à Lusa que o antigo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) e contra-almirante está "em prisão domiciliária não declarada", condição que a mesma fonte da justiça militar não quis comentar.

Zamora Induta foi CEMGFA de junho de 2009 até ao dia 01 de abril de 2010, altura em que foi afastado do cargo num golpe liderado pelo general António Indjai, na altura seu adjunto no comando das Forças Armadas guineenses.

Mais tarde, Induta saiu de Bissau e fixou residência em Lisboa na sequência do golpe militar de abril de 2012 em que Indjai depôs o Governo.

O advogado do contra-almirante diz que este regressou agora ao país para recolher dados para uma tese académica que está a realizar em Lisboa, mas quando se preparava para voltar para Portugal, viu-lhe confiscado o passaporte.

De acordo com o seu defensor, Induta foi chamado a 04 de agosto pela Promotoria da Justiça Militar na qualidade de declarante, mas no dia a seguir "já era considerado suspeito" num processo conhecido como "caso 21 de outubro de 2012".

Este processo diz respeito a uma alegada tentativa de golpe de Estado em que Induta foi apontado por um dos militares capturados, o capitão Pansau Ntchama, como cabecilha da ação que se saldou na morte de cinco pessoas.

José Paulo Semedo diz que nada fazia antever este "alarido" à volta do regresso ao país "de um cidadão nacional", sobretudo depois de Induta ter informado as autoridades políticas e militares.

O advogado apresentou à Lusa a troca de correspondência que Zamora Induta manteve com o Presidente guineense, José Mário Vaz, e com o atual CEMGFA, Biaguê Nan Tan, dando conta do seu regresso ao país.

Segundo o advogado de Induta tanto o Presidente da República como o chefe das Forcas Armadas "deram a sua anuência" ao regresso.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Guiné-Bissau. Primeiro-ministro demitido: "Ninguém pode parar a vontade do povo"




O primeiro-ministro demitido da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, afirmou hoje num comício popular de apoio ao seu Governo, destituído pelo Presidente da República, que "ninguém pode parar a vontade do povo".

Falando perante milhares de pessoas, Domingos Simões Pereira disse que os líderes do país devem ouvir o povo no seu pronunciamento porque, frisou, o povo é o detentor do poder.

"Ninguém pode parar a vontade do povo. É ao povo que pertence o poder. Expressou essa vontade e nós temos a obrigação de aceitar a vontade do povo", destacou o dirigente guineense, presidente do PAIGC.

Expressando-se em crioulo antes de falar para os jornalistas, Domingos Simões Pereira disse que "a moldura humana" que afluiu à Praça dos Heróis Nacionais, "mesmo debaixo da chuva" é sinal de "confiança nas ações do Governo", entretanto, demitido.

"Obrigado pelo vosso apoio. Este vosso gesto só pode ser retribuído com o desenvolvimento que vos prometi. Ninguém pode travar isso", destacou Simões Pereira.

Vários dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) enalteceram a determinação de as pessoas "só abandonarem a Praça dos Heróis Nacionais no dia em que o Presidente (José Mário Vaz) voltar atrás com a sua decisão".

"Só vamos sair daqui e voltar para os nossos afazeres no dia em que o Presidente anunciar um novo decreto a confirmar Domingos Simões Pereira como nosso legítimo primeiro-ministro", notou Botche Candé, antigo ministro do Interior.

Sob o olhar atento de dezenas de polícias que guardavam o portão principal de acesso ao Palácio da Presidência, o comício decorreu sem qualquer incidente.

Depois de os dirigentes do PAIGC saírem do palco, a animação prosseguiu com atuação de músicos guineenses.

O Presidente da República, José Mário Vaz, demitiu na quarta-feira o Governo liderado por Domingos Simões Pereira, apesar dos apelos lançados dentro e fora do país para que não o fizesse.

O Executivo estava em funções há um ano, depois de o PAIGC vencer as eleições com maioria absoluta e de ter recebido duas moções de confiança aprovadas por unanimidade no Parlamento - para além de ter o apoio da comunidade internacional.

Depois da demissão e nos termos da Constituição, Vaz pediu ao PAIGC na qualidade de partido vencedor das últimas eleições que indicasse um nome para primeiro-ministro e aquela força política voltou hoje a propor Simões Pereira.

Lusa, em Notícias ao Minuto - ontem

Guiné-Bissau. PAIGC volta a indicar Simões Pereira para primeiro-ministro




Eram 14:30 quando um oficial dos serviços do secretariado do partido se apresentou na secretaria-geral da Presidência com a carta do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), disse à Lusa fonte daquela força política.

"Formalmente o partido já deu a conhecer ao senhor Presidente qual a sua decisão", acrescentou.

A carta refere que "à luz do número 1 do artigo 40.º dos estatutos do PAIGC, o presidente do partido é o cabeça-de-lista às eleições legislativas e, em caso de vitória, é ele o candidato a primeiro-ministro, chefe do Governo", referiu.

O Presidente da República, José Mário Vaz, demitiu na quarta-feira o Governo liderado por Domingos Simões Pereira, apesar dos apelos lançados dentro e fora do país para que não o fizesse.

O Executivo estava em funções há um ano, depois de o PAIGC vencer as eleições com maioria absoluta e de ter recebido duas moções de confiança aprovadas por unanimidade no Parlamento - para além de ter o apoio da comunidade internacional.

Depois da demissão e nos termos da Constituição, Vaz pediu ao PAIGC na qualidade de partido vencedor das últimas eleições que indicasse um nome para primeiro-ministro.

Lusa, em Notícias ao Minuto - ontem

Angola. PERSEGUIÇÃO AOS “KALUPETEKAS” CONTINUA




Denúncia feita por Julino Tito, filho do fundador e líder da seita A Luz do Mundo

Julino Tito, filho de José Julino Kalupeteka, fundador e líder da seita A Luz do Mundo, garante que os fiéis da igreja continuam a ser perseguidos pelas autoridades.

Em declarações à Voz da América, Julino Tito diz que alguns dos membros da seita detidos começam agora a ser libertados – só esta semana terão sido 20 – mas no entanto as perseguições mantém-se.

Julino Tito, também ele um seguidor da seita A Luz do Mundo, continua à espera da marcação da data do julgamento de Kalupeteca. “Estamos preocupados com a data do julgamento, porque enquanto o profeta permanecer aí tudo fica parado”, disse, citado pela VOA.

Esta não é a primeira vez que os membros da seita igreja adventista do sétimo dia A Luz do Mundo queixam-se da polícia. No passado criticaram as autoridades por excesso de força e detenções arbitrárias.


Angola. Mavungo. Ativista detido em Cabinda há cinco meses vai a julgamento a 25 de agosto




O tribunal de Cabinda começa a julgar a 25 de agosto o ativista angolano José Mavungo, detido desde março, acusado pelo Ministério Público da prática de um crime de rebelião contra o Estado.

A informação foi prestada hoje à Lusa pelo advogado de defesa, Francisco Luemba, incorrendo o arguido numa pena de prisão entre três e 15 anos.

Segundo o despacho de pronúncia, a que a Lusa teve acesso, o ativista, de 52 anos, acusado também de incitar à violência, surge associado à recuperação pela polícia de material explosivo na véspera de uma manifestação agendada para 14 de março, na província de Cabinda.

A manifestação, que Mavungo estava a organizar, contra a alegada má governação e violação dos direitos humanos em Cabinda foi proibida pelo governo provincial.

Em causa está a detenção, naquele dia, de José Marcos Mavungo, ativista dos direitos humanos e quadro de uma petrolífera que opera em Cabinda, e de Arão Bula Tempo, de 56 anos, advogado e presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola - libertado em maio -, ambos então apresentados como suspeitos da prática de crimes contra a segurança do Estado e subversão.

Sobre José Mavungo, a acusação do Ministério Público, agora concluída e que segundo o seu advogado permitirá o início do julgamento ainda no mês de agosto, associa-o à recuperação pelas autoridades na véspera da manifestação de, entre outro material, 10 blocos de TNT de 200 gramas e um rolo de cordão detonante e "nove panfletos com conteúdos de incitamento à violência".

"Vamos arrancar à força estes valores usando se necessário violência como forma de conquistar. A polícia nada poderá fazer contra a nossa vontade legítima. Caso nos impeçam recorram à força com paus, pedras e catanas", refere a acusação sobre o teor dos panfletos, distribuídos pelas ruas de Cabinda "a mandado do réu".

"É uma pouca-vergonha. É um trabalho [acusação] feito por pessoas ilustres, funcionários públicos, ao serviço da perseguição de um homem, inventando coisas. Mas vamos para julgamento já que eles querem, talvez seja um processo necessário para abrir os olhos de algumas pessoas que ainda estão cegas", disse anteriormente à Lusa o advogado Francisco Luemba.

"Atendendo que várias movimentações se começaram a registar assim que foi negada, pelas autoridades competentes, a realização da pretendida marcha, com o aparecimento de panfletos nalgumas vias da cidade, no bairro '04 de Fevereiro', abandonaram um saco que continha explosivos de vários tipos, por se suspeitar que desta situação resultem comportamentos que possam alterar a ordem pública, bem como de o réu continuar a prática da mesma atividade criminosa, é prudente que se mantenha preso enquanto aguarda pelo julgamento", lê-se, por sua vez, na acusação.

Neste despacho, o Ministério Público justifica também a manutenção da prisão preventiva de Mavungo - que já teve de receber várias vezes assistência médica na prisão - com a "personalidade" do ativista, "havendo receio fundado da perturbação da ordem pública e da continuação da atividade criminosa".

O início do julgamento de José Mavungo está agendado para 25 de agosto, pelas 09:00, no tribunal de Cabinda, ao fim de mais de cinco meses de prisão preventiva.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola. APELO A UM GOLPE DE ESTADO?




A escritora angolana Zulinni Bumba aconselhou hoje, terça-feira, em Luanda, os pais e encarregados de educação a oferecerem aos filhos mais livros em detrimento de aparelhos electrónicos, incutindo o gosto pela escrita e a leitura.

Dependendo dos livros, é provável que este conselho de Zulinni Bumba se enquadre na “lei” do regime contra a segurança do Estado, podendo mesmo indiciar uma tentativa de golpe de Estado. É que ler significa saber mais. Ora isso…

Em entrevista à Angop a propósito do “estado da literatura infantil em Angola”, a escritora mostrou-se preocupada com a nova tendência de alguns encarregados que se mostram mais receptivos a comprar um telefone ou ipad em detrimento de um bom livro.

Segundo a escritora, as novas tecnologias são sempre bem vidas, porque representam desenvolvimento, mas para crianças é preciso ter um acompanhamento e sobretudo nunca deixar de comprar um bom livro e levar os menores a visitarem feiras de livros.

Zulinni Bumba afirma que o contacto com os livros permite as crianças desenvolverem as suas capacidades mentais e criativas com as palavras, fazendo com que os mais novos leiam e escrevam com maior habilidade.

A escritora destacou ainda que uma das formas de se incrementar um maior interesse e valorização dos filhos pelo livros seria a promoção de mais eventos literários, para mostrar às crianças a importâncias dos livros no seu crescimento intelectual.

“O livro é considerando o melhor amigo do homem, razão pela qual é preciso unir esforços para que este estatuto continue”, conclui.

Madalena Suzete Paulo Manuel Bumba, de pseudónimo Zulinni Bumba, conta com vários livros infantis, entre eles “O aniversário do rei leão”, “Kambinda”e “ Menino Kulomba e os dois lenhadores”.

As crianças esquecidas foram as protagonistas do prémio Nobel da Paz de 2014, sendo referidas nos discursos de ambos os vencedores, Malala Youzafsai e Kailash Satyarthi.

Vejamos algumas das frases emblemáticas de Malala Youzafsai:

“Nós percebemos a importância de nossa voz quando somos silenciados”.

“Uma criança, um professor, um livro e um lápis podem mudar o mundo”.

“Um país mais forte não se mede pelo seu número de soldados, mas sim pelo seu índice de alfabetização”

“A educação dá poder às mulheres e é por isso que os terroristas temem a educação”.

“Sonho com um país onde a educação prevalecerá”.

“A melhor forma de lutar contra o terrorismo é muito simples: educar a próxima geração”.

“O meu objectivo não é conseguir o Nobel da Paz, o meu objectivo é conseguir a paz e a educação para todas as crianças do mundo”.

“Percebemos a importância das canetas e livros quando vimos as armas. Os extremistas têm medo de livros e canetas”.

“Não podemos todos ser bem-sucedidos quando metade do mundo é reprimida”.

“Houve um tempo em que as activistas pediram a homens que se defendessem os direitos da mulher. Desta vez vamos fazê-lo nós próprias”.

“Não percebo porque é que o mundo está dividido entre Oriente e Ocidente. A educação não é oriental ou ocidental, a educação é um direito de todos os seres humanos”.

“O maior terror dos talibãs acabou por ser uma menina de 14 anos armada com livros”.

“Porque é que dar armas é tão simples, mas dar livros tão duro?”

“Eles pensavam que as balas iam calar-nos, mas falharam. O silêncio transformou-se em milhares de vozes”.

“Se tivesse uma arma na mão e o talibã que me baleou estivesse à minha frente não dispararia. É a tolerância que aprendi com Maomé, o profeta do perdão, Jesus Cristo e Buda, o legado de Martin Luther King, Nelson Mandela e Muhammad Ali Jinnah”.

“[Ao ser ameaçada pelos talibãs, em 2012] Comecei a pensar: se um talibã viesse, o que faria? Talvez tirar um sapato e bater-lhe. Só que, se o fizesse, não haveria diferença entre mim e o talibã. Não devemos tratar os outros com crueldade. Devemos lutar pela paz, pelo diálogo e pela educação. Então decidi: dir-lhe-ei o quão importante é a educação e que a desejo até para os seus filhos e dir-lhe-ei que era isso que lhe tinha a dizer, mas que ele podia fazer o que quisesse”.


LIVRES DE BARRIGA VAZIA OU ESCRAVOS… COM ELA CHEIA?




(Quase) todos os jornalistas portugueses estão proibidos, ao abrigo de critérios editoriais (forma simpática para traduzir a censura dos donos dos jornalistas e dos donos dos donos) de falar sobre os crimes cometidos pelo regime de José Eduardo dos Santos.

Orlando Castro – Folha 8, mukandas

Aesmagadora maioria do que aparece na comunicação social (jornalismo é outra coisa) sobre este assunto resulta da reprodução pura e simples do que a Lusa põe em linha. Para além de ser fácil e barato, permite sempre a desculpa mais usada pelos néscios: “quem escreveu isso foi a Lusa, não fomos nós”.

Até mesmo quando a Agência de Notícias de Portugal descobre que Namibe é o nome de um novo país. A Lusa descobriu e, a partir daí, todos os produtores de conteúdos, ao melhor estilo das salsicharias, copiaram e colaram a informação. Por favor, não chamem Jornalismo ao que essas linhas de montagem de textos de linha branca fazem.

Reconheça-se, contudo, que esta é, de facto e cada vez mais de jure, uma forma eficiente de evitar chatices com o dono total de Angola (José Eduardo dos Santos) e com o dono (ainda) parcial de Portugal (José Eduardo dos Santos). Além disso, se Cavaco Silva ou Passos Coelho, António Costa ou Paulo Portas, entendem que Angola é uma democracia e um Estado de Direito, quem julgam os jornalistas que são para os contrariar?

Desde logo porque qualquer contrariedade que revele, mesmo que de forma ténue, a existência de coluna vertebral pode significar – e significa muitas vezes – ficar sem o prato diário de lentilhas.

Se os porta-vozes portugueses do dono de Angola aceitam passiva e atavicamente serem criados de luxo de José Eduardo dos Santos, porque carga de água deveriam os operários das linhas de enchimento de textos de linha branca, agir de forma diferente?

Por alguma razão, o que se passou em Abril de 2001 quando se deu o afastamento compulsivo das equipas de reportagem da RTP, SIC e TVI que estavam em Cabinda, nunca mais algo de semelhante voltou a repetir-se.

José Eduardo dos Santos entendeu que em vez de correr com os jornalistas, o que é sempre chato para um reino que apregoa ser uma democracia, o melhor era comprar quem nesses órgãos tem o poder. E se melhor o pensou, melhor o fez.

De facto a cena de 2001 não voltou a acontecer, não porque Cabinda tenha desaparecido do mapa. Não voltou porque os tais critérios editoriais, de completa submissão acocorada ao poder económico do regime angolano, fazem com que Cabinda deixe de ser notícia, obviamente ao contrário de uma qualquer bitacaia em José Eduardo dos Santos.

Por alguma razão o próprio Sindicato dos Jornalistas portugueses protestou na altura, nunca mais se interrogando (é verdade que também não é para isso que existe) sobre as razões que levam os jornalistas por imposição superior a não falarem do assunto.

Antes, não muito – é certo, havia a censura em Portugal. Hoje não há censura, há autocensura. Antes havia a censura, hoje há os critérios editoriais. Antes havia censura, hoje há audiências. Antes havia censura, hoje há lucros. Antes havia Jornalismo, hoje há comércio jornalístico.

Antes a única tarefa humilhante no Jornalismo era a que se realizava com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência. Hoje nada é humilhante desde que dê lucro ou satisfaça o ego dos senhores feudais.

Antes um Jornalista nunca (nunca) vendia a sua assinatura para textos alheios, tantas vezes paridos em latrinas demasiado aviltantes. Hoje é tudo uma questão de preço.

Antes, se o Jornalista não procurava saber o que se passava no cerne dos problemas era, com certeza, um imbecil. Antes, se o Jornalista conseguia saber o que se passava mas, eventualmente, se calava, era um criminoso. Hoje há cada vez mais imbecis e criminosos.
Antes os Jornalistas erravam muitas vezes. Hoje não erram. E não erram porque há cada vez menos Jornalistas. Assim sendo, as linhas de montagem (em Angola como em Portugal) não precisam de jornalistas.

Tudo o resto são cantigas, tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal, Burkina Faso ou Angola.

E quando alguns dos fazedores desse produto comercial a que se chama comunicação social, reivindicam o papel de jornalistas, entram logo um funcionamento os chamados critérios editoriais de carácter jornalístico.

E o que é que isso é? É um patamar de decisão ao qual têm acesso privilegiado todos aqueles mercenários que estão no poleiro, seja político, empresarial, cultural etc. e que visa dar cobertura, a troco de apoios financeiros, aos dono de uma sociedade de aparências, de favores, de corrupção, de compadrios, de manipulações.

Hoje, em Angola como em Portugal (por exemplo), a grande maioria aceita fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar, e mesmo assim…), este aceita fazer tudo o que o director manda, este aceita fazer tudo o que a Administração manda, e esta aceita fazer tudo o que dê lucro.

Não deixa, contudo, de ser curioso que – nesta matéria e neste contexto – quanto mais imbecis e criminosos forem os jornalistas, mais hipóteses têm de subir na carreira, seja esta nos media propriamente ditos ou nas assessorias políticas.

Contacte directamente o autor: orlando.s.castro@gmail.com

Brasil. A TENTAÇÃO GOLPISTA




O que o sr. Fernando Henrique Cardoso propõe é o golpe de Estado, a violação da ordem jurídico-política, movido apenas pela ambição de poder.

Fabio de Sá e Silva (*) – Carta Maior

O sr. Fernando Henrique Cardoso demonstra ser uma pessoa extremamente impaciente. Decorridos apenas alguns meses do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, clama por renúncia e novas eleições presidenciais. Mau perdedor, não tem maturidade política para aguardar o período constitucional de quatro anos para, novamente, submeter suas ideias e programas à população brasileira, a única juíza do bom ou mau desempenho de seus mandatários. Deseja, ilegalmente, o terceiro turno.

Recorre, em sua declaração destemperada e superficial, a duas linhas de argumentação. A primeira, baseada vaga e frouxamente em considerações sobre corrupção, é desinformada e juvenil.

Trata o andamento das investigações no âmbito da operação lava jato como sinal de corrosão do poder político, quando na verdade este fato sinaliza para maturidade da democracia brasileira, que agora caminha sem a proteção seletiva de arquivadores gerais e de polícias políticas.

O segundo fio de raciocínio, mais grave, porque eivado de inconstitucionalidade e autocontradição, aponta para suposto “sentimento popular de que o governo, embora legal, é ilegítimo”. E se dedica a especular sobre as condições nas quais seja possível ao governo “a aceitação de seu direito de mandar, de conduzir”

Para isso, o sr. Fernando Henrique Cardoso propõe violar a vontade popular expressa democraticamente nas urnas em novembro último, destruir o Estado de Direito duramente reconstruído após 22 anos de ditadura e rasgar a Constituição. Parece óbvio que o sr. Cardoso desconhece a lógica e seu princípio básico, o da não-contradição.

Não se trata aqui, entretanto, de uma questão acadêmico-filosófica. Trata-se de uma questão antes de tudo ética, jurídica e política. O que o sr. Fernando Henrique Cardoso propõe é o golpe de Estado, a violação da ordem jurídico-política, movido apenas pela ambição de poder.

Constitui uma trágica ironia o fato de o autor recorrer em suas declarações aos espectros da degradação nacional, da desagregação social e da anomia. Que melhor sintoma dessas ameaças que sua conclamação irresponsável e inconstitucional à ruptura da ordem democrática vigente?

O sr. Fernando Henrique Cardoso abunda nas contradições. Segundo ele, a menos que haja “gesto de grandeza” da presidenta, como renúncia, "assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de lavajato”.

Perante uma crise institucional por ele inventada e uma alternativa autoritária que só existe em sua fantasia, o sr. Fernando Henrique Cardoso propõe uma solução "brilhante": a criação, na prática, de uma crise institucional, e a adoção, com entusiasmo, de uma solução autoritária e antidemocrática.

O sr. Fernando Henrique Cardoso, além de óbvias dificuldades com a lógica e com a ética, tem parcos conhecimentos de filosofia política. Parece pensar que o termo "contrato social" designa uma realidade histórica e que, portanto, seria possível negociá-lo, como em uma reunião de acionistas ou condôminos. Se lesse os clássicos, entenderia que o conceito designa algo que se postula como hipótese filosófica, com vocação explicativa, nunca como um fato concreto.

Na verdade, "contrato social" é aquele que foi firmado pelo povo brasileiro, nas últimas eleições, com a presidente Dilma Rousseff, com o novo Congresso Nacional, e com as diversas autoridades nos níveis estadual e municipal. Não há, numa democracia, outro "contrato social" que não aquele consagrado nas urnas. A alternativa é o golpismo e a baderna, sob o nome anódino de "mobilização".

As declarações do sr. Fernando Henrique Cardoso prestam um grande desserviço ao Brasil. Fazem pouco caso de nossa democracia, de nosso Congresso e da maturidade política de nosso povo. Tentam, sem dúvida inutilmente, erodir a credibilidade de nosso país no exterior. Pregam, por fim, a ruptura do Estado de Direito e o divisionismo, agora que as maiores lideranças do país buscam, dentro do respeito à legalidade, a união para o enfrentamento das dificuldades comuns.
*
O texto acima é uma adaptação livre, mas com relativamente poucas modificações, de artigo de mesmo título, de autoria do então Senador Teotônio Villela Filho (PSDB–AL).

O original foi escrito em resposta a artigo em que Tarso Genro (PT–RS) pedia a renúncia de FHC, em 1999. Tarso alegava que o governo de FHC perdeu a “respeitabilidade e a governabilidade” com a desvalorização do real. A moeda forte, disse Tarso, foi o pilar da reeleição de FHC.

Tivesse feito referências às denúncias de compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição e teríamos um quadro muito parecido com o atual, no qual FHC vê a “perda de condições de governar”.

Na ocasião, como reportou a Folha, FHC respondeu “com ironia à proposta de renúncia de Tarso Genro”: “O presidente já esperava que Tarso Genro tivesse se convertido à democracia”, disse FHC, por seu porta-voz.

Lula, vale lembrar, divergiu de Tarso.

“Eu não acho que o problema do Brasil será resolvido com a antecipação do processo eleitoral. O problema poderia ter sido resolvido em 4 de outubro. Não foi. A população fez uma opção, certa ou errada, foi uma opção da maioria do povo”, declarou Lula, na época.

(**) PhD em direito, política e sociedade (Northeastern University, EUA)

Créditos da foto: Aécio Neves / Flickr

O PARTO DA REVOLTA



Jaqueline Gomes de Jesus* - Afropress

Osram mfiti preko ntware oman -  [A Lua não tem pressa para dar a volta em torno do nosso mundo], provérbio Adinkra.

Como se prepara a revolta? Como se farão as revoltas futuras? Faço alguns apontamentos soltos.

O grande terror que há séculos nos desafia, e ora se radicaliza com o modo como as tecnologias são utilizadas, é o da desumanização. Nós nos tornamos cada vez mais desumanos, mais máquinas. O lema das organizações hoje é o dos recursos.

Tudo é rotulado como “recurso”, objetos, processos e pessoas: recursos materiais, recursos administrativos, recursos informacionais, recursos humanos. Por “recursos” entenda-se a caracterização da vida em função de sua funcionalidade para alguém, seu valor intrínseco deslocado para um “a quê serve”: a árvore serve como papel, o animal como alimento, o humano como instrumento de trabalho.

Como tantas e tantos podem valorizar coisas em detrimento de seres vivos?

Se a sua ciência ou profissão deixou de ser um chão para sua lida e se transformou em correntes para a sua vida, então essas correntes deveriam ser arrebentadas.

De outra forma, sua servidão é voluntária.

O que temos para hoje no Brasil: o recrudescimento de um movimento político obscurantista, de base religiosa fundamentalista, que anseia por reprimir a educação laica; decretar a proibição de as mulheres terem pleno direito sobre os seus corpos; impedir a cidadanização de pessoas discriminadas por sua orientação sexual ou identidade de gênero; promover caça às bruxas contra militantes dos direitos humanos.

Somente sendo iconoclastas podemos ser fiéis.

“Se você confia cegamente na sabedoria dos mais velhos, lembre-se que os canalhas também envelhecem”, palavras de Exu.

“Somente sabedoria e astúcia podem derrotar a força bruta”, palavras de Exu.

Se há um lugar onde nem mesmo deuses conseguem entrar, sem permissão, é no coração humano.

O desespero trará a revolta, mas a revolta não é suficiente. Precisamos de revoluções.

Palestras, aulas e textos têm um efeito multiplicador na denúncia de estereótipos e preconceitos, porém atividades e produtos culturais são mais impactantes para a desestabilização das discriminações, abarcando um extraordinário potencial para transformar as certezas do pensamento social.

A vida é luta. Luta implica, necessariamente, em conflito, embate de ideias e/ou seres. Logo, a vida é conflito.

Entretanto, precisamos aprender a lutar com amor. O ser humano deseja ser amado. Já nos ensinou bell hooks, singelamente, didaticamente, que o amor cura, porém muitos que lutam ainda não compreenderam sua mensagem.

O ódio tem delineado as guerras, pelo medo, mas guerra não é o mesmo que revolução.

Em geral, os paradigmas só mudam quando os seus defensores se retiram dos lugares de fala empoderados, ou quando, simplesmente, morrem. Leia Thomas Kuhn.

Na Era do Conhecimento, as revoluções não se farão por armas de fogo, mas por palavras e imagens.

As guerras de pensamento não encontrarão sua arena em universidades.

O amor será a viga mestra das revoluções na Sociedade da Informação, que serão vencidas pelo convencimento, não pelo medo.

Fazer chorar é fácil, difícil é fazer sorrir.

Que este ensaio sobre amor bata asas, levado pela magia — porque falo de coisas inescrutáveis para alguns, apesar de estarem bem à vista — destas palavras que escrevo, porque se pode pensar e pesquisar com seriedade, sem sisudez. Tola seria se pretendesse esgotar o assunto.

*É psicóloga, doutora em Psicologia Social pela UnB e pós-doutorado pela Esc. Sup. de Ciências Sociais da FGV/Riof

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