segunda-feira, 25 de abril de 2011

Brasil: GOVERNO ARMA-SE PARA DEBATER INFLAÇÃO E JURO COM OPOSIÇÃO




ANDRÉ BARROCAL – CARTA MAIOR

 

A desarticulação dos adversários protegeu o Palácio do Planalto de ter de enfrentar debates públicos sobre o assunto mais delicado dos cem primeiros dias de mandato de Dilma Rousseff, a inflação. Mesmo assim, governo reúne dados que reafirmam 'herança maldita' de Fernando Henrique para Lula e negam quadro semelhante de Lula para Dilma.

BRASÍLIA – Com os adversários desarticulados - o ex-presidente Fernando Henrique causando polêmica ao pregar que oposição concentre-se na classe média, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) encrencando-se como motorista, os grupos do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e de José Serra lutando pelo controle tucano em São Paulo –, o governo Dilma Rousseff não precisou, até agora, enfrentar um debate político sobre o assunto mais delicado de seus cem dias de mandato, a alta da inflação. Mesmo assim, reuniu dados e preparou-se, caso a oposição consiga rearrumar-se e parta para o confronto.

As informações procuram mostrar como a transição do governo Fernando Henrique para o governo Lula foi mais problemática do que a de Lula para Dilma. E que buscam rechaçar tentativas de comparar a “herança maldita” que o ex-presidente Lula e o PT afirmam terem recebido, com uma “herança igualmente maldita” que teriam deixado para Dilma.

Para o governo atual, a política monetária do último ano de Fernando Henrique negligenciou a inflação, ao cortar ou manter os juros por dez meses, mesmo com o avanço dos preços no período. A taxa só subiu depois do primeiro turno da eleição de 2002, dificultando o trabalho da administração que se iniciaria em 2003. Já a gestão Lula aumentou o juro no mês seguinte àquele em que Dilma deixou de ser ministra para disputar a eleição. E repetiu a dose mais duas vezes antes do pleito.

A consequência, segundo os dados do governo aos quais Carta Maior teve acesso, é que a inflação encontrada por Dilma em janeiro foi de 7,8% ao ano, caso o índice de dezembro de 2010 seja anualizado. Lula administrou, nesta comparação, inflação que beirava 30%. De janeiro a março de 2011, os preços acumulam alta inferior à metade daquela combatida no mesmo período de 2003 por Lula, 2,4% e 5,4%, respectivamente.

Apesar do aumento da inflação no começo de 2011, a cesta básica ficou 1,9% mais barata. Em 2002, último ano de Fernando Henrique, a cesta básica disparou 32%. No derradeiro de Lula, galopou menos, 14% - e isso porque, diz o governo de hoje, a cotação mundial dos alimentos avançou acima de 70% no ano passado, ainda como efeito da crise financeira mundial de 2008; na média de 2003 a 2009, a cesta básica encareceu sempre abaixo da meta de inflação.

O QUE DISSE CAVACO SILVA HÁ UM ANO




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Ao mesmo tempo que Portugal celebra uma das mais importantes efemérides da sua História moderna, o 37º aniversário da Revolução do 25 de Abril, há 700 mil portugueses sem emprego, 20% da população na pobreza e outros 20% com ela à porta.

“Deixámos o império, abraçamos a democracia, escolhemos a Europa, alcançámos a moeda única, o euro. Mas duvidamos de nós próprios. Os portugueses perguntam-se todos os dias: para onde é que estão a conduzir o país? Em nome de quê se fazem todos estes sacrifícios?”, salientou há um ano o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, num discurso na sessão solene na Assembleia da República comemorativa do 25 de Abril de 1974.

Cavaco Silva perguntou nesse dia o que os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta perguntam todos os dias e desde há muito tempo.

A prova de que se “acumulam dúvidas quanto ao futuro do país”, frisou Cavaco Silva (há um ano), está no número de jovens que parte para o estrangeiro, na maioria precisamente aqueles que são “os mais qualificados e os promissores”. Mas, porque na maioria deles persiste o desejo de regressar, Portugal não deve desperdiçar esse “potencial”, caso contrário, o país poderá transformar-se um “país periférico”.

Será que os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta, ainda têm tempo para ter dúvidas?

Por isso, exortou o chefe de Estado no dia 25 de Abril de 2010, “não podemos perder tempo, porque a concorrência será implacável” e, quem ficar para trás, terá de fazer um enorme esforço de recuperação. “No mundo actual, não esperemos que os outros nos ajudem se não acreditarmos em nós próprios, se formos incapazes de fazer aquilo que nos cabe fazer”, acrescentou, sustentando que no dia de hoje, isto foi há um ano, se celebra a esperança dos que acreditaram, sobretudo em si próprios.

Mas, afinal, que esperança podem ter os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta?

Na sua intervenção, que encerrou a sessão solene do ano passado, o Presidente da República voltou ainda a sublinhar que é nos momentos de “grave crise”, como aquela que Portugal atravessa actualmente, que há que abrir caminhos que levem o país a novas oportunidades, como o mar e as indústrias criativas.

“Que justificação pode existir para que um país que dispõe de tão formidável recurso natural, como é o mar, não o explore em todas as suas vertentes, como o fazem os outros países costeiros da Europa?”, questionou o chefe de Estado, considerando que há que repensar a relação com o mar e apostar mais no sector dos transportes marítimos e dos portos.

Terá sido descoberta a pólvora? perguntam os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta.

“Portugal e os portugueses precisam de desígnios que lhes dêem mais coesão, mais auto-estima e mais propósito de existir. O mar é certamente um deles”, defendeu... há um ano.

Por outro lado, continuou Cavaco Silva, Portugal deve apostar na conversão de alguns centros urbanos em “grandes pólos internacionais de criatividade e conhecimento”, como ocorreu em Barcelona, Berlim, Amesterdão e Estocolmo.

Portugal deve isto, Portugal deve aquilo. E também deve muito aos 700 mil portugueses sem emprego, aos 20% que são pobres e aos outros 20% que já têm a pobreza à porta.

Além de Lisboa, Cavaco Silva apontou o exemplo do Porto como “uma cidade que dispõe de todas as condições para ser um pólo aglutinador de novas indústrias criativas”, nomeadamente ligadas à moda, design, cinema, teatro, informática e comunicação.

“Uma aposta forte dos poderes públicos, conjugada com a capacidade já demonstrada pela sociedade civil relativamente a projectos culturais de referência, poderão fazer do Porto e do Norte uma grande região criativa, sinónimo de talento, de excelência e de inovação”, sustentou há ano, elogiando a capacidade empreendedora “das gentes do Norte” e do Porto, cidade onde existe “muito do melhor que Portugal fez nas últimas décadas”.

Quem diria? E é por ser assim que no Porto e não região Norte se situa a maioria dos 700 mil portugueses sem emprego, dos 20% que são pobres e dos outros 20% que já têm a pobreza à porta.

“Só falta mobilizar esforços para transformar o Porto e o Norte numa grande região europeia vocacionada para a economia criativa e fazer desse objetivo uma prioridade da agenda política”, acrescentou ainda Cavaco Silva.

É isso aí. Por outras palavras, pouco falta para que os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta aprendam a viver sem comer.

Passou um ano. Resultados? Os que se conhecem. E assim continua Portugal, cantando e rindo e governado por uma escumalha de políticos que não existem para servir mas, apenas isso, para se servirem. A bem da nação, é claro!

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
 
 

PORTUGAL É O TERCEIRO PAÍS COM MAIOR RISCO DE BANCARROTA DO MUNDO




EUDORA RIBEIRO – ECONÓMICO – 25 abril 2011

Investidores em dívida pública acreditam que é mais arriscado investir em obrigações nacionais do que em dívida do Líbano ou Cazaquistão.

Investir em dívida pública do Líbano ou do Cazaquistão parece um paraíso quando a alternativa é aplicar dinheiro em Portugal, que é hoje, à luz dos mercados, o terceiro país do mundo com maior risco de bancarrota.

Tal como Grécia e Irlanda, Portugal também pediu socorro externo. E, tal como acontece na Grécia e na Irlanda, a percepção de risco para com Portugal continua a agravar-se até níveis impróprios para consumo. Prova dessa degradação é que os ‘credit default swaps' (CDS) sobre dívida nacional a cinco anos - uma espécie de seguro contra o incumprimento do País -, subiram até aos 656 mil pontos base, um valor recorde. Só há dois países dos 57 com dados disponíveis com pior ‘score': a Grécia e a Venezuela. Daí que nações como o Líbano (356 pontos) e o Cazaquistão (143 pontos) pareçam hoje destinos sem risco em comparação com Portugal, segundo este critério.

E (quase) tudo por causa da eventual reestruturação da dívida grega, ou seja, da eventual confissão pública de que, mesmo auxiliada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e os parceiros europeu, Atenas será incapaz de pagar os seus compromissos a tempo e horas. Irlanda e Portugal poderão sofrer do mesmo mal que é recomendado por alguns peritos e descartado por quase todos os políticos. "O espectro de uma reestruturação está presente, por isso é que as ‘yields' estão nos níveis actuais. O que está a ser descontado no mercado é uma reestruturação da dívida da Grécia, Irlanda e de Portugal", sublinhou Luís Filipe Garcia, da IMF, ao Diário Económico.

De facto, nos últimos dias, as ‘yields' sobre obrigações do Tesouro português a 2, 3 e 5 anos superaram a barreira inimaginável dos 11% no mercado secundário. Isto apesar de Portugal ter conseguido colocar mil milhões de euros em títulos de curto prazo com forte procura no mercado primário, e apesar também de estar iminente o fecho das negociações sobre o resgate patrocinado por Bruxelas e FMI.

Contudo, os níveis dos juros da dívida de Portugal mantêm-se longe das 'yields' gregas, que já estão nos 23% no prazo a dois anos.

No futuro próximo não se esperam mudanças em termos de risco. "Até existir um acordo com a EU e o FMI, o mais provável é as coisas continuarem a piorar. Depois do acordo, o que a história nos diz, olhando para os casos da Grécia e da Irlanda, é que os indicadores de risco não têm descido". Por isso, conclui Filipe Garcia, "não se vislumbram melhorias nem a curto nem a médio prazo", mesmo depois do acordo com o FMI que, "quanto melhor for para Portugal, pior será para a dívida".

Portugal: Vasco Lourenço diz que país está longe dos ideais da revolução




JORNAL DE NOTÍCIAS – 25 abril 2011

O capitão de Abril Vasco Lourenço lamentou, esta segunda-feira, que o país esteja "longe dos ideais" da revolução de 1974, embora reconheça que se encontra "muito melhor" do que nos tempos da ditadura.

"O país está longe dos ideais que ambicionávamos, embora esteja muito melhor do que estava, mesmo com esta crise", disse à Agência Lusa, nas comemorações dos 37 anos do 25 de Abril, na Avenida da Liberdade.

Embora o país não esteja como sonhava, Vasco Lourenço garantiu que voltaria a participar na revolução. Mas adianta que há muito para mudar, nomeadamente a "classe política" que tem governado o país.

UM SONHO EM ABRIL - DISCURSO




ANTÓNIO VERÍSSIMO – PÁGINA LUSÓFONA

OS COVEIROS E O FUNERAL DE ABRIL EM BELÉM

Passados 37 anos de ver concretizado o sonho da libertação dos portugueses voltei a sonhar. Não nos moldes da minha infância esclarecida e participativa, nem da minha adolescência, nem da minha juventude, nem de como, já homem, reivindicava a manutenção da democracia e liberdades conquistadas à custa de muitas vidas, de muitas torturas, de muita repressão, de muitas misérias, fomes e maus tratos, de muita exploração, de imensas injustiças impostas por um regime ditatorial de quase meio século. Há 37 anos o derrube desse regime foi factual. Caiu estrondosamente graças ao passado tenebroso que nos foi imposto e a que jovens massacrados por uma guerra colonial velha de 13 anos souberam dizer e fazer BASTA! Fui um desses jovens, como tantos. E o povo veio atrás, soltou-se. Com cravos selou a obediência aos capitães de Abril e ao espírito e luta dos antifascistas que por décadas sucumbiram nas masmorras da polícia política somente por lutarem por justiça, pela liberdade e pela democracia.

E o sonho veio a noite passada, invadindo agradavelmente a minha privacidade. Abraçado ao meu ressonar, às voltas e reviravoltas a que habitualmente só assiste a enxerga. Sonhei. Sonhei que estava a fazer um discurso em Belém, hoje, nas comemorações bafientas do Palácio imoralmente ocupado por Cavaco Silva, um presidente eleito por uma vergonhosa e minoritaríssima quantidade de portugueses eleitores que ao que parece também não o queriam... Mas que foram nas suas loas.

E lá estava ele, o Cavaco. Tenebroso, sinuoso, manhoso, perigoso, hirto, fixava-me a uns metros do palanque dos discursos da cerimónia onde ocorreria o funeral do 25 de Abril. Ao seu lado e atrás, um magote de seus pares e mais ou menos seus iguais perfilava-se a procurar posição confortável para as suas nádegas gordurosas nas cadeiras fofas e anatómicas. Uns quantos (poucos) assistiam com semblantes tristonhos por terem a consciência de que ali se estava a oficializar o Funeral de Abril.

Expulsei o catarro, não usei a água que estava ao dispor dos oradores no palanque e que serviria para limpar a garganta - nada me garantia que não tivesse sido contaminada por vírus, maleitas e venenos made in Belém. Preferi tirar do bolso da jaqueta uma garrafa de água que tinha levado de casa e que sabia estar própria para consumo seguro. Depois de uns goles as cordas vocais acusaram a limpeza moderada da nicotina e dos químicos viciantes que a Tabaqueira e congéneres usam para nos tramarem, provocarem dependência e roubarem a saúde e o dinheiro.

LÁ VAI DISCURSO

Sobranceiro, olhei a cáfila que esperava que o representante do povo botasse faladura. "Atenção." Disse... e lá comecei, de improviso - porque havia decidido não ler o discurso em papel que tinha escrito um dia antes e que tinha sido exigido apresentar à ardilosa Comissão de Censura Democrática. Fui dizendo:

Cambada de pulhas - salvo os que não são e estão aqui presentes em tão pequeno número.

Esta é uma oratória informal, improvisada, singela e honesta, de um representante do povo português que foi seleccionado entre milhares de portugueses anónimos que concorreram à solicitação dos parasitas acostados em Belém, boys e girls, desprovidos de coluna vertebral por via de uma maleita diagnosticada como sendo vasto egoísmo atroz. Muito obrigado por me terem seleccionado...

Pretendiam que viesse falar em nome do povo que têm tomado como carneiro, por ele assim se andar a comportar e vos permitir abusar desmedidamente. Vocês, grandes parasitas, esqueceram-se de que existem ovelhas negras e até ignoravam que eu sou uma delas. Pois se para aqui me selecionaram e quiseram, aqui me têm. Escusam de se estar a bandear nas cadeiras, a sentirem-se incomodados, porque ainda agora comecei o meu discurso como representante do povo. Se estavam à espera que pronunciasse as palavras escritas e aprovadas pela vossa Comissão de Censura, enganaram-se. Assumo que vos enganei. Afinal aprendi convosco a enganar-vos, a escrever uma coisa e fazer outra. Vocês, seus bandalhos, ainda fazem muito pior: dizem uma coisa, prometem mundos e fundos, e vamos a ver é tudo mentira. Fazem exatamente o contrário daquilo que dizem, que prometem. Mentem descaradamente. Manipulam tudo e todos em proveito próprio e da cambada que vos está anexa. Que convosco partilha as corrupções, as ilegalidades enfiadas em alçapões de leis feitas a propósito, as indecências, os roubos.

Estejam quietinhos e caladinhos que ainda nem vou a meio daquilo que tenho para dizer. Oiçam-me democraticamente e depois meditem no que digo e naquilo que ainda vou dizer, se acaso a vossa nova PIDE, com outro nome e engalanada de disfarces, não tiver a aleivosia de me fazer calar pela força, levando-me para as masmorras que antes experimentei e que felizmente não me conseguiram domar nem matar,  muito pelo contrário.

Calem-se! Pouco barulho, seus democratas de pacotilha, que só sabem olhar para as vossas barriguinhas e das cambadas de chulos esbanjadores que vos rodeiam! Isto é um discurso para o qual fui aprovado e convidado. Não é um debate. Oiçam o orador se realmente querem parecer democratas. Chiu!

Aproveito agora a vossa acalmia e silêncio reposto para prosseguir. Saibam que se se sentem agora ofendidos têm alguma razão. As verdades ofendem os que querem sempre parecer aquilo que não são. Qual é o chulo, o parasita, que reconhece o facto que lhe apontam e que não estrebucha? Vão aos bares do Cais do Sodré e chamem putas às mulheres que andam ali a prostituírem-se todos os dias e todas as noites... Evidentemente que contestam e ficam ofendidas. O mesmo se está a passar convosco. Mordam o pó. Experimentem a sensação. Se acaso vos estou a ofender minimamente equacionem agora as ofensas que os portugueses não têm suportado vindas de vós. Vocês ofendem-se com as verdades ditas aqui em minutos, há minutos passados e mais uns quantos futuros - se não me calarem. E o quanto devemos nós, a esmagadora maioria dos portugueses, estar ofendida por vós com tantas mentiras pronunciadas ao longo de décadas?

O vosso silêncio sepulcral indica-me que nem nunca tinham pensado nisso. Para vós, nós, somos números. Somos gado manso de que podem abusar, que se sentem no direito de espezinhar, enganar, manipular, usar, explorar.  Com quem usam das maiores deslealdades e pulhices, antes, durante e depois das eleições. Falam em democracia apesar de não serem democratas - porque se não são justos e honestos jamais podem ser democratas. Aquilo que nos sobra da vossa doação, do vosso contributo, é uma mascarada de democracia deficitária, enganosa, que serve para vos dar tempo a fazerem fortunas enquanto nos espoliam a dignidade e o pão para boca. Enquanto nos privam de justiça, nos retiram os cuidados de saúde conseguidos após Abril de 1974, nos retiram o usufruto dos direitos humanos que em tempos em Portugal foram respeitados, que existiram e de que presentemente são uma pálida sombra.

Com legitimidade, a da verdade, a da constação de vivências miseráveis em cerca de um terço dos portugueses, para cujo estatuto caminha a passos largos mais de outro terço, vos chamo pulhas, parasitas, ladrões das nossas liberdades e das riquezas nacionalmente produzidas. Não fossem vocês esbanjadores e sarrafos desonestos, oportunistas, egoístas, aldrabões, safados, e agora este orador não estava a usar estas palavras, nem tinha de conter a revolta que guarda para que não vos atire aos cornos com a base pesada deste microfone. Decerto que haverá por aí, misturados convosco, uns quantos que adorariam dar-vos umas valentes cadeiradas nesses lombos anafados e cobertos de boas fatiotas, adquiridas à custa dos sacrifícios que pedem ao povo.

Chiu, chiu, chiu... Vamos a calar. Protestos? Protestam só porque estou aqui a vosso convite e julgavam que vos ia dar os améns para que continuem a ser uns sacanas de primeira apanha? Oh! Desiludam-se! Se me deixarem acabar talvez haja por aí uns quantos que morram de raiva ao ouvir tanta verdade! Caluda! Que democratas são vocês? Posso terminar?... Posso terminar?... Não?... Mas o que é isto? Estou quê? Preso? Por difamação? Ah! Essa já esperava! Mas olhem que não me levam para as masmorras do Aljube na porra desse BMW de luxo que usam nos vossos parasitarismos, vão buscar a ramona ordinária da porra do gado subversivo. Já agora acordem o Silva Pais, o Salazar, essa cambada toda... Saibam que com a minha idade, com a minha vivência e com a esperança de vida que me resta, estou-me lá cagando que me prendam. Discurso interrompido. Discurso suprimido à força. Discurso terminado.

E foi aqui que eu acordei. Foi um sonho de Abril e em Abril. Gostoso. No sonho, neste Abril, 37 anos depois, disse-lhes algumas verdades. Por isso se ofenderam. Como às putas, não lhes podemos apontar as verdades nem chamar-lhes vigaristas, ladrões, algozes deste povo que se acarneirou.

Foi um sonho bom e honroso. Decerto demasiado pretensioso no capítulo de pessoalmente, eu, um simplório, ir representar o povo português. Mas valeu. Foi só um sonho. Sonhei, mas isso não invalida que não vá ainda parar às masmorras por alegada difamação. Dos pulhas não se deve, não se pode, esperar outra coisa.

Bem acordado, assisto agora ao Funeral de Abril na TV, encabeçado por Cavaco Silva, ladeado dos pulhas. Lá estão eles, com pompa e circunstância. Com palavras feitas à medida das ilusões que nos querem incutir e das conveniências ocultas das matilhas que os ladeiam e que representam. Esta é a realidade. Não é um sonho mas sim um pesadelo.

Carvalho da Silva: “HÁ CHEIROS DE COLONIZAÇÃO EM PORTUGAL”




DESTAK – LUSA – 25 abril 2011

O líder da CGTP, Carvalho da Silva, defendeu hoje que os três ‘D’ definidos no 25 de Abril – democracia, desenvolvimento e descolonização – têm de ser “revisitados”.

 “Há cheiros de colonização em Portugal que são preocupantes”, disse, referindo-se ao resgate financeiro da “troika” internacional.
Quanto à democracia, Carvalho da Silva afirmou que está “ferida” e “posta em causa”.
O sindicalista, que discursava nas cerimónias comemorativas do 25 de Abril na Avenida da Liberdade, em Lisboa, afirmou que não será o Fundo Monetário Internacional “e muito menos a União Europeia” a solucionar as dificuldades financeiras, mas sim “a acção dos portugueses e das portuguesas”.

25 DE ABRIL




JOSÉ LEITE PEREIRA, opinião – JORNAL DE NOTÍCIAS

Incomodou-me ler, esta semana, declarações de Otelo Saraiva de Carvalho dizendo que não voltaria a fazer o 25 de Abril se soubesse que o País estaria como está. Otelo há muito perdeu o lado romântico que o levou a colocar o País à frente dos interesses pessoais e quase todos nós, ao vê-lo, só por carinho conservamos a imagem de um homem de ar tímido mas decidido que comandou a revolução que libertou um povo de 48 anos de opressão, esquecendo muito do que de mau fez e deixou fazer no chamado Verão Quente, para não falarmos nas ditas FP-25, de má memória.

De uma maneira ou de outra, perdeu-se a inocência e a beleza daquele dia de há 37 anos. Mas ficou muita coisa. Ficou a liberdade. Ficou o desenvolvimento do Portugal profundo, ainda que muito desigual, é certo, e ficou uma maneira de viver melhor. Hoje, apesar de muita gente passar por dificuldades, vive-se melhor, escolhemos quem nos dirige e não há guerra, que sacrificava os nossos jovens e tolhia o futuro de povos que queriam ter o destino nas suas mãos.

Sabe-se o que não correu bem. Mas o saldo é positivo e é por isso que o 25 de Abril continua a merecer um Viva!, mesmo daqueles que nos lançaram medos e que tiveram a ilusão de que as grandes conquistas eram irreversíveis.

É por isso que se saúda a iniciativa que Cavaco Silva teve de juntar ex-Presidentes da República para falarem amanhã. Eanes, Soares e Sampaio, os nossos presidentes eleitos, juntam a sua voz à de Cavaco numa ocasião em que o País atravessa uma das suas maiores crises, em que está a hipotecar o seu futuro para pagar erros de um passado recente.

Todos estes homens viveram momentos de grande dificuldade à frente do País e o seu testemunho é por isso importante, porque é credível. Não cobrindo todo o espectro partidário, eles representa(ra)m uma larguíssima maioria da vontade expressa pelos portugueses, e seguramente farão ouvir a sua voz não para cavar cisões mas para unir em torno do que é essencial.

Dificilmente PCP e Bloco de Esquerda conseguirão ultrapassar as barreiras que levantaram ao longo dos anos para se juntar aos restantes partidos. No mínimo, é essencial que a base de apoio que os sustenta se aproxime de soluções maioritárias e que seja possível estabelecer consensos amplos, abrangendo partidos, mas também associações de trabalhadores e de patrões. Mas há também divisões que urgentemente devem ser ultrapassadas entre personalidades que pertencem a partidos cujo entendimento está na calha, nomeadamente entre José Sócrates e Passos Coelho. A uns e outros, os apelos do Presidente da República e dos ex-presidentes se deve dirigir amanhã com a certeza de que esta é certamente uma última oportunidade: os eleitores julgarão se vale a pena esperar pelos que nunca estão disponíveis para um consenso, do mesmo modo que não vale a pena contar com os que querem formar um consenso sob a condição de a liderança lhes pertencer.

PS - Em vésperas do 25 de Abril, numa altura de crise, vale a pena recordar homens que já nos deixaram e cujo contributo poderia ajudar o país. Recordo um militar - Ernesto Melo Antunes - e três civis - Adelino Amaro da Costa, Sá Carneiro e Salgado Zenha a quem Portugal muito deve e que muito úteis seriam numa altura em que é preciso unirmo-nos em torno de valores essenciais.

MENOS




Ricardo Coelho – ESQUERDA NET

A resposta da esquerda à crise não se pode limitar a soluções que visem o relançamento do consumo.
Quando perguntaram a Samuel Gompers, fundador e ex-presidente da AFL-CIO, a maior central sindical dos EUA, o que queriam os trabalhadores ele simplesmente respondeu “mais!”. Hoje, podemos responder ainda da mesma forma quando nos perguntam o que quer a esquerda. Queremos mais direitos, mais emprego, mais prosperidade e mais bem-estar. Mas atrevo-me a acrescentar, por mais difícil que o seja fazer em período de crise, que poderíamos responder com a mesma assertividade “menos!” a esta questão.
Sabemos bem quais são as consequências de viver numa sociedade de hiper-consumo, na qual trabalhamos cada vez mais e endividamo-nos cada vez mais para poder comprar cada vez mais. Um dos sinais dos tempos que atravessamos é a epidemia da “doença da pressa”, identificada por médicos como um super-stress que decorre do facto de os trabalhadores se tornarem obcecados com o tempo, tal como o Coelho Branco da “Alice no País das Maravilhas”. No meio desta corrida infernal, fica a felicidade, como demonstram os estudos psicológicos realizados ao longo das últimas cinco décadas. Ou seja, a famosa frase dos Beatles “money can't buy me love” continua tão actual hoje como nos anos 60.
Para que seja claro que não me estou a “Boaventurar” na defesa de políticas de austeridade, uma clarificação é necessária. Até um certo limiar, o aumento do rendimento disponível é crucial para o aumento do bem-estar. O que se verifica é que, a partir deste limiar, mais dinheiro não traz saúde, educação, felicidade ou qualquer uma das coisas que contribuem para o nosso bem-estar. Este paradoxo está bem ilustrado no diálogo entre Elizabeth Taylor e James Dean no filme “O gigante”, quando a rica fazendeira diz ao “cowboy” que o dinheiro não é tudo e ele responde “não para quem o tem”.
A crise ecológica reforça a urgência da redefinição do conceito de bem-estar, indo além do pensamento liberal que o vê como função crescente do consumo. Todos os anos, a pegada ecológica da nossa sociedade industrial cresce, tendo já excedido o máximo comportável pelo planeta em 1987. Ou seja, estamos a consumir recursos naturais a um ritmo que excede o da sua regeneração, acumulando um défice ecológico cujas consequências para a humanidade, particularmente para os mais pobres, são bem mais gravosas que as do défice orçamental, embora não sejam tão mediáticas. Alterações climáticas, erosão dos solos, esgotamento da água potável, extinção de espécies e poluição da água e do ar são algumas das faces de uma bio-crise que traz a miséria e a morte a milhões de pessoas. Tudo para alimentar um sistema produtivo orientado para o crescimento contínuo.
Perante isto, a resposta da esquerda à crise não se pode limitar a soluções que visem o relançamento do consumo, como se a espiral de consumismo alimentada pela publicidade alienante, pela escravatura da população asiática, pelo crédito fácil e pela degradação ambiental tivesse algum lugar num projecto de construção do socialismo. É possível que não haja outra solução senão o crescimento neste momento, dada a necessidade de pagar a dívida e de reestruturar o aparelho produtivo. Mas os objectivos pelos quais lutamos, como a erradicação da pobreza, o pleno emprego, a saúde e educação públicas e de qualidade, o acesso à cultura, em suma, tudo o que é essencial para garantir uma boa vida para todos e todas, são alcançáveis numa sociedade de crescimento zero, uma sociedade orientada para a redistribuição, a sustentabilidade e o bem comum.
O aumento do PIB não reflecte um progresso na prossecução de qualquer um destes objectivos. O PIB mede apenas o que é produzido e não discrimina entre a produção de medicamentos ou de armas, entre o investimento em energia limpa ou o desperdício de energia ou entre o consumo de bens essenciais e o consumo de bens de luxo. Inversamente, o PIB não mede o que não é produzido e transaccionado, como o resultado do trabalho doméstico e familiar, não reflecte as desigualdades de rendimentos e não contabiliza os custos externos da produção, nomeadamente os da poluição.
Frequentemente, menos é mais e mais é menos. Defender o direito à preguiça é tão importante como defender o direito ao trabalho. Defender mais direitos sociais para os mais pobres é tão importante como defender menos privilégios para os mais ricos. Defender uma maior produção alimentar é tão importante como defender uma menor produção de veículos poluentes.
Para termos um aparelho produtivo que garanta o emprego e a sustentabilidade social e ambiental, soluções anti-crise do tipo “ó tempo volta para trás” não são uma opção. Esta ideia não deve ser vista como uma heresia para keynesianos, já que Keynes sonhava com o dia em que o problema económico (entendido como a satisfação de necessidades ilimitadas com recursos escassos) deixasse de existir. O mesmo se pode dizer em relação a marxistas, já que Marx compreendia bem a necessidade de regular o sistema produtivo de forma a respeitar o metabolismo da natureza. Do que se trata, portanto, é de aproveitar as melhores teorias económicas, de as actualizar e analisar criticamente e de concretizar a mudança social que permita aprofundar a democracia económica e ecológica. Nada menos que o nosso futuro comum depende deste desafio.

RESGATES À GRÉCIA E IRLANDA ENGROSSAM COFRES DO FMI





FMI reviu em alta as previsões dos resultados de 2011 para 524,8 milhões de dólares (cerca de 360,5 milhões de euros), graças às ajudas financeiras concedidas à Grécia e Irlanda. O empréstimo a Portugal ainda não está a ser tido em conta nas previsões apontadas pelo fundo.

As previsões de 328 milhões de direitos especiais de saque[i] (524,8 milhões de dólares, ao câmbio de hoje, o equivalente a cerca de 360,5 milhões de euros) para 2011 traduzem uma revisão em alta de 63 por cento face às projecções iniciais de 202 milhões direitos especiais de saque (SDR) avançadas em Abril de 2010.
 Esta revisão em alta reflecte o resultado, para as contas do Fundo Monetário Internacional, dos empréstimos à Grécia e à Irlanda. Nestes dados ainda não é contabilizado, contudo, o empréstimo a Portugal que está a ser actualmente negociado, e cujo valor ainda não foi estipulado.
Em quatro dos últimos seis anos fiscais, o FMI registou lucros.
Segundo o relatório financeiro do FMI, os empréstimos aprovados depois de Abril de 2010, entre os quais os 30 mil milhões de euros emprestados à Grécia e os 22,5 mil milhões concedidos à Irlanda, "fizeram aumentar as previsões de resultados de crédito em cerca de 102 milhões de SDR [163,2 milhões de dólares], incluindo 74 milhões de SDR em taxas de serviço e 28 milhões nas margens da taxa de juro cobrada".
Pelo empréstimo acordado com o FMI, a Grécia paga cerca de 3,3% e a Irlanda entre 3% e 4%, conforme o prazo dos empréstimos.
Segundo noticia o Diário Económico, em 2011, o FMI prevê gastar menos 34 milhões de SDR que o previsto, sobretudo com poupanças em despesas de pessoal.
Em 2010, os resultados operacionais do FMI foram de 227 milhões de SDR (363,2 milhões de dólares), em resultado dos empréstimos a diversos países e dos investimentos feitos pelo fundo. Só nos dez meses terminados em Fevereiro de 2010, os investimentos do Fundo Monetário Internacional renderam receitas de 135 milhões de SDR.

[i]Direito Especial de Saque é o activo financeiro do FMI. Substitui o ouro e o dólar para efeitos de troca. Funciona apenas entre bancos centrais e também pode ser trocado por moeda corrente com o aval do FMI.
**Foto: Dominique Strauss-Kahn, Director-Geral do Fundo Monetário Internacional. 

O 25 DE ABRIL – UM ENTERRO EM AMBIENTE DE PROFUNDA INDIGNIDADE




EPITÁFIO

Os cravos murcharam.    Amareleceram.    Apodreceram.    A revolução...   moribunda desde há seis anos,  morreu!    Sócrates foi o coveiro.    A certidão de óbito foi assinada pelo FMI.    Pelo meio fica uma curta vida de 37 anos e uma enorme legião de canalhas inúteis e bem falantes - corruptos e criminosos vulgares que gastaram à tripa-forra e encheram a barriga até à boca.    E tudo foi feito impunemente, mal disfarçadamente e  à sombra de uma falsa democracia cristalizada na idolatria pela bandeira dos cravos.

 Eles, os pulhas, oriundos de todos os quadrantes políticos e de todos os sectores económicos, os bandoleiros imorais e sem escrúpulos protegidos pelas leis por eles próprios "fabricadas a preceito"   que tudo roubaram, tudo comeram até nada mais restar - aqueles mesmos porcos sem vergonha que se perfilam para continuarem na engorda, agora à custa dos empréstimos do FMI.    Ou, o que é o mesmo, à custa do magro e negro pão que vai faltar, cada vez mais, nas mesas portuguesas!

E todos eles têm nome!    E todos sabemos quem são!    E o que fazem!    E onde estão!    Só falta aqui um Povo com tomates para os abater, um a um, como porcos cevados que são.    Mas isto...   já é pedir demais - que cada País tem o Povo que merece.   E este só quer é futebol, telenovelas e...   tolerâncias de ponto!

VERDADES DEBAIXO DO TAPETE




MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND – DIRETO DA REDAÇÃO
As semanas de longos feriados servem para se refletir sobre temas que muitas vezes passam ao largo. No Brasil, por exemplo, a criação da Comissão da Verdade está para ser debatida e votada pelo Parlamento para posterior sanção da Presidenta Dilma Rousseff. Ou seja, é um tempo em que dependendo das circunstâncias o país poderá finalmente dobrar a página de um período histórico cinzento e nefasto.
Comissão da Verdade não tem nada a ver com revanchismo, como alguns remanescentes daquele período ditatorial tentam incutir na opinião pública. Muito pelo contrário. Muitos países que passaram momentos históricos hediondos criaram as suas Comissões da Verdade, cada um a sua maneira. África do Sul com Nelson Mandela foi uma coisa, Chile da Concertación, a aliança política que reuniu socialistas, democratas-cristãos e outras correntes, produziu outra versão para passar a limpo o passado e melhor entendimento  do presente, já de olho no futuro. Argentina, Uruguai e Paraguai idem.
Nesse sentido, por aqui a Comissão da Verdade, que seja verdadeira, sem subterfúgios, mesmo vindo com algum atraso deve ser saudada por todos os que desejam ver o Brasil fortalecendo a sua democracia. De qualquer forma, todo cuidado é pouco. Alguns exemplos históricos de virada de página podem servir de alerta, para evitar a ocorrência de esquecimentos indesejáveis.
É o caso da Alemanha no pós-guerra. Dividida em duas partes, a Ocidental e a Oriental com regimes diferentes, que finalmente se reunificou depois da queda do Muro de Berlim, muitos algozes do regime nazista foram reabilitados na surdina e de um modo geral passaram a prestar serviços a um dos lados do tabuleiro internacional, exatamente a própria Alemanha Ocidental e os Estados Unidos.
Houve casos notórios, como o do alemão Klaus Barbie ou Altman, que passou um longo tempo impune na Bolívia, mas acabou extraditado para a França. Enquanto esteve na Bolívia, o carniceiro de Lyon, como era conhecido em função das atrocidades que cometeu naquela cidade francesa, colaborou na prática de torturas contra opositores de governos ditatoriais que contaram com o apoio do Brasil e dos Estados Unidos.

A história de Anne Frank é muito conhecida e serve até hoje de referência para mostrar a que ponto chegou a barbárie na II Guerra Mundial.  No entanto, poucos sabem que ao virar a página de sua terrível história, a Alemanha (no caso Ocidental) deixou passar alguns
criminosos que foram recrutados para o seu serviço secreto. Objetivo: combater o comunismo a qualquer custo.
Nesse sentido, o, como Hitler, austríaco, Josep Karl Silberbauer, membro da SS - o esquadrão da morte nazista -, o policial destacado para prender a adolescente Anne Frank e sua família em Amsterdã, em 1944, foi posteriormente “promovido” a espião alemão ocidental. Ficou impune, da mesma forma que outros 200 criminosos do gênero, segundo revela a revista alemã Focus, que se tornaram agentes secretos da República Federal da Alemanha. Ou seja, tiveram vida longa e ficaram impunes servindo a uma nova causa, ou, para alguns, uma causa reciclada.
Mas a lista de impunes ou os que só responderam pelos crimes quando estavam no fim da vida ficaria incompleta sem a menção de outro criminoso, o francês Maurice Papon, colaborador do regime pró-nazista de Vichy. Como chefe de polícia no primeiro ano da década de 60 Papon foi o responsável direto por um massacre de imigrantes argelinos em Paris que defendiam a independência do país onde nasceram. Repetindo os métodos empregados contra opositores do nazismo na França, Papon reprimiu, torturou e matou centenas de pessoas. E tudo isso aconteceu porque ficou impune todos aqueles anos. Só muito mais tarde, já octogenário, acabou sendo julgado e condenado pelas atrocidades.
A Comissão da Verdade brasileira não caberá punir ou julgar torturadores e assassinos que ficaram impunes, sem julgamento, com uma anistia promulgada ainda sob regime ditatorial. Mas para se tentar aprofundar a matéria Comissão da Verdade é importante também relembrar fatos históricos da história contemporânea mundial que foram ou estão sendo pouco a pouco esquecidos.
É ainda mais importante a lembrança, porque na mesma Europa que protagonizou a barbárie, a extema direita, principalmente na França, na Itália e mesmo na Holanda onde foi presa Anne Frank, ressuge com alguma força, como no caso de Marine Le Pen, a fillha de Jean Marie, pregando o ódios contra imigrantes.
Tais fatos estão interligados e ressugem em momentos de crise, como atravessa neste momento o velho continente europeu novamente envolto em uma aventura belicista no Norte da África, como nos tempos do colonialismo. Nestes dias, por sinal, os rebeldes líbios se encontraram com Nicolas Sarkozy em Paris para pedir mais ajuda no enfrentamento contra Muammar Khadafi. Barack Obama ordenou bombardeios com aviões não tripulados alegando que acertaria melhor os alvos. Na Líbia o impasse continua. A
Otan bombardeando de um lado e a guerra civil fazendo cada dia mais vítimas, um número incalculável de mortos e que podem ter chegado a 10 mil, segundo algumas fontes. E aparentemente sem perspectivas de cessar-fogo.
Benghazi acabou se tornando uma região autônoma exportando petróleo e provocando um fato inédito em confrontos do gênero, ou seja, os rebeldes apoiados pela “protetora” Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) criaram um Banco Central. Como assinalou o analista Robert Wenzel no Economic Policy Journal: “Mais um recorde, para o livro Guiness, nunca antes ouvi falar de rebeldes que, com alguns dias de rebelião, já criaram um banco central. O movimento sugere que haja algo mais, naqueles rebeldes, além do exército de voluntários, e que podem estar em ação, ali, projetos muito mais sofisticados”.
Trocando em miúdos: ai tem truta! O tempo vai tornar mais claro o que está de fato acontecendo na Líbia.

Ah, sim: O Ministério Público arquivou o pedido de censura da novela Amor e Revolução feito por saudosistas da ditadura. Considerou o pedido absolutamente sem fundamento. Menos mal.

TIMOR REJECTS WOODSIDE’S OILFIELD CLAIMS




LINDSAY MURDOCH, Darwin – WA TODAY - 24 april 2011

EAST Timor has rejected a claim that its leaders are failing their mainly impoverished people by blocking development of the Greater Sunrise oil and gas field, saying the multibillion-dollar project will go ahead.

The nation has also reaffirmed that it will honour the outcome of stalled and bitter negotiations over the field in the Timor Sea.

Hitting back at comments by Woodside Petroleum chief executive Don Voelte, East Timor government spokesman Agio Pereira said ''to be perfectly clear, the government and the people of Timor-Leste want Sunrise to be built. The nation looks forward to the benefits that can and will flow to the Timorese people.''

While insisting that piping the gas to a processing plant in East Timor was the best outcome for East Timorese, Mr Pereira said that ''as far as the government of Timor-Leste is concerned, negotiations continue with the Australian government through the frameworks set up by treaties … These mechanisms are to ensure the integrity of the process and are not to be subverted.''
East Timor has consistently said it will keep legal commitments in treaties and contracts it has signed over Greater Sunrise.

But Mr Pereira's comments could kick-start negotiations, following a walkout by officials at a meeting of the Sunrise Commission last December, then the cancellation of a meeting in March after months of bitter claims and counter-claims over the project.

Perth-based Woodside announced early last year it would build a floating LNG platform above the field, rejecting East Timor's demand for the plant to be built on its south coast, which Woodside says would cost an extra $US5 billion.

In March, East Timor's chief petroleum negotiator, Francisco da Costa Monterio, said East Timor would seriously consider terminating the treaty if the dispute remained unresolved.
Appearing to lose patience over the project, Mr Voelte last week accused East Timor of reneging on the terms of the treaty it signed in 2007 to allow Greater Sunrise to be developed to the best economic, and good oilfield, practice. He said building a floating platform would deliver $US13 billion to East Timor over the project's life.

''By objecting to Sunrise being built, they must be objecting to promoting the quality of life and improving the livelihood of their people,'' said Mr Voelte, who will soon step down from Woodside and return to the US. ''And we've done everything right. We're trying to get a meeting with the guy that's stopped this - we can't get a meeting. Let me just say, something's broken.''

But at the weekend Mr Pereira described Mr Voelte's comments as ''ill-suited and inappropriate''. He said that despite Mr Voelte's claims, project delays occurred because of the company's cited issues of non-compliance. ''One of the most significant of these was caused by Woodside's reluctance to prepare and deliver the development materials as required by the regulator,'' Mr Pereira said.

The Treaty on Certain Maritime Arrangements in the Timor Sea, which covers Greater Sunrise, runs for 50 years from February 2007 but Australia or East Timor can terminate it in 2013 if there is still no development approval.

WORLD BANK ADMITS IT GOT IT WRONG IN EAST TIMOR




BRIAN KNOWLTON – THE SYDNEY MORNING HERALD – 25 april 2011

WASHINGTON: A frank evaluation by the World Bank's internal auditors of a decade's efforts to help East Timor has put much of the blame for the country's slow progress on the bank itself.

But it also illustrates the problems that arise as development agencies try to meet urgent needs while ensuring that donors' money is not misspent.

The draft report, not yet published, is a review by the Independent Evaluation Group, which reports directly to World Bank directors, covering the period from 2000 to 2010.

Among its findings are that the bank delayed the opening of four desperately needed hospitals for a year because it adhered too rigidly to its own procurement rules, even though East Timor's child mortality rate was among the highest in south-east Asia and life expectancy was barely above 56 years.

''They kept these hospitals offline for a year, though they had money in the bank to equip them,'' a World Bank official familiar with the evaluation process said.

The report also says efforts to support education were unsatisfactory. The bank did help build and repair schools. But at the request of the new government, which was trying to dismantle the Indonesian education system, it distributed teaching materials in Portuguese, which had been the main language of instruction before the Indonesian occupation, when the nation was a Portuguese colony.

The government restored Portuguese as an official language along with Tetum, an indigenous language. But Portuguese was spoken by only 5 per cent of the people, and few younger teachers could understand the materials.

It might have been more useful, the report says, to have developed texts in English or indigenous languages.

One result was that by 2009 more than 70 per cent of students tested at the end of the first grade ''could not read a single word'' of Portuguese, ''a dismal record after 10 years of efforts''.

The report asserts that at the urging of the bank, which provides loans to developing countries with the goal of fighting poverty, East Timor saved too much of its petroleum revenue rather than spent it on social projects, an approach that contributed to needlessly high levels of unemployment and poverty.

Poverty in East Timor, already twice that of Indonesia's level, ''rose significantly through most of the evaluation period and declined only after 2007, when the government, against bank advice, increased its spending using petroleum resources,'' it says.

Ferid Belhaj, the World Bank's director for East Timor, said it was against bank policy to comment on an evaluation that was not final. But he said the country had made ''tremendous progress'' in the past decade, building or rehabilitating 637 schools and helping to raise life expectancy to 61 in 2008, from 56 in 2000.

The bank's 2011 World Development Report points to the need for long-term approaches in fragile states. ''True institutional transformations require time,'' that report says. ''It typically takes 15 to 30 years for weak or illegitimate national institutions to become resilient to violence and instability.''

The New York Times

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